Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1951

Domingo, 14 de'Janeiro de 1951 \ t, li.' t> .FOLHA .I)O ·NOR~ • ._ , ' I • ~ l!tt,, .... ·Jii. - - Pauló RqN,AI _:_ RIO - Nasci num pequeno crever o conceito de tradução e res os- namorados . t:atam sem- personagens de categoria social pais eolocado no âmago da Eu- de -explicar-lhe ,o intuito, é .fre- . pre por tt,t as..respecttvas, mu)he- • elevada,, deuses,, reis e brâmanl!s ropa,· no cruzamento das mais quente encontrar ao limiar de res! 1;_scravos, 11amoradas- e cor- falam o sânscrito; os campone- . 1variadas , correntes espirituais, traduções de obras-primas • já tesas- . · , . . ses, o prácrito, e assim por dian- . .mas de idioma completamente verti\l~s anterio_rmenie a justifl- . )1: . Y.· Rleu,_ o !11tuno_tra.d1:1to_r . te. :qií\culdade . ainda .maior é 'isolado. Preocupa!los com a sua cação de nova tentativa .' · inglês .,d.~ Ôd1s,_é1;J, como _mui- ,::onstituida por· .. um dos princi– integfação esP,iritual ria com.uni- ·"É a· sorte c·omum das tradu- tos _de · se~s predecessores, con- pais recursos do idioma sâns·cri-· dade európéia', os . intelectuais . ções· gastarem•s,e com ·o tempó. sidera indispensável en,trar fluma • to, sua capacidade aglutinante; húngár.os de todas as épocas ,não O espírito, que cr!ou o original anãlise das frases estereotipadas os · poetas têm• 0 direito de for– sàmente ·estudavam línguas, mas continua a ficar, de qualquer e dos epítetos permanentes 9ue 1rtar .palavras de -comprimento . se empenhavam em traduzir as ma}'leira, a substâ11~ja .seçreta, caracterizam .º . estilo homér,co, ilimitado, qlc podem ter sen'ti– obras. primas das literaturas es- inanallsf!vel e .não transplantável procurando d1stmguir entre cll- dos diferentes, segundo a manei- • trangeiras. A bagagem · poética do 'original, e a versão. na ausên- chês adotados inconscientemente r~ · por_ ~ue são dissecadas. o • dos ·maiores. poeta~ magiáres eia · dêsse grande espírito, em- pelo. poeta (pensar que 'já na épo. pior é que todos esses sentidos sempre inélui traduções: Csoko- palidece mal começa a enferru- · ca de Homero havia •· clich'ês !l e podem justificar-se no contexto nay ·verteu - Pope, Vorosmarty, . jar-se a aparelhagem técnica, da -repetições propositadas; cheias de -em que aparecem•. Muitos •poetas 'Arany, Petofi trasplant_arl!,m Sha- ger.ação do tradutor. Cada tra- . intenções . · , repetem literalmente O mesmo kespeare, Baudelaire teve tradu- dução é . o éco fragmentário d!! Robin Flower, tradutor das Me- verso, dando-lhe porérri cada vez tores. como Ady, Arpâd Tóth e alguma música eterna", escr.eveu mórias 'de Tomás O' Crohan, um sentido diverso, Podendo cada Babits . Esse último consagrou, Arpâd Tóth, o poeta que recriou camponês da Irlanda, tropeça, elemento dessas palavras longas aliás, parte da existência à ver- em húngaro a 'Balada' da Prisão por sua vez, na convenção Jiterâ- admitir significação diferente da- • s ão.de Dante, como já antes dele de Reading, de Oscar Wilde. ria de um dialeto inglês artificial quela que se adotou na tradução, Arany não julgara perder tem- Muitas vezes os tradutores en- com elementos Irlandeses de que 0 · conjunto possui vários sentidos po levando anos a interpretar tram a expor problemas de de- · autores britânicos têm usado com totalmente diversos, ·embora sem– Aristófanes .· Na Hungria, as tra- talbe, ~ere_ntes. à li_ngua de que frequência e acaba poz; abtir mão pre compativeis com O contexto·. duções eram sempre comentadas traduzem, confiando-nos oil seus <;lesse recu(so. qu_e lhe parece o exemplo-dado por Fr. de Vllle e discutidas, pelo menos tante segredos de atelier. Por '!xem- pseudo-poético, preferindo tradu- é mesmo de estl/,rrecer: um des– quanto as obras originais. Todos pio, um tradutor de Terêncio (co- •zir do gaélico em inglês puro o ses compostos pode significar si– acredltavam nestas palavras de mo-•muitos outros intérpretes de livro do campônio irlandês. co- multaneamente • as flores que B abits: " Confessarei, aliás, que o obcas clássicas), Victor Bétolaud, nhecedor de um -único idioma . · têm delicadas pontas de estames " trabalho de tradução é a meus discute a questão do tratamento, As mais curiosas revelações en- e "cachos de cabelos de lindos olhos· coisa bem mais importante sempre Igual em latim, dilerente contcam-se nos preâmbulos das rapazes", e nenhum dos sentidos do que se pensa. A vida psíqui- em francês segundo a ,respectiva versões. de obras ex.óticas sobre posslvels destoa do contexto I Es– ca dos homens não tem outro situação dos interlqcutores . "Re- os originais e as I!nguas em que sa confissão pode dar-nos uma tabique tão forte como a lingua- solvemos" - conclui - "mandar elas são escritas. Fr . de Ville, idéia não somente das dificulda– gem . É, com efeito, graças à tratar por " vous" os· maridos pe- autor de uma versão francesa des da tradução, mas também linguagem que se consegue pen- las mulheres, os senhores pelos de Cakuntala, obra clássica do das inesgotáveis possibilidades s ar; ora, a faculdade de adapta- escravos, os namorados pelas na- teatro hindú, comunica-nos. por poéticas daquele idioma, ausentes ç ão da linguageQl herdada é tão II!Ofadas ou pelas cortesãs; e, exemplo, que a peça original é de nossas línguas super-raciona– p equena que a gente não pode, vice-versa, os_maridos, os senho- escrita em várias línguas; as fuadas. por assim dizer, conceber senão Queixas iguais encontramos na o que a lingua permite. Assim, introdução de Michel Revon à i-s, a_dução, que força uma sua Antologia da Literatura Ja- língua a dobrar-se acompanhan- E .. o· . ........ ponesa em fráncês, pois, • de ma- do as. curvas de um pensamento xerc1'c1·O e Re·daça~ O neira geral, º 'idioma japonês é estrangeiro, é , mais ou . menos, extremamente vago e autoriza o único meio de comunhão espi- frequentemente, para O mesmo ritual requintada entre as na- trecho, grande número de inter- ç ões -- Cecília MEIRELES -. De~o a tais reminiscências ·o pretações". A compr eensão é tan- to mais difícil quanto poetas ja– interesse que me faz voltar sema .(Copyright E .S.I., com exclusi- saia do pé . :poneses preferem as alusões às p re a esse assunto tão pouco es- vidade para a FOLHA DO~ • A professora · ainda disse: afirmações claras. e gostam de tudado e a juntar mais um artl- TE, neste Estado) - "Você vai ganbar um par de sa• deixar ao leitor o prazer da des- go aos que lhe consagrei hã al- patos, Mariazinba". E ela sorriu, coberta do sentido privável. As- gum tempo . Num deles divertia- RIO - Marlazinha fez sete encantada (Um par de sapatos sim. o seguinte haicai, aliás mui- m e êm Imaginar um currículo anos e foi matriculada na escola . custa 30 cruzeiros). to belo: · de estudos para os candidatos a A es~ola fica bastante longe de Quando Mariazinha saiu da es– tradutor. Suas leituras deviam casa, e Mariazinha faz uma lon- cola, a's outras crianças, suas ser. de preferência, além das ga. caminhada , todas as manhãs, companheiras, foram andando, poucas obras especializ'adas que carregando uma ardósia, w>.m lá- com o portador; mas. como O sa– existem sobre o tema, obras fun- pis, uma cartilha e um caderno. pato safa do pé, Mariazinha abai– d amentals acerca da llnguag1:m O único defeito de Martazinha xou-se à porta da escola, para e estilo, dicionários e boas ver- é ser muito pobre (Isso é defei• ver se consertava ainda uma vez sões para serem cotejadas com to, professora?). · a presilha . os respectivos originais. Por ser muito pobre, Marlazi- Foi quando o policial apitou. o Queria acrescer àgora a essa nha recebe· merenda e uniforme automóvel não pôde parar, deu coleqão uma pequena 'antologia , da escola . Se a escola pudesse, uma volta pela rua, apanhou Ma– ainda inexistente, que se poderia dava-lhe um par de sapatos, por- riazinha, jogou-lhe para longe a compilar dos prefácios em que os que os seus estão muito velhos. ardósia, o lápis, o caderno e a tradutores fazem confidências ao A professora gosta muito de cartilha . Mariazinha morreu no público. explicando os seus pro- Mariazinha. Ela tem lindos olhos hospital. cessos e os seus truques, confes. castanhos, cabelos crespos, e está O motorista disse que a culpa sandt> seus fracassos, queixando- mudando os dentes, o que a tor• foi do guarda, que apitou quando se dac diliculdades do ofício. Faz na muito engraçada. o automóvel já vinha perto de- temoo. ando anotando o que há Os pais de Mariazlnha também mais . de aproveitável nessas advertên- gostam muito da escola e. da pro- O guarda disse que a culpa foi cias , prefácios, preâmbulos e no- fessora, porque, além de ganhar do motorista, porque vinha com tas de tradutor que tantas vezes uniforme e merenda, a menina excesso de velocidade. nem sequer se lêem. , aprendeu v árias letras em três Os vizinhos disseram que a cul- Em tais notas, de vez em quan- meses e está na lista dos que pa foi da rua, porque não tem do, encontro desabafos do tradu- vão ser alfabetizados este ano. sinal de parada , que se aviste de tor que reclama para o seu tra- Está, não, - estava: porque longe. b alho a fiscalização da critica. aconteceu úma coisa muito triste. As outras crianças disseram Os contemporâneos, pouco com- Ontem Mariazinha veio para a que a culpa foi de Marlazinha, preensivos, riram da ênfase com escola, como de costume, acom- porque ficou sentada IlJl' pedra, que o adolescente Leopardl, ao panhada por uma vizinha, que em lugar de Ir logo para casa. publicar sua versão do primeiro traz, todos os dias, várias crian- Os pais de Mariazinha não dis- canto da Odissé ia "se ajoelhava ças . seram nada, porque ficaram co- diante de todos os literatos da Marlazinha estava muito ani- mo loucos, sem entenderem como Itália para implorar-lhes que lhe mada. Fez um exercício muito é que a menina podia estar comu o1cassem, pública ou parti- caprichado. . morta . cularmente, o seu parecer• sobre Apenas uma coisa a incomoda- A professora de Marlazinha aoueh tentativa; entretanto essa va; é que a presilha do sapato achou que a culpa foi da presi– atitude me parece mais razoável estava descosida, - e o sapato (Continua na 2.• pág,) do que a dos intérpretes que, pre- vendo julgamento superficiais e apressaaos. desafiam os críticos a mostrarem o que é tradução pelo exemplo, como f,;iz Fray Luis de León ao prefaciar suas traduções de poetas latinos: "ÉI qu~ quisiere ser juez pruebe pri- mero que cosa es traducir poe– sias elegantes de una lengua ex– trana a la suya, s in anadir ni qui– ta r sentencia, y guardar cuanto es posible las figuras dei orig inal y su donalre, y hacer que hablen en c;;:.t~llano, y no como extran• JeraS y advenedizas, sino como nacida sen él y naturales" . Mesmo que não se aprove o desa– fio, deve-se reconhecer que o pe– riodo oferece excelente critério p ara aouilitar as traduções. É, aliás, natural nos grandes tradu tores de todos os paises a ãmia de definirem a tradução . Uma das definições mais cer– tas me parece a que encontrei no prefácio da versão espanhola de Ul isses, feita por J . Salas Subi– rat: "Traduzir é a maneira mais aten'ta de ler•. Precisamente es– se desejo de ler com atenção, de penetrar melhor obras com– plexas e profundas, é que é res– ponsável por multas versões mo– dernas, Inclusive dessa castelha– na de Joyce. No fim da Idade Média, e no ~onieço a moderna, houve fre– -quentemente, ao lado de'ste obje– tivo, o de demon~ que a pró– p ria língua, ainda rude e nova, ~á chegara à fase de maturidade e conseguia exprimir toda a ri– queza de matizes do original. É o que afirma Fray Luls de León no prcfãclo já citado em l;,lllação ao cnstelhano: é o que Ronsard quer n<'monslrar em relação ' ao fr;,11,-.as q•1ando imita e traduz P ín<õ!ar o. Alçm do esforço de circWli• /\!\oria Do Rosário (CONCLUSÃO DA la) tivesse acordado, não me rece– beria. J amais atendia, pessoal– mente, • quem o procurasse em casa, sendo sempre provável a visita de credores teimosos. Quando, contra a minha espec– tativa, Mâria do Rosário apare– ceu à porta, quase morri de ve~ gonha . Trazia os cabelos apa• nhat'os para cima, o que deixava 1escobertos as pequenas orelhas, onde luziam brincos de brilhan– tes, e dava ao seu narizlnho ar– rebitado uma graça até cntão lrrevelada. Relanceando os olhos pela mi– nha pasta, ela compreendeu, de pronto, que espécie de embaixa– da ali ~.,e levava. Sua tez mo– rena-clara, macia, avermelhou-se intensamente. Ela, que de ordiná– rio se mostrava t ão segura de si, não conseguiu ocultar o emba– raço em que se achava, e per– guntou-me, tropeçando nas pala• vras, se eu procurava por seu pai. Perde-se ràpldamente a mem6- rla das emoções. A natureza, in– teressada em nosso equilíbrio, apaga, com pouco tempo, os tra– ços que debcaram em nós cer– tos sentimentos mome.ntâneos. q1as lnteusos e pungentes. Se. eu tentasu contar, agora, o que en- tão se passou comigo, apenas conseguiria u m a contrafação, para efeitos literários. Limitar– me-ia a dizer que, decorridos alguns instantes de hesitação, consegui, dentro da confusão e vergonha em que me encontrava, improvisar uma salda condigna. Talvez Maria do Rosário não se ~enha deixado convencer. Em todo o caso, as aparências se salvaram; menti que minha irmã lhe mandara pedir que fosse à nossa casa, naquele dia, para combinarem um piquenique na chácara dos Olhos Dágua. Apressei-me a voltar para casa, afilto que fiquei para ad– vertir mlnhã irmã do subterfúgio que usara. E a idéia do pique– nique pegou, tr;izendo confirma– ção posterior ao que eu dissera, nos meus apuros . P ara um me– nino de doze anos, estou que não poderia ter dado remate melhor à situação tão desagradável. O certo é que o episódio encer– rou minha atividade de cobrador, triunfando o namorado sobre o funcionário, tão humilhado me senti. Obtive, algum tempo de– pois. que meu r,al n,p tirasse da loja e me deixAsse Ir, praticar no e critório do provisionado Loiola, Do sono que vi Acordada, sempre a cõr Do fris! exprimiria o adeus à existência de uma poetisa, a q_ual, acordada do sono da vida (quer dizer, mor– ta), nota que o mundo continua e os íris terão sempre a mes– ma côr. Testemunhos como estes aju– dam-nos a compreender melhor a intransponibilidade de certas barreiras não apenas linguísticas mas que se alicerçam em fundas divergências de tradição e men– talidade. Steinilber-Oberlin e Ri– detaké-Iwamura, que traduziram de parceria uma coletânea de Canções de Gueixas, procuram explicar ao leitor francês o que são as "palavras-travesseiro·" escolhos ante qualquer tentativá de levar as literaturas do E xtre– mo Oriente ao alcance dos oci– dentais: "as palavras-travesseiro são palavras tradlcionalmente aparentadas e que evocam por c?nseguinte. a mesma idéia'; as– sim, por exemplo, as palavras "esposa'' e ºtenro", ou "céu" e "eterno·• . Estamos citando ter– mos cujas afinidades se com– preendem fàcilmente . Em mui– tos ca sos, porém, a coisa é di– ferente e precisa-se de toda uma educação especial, do conheci– mento das expressões da litera– tura clássica, para se apreender o ,que o a{!tor pretendeu expri– mir . Em tais palavras encostam– se, como que num travesseiro ?Ut.r a S expressões reflethtdo 1dé1a s que se harmonizam com elas•. A . parte humanamente mais pre~1osa "e mais comovedora de muitas notas de tradutor• é dt;certo, a e_:<Plicação que se nos da da atraçao que levou o intér– pre!e. a _escolher o ori~inal; a v_er1f1caçao de uma afinidade In– tima (como no caso de Baude– laire. tradutor de Poe). a desco– berta entusiástica de uma obra– prima (como quando Goethe se apressou em verter o Sobrinho de Rameau, de Diderot), ou ain– da a sensação de se encontrar em transe parecido ao em que se debateu o gr11nde escritor es– trangeiro.: o qual se torna assim um lrmao na Infelicidade . Foi este o caso de meu amigo lstvân Vas, autor de uma versão hún– gara de Vlllon. feita num campo de concentra<'ão nazista em' l940 "Es~a traducão não foi feita co~ o, n1edoso intuito de mostrar ao publico o verdadeiro Villon. Te– nho pouca tendência para peda– gogo . •• Aconteceu aoenRs que as du_as experiências substanciais de V1llon, a danca da morte e o degredo, se tornaram no verão P:Jssado minhas nrónrias expe– riências princioai< . E . quando nessa época, O Grande Testa: mento, me veio <'air n:>s mãos essa. alma nua entre a terra e ~ céu prendeu-me irre~istivelmen– te e me fez pegar da pena•. E ssa Identificarão do tradutor ~om o tr:.duzido na humilhação ~ ,,.., snfrfmentn rl~'' º teor contrl– :•~f,11") '"'"' rr? P +,,.".l,.1U,...5" h'lVP.r sal– "" 1·~- 1 aulêntica obra-prima, _(E.S,I,! ·o-E·Z .P·OET AS. • • (CONCLUSAO DA ·~) p.>esia, m1::n,or <1íremo~; à sua prelÍ.IJ}.inarmente, da liberali• apreénsã9. O poema nao com- . dade forma_l, d_e t,al sort;P q~• porta uma eitegese ifria, ~o. ,cada po~~ mst1t111u Q. seu me~ sentido de pretender-se equ1- tro. Ultiµiamente, por~m,, n_u , pará-lo à · ordeni · meramente ma confirm~ção de . qu~ a tus• .episódíca do ·quotidiano. Em tória Iíterá-pa se processa ~n• face do poema, consumimo- tre fluxos e refluxos, têm_s1d_o · nos em· reaçõe!i ·subjetivas, in· reaprovei~adas todas as medi• corporando_:o. ou não às nossas · dás clássicas, sem comp~.o~~ exigências . mais intimas. NiJli• ter os elementos substanci_a;s ca lhe propomos questionários, .que podeD,1 · conserv11~, . nac . indagaç~s·' de natureza pura• obs.tante, a S\\a purez_:i. ..mte• mente lógica, como a preten- rior. Na . FraD:ç~, on!e • wn der" émpre~tar 1,1m significado poeta . moderníssimo, e 9 m 0 gràmatioal ao· vocabulário ê à A.ragon, nunca !l~andonou a estrutura do ,poema.. rima e o m~tro, poet_a~ JC?Ve~s Achamos que a presença do já adotam for~as _trad1cro!la 1s, sr. Floriano . Jayme, na anto• ··dentro das quais situam o s_en_– logia do suplemento d.a .FO• • tido pessoal de sua co~u1pca– LHA DO NORTE,. é de cer to ção poética. No ·Br.asil . a1qda modo a mais considerável. ex- há POllCO o sr . ·~êdo ,Iv9 PU· cluidos. dois ou três poetas blicou uma colet~ne!l d~ s~ne– mais próximos da realizaçãQ. tos egu!,libradíss1mos, rupados integral e consumada . A sua e medi~os. abs<?lutamente 1,10- . poesia asfixia-nos às vezes, ao vos, cuJa densidade abstra~a peso da atmosfera trágica que não foi pert}li;~ada -pela têcm– transmite, deixando-nos em ca. O propno sr. Carlos ' pânico ásperos e abandona, Drummond de Andrade, que dos. Projeta-nos uma força ·um dia dissera "que não rl– telurica que não conhecemos. maria a palavra sono com a no Brasil. senão em · M'.urilo incorrespondente palavra ou– Mendes. Uma força titânica tono", e de quem nunca se es– que conduz desespero e mêdo. perariam sonetos, já os com– E quando porventura raia põe, dentro daquela sua co– uma esperança, um pouco de nhecida sobriedade mineira. . . ar ou luz. vem a idéia inva- 'Regista-se. desse modo, uma riàvelmente ligada a uma alu- tendência acentuada . para ·o são malvada e opressiva : . retõrno à ordem m etr1ca, pelo "•Ontem como morto de últi– [ma classe eu abria a janela dentro do [horário dos sinos". ll: justamente a palpitação de um mundo transfigurado que lateja nos poemas do sr. Floriano Jayme, os caminhos múltiplos que sugerem, as longas raizes que se espraiam por sob a sua palavra sêca, justa e esquemática - que convidaria um critico menos ligeiro a um melhor exame, a pt'squisas mais cautelosis . O ritmo poético do sr. Floriano Jayme, ao primeiro contacto indesejável. é rico em com– l)assos - poderemos diz<?r - atonalisticos. Na sua música há mais dissonâncias que conso– nâncias e em seu desprezo pe– las notações gráficas não é di– fícil descobrir uma linguagem desejosa de eliminar pausas e barr!!iras para uma comunica– ção mais incisiva e in~antâ– nea. Poucos poetas no Pará (mais dois ou três, talvez) po– deriam fornecer, como o sr. Floriano J a y m e, elementos melhores para um estudo sé– rio. elementos formais e subs– tanciais . Isso relativamente apenas ao sr. Floriano Jayme. Quan– to aos demais, não obstante serem quase todos menos con– sideráveis que aquele, mere– ceram do sr. João Afonso re– f erências quase telegráficas, notando-se no autor a preo• cupação da biague e do para– doxo, aos quais faz concessões, em p rejuízo da justeza e da seriedade que devem resguar– d ar o jul~amento honesto. Em principio, como _já es– cla r eci, condeno a m aneira s~– mária discricionária e arbi– trária' com que o viajante apressado encarou os nossos d ez p oetas. A inconsistência da critica é notória. Peca so– bretudo pela unilateralidade d as apreciações . Ê verda~e que o seu virtuosism_o _yerlial mistifica" certas om1ssoes e mesmo leviandades do acto crítico. Lembro. por exemplo, as poucas palavras· acerca do sr. Afonso Rocha, a quem o sr. João Afonso atribui o pre– conceito da perfeição parna– siana da forma. pela razão de seus versos se ajustarem ao metro decassilabic?, imyo~d~– lhes ainda o poeta a d1sc1ph• na da rima consoant,~· ~con· selha-o, por isso. a a~r~r as comportas" de seus lmdos sonetos". O sr. João Afonso acha-se atrasado no tempo . Essa prevenção feroz contra o verso medido e rimado teve razão de ser quando, justa– mente no fim do periodo par– nasiano a que alude, essa prá– tica assumiu aspectos grotes– cos de tal modo qu~ a arqui– tet~1ra do poema absorvia e polarizava o exclusivo ideal do trabalho de composição do ar– tista. O poeta arrumava as palavras, dispunha-as geome– tricamente; o que pudessem exprimir, pouco importava . Contra esse atrofiamento se opôs um movimento de récu– p eração da substância ontoló– Jtoa, &10. mundo Irreal, através, qual responde no Pará, como · uma voz solitária, o sr . . AlQn· so 'Rocha . A respeito desse poeta. o que o sr. João Afon– so supôs que fosse velho, é precisamente o oposto: actµal. Daí por que parece tõlo o seu jeito magisterial de indicar rumos áo sr . Afonso Rocha, .de um modo assim negligente, quando o caminho certo é ,o do poeta e não o seu. Achamos bastante curiosa a observação cl.o sr. João Afonso a respeito do sr. Cauby Cruz, observaciio que é um verda– deiro flagrante da superficia– lidade e "habilidade" do críti– co. Diz êle que "persiste no sr. Cauby Cruz uma indecisão que transnarece na esc~lha cautelosa das palavras, COD!O se o poeta. ficasse tomado pela timidez n() momento em que vai escolher". A primeira vista. dir-se-á. tratar-se de uma observação agudíssima, profundíssima e inteligentíssima . Não é. não . Vamos revelar de aue manei– ra engenhosa o critico mos– trou essa "mise-en-scêne" to– da . Num de seus poemas, diz o sr. Cauby Cruz: " De quando é o nosso amor [tão casto que quase em medo em mim [trago encerrado e que revelo aqui medido e [calmo após pesar palavras e detê– [las". A indecisão, a escolha dos vocábulos, a prudência. con– fessa o poeta que se refere â revela ção de um amor casto nutrido em silênc!o por outr (l poeta, o que, a um profano poderia parecer desnaturado. O critico vê nesses. elemento! (timidez na escolha das pala• vras. cautela, etc.) um ponlo d e referência para uma obser– vação que pudesse parecer a síntese admirável da poesia toda do sr. Cauby C ruz, mas na verdade não conseguiu se– nilo arran.lar e compôr um ar– tificio sem nome. uma misti– f icação. Mistificação aue me– lhor ressalta nas ligeiras li– r, has em torno do sr. Maurício Rodrigues, em nuem entrevê a próxima conauista de uma lin– f:!'Uagem poética próoria, o que é inexato e falso, tão incarac– tP.ríst.ica e caótica é a .expres– são formal do poeta, ainda atingido frontalmente por in– terferências estrannas. o que é natural, dada a sua pouca idade. Focalizando o sr. Benedíto Nunes. de quem tudo o que afirma é inverídico e cáusti– co, diz o sr. João Afonso, alu– dinno a um noema seu. que o poeta "reuniu o material para um poema e não fez o poe– ma". A respeito de sua critica. poderemos dizer o mesmo : reuniu algum material, .colheu algumas poucas notas, e nllo realizou o estudo critico. Exa– tamente porque l?ensou em sunrir a visão apressada e pa– norâmica com a ~ua argúcia e a sua capacidade c111ase diab6• lica de impro-,fsa_flO,

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