Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950
!.ª Págine DIR~OR _ PAULO MARANHÃO SUPLEMENTO· -~3 :.------ COLA B () R A D O R ·E S -----– DE BEL~M : - Alonso R,cha, Benedito Nunes, · Bruno de Menezes, Cauby Cruz, Cécil Meira, Cléo Ber– nardo, Daniel Coelho de Sousa, F. Paulo Mendês, Gari• baldl f:lrasU. Baroldo l\laranhão, . Levi Hall de Moura, Mário Couto, Mário Faustino, Maurício Souza Filho, Ma:s Martins, Nunes Pereira, Orlando Bitar, Otávio Mendon– ça, Paulo Plínio Abreu, R. de Sousa Moura, Rui Gui• lherme Barata, Rui Coutinho, Simão C. Bitar, Sultana Levy Rossemblatt. DO RIO : - Alvaro Lins, Augusto Frederico Schmidt, Aurélio Buarque de Holancli', Carlos Drummond de An– drade, Cassiano Ricardo, Cecilla Meireles, Cyro dos Anjos, Eugênio Gomes, Fernando Sabino, Fernando Ferreira de Loanda, Gilberto Freyre, losé Ltns do Rego, Jorge de Lima; !,êdo Ivo, Lucla Miguel Pereira, Maria da Saudade li Çortesao, Marques Rebelo, 1Man'uet Bandeira, Maria Ju– eta Drummond, Murilo Mendes. Otto Maria Carpeaux, Paulo Rónai, Rachel de Queiroz. DE SAO PAULO : - Domingos Carvalho da SIiva, Edgar Cavalheiro, Roger Bastlde, Sérgio Milliet. DE BELO UORIZON'ÍE : - Alpbonsus de Guima- raeQS Filho, Bueno de Rivera. DE CURITIBA : - Dalton Trevisan, Wilson Martins. DE PORTO ALEGRE : -:- Wilson Chagas. ~E FORTALEZA: - Antonio Girão Barroso, Aluislo Medeiros, Braga Montenegro, João Clúnaco Bezerra, José Stenio Lopes. DE PORTUGAL: -- João Gaspar Simões, José Régio. ' . LINH,I\ IMAGINARIA VTlra suplementar, tão próxima de nb, tão evidente nas dobras deste enigma sereno. .Um pensamento s6 - voltar à infância um desejo qualquer - basta a es_perança e refloresces em dadlvas e gestos. Este braço de mar é teu - podes guardâ-lo esta paz, este azul, este piano, esta nesga de céu que o vento espalha, Tudo tão próximo de nós, tio ligado ao teu cotidiano, ao teu ~ diurno, ~ a wnr. utr tilbs. ....,.,orestair , 486 acgp absurda neutralidade diante deste fim , - ~ - [de tarde, 1lh10 que é a t 'l.la primeira e ilnl.ca memória muslcat. llesta noite caindo leve sobre a tua cidade. ll6 agora buscas o espelho que procuravas evitar &6 agora tentas reestabelecer os elos que ainda justificam tua mtsera 1 [ex!stênc.lal reconstituir todos os factos - mesmo os não evldentea e Flat, a Paixão, os elementos, o rlso do amigo mats amaao. S6 agora te permites a liberdade deste gesto fraterno, &6 agora ousas confessar a saudade que há tànto tempo agasalhaste :de ti mesmo, dos teus brinquedos favoritos, da mansa voz de teu primeiro amor, _Só agora te banhas desta aurora, · tlio próxima de nós, tão evidente, .nas dobras deste enigma serene,,. · [na sombra, 27 ANOS QUASE 28 ll sllenclosa espera, a valsa, o ramalhete, o jeito de sofrer, a fronte larga ,º coração fiel e inviolável. , • '· . l 'Forte sou inda que seja fraco, · entre as angústias reino soberano o drama situou-me entre vigilia; ft o i,oema devasta mais que o aniversãrl<t, Se sou é para a tirania da beleza a poesia em mim· cortou-me as pernas asas não tenho e bem queria tê-las " Fauno adormecido vive ainda _ e o Corvo lhe segreda: nunca mais, Poemas e orações guardo em segredo palavras de doer guardo também uma delas é Ruy outra Guilherme · Maninha valsa outrora devanei<» lieloisa já foi e não é mais, O amigo fiel se chama Chico. O amigo lntiel onde andará? Mais ce que je veux vo!r dans ce matlll p'est le marín sans bateau, ie pauvre Leliellii 6 poeta que amel e ainda amo · ó tendre vo!x du Jrtier Lat!n. µeogràfic e o azul é a minha pátria polltlcamente o amor é o meu governo ~ o sobrenatural a minha vocação. J!! este jeito de amar que é meu escudo \A timidez no amar embora ame) e este riso feroz que é meu demonlo. :Porém forte sou ainda que seja fraco: J'fão passei junto a ti sem lâgr!mas na face! Jião tomei tuas mãos sem comoção alguma 7 Mas nunca fui tão focte como agora quando disse ao poema: vai-te embora, F J:luy Guilh~rro.~ Barata Ruy Guilherme Paranatlnga Barata. 30 anos. Nasceu em San– tarém mas se mata de amores por óbidos, cidade onde viveu a 1ua infância. Casado, tem quatro fl• lhos. Cat61ico, graças a Deus e a Leon Bloy. Deputado estadual para des-espero dos reacionários que dlz não serem poucos. Mau– riac é o seu autor preferido. A Baudélalre e ao seu amigo Fran– cisco Paula Mendes atribui a sua Incurável doença pela poesia, Murilo Mendes, Carlos Drumond de Andrade e Manuel Bandeira iniciam a poesia brasileira. Quan• do os filhos deixam, gosta de ou• •vir -Bach, Mozart; Debussy, Stra• winsky e Prokofieff. Adora os sambas de Noel Rosa e acredita que um bom romance policial dl· minui consideràvelmente as cha, tloes da Ylda. Faz questão de de– clarar que é fã do futebol e tor– cedor do Palssand(i. Entre os poetàs no9os admira Paulo· Plinlo Abreu. Se fosse rico compraria possante lancha-automóvel e nunca mais telefonaria. Politicamente é democrata ainda que os fariseus insistam ..-m chamá-lo de comunista. ~ declaradamente contra a Guerra e conr~ssa que muito lastimou não ter podido comparecer ao Congresso Pró-Paz realizado em Varsóvia para o qual foi convidado, É fichado na Polícia co_mo elemento subversivo, do que muito ae or- gulha. • BREVES CONSIÓERAÇõES SOBRE OAMANHECER Escancarar as palpebras e 'espelhos. recomp<1:-:- a vl11ão, nascer de novo, trazer a mesma face vacilante da mesma antiga noite Insatisfeita, ..:.:m quisera não mais sentír agora .a solidão e o peso dessas horas. de amargo tédio para sempre cbelas, . Que romance lerei hoJe, que poeta me terá, êm que vidas viverei, em que mar navegará este anelo que é tão vago ·e a saudade que é mais vaga, pe não sei coisas de outrora, de não sei amor de quem? As cartas de minha mãe ditam reméd10lt, a voz de meu avô é grave e funda, !Onde andais amigos maus. vinde depressa 1 companheiros correl, já se faz tarde, • adulto entre nós cavou distâncias. s6 o retrato nos prega à eternida<te, Amanhecer, suar, bebe~ aiweto~ Viver a Vids que não dei;ejei, vacilante ficar ante a legenda, bater à porta, não achar ninguém, é 1ndecisa saudade diz quem buscas 1ue quero emar perdidamente algué!Jlr t-Jguém que seja lntanta ou passarinho. mulher, criança. clio ou realejo, que fale, cante ou ladre de mansinho. e seja calmo. que bem calmo seja, que me dane, me mate ou me proteja da vlda que jure!, desta saudade que não cansa. não cala e desespera t não dizendo a quem quer e a quem desefa. Quero entregar-me todo, dar-me Inteiro• ao _amor que em mlm vlve intranquilo Domingo, 24 éfe Dezembro 'éle 1950 ODE A FANNY BRAWNE 1 Let, let Ire amorous burnL,. KEATS Mortos e sutcldas ainda vivem em tua beleza{ Cantaste no silêncio do I?rofeta · e desdobras o poeta do futuro. Deuses exilados buscam-te = noite antita em que desnuda eatavas. TUa beleza é uma beleza de caule: esbelta e vegetal. Arranco-te ao baile infantil para as niípclas da Esfinge com o Boi resgato-te ao plano de velhas valsas e sonatas à janela solitária onde amassas. o amargo p6 do tédio para o grito triunfal da poesia não catalogada, [Apls: Tua beleza A •una beleza de tel'ra em crescimento: ressonante e lterrival. I Beleza de epopéa, de fruto âcido e selvagem, solitária e t:eroz como lo.ba encarcerada. Nasce$ para a lenda. 'Vlves para o fim do mun<10 desperta sob o céu da madrugada quando as estrelas tombam sobre o mar, Diante de t1 quem resist!rã nas catacumbas da formaf Quem silenciará a voz que canta sem querer cantar, <A. tua sombra 6 rainha bahlta um povo antigo que faminto devora os restos do banquete qu.: lhe affi'a.í para o võmtto cruel de uma angústia barr6ca, 1: a legtllo de bandidos e santos que cegos pelo amor te seguem puros pelos arcos do céu que tu mesma traçast6' Teu poeta ao morrer de chama dear o vento que passou dizia Fanny e eu te chamo de amada ê salvo-me da morte, Os aeaos contam as onaaa...- os minutos talvez. jamais o anhelo, Podes tocar de leve a mmna calva, a barba, .os bens. todos os sonhol. mas escravos do real so fe aceffamos em tua farde de pélos, sangue e ossos, Quando recrearás a trança libertaria. o horizonte do mito, o aeus negado, a tela do perene e do !ntocávelt Quando libertarás a pãgtna e o relógio b ser distante que revel condenas às arestas da ruge e aos frutos sazonados? Quando, do olhar em diagonal ao espelho e à mort. 4 em busca de seu nome vérdadelro. Mas que seja do amor o encantamento, sereno como a brisa do mar alto. · farãs rulr ao peso de teu gladio– e ao sulco de teu grita_ , feroz como do mar o alto venf:o. Se for mulher, saibam todos. que o nome não importará que seja h~osa- ou termosa rosa ou flor de manacã Meu Deus não a quero bela nem sincera. nem singela, mas que eu tenha ao menos ela e ela venha me salvar dizendo para a saudade: lndéclsa, já vais tarde, o que eu quero é rosetar, ,Que seja Lena ou Marta De Montmartre ou do Japão_ ' Maura flor do meretrfc!o, )J.'erêsa de Ãlter-do-Chão;• Florlpes de Passa-Quatro. Florismunda de 'Belém, Belle or Susy of Alabama, Escrotildes de· Alcobaça, Moema de Santarém. ·Mas como doi pensar que esta saudade jamais satisfará os seus desejos _ nesta manhã de Abril, de azul tão casto, . em que se abrem. palpebras e espelhos, CANÇAO PARA MARIA DIVA - Sopra leve vento leve na noite que vai cair no consólo a flor desmat>.– nos meus dedos sinto frio iserã o vento? iserâ a morte que me embala no seu rio? Minha mãe reparte a cela meu pai ainda não chegou deitado no quarto escuro chamo por Nossa Senhora que de leve abriu a porta . de mansinho se chegou j aqueceu-me no seu manto me acalmou, me penteou, Sopra leve vento leve ;i;i dorm.lndo me de!xo11. as teias de não ser, as cadeias da aurora, as portas do vlsfvel e do tnvlsfvelt ó jamais seremos sós perante a Fonte. jamais seremOll um e a U mostramos o sorriso de clown que se reparte em contorções de espêrma, tedlo e ódi9. J"amals conservaremr,s o perfume e a liturgia e a taça que se esvai não :Justifica o teu desabrochar em cálice e corola. Não ser embora seja no retrato não ter para ao flagelo condenar-se, não sentir este anseio de céu por que beleza e memória de ausências pov°ªda. .E stam<fs sós, bem sei, e como é noite, o !ndlzfvel zomba do arbltrário e a poesia morde o que não é, 1 Quem te susteve o braço suicida: \_ a ode ou o catecismo? ' _Quem te juntou à sórte deste povo: o sonho ou a promissorla? Quem te faz espalmar a mão como lnocen, e a cabeça baixar como culpado? ó tempo. '6 dimensão de exflio e da orfandade• e se não digo eterno, quase eterno, . deixai torta esperança "voic'h entratte"lt' i.'.A RT E ·- ~ ..... :Ah o oficio, as con-ror~es aa ~spera-. ~ t,4l-Dllãi'UT""~ O lltiírglco olhar abre cortlnaa. O anjo adormeceu, d_ança arbltrarfa a minha barba de duzentos anoa. Quem poderã. l'estitu!J.'-me intacto ao mlst~ com o perfume de rosa não tocadat. Quem senão tu cantai-o e fonte. abrigo, terra e pátria onde se escondCII , a negra cicatriz que o neito oitenta, Eis por que espero - entre a noite e a maaiUga~ para que salves ou lances no infortiínlo - · o litúrgico olhar que em nova busca · ~odrece sob um sol de desespero.
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