Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950
Mauricio Rodrigues Maurício de Sousa Rodrigues, constando nos arquivos poético, ,omo Maurício Sousa Filho. 18 anos. Solteiro. Católico apostólic:o ro- mano. No Brasil Machado de As– ais e Clarice Llspector, seua ro– mancistas preferidos. Na estran• Ja: Dlckens, Emile Bronte e Ja– mea Joyce. Eetudante quase sempre. Beethoven, Debussy e StrawiakY o seu trro de composi– tores. Carlos Drumond de Andra• de e Augusto Frederico Schmldt o maior dueto nacional. Entre os alienigenaa: Rlmbaud, Verlalne e Poe. A Francisco Paulo Mendes deve o seu gosto pela poeala. Li– vrou-se de um pecado: a funda– ção de uma revista. Considera o cinema um alivio. Jl\ apreciou o futebol. Quando obrigado usa gravatae. Amou e6 uma vez na vida. Tem medo da• almas do eutro mundo. Politicamente ama a liberdAda • o comodi-.mo. Ama • Paz e odeia os reacionário.A. *** POEMA O momento é de angli Ua e minha alma cllora e, momento é de 1.riateza e as r osas vacilam na madrugada. Nesta ausência de música nesta fuga de orvalho brotas misteriosamente rosa impressentida. )ieste momento em que o apelo do mar é recuead1 neste momento de aurora inquieta Jll)rges feér icamente r sa inefável de meus olhos. E nesta hora em que tudo parece morrer para o mundo nesta hora em que a poesia anda errante e desabr.ú!ada t~ me envolves rosa e1ema • me embrlaa:a.e com tua música. ANSIA a:mbalde o canto se petmaneço Jonge fmblllde o m11r se o vento do acaso me lf:va ara a região do nunca. Que faze no momento grave •e cresce a flor profunda na eseuridlio da noite. Como voltar ao anUgo se o pãssaro se confundiu com o alije, no eeu Yliml te Ma7 Captar a pureza perdida na fonte e retomar com a hsta das oodas do mar. E se dei:ejo do antigo essa música violenta e desesperada . tlesmancbando a aurora f:m aom perdido. Como de novo amar l!ti é,i matinJiivel e ausentet MúSICA IMPRESSENTIDA l!l e mn lca velo na nuvem e a nuvem rolou aubitamente em meus olhOIII despertando estranha flor do entardecer. E a música veio na cavalgada branca de poe– ,acol'dando o sonho tombado no perfume. A m'l)s!ca despertará lembranças risos amar,u:rae e e6 a ausente ae prolongarã no allllncio frio e na mansão distante Clllde dançam 38 bailari.Jlaa do cre:Pil!culO. !ELEGIA Pll9 NJ. teu canto este perfllme e vem na manhi nevoenta despertando lfrioe adormecidos. Te veste com a espuma da onda • traz antigos sons molhados de trtmeaa. Vem na manhã anunciando a aure:ra, Vem fria e transt6clda como mensagem do m,.l', Flor de ou1ono. lua de inverno, tlOU marltimo de perdido remo. · Imaginário mar de praia triste, Davlo da aurora perdl'do em bruma_ ema 11audade vivendo em mtm. l'ranto de J'06&, tcanção da morte. ~Rrdim noturno. vlolento mar. esta aaudade frágil tristeza vivendo em ~ .CANÇAO Max M a ·r ti n s Max da Rucha Martins. 24 anos. Nasceu em Selem . Casado, tem uma filha, Maria da Graça. Ca16lico apoatól icô romano . Mar– ques Rebelo, Graciliano Ramos e Ciro dos Anjos 1ão, entre nó•, os romanciatae preferido~. Entre os estrangeiros gosta do Proust e Gide. Bach, Mozart e Chopin são os 1eu11 compositores. Comerclã– rio. Carlos Drummond de Andra– de, o abaoluto entre os mala ve– lhos. Ruy Guilherme Barata, Paulo Pllnlo Abreu e Ledo Ivo entre 011 mais novos. Gosta mul– to de Rllke e Fernando Pessôa. Politicamente 6 soclallúa. Acre– dita na paz e acha um crime a bomba atômica. Seu primeiro ato po6tico foi ter sido preso aos 12 anos, como apedrejador de man– ouelrae. Trocou certa vez, em Abaetetuba, o livro do "Imortal" Corrh Pinto, por uma calca de v~. Tem um ll"'o • publicar: u,.., Estranho". POR De ODde vem este sangue Que não é vermelho é róseo? QUE? Esta aêde de não parar em parte alguma Ter todos os po1·tos nas mãoa? 1 ne onde vem este eanaue? De vna Real 1 De Forlalezat Do Porto? Fercorrerel todos os arquivos Desejo saber por que só quero rQUpas Dranc1111 Gravatas berrantes ' For que minhas olheiras nfletem mulherei, nda.st J>or que amo amo amo? For que sou Max da Rocha MaiUna E não Fernando de tal! Por que? J>or que José? )'or que Maria? f'or que Lals Por o.ue te calas Eurico? A VARANDA f) cate que unge a xfcara b leite que derramaa na xicara P riso que tens, de cabelos molhados t. água ~ria que espanta a noi~ ~ a angústia dlll! noites J) l&Ol que bate na verde Janela ~ o vento que sacode a eortlna bQrdata. f: :Jornal que noticia desastres branda varanda de o relógio domina H ohaminé que respira 1.000,00 em flor leite o beijo a rosa • rOJSa que batiza a walba. POEMA Neste momento estã me faltando uma :palavra Bl■lfC■ Que DIio encontro nos dicionãrlos ~m em meu pai morto hà dois IIJIQ8 "em no amor Uma palavra mágica e6 ÍJma só ,12 anos e o mesmo sol D mesmo eafé todas as manhãs D mesmo beijo todas aa noites ~ mesmas crises o mesmo dinhe!N, ,.. mesmas cadelas Uma palavra só que não liberdade_ nem mone Mm 'fléla Está me faltando uma coisa neste momento lble eu não ee! e jamais alguém sa1"!rá O FILHO Granlle •recor«r Volteando teu corpo :11 aJJOS Jloje a vida repousa nos teus llei«>8 Onde bebo vlnbe O vinho se transforma em tangoa e baDadoe Escorrendo no teu ventre N'oeeo filho surgiFá pedindo paz faz para que laves os teus vestldOS! f'e ine perguntares como serã o nOMo filho JlstA af uma cousa de que vou me admirar lt pre,clso que também ie embriagues ,i waa comigo por esses caminhos 1111ando ~omo quem quer o mundo para 111 !l'omemos o vinho e o sol d011 camlnboa jlté que surja o DOll!IO filho pedJndo paa POEMA -SEM NORTE • sempre quando se tecba • porta que deeeJo TOHaf jlE a eaudade :lá é este boje que despreaq l,lnte o beijo brotando da memól14 Wr.to. mas vivo. Caminho sem horlzoirtea '/ltO :passado Jnfalivel. ,runea prosseguir. Venbo apenae. ,er!ndo -troncos, plantando msreoe, fer como o mar, voltando eempu, Jempre na praia Paulo Plinio Abreu Paulo Plínio Baker Abreu. 29 anos. Nasceu em Belem. Casado tem uma filha. Cat611co apost61ico romano, embora sinta uma levo herança protestante. Bibliotecário do Instituto Agronômico do Nor– te. Seus autorea preferidos eão: . Glde, Joyce e Maurlac. Carlos Drummond de Andrade e Ma– nuel Bandeira são o• dois poetas nacionais. Entre os estrangeiro■: Rilke, Baudelaire e Valéry. Seu compositor predileto: Bach. Não tem livro publicado, pretender,. do editar a tradução das "Ele– gias" de Rilke. Traduziu "A por– ta estreita" de Gide, ainda à pro– cura de editor. Traduz prest;ntt'– mente 01 "Cadernos de Malte Laurida Bridge", em colaboração com Peter Paul Hilbert. Llterà• ria mente deve multo a Francisco Paulo Mendes, seu amigo. O úni– co poeta paraenae que admira 6 Ruy Guilherme Bara a. A biague não 6 eeu forte . Gostaria de ser um editor. Partidário da Pa2. *** ODE AMINHA ALEGRIA De ti que poderei fazer se JDe dominas como a viagem ao viajante 'e os ventos do mar aos pãssaroe que voamt De um território vens, profundo e largo, t-m ti caminham vozes que outras vozes acordam, em ti caminbam dores )lã muito apaziguadas. Em ti passam corcéls de fogo que sobre a pele deixam a marca da dlstãnc.la. em ti !lutuam sonhos. De onde vens, para onde vais quando me tocae eom a ponta dos teus dedos? O POLICHINELQ e, seu eer~edo era como • doa eutros. Seus ofüos eram de vidro azul e na boca vermelha 1> riso da ironia. O humor profundo, amargo e doloroso .•Jllha da sua boca: · fl riso da sabedoria e do desespero 1!1"l1ava da sua boca aberta em sangue. O riso do polichinelo 'l'inba do coração ausente, era uma adverU!ncta. Era apenas o riso e falava de um mlfllà _d. maior que sua alma. CANÇAODAMATUIUDADE Jmagem que me acompanha 1111 cidade obscura pnde caminho e vivo, lê■ um fragmento fora do tempo, no coraçãe A mão que me estendes éle :repente em meu llbno. a voz com que me falaa no silêncio puro 'f como um carinho que não conheci. Teu olhar me toca J.10 teu ser me encontro tal como nasci. Jes a imagem viva illo amor que tarda. t.s a chama que arda 11 na qual concentro 11ldo o q_ue perdi. ,.BREVE ELEGIA P.s 8 metamorfose e o retorno ao eanto. t!ontlgo irei anjo nrde dos ea.mfJ>hos ie molharemos os pés na água fria do allfalto. Caminharemos à luz das tuas estrelas iomo se perdidos estivessemas. l,ava!'emo.s no fim da viagem e, ~o e olharemoe a ,hlr, ,e de repente sentiremos naacer em 116!1 a eatrllllha 1e:rra .-e - l)iham-. Jllão encontraremos mais na pele escura as tawagena 11ue marcavam o caminho da volta e a :rota perdida. Olharemos em vão os olhoa doe QUe fogem e para ver os monstros doe eternos clrcoa que ebefa:rem. earresaremos na costa os nossos filhos. J ~GIADOANJODESAPARECIDO \ - - - - . li lfl'IUl"e anjo uul du JIOtiee tenebrc>s8' Como poderei esquecer-te ae til eras numa Ili! J)ellCNl • tfllte ........ [dbaat J>or que pais eetranbo te perdeste tu por 1,1ue mares estranhos naufragaste, ae conhecias todos • - [Jànhoe9 Boje onde estará a luz que ilumino-n alngularme-nte as lloUeis lonlU 110m aono e sem brinquedos em que te eonhecJ! t?or onde se apagou a luz singular de teus olhos de prata e tua presença no eiléncio? ~ue anunciavas ao mundo quando p:ressentl tua e:rlst"1lcia tomo um cometa misterioso anunciador de inédtt.oa ac.:iutedlnientost Creio que estarás perdido nwn pai& qualquer como ldmpll!ll flajante ou num quarto de hotel onde se enxerga a lua que ee J)l'rde DO mar. Creio que te perdeste 110 próprio mar como as es1relu eu te deixaste levar para o de.sconhecldo. llo;Je em vEo te buscaremos na m'l )lll.ca do tocador de coneedA– i l!IOmbra àae Igrejas cru nas mágicas de um s.il \imbaneo e> :mll;t~rio da vida.
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