Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950
-SUPLEMENTO- Arfes} Letras . t PAU-BEUM Domingo, 24 tle Dezembro .U 1950 NUM. 163 DEZ ·F-?OETAS RARAENSES --Seleção E Notas De RUY GUILHERME BA ATA- AlonsQ Alonso Pinheiro Rocha. 24 anoe. Cll.Ndo, tem um filho, Sérgio Wonso . Católico apostólico romano. Ciro doe Anjoa e Jos6 Llna do R"IIº entre os romancistas na• cionale. Béelhovem, Chopin e Debussy são seue compositores prediletos. Bancário, graças a Deus. Manuel Bandeira, entre oa mais velhos, e Ruy Guilherme Barata, Paulo Plínio Abreu e Le– do Ivo, entre os mais novos. Fer, nando Pessoa bom amigo e ca• marada. Não tem llvrCl publica– do. Sendo casado nã,:i deseja opl• nar aobre oe brotinho• e as bal– ~aqueanas. ~ contra ae Aca• demias apesar de ter fundado uma delas. Gostaria de ver no ParA uma revista •• cultura, Gosta de futebol • 6 fll do cine, ma francea. Nllio frequenta roda■ Jterárias por mera preguiça, lt partidário da p.,._ aeado polilioa– ~ente 11m democrata. *** SONETO Entre o rochedo e o mar és flor perdida. - olhos tristes cansados do mfmito. Tens nos seios em trágico conllito ~ • mensagem da paz desconhecida, Deste abismo onde estou, ouço o ieu arfto - rn;uavilhosa voz enlcuqneclda. J>411ém o mar 6 forte na·1r,vesUda e me isola de ti, sobre o granito, Jia solidão és passaro selvageni e, de asas a sangrar, na longa viagem morres - o último canto é teu alarme. :Mas a angústia maior é o meu suplicie éle ver que embora inúiil o r,acrffle!&. 1u queres perecer para salvar-me. SONETO NA MADRUGADA ileu o que vaga , pela madrugada - estrela da manhã, luz e nevoelr6. !renho nos olhos de fonte secada loda a melancolia de janeiro. llll~cio de luar, de água parada •110 meu lãblo antes pássaro Jlgelrct.. que :fizeram da rosa? Jaz coitada 11obre o monte de estrume no cantell'O, Voniade de partir e estar presente. Ser ouiono no mar, flor e andorinha • me perder indellnldamente. ~o divino existir; mas não resiste a aJma louca que foge de ser minha uiaravllhosamente humana e tr18te. SONETO;· Lfrlo sou - brnncas pétalat! macias :mas não me colhas nunca doce amante. 'A beleza é tão pura e tão distante 1;1ue se um dia a possuisses, perderia.. Sonte i;ou - gptas dáguas alvadlas ilenamo pelo campo florejante; ee me bebesses ávJdo, num instante () meu corpo de pedra secarias. Ltrlo - nas minha& mãos quebrado e morto. .-onte - não cantas mais, as flores todaa :murcham agora no caminho torto. Tudo "Da estrada trJste hoje me espanta, As avezinhas voejam eomo-doudas, te?lho o calor da csede na garganta. ~- S 0-N E T 0 "'. Jilirlrelas - solitárias companheiras " de minhas noites de deslumbramento. «>nde, como um Jlgeiro pensamento d.eixo a terra por mágicas fronteiras. Assim, livre e feliz, horas inteiras, éle encantamento para encantamento. segue o meu corpo pelas mãos do Tento entre as vozes de mortas carp!deir88, )tinha maravllhosa fantasia 1 /l vida que sonhei e que não tenho, aos meus olhos 11e aclara como um dJa. · Estrelas - testemlinhaa do profund" J)l'anto, que 11e derrama quando eu venho 1brio de lua - um de J:)Or sobre o mundoJ B~nedito Nune~ Benedito Jos6 Viana da Costa Nunes. 21 •noe. Nasceu em Be• lém. Provisl>rlamente solteiro. O grand• beneficio que lhe trouxe a maJoridade foi poder ■acar livre– mente contra II Banco do Brasil. Não acredita que acabe tão ddo uma heranga que recebeu. Pro• cura esquac•r aos domingoa e > feriados que trabalha num eacrl– t6rlo ri• advocaclio. Escreveu poesi'II até 1949, quando reconhe– ceu a tempo que tinha batido em porta errada. A voz do. amigo■ e a de NU pr6prlo coração diz que 4em pendor para oa utudoa de flloeotla. l>eve easa Inclina• ção ao excHSivo medo de. mor– rer e de Ir para o Inferno que o acompanhou durante toda a eua infância • ainda taludlnho. Sal• vou-se de ficar a vida inteira ag. n6&Sico, lendo Pascal. Unamuno fez muito mais pela sua conversão do q.ue todos " catecismos reu• nidos. Para falar a verdade não sabe ém que H converteu... D•• seja ser um bom cat61ico; mas ainda nlo 41onseguiu devido à eua . fé, que é Intermitente. Sua mais recente pahcio literiria: "A Pe.. te", de Camus. Leitor aasiduo de Kafka. Poeta■ de sua predileção: Ailke e Valéry. Se usasse chapéu, ao passar pela literatura braailel• ra atual, e6 o tiraria da cabeça uma vez para saudar a poeaia de Carlos Drumond de Andrade. Lembra◄• que gostou de um Nlmance nacional: "As mem6rias de um eargento de Mlllciaa". Ãe veaes ao- 111ha em ser regente de orquestra e ouvir durante uma etemldadé Elaoh, Beethoven e Debusay. Quanto ao futuro calri infalivelmente IIO magistério, ■em falar na a · acia '>ftde Ji ae eabc>rrach011, Em IPOlltloa: democrata, nio 6 "e guerra e • f'N. *** ESTRELA DO !!:stre]a do mar IIIW1ca vi nenhumfr, Porém desejaria ofertar-1e a Estrela do Mar. ' Desejaria Cl'feitar-te para que brlJha511e no teu vestldo branca húmida e serena a Estrela do Mar. Desde longos 16éculos embalada pelas águas, Fenetrou raízes em mares desconhecidos a Estrela do Mar• Suas pontas finas indicaram caminhos. Jlurnlnou a viagem doe nauhag011 s>ara o mais fundo das .1gurus. llsirela do Mar encontrarei um dia talvez 110bre a mesa tranquila. J3rllbará no quarto escuro. 8bn, eu queria te ofertar a Estrela do lllu. ~ l,tmpida no teu veatJdo branco, SALMO MAR ClroD sou eu que sem o menor chamado me levaDte e Vcs l'N)eUN> enquanto todos dormem e mal sabem que i;,erdJdos. l;luem sou eu que de noite vai de espelho a e,pelho i:om receio de que a face se tenha transtornado E toda a crusa percorre como se fosse um estra11geiro. Mesmo se Vos encontrasse tornaria a buscar-Vêa Entllo perguntaria por que num só momento nlio esgotastes toàas [as evrJ)reSaa e :retornaria à vlgilla com o meu cOl'J)O cheio de maUc!a - - eete corpo que os Vossoe anjos sempre velam para que antes do tempo não volte à sua origem, FUGA Havia meus pés luminosos J>Or sobre estâtuas dançando . 11 boca do profeta sem versiculos e as asas do anjo sobre o tempo. :Pedi o slnal da fuga e apareceram os teus cabelos em fogo Maria, Maria só tu me podes preservar de lnlclo J.Jgar-me-el ao teu lado esquerdo para sempre. Então tu te levantarás entre o Genesis e o deaeio .,nutto. MAR l!lstou compondo não o poema do mar l)Orém o mar todo :Inteiro i, a eua vida já se move noll meus olbos. Vede, companheiros, os rios escorrendo sobre ,ntJn e o meu corpo ~em vontade de outro .ida. ~em poderá agora enxugar esta humida.àe aeciun ilas -minhas mãos que estão no lim9 l!l que 1101 poderá Eecá-la11? Cauby Ernesto ele Somia Cru•. 24 anos. NaSft11 W Belém em 1926. ~asado, tem três filhas. Católico apos– tólieo romano. Machado de Assis e Marques Rebelo são, entre nós, os seus roinancis– tas preferidos. Gosta de musica e os seus eomposi• tores mais lntimos são: Bach, Beethoven e Debus :y. Adora Oole Porter na mu i• ea popular. Funcionário público e acadêmico de Di– reito. Já preferiu Murilo ,Mendes, hoje pl'efere Ban– deira. Bím.baacl, Camus e }»â . ' ' ~~~k~ã~:~ livr:s:::if:!: .do e nem pretende publicar tão cedo. !Não deseja mal.– :res proximidades com Gide e Sartre *** SONETO -DA PALAVRA ESQ~CJJ.).f\_ Busco a palavra que serve neste verso não é amar, nem noite. nem e i;,erança n.em o que lembre mar ou rio perdJdo Jago, luar ou aolltAria dor "ili Wlna jlUQ'll IN& me foJe at., ... Htâadl>aqidMltemo pocuro em vllo na noite adorm enquantc, no ria eerre a lua ebela i: uma palavra 11111 enenra gesto.s lrlterjeJçiiea de eepante e de surp, eA aa.s que esqueci talvez há mui tempo 8:lgnJfica desespero vão áµrependimento de amar cow;as parfltlas ile ser poeta nesia noite plena UM ,oETA ,... :De quando nos amamos e perdemoa meu eolftário Irmão na: -.asta terra e viajamos perto das estrelas7 De quando é o nosso amor ae quando 41 esquecimento e o abandono do Jl0680 w · e alegrias qa outrora nos tocavam? Conemce juntos enve visôe8 defuntaa • de belezas mortaa e intocáveis •e aJ!mentam os versos que escrevemOIII, De quando é o nosso amor tão casto ., que quue em medo em mim trago ~ado.J e que :revelo aqui medido e calmo aJ)6., pesar palavras e detê-laa, _Q SC)NHO Jlecorda o qual'lo à noite emsombreado «>nde a tomam o sooo e vlsões J1lág!cai,. 1 Ou C!ltão, certas manhãs da infância, Certos ruldos de outrora um perfume. ou a lua que se escapava solitária e triste para o mar. Medita sobre um passo fugitivo na ealçada escura e lamacenta. Subitamente treme. E seu 001·J)O virgem mãos lnvislvels correm ~ acar:lciam, HINO A HELENA l'ua estranha beleza embriagou-me /j J)erdido de amor pus-me a canta:,~ Oh Helena I Oh Helena 1 Bela e pura como os an;iosl Bela e pura como os anjos 1 E enquanto em ouro e violeta a imensa tau• Caia sobre uma noite quente e ~rfumada Eu tomava a tua beleza 1 Eu tomava a tua beleza 1 , Tudo se abria então aos meus aenUdoet– A vida, a morte, o bom, o mal. llllnba voz purificou-se, aprendi o segredo do canto de Israfel • eantel aos quatro ventos ao cair da lll>ltet Cb Helena I Oh Helena 1 Bela e pura como GIi anjoel .8ela.&.JJUra -•amo.l · •
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