Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1951

.&mingo, 14•de, J_fl':'eirq d~ 19,51 , -=- .. .., .. . 4 • ;..;;. • ....;....._,;;.;;- ;......,- ....,______ ;...;,.'.JI_,._,.~ __ ,___ -...........,_._____ • ialM ~do ~r!t e: G DIRETOR '"PAULO MARANHÃO . ··~· SUPLEMENTO: ,-----., (Conclusão •da · Ult. ·Pagina). '· ~1• 1, ~- '. '. ,, _:s :,o•. ~. <..~' ;r:. ·:e·· ...·· .. . ..l.;} . ' , . . .. ,·•- - ------·e OLA B ORADORES -----,,---- ·(· res, pelas m1.1t.ãções do Ji!l,eio am- dcsgraç_a que elas • tiriliam ' de ~mana. -0 ·pessiml.sino·.~e que fa. ', biente, : até que ele comec~_- u~ ; ··achar a· virtudé Ínihima ·..:::··a dê .l,an~~sj,>osftu\, ~aíze~ ) >rofundas•'!ió • tiômicidio·por •causa·.de. um -çsta•· Tudo .o,u ·a , de Jlad~'.'· J)ois c_a: •.:'s,!mt~m~ot.9 ~ ~P,ll~ific~ ·d~ \~- . do 'de 'irritação a qile d~ 'uorige~ ' · minhós são ai aponhdos ; o · da . pprt'ância • do ~llomem dos n11sso_s '\o' ê.Kces'so c\11 luz solar numa praia Fé, que- é tudo e O' da vida· sem , •dias-;' .que· Karl Jas·pers ,.. ~ponta DE ·oEf..EM' : · - -Álofüio Rochã, Benedito ~unes, ~rutf,i de Menezes, Çauby Cru?l'. Cécll ~efr~, ·:c~~ · f!er· t\ardo aniel Coelho de Sousa, f . Yaulq Mel)des. G_a~i– bal(li -Brasil Haroldo Maranhão. Levi Hall d~ Mour!?' ~lário Couto, Mário Faus~•no. .MaurifiO Sou~a.Filho. .Ma]! Martins, Nunes · Pereira, Orlando Bitar, Ot.av10 ~~don,– Çl.', · Paulo Plinio Abreú,. R. 5}e . S~usa '. Mour~. · ~l!l ~~~ ,.. therme Barat~, Rui pontinho, Simão C. Bitar, Sul~ana -'. Lcvy Rossemblatt. ·· dé''Arg~ . A:_ raculdadf ?e, orien- Esperança, que é nada . .,A ~olu- como sendo -uma• das re,ahdaqes tação determinada pelb entendi• çã'o ·que Camus •prefére ·é a ' se~ egpirituais"da época em que vi– :.mént~. 'solréu ·u_m c·o_l,:it>~.º brúsco. gunda. :i!: 'a ·solução de 'Sisifo·: Ela·· vêinos': .Conhecemos . J,toje um ' Estamos em face de um homero '. consiste' na. rnpràl ele .desespero .,m{mdo. . 9~e.· ,lf~erras s\i:~ésslvas ·dotado de ~extreroà sensibilíd11de,· que ger;i m:na ,atitu,de,, herói~,!,, a transfor.m:1m. n!), palc;.o qe tr~gp: - E - venos ' qu'e essa-,sen3ibilidade qual é · manHcla ' pelos pei:sopa- · dias , ininterruJ!tas. É u~ .mundo ' exagerada traiisfôrmouJse ~m pu- &ens que habitam · o mundo que êm _que a hjstória age ~om ritmo · ro 'delermiilismo. Nossa bberda- a Peste escolheu · para sua mo- riovo, o ritmo catastrófico de que DO·RIO : - Alvaro Llns. Augusto Fred'er1co Sc~idt. - Aurélio Buarque de Holanda, Carlos Drummond de An– drade, Cassiano Ricardo, Cecília .Meireh,'s, ,Cyro'dos Anjos, Eugênio Gomes, Fernando Sablno, Fernando i;:_erreira _~e l,oanda, Gilberto Freyre, José Uns . do Rego, _Jo~g~ :e Lima, Lêdo Ivo, Lucia Miguel Pereira. Ma~ia da ,Sau a e ·cortesão, Marques Rebelo, 'Manuel Bandeira. Maria . Ju– lieta Drummond, Murilo Mendes. Otto Ma.ria Carpeaux, Paulo Rónal Rachel de Queiroz. . . . . OE SAO PAULO: - Domingos Carvalho da Silva, Edgar Cavalheiro. ltoger Bastlde. Sérgio Milllet. DE BELO HORIZONTE : - Alphonsus de Gulma• ráens Filho. Bueno dP Rivera. · . OE CURITIBA • - Dalton Trevisan. Wilson Martins. '. DE. PORTO ALÊGRE: - Wilson Chágas. DE FORTALEZ~: - Antonio Girão Barros~, Aluisi? Medeiros, Braga Montenegro, João Clímaco Bezerra, Jose Stenio Lopes. . , . DE PORTUGAL: • João Gaspar Simões, .José Regio, UM POEMA DE SPI RE Sergió Milliet . (C,pyr1ght E .S. I., com exclusividade para a FOLHA DO NOR- TE,' neste Estado) SÃO PA'UµO - Conheci André opire por intermédio de Charles Leber um jornalista de Paris e que fôra meu companheiro nas batalhas literárias travadas sob a orientação de Romain Rolland, Stefan z weig e o psicólogo Cha.r• les Baudouin. Colaboramos nas mesm as revistas e comungamos nas mesmas admirações, embora ele fôsse mais velho e já hou- . vesse a cumulado experiência, en– quanto eu era apenas entusias– mo . como seios, tuas tranças são las– civas tal um rebanho de ca– bras . . . Manda cortar teus cabe– los! Tu estâs nua, mulher. Sobre 0 meu livro aberto pousam as tuas mãos sem Iuvas,tuas mãos, fim sutil de teu corpo, tuas mãos sem anéis e de que as minhas se acercam irresistivelmente. Muti– la as tuas mãos 1 Tu· estás nua mulher. A voz harmoniosa sobe de teu peito, e o hálito, e o próprio calor da tua carne que sobre a minha se es– tende e a penetra. Mulher, aba– fa a tua voz 1• ••• de fica, · pois rédu,z-id3; a , uma• rada. fala Be rdlaef: O homem não tem . constatação·duvidosa. Somos con- · Dissemos que a obra p, ima .de ·· podêr es pai-a i.fastar o perigo_que tinuamente enganados .acêrca de Camus refletia a aventura do"ho- ameaça aniquilar ou mesmo para nós mesmos . Durante a - Peste, • mem• contemporâneo: sendo, por · controlár a suà extensão . Em os homens sãos abandonam o em- isso,. em p arte, a tradução das · torno' dele a ~e!'lidad!i! lndomáv.el prego que possuam para juntar- contingências existenciais de nos- exer~~ a sua pressão, surda ao se aos médicos na luta contra ~ . so tempo. . • apelo dos sentimentos mais pu– epidemia . . Provisõria'i;nente, eles O he.roisroo que advem da ne- :ros, ·çomo amor e bondade, que sabem-dispor de sua.liberdade. A ,gação . d a· Fé-, como a ú nica- po- • el:l desorienta, tal como a Peste Rieux só interessa curar , quando tência capaz de arrancar o ho- com ·as suas vítimas . Dentro da pode e enqllanto duràr a Peste; mem do desespero, ,e que se fun- cidade ·de Oran os habitantes se– indiv1duos como ele, como Tarrou damenta na céga necessidade 'de gregados não lutam apenas con- . e Rámbert terão ªclarado, pelo viver, é um heroismo peculiar ao tra a enfermidade _mortal: lutam menos por algum tempo, a signi- homem contemporâneo . Esse !)e- para · conservar intactos· os seus ficação dos seus destinos, que é roismo surge como direta con- Slilnti'r:nentos·. Lutam pela inte_gri– salvar a cidadé de Oran das gar- sequência de uma reflexão pes- dade da própria natureza huma.– ras da Peste. Quando ·ela terml_• simistn em torno da situação hu- • na . Rambert, por exemplo, um nar nero mesmo os que esperam a a'bertura das portas. da cidade para abraçar as pessoas queri- das que perm11neceram distantes. isoladas da !>este e dos homens, saberão o que 'fazer da liberdade reconquistada . Até mesmq ~s sentimentos m;lis nobres e mais, elevados estão sujeftos ao In:OVl•, .. mento r otineiro da qemora e da espectativa, que acaba por con– gelar as aspirações da alma e os movimentos liv~es do e_spirito. Quando a Peste abandona a ci- dade, ela fica n(\S cor11ções; tor– na-se uma presença constante; e a liberdade que· os habitantes de Oran pensavam em ter com o fim da epidemia, oprime tanto ou mais do que o próprio furor da terrível doença, 1>orque igno- ram o que fazer de si mesmos, uma vez que não têm roais o que combater. Camus simboliza o homem Ji. vre na figura de Sisifo, do "J:,e mythe de Sisyplie•, rolando a pe• dra do alto da montanha, para de novo empurrá-la, de baixo, até alcançar o cimo, d<i! ohde, renovarâ pela eternidade o seu trabalho de condenado. A pedra é o mundo a que está preso, sem encontrar urna explicação plausí– vel para isso . Sabe, apenas, que tem de movê-Ia e prociµ,a tirar. desse exercício uma satisfação, um proveito intimo, uma alegria de viver que o assalta, no, inter– valo, entre a queda do bloco e instante de alçá-lo até onde foi determinado pelos deuses . Ele vive. Eis o essencial. Sua con– denação ou salvação quando ter– minar esse trabalho penoso é um fato que lhe passa desapercebi– do. Em "A Peste", Camus se apega à realldade tangível que nos cerca, mas para constatar que ~ssa mesma realidade está envol– vida por uma outra que não po– demos compreender e que sur- Exerc1cio :be ·Redaçâ0 (Conclusão da 3.') lha do sapato, que estava desco- Mas houve outras pessoas que sida e não a de.ixav-a andar. E acharam que o que tem de acon– dizi~. inconsolável : "Por que tecer . tem. muita força, e qu 7 o não lhe dei logo um par de sa- sapato. tinha de estar descosido, patos? Por que não consertei para ;Mariazinha morrer daquela aquela presilha? Por que não te- maneira. ·mos uma agulha grossa, para A escola é muito nobre. Não dar um ponto núm E,apato? Por pode distribuir calçado . que não acreditamos que as pe- As . crianças levaram flores -quenas coisas podem ter grandes para Mar.iazin_ha mo.-ta , Custa- efeitos? • ram 50 cruzeiros. A FACE (Conclusão da l .a pág .) num verdadeiro movletone de ri– quezas que vai desde o jogo há– bil das assonâncias e aliterações convocadas para testemunhar a verdade de seu Canto até a ex. posição de um quadro mural onde se projetam as mais lar– gas preocupações do poeta. pois do outro" planta-se no co– ração ardente da vida que o cer– ca, elucidando-se e inventando-se a si mesmo à medida que se con– fessa e se analisa . E é precisa– mente . essa análise espectral da realidade, esse exame do coti– diano até sua desintegração roais crispante, que suscita a atmosfe– ra universal de seus poemas, to– dos eles guardando, nas dobras de sua estrutura, uma posição humana que, compartindo simul– tâneamente do ;desespero e da es– perança, da farsa e da alegoria, é a mesma de um Auden ou um Stephen Spender, de um Paul Eluard ou um Saint-John Perse. Gostei ,. desde o inicio, de sua poesia generosa e pa}'ticipante, obediente a um ritmo muito pes– s oal que lhe acentuava a grande 'aspiração de justiça social ao mesmo tempo que marcava de m aneira apaixonada sua indes– trutível humanidade . De volta à lingua natal, após as aventuras da expl'll61o em francês, tradu– zi dois ou três de seus poemas., Os anos passaram, perdi de vista o poeta, mas lia ainda, de quan– do em quando, algumas páginas suas nos periódicos franceses. Termino a versão e saio a pas- ge simbolisada na invasão da pa– A meu• ver, até aqu1 não foi focalizado o asp·ecto mais im– portante da atual poética do sr. Cassiano Ricardo, qual seja o de sua modernidade. Para enrique– cer-se, ele não' procedeu como alguns de seus . ilustres pares da revolução modernista, que solu– cionaram as contradições e a crise de permanência de sua arte, frequentando área!; rítmicas mais fáceis e aparentes. Em sua ade– são ao cancioneirismo, o sr. Cas– siano Ricardo hauriu inteligente– mente a Ução fecunda, qual seja a de incorporá-lo à sua poética, transfundindo-o, porém, cobrindo– º com o sangue das hora~ de seu dia pessoal de ilomeI!l e de artis– ta . Esta é para mim uma das perspectivas mais singulares de sua obra, que aliás não manifes– ta em toda a sua linha uma pre– meditada pesquisa do . lirismo peninsular, preferindo manter-se fiel ·em sabedoria vocabular que ele conquistou à sua frequen– tação com o léxico modernista. O poder de comunicação de seur poemas, que se realiza sem prejuízo das virtualidades de ine– gável contextura hermética , re– vela o dominlo com que o poeta superou as etapas mais difíceis, e também nesse aspecto ele me part:.-ce integrado na admirável comparsarla poética a que aludi - a viótria da comunicação so– bre o Incomunicável ou a lin– guagem cifrada, através da hu– manização dessa "magia sem es– perança" que, para Monnerot, é a poesia moderna . E creio que, completando o seu itinerário, o sr. Cassiano Ricardo atingirá sem dúvida a poesia mural, exe– cutando trabalhos planificados dentro de um critério coletivo de visão e emoção, aderindo fran– camente à poesia-assunto. E as• sim cumprirâ a grande viagem do poeta que, tendo iniciado sua obra coro um mito, a termina da mesma maneira, descidos e subidos todos os degraus do mun– do. E êste mito é o do homem de face perdida que cruza hoje tõ– das as ruas do universo, mora em todos os quartos, sofre as guerras, solitário e contempora– neo. Através dêste núcleo cen– tral, processa-se o canto do sr. Cassiano Ricardo, que nos dã, a odos, não apenas uma lição de grandeza como também uma Agora deparo com um poema que me convida a uma nova ten– t ativa de adaptação. É o conto da condição humana, preponde– rando sobre quaisquer posições 11ssumidas. intelectualmente. Nós, pomos, as vlsceras, o sangue, o ~Iribiente condicionante dispôem ... e fôr a preciso uma revolução in– tegral social e biológica para que assim não ocorresse. Ouça-se o poeta: "Ela lhe dfsse : quero ser tua camarada, quero bater à tua por– t a . sem temor de perturbar-te. Juntos pensaremos em nossos ir– m ã os perseguidos e sérios deba– tes travaremos. Iremos pelo mundo em busca de um pais onde lhes seja permitido repousar : Não quero que teus olhos bri• lhem, nem que palpitem as veias de. tua fronte. Sou tua igual e não uma simples presa. Meu ves– tido é severo, quase pobre, e nem sequer podes ver a linha de meu pescoço. E ele lhe respondeu : tua estáa nua, mulher . A penugem de teu pescoço atrai ·a caricia da mãQ. Aa onda. ~ tua cabeleira arfam seio. As árvores truncadas, negras de fumaça, odeiam os onibus que tomaram conta da rua calma do outrora '. 'Quem não odeia a in– discreção agresisva e grosseira desses monstros de uma nova éra? Nos museus que os "ro– bots" construirão, suas carcasass de dinossauros hão-de igurar. Os homens terão perdido o dom da palavra, e tal qual os animais em nossa época, serão persona– gens das fábulas de um La Fon• taine atômico . Sentiremos a nns– sa decadência?· Ou seremos en– tão como esse vira-lata esperto que apressa a corrida na calçada, à caça de um gato se esgueiran– do pelas grades do porão? Ah I que importa esse deva– niuo, fácil brinquedo da imagi– nação I A primavera úmlda ain– da pode sustentar a angústia de mais um estio, Uma ârvore que seja ainda nos darâ flor e som– bra para o dia da aquietação. Um copo sobrará e um amigo, na hora da filitma confidência. No mundo da gasolina e das pasti– lhas beberemos a derardeira taça de · champanha à glória de um poeta esquecido. ••• A civilização careceria, para se..salvar, de um maior .número de poetas CO)IlO André -Splre•• cata cidade de Oran pela peste llubônica . O homem está ligado à o.rdem da Peste. que é uma ordem t.lcompreenslvel, cujos di• tames entram em conflito com a ordem natural, a cuja linguagem estamos habituados. A Peste é aqui a manifestação de um poder supremo, cujas determinações pa– recerão absurdas e desumanas se vamos apreclâ-las sem ter o coração preparado pela Fé. Sisl– fo, ligado ao seu rochedo, não é reconfortado pela Esperança. Os personagens de " A Peste" estão compreendidos na ordem da ca– tâstrofe como joguetes de suas determinações. Nenhum deles acredita em Deus. Nenhum de– les procura interpretar a reali– dade da Providência que se Infil– tra sob as aparências terríveis da epidemia . É o pàdre Paneloux que procura Interpretar a lin– guagem da Peste. Pelo seu poder ela- havia Imposto ao homem a neceslsdade de reflexão sobre o seu destino e como que o inti– mara a tomar uma decisão. Essa decisão é urgente . Crer ou não ~rer . E P aneloux dlz no seu ser- • mão: "Meus irmãos, a hÕra che– gou. É necessário crer em tudo ou negar tudo. E quem entre nós ousaria .negar tudo t •.• Em outra passagem da sua prédica, o cro– nista anota as seguintes · pala– vras:" Hoje Deus fazia às cr.ia– turas o favor de mandar-lhes tal A modernidade do sr. •C'assia– no Ricardo concede à sua poesia uma pungêncla poucas vezes con– seguida . em nosso panorama li– rico. O que este poeta canta principalmente na face reencon– trada de sua nova poética, é a "face perdida" do homem con– ten;1porâneo , Dai suas desespera– das conotações de hàbitante de uma terra que. sendo historica– mente a mesma do poema de T. S. Eliot, é uma terra devast_ada , abalada pela crise da história. Coloca-se o sr. Cassiano Ricar– do, com os seus dois filtimos 11· vros, dentro da mais alta linha– gem espiritual e artística da poe– sia contemporânea. Através de iguais procesos de revitalização de. formas . não apenas tradicio– nais como até populares ·ãe ex– pressão, o iiutor de " Um dia de• lição de humildade - a grandeza e a humildade de tµna poesia que espêrou trlntA anôs para a firm.1.:-se em tôd · a ~u3 veemen– te e ousada autenticidade, li ; feporter que fica ·prisioneiro em Oran/ pof ·oca·sião: da Péste,_•nã<> ,. quer sujeitar -o amor que dedica à stÍa amante que•-estâ em <Paris. aos cái>riê'IÍ'os insaciáv'eis da c~– laniidaie.· Dai as suas tentativas ·. '' frustradas para , aba11dqn.ar · a <;!· dade . até que resolve associar-se ao, h~r'oismo dos , companhe,il'os: que se-dedicavam ào serviço das .oi-gànizações '·sani~{lrfas .n?" l!0~7· tiate à Peste : Mas Ratnl:>ert tem que capitular. diante ·dela, " De– vemos viver e mo,rer pelo. que amamos-'' , diz. ao dr. Rieux. Essas pàlávi:às perdem a sua significa- ção quando s·ão pronunciadas por .um• ho1ne·m q_ue de'!'ia, 'como Tar- rou ter 'a Peste muito antes ,de conhecer aquela ' cidade. E dian- te do poder avassalador da epi– ·demia que abafava paixões e des– fazia dramas de amor a solução estava no heroismo de Rieux e Tarrou ao qual Rarobert adere. "Na.da •~o mundo 1nerece que a, gente se desvie da c_oisa. !1~ni:ada·. Entretanto, eu roe · desvio, eu também, e não sei por que" . · Sob o domínio dll Peste o l'ÍO• mero fica transtornado, ·perde a noção de que é umà criautra, · com aspirações elevagas que o encaminham para Deus. ll: <> mesmo clima de angústias em 11.ue •se debate o homem contem– porâneo, ·que procura salvar-se adotando uma solução de deS\!S– pero. Sislfo tinha apenas a vida ~em esperança . Slsifo é um !3e• rói, roas p seu hero1smo consiste simplesmente em viver·, pot'que viver, por si só, representa u1n ato de bravurá. Eis a fórmula do heroismo peculiar ao nosso tempo. É o dos home_ns que ,lw.• tavam contra a Peste, pois eles sabiam muito bem qµe eran:i iriú– teis os seus esforç·os, que o com• bate que travavam era ' estéril. E lutavam sem Esperança, por imposjção de sua moral de deses– ~êro cu_jo ;>rincipio é o dr. Rieuic que .enuncia: "A idéia pode fa. zer rir mas 'não hâ outro meio de lutarm.os contra a peste. Ho– nestidade". Ele negava que no esforço brutal que desenvolvia no combate à J?este estivesse reali– ~ando um ato heróico . A hones• tidade de que fala pode ser ne– ·cessidade ou, em outras palavras - fidelidade à vida. Fiéis à vida pela batalha necessária que tra• vavam contra a Peste, os perso– nagens do romance· de Cainus es– tão ligados ·a ela como Sisifo ao seu rochedo. Mas, como se pode notar da leitura do "Le Mythe de Sisyphe " (que é a filtima p ar- te (. · ensaio do mesmo nome) há um momento em que, o próprio S!sifo sente a felicidade invadir o seu ser . " Il faut imaginer Si• syphe heureux" . ll: o momento em que o herói tendo rolado· o seu rochedo do alto da montanha, vai encontrá-lo em baixo, para recomeçar o trabalho que não cessará nunca , Nesse pequeno intervalo, Sisifo adquire consciên– cia da sua força e da sua na– tureza . É o breve instante de uma trégua lúcida para consigo mesmo. Também, na "A Peste", há dessas pausas confortadoras em que o homem está prestes a adquirir consciência do seu des• tino e da sua verdade!i'a nature• za, mas não vai além da po~se do sentimento confuso que aspil'a a felicidade . Esgotados pelo exaustivo trabalho de um dia de combate à Peste Tarrou e Rieux sobem a um terraço de um casa de onde se avista o mar . Ficam silenciosos, chegam a esquecer que a Peste viv~ dentro deles e da cidade de Oran. E então, Tar• rou pergunta ao outro: "Rieux, avez-vous d'amitlé pour mol?" Essas palavras mãgicas introdu• zem na ordem desumana da Pes• te um principio de liberdade e de consciência. J!: que Camus, não podendo dar ao homem a espe• rança concede-lhe, ao menos, o poder limitado da ternura. Quan• do a epidemia desaparece, quan• do os habitantes de Oran vêm-se livres do terrível flagelo. concen• tram a sua espectativa nas por– tas· da cidade que serão final• mente abertas, devolvendo-lhes as pessoas amadas que deles es– tavam distantes. E o cronista de "A Peste", que é minucioso no rftlato dos acontecimentos que se passaram por ocasião dn epi• demia diz assim: "Sabiam agora , que uma coisa podemos desej r sempre e obter às vezes; a ter• nura humana"

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