Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950

( •,• . , ' 2a. pâginll ~ )IRETOR ,AUlO MARANHÃO GSUPLEMENTO J ,.,,=T•.~ 1 tlRIENT ACAO OE HAROL.DO MARANHAO ~O&ADOUS Olt HL&M1 - .-UODN &oCba, Benedito Nunea, Bruno de .Meneses, CaubJ 9nu. 06eU Melra. Cléo Be: u,ardu Oaole.l Coelho de So--. W. PauJ41 Me.o– de,, ...artbal!U 8raail, llaroldo llannbio LeYI eau Clt Moura, M.ariu Cuuw, Mano Faustino. Max &larti.m, Nap.liolo Norberto, Nanea Pereira, Orlando BJw, oiavu Mendonça Paale1 PllnJo Abreu. R ele Soma lrloara, Klbama, de Moura. &w Guilher– me Bara~ &aJ : CoaUnhe e SaJtaoa LeYJ Rouem-· bla&& DO &10: - Alvaro Llna. Aacullkl Frederico Bllb• mJdl. &arello Buarque de Holanda, Carloa Oram. mond de Andrade. Casalana RJcardo, Cecllla Mel• rele■, Crro doa AnJoe. Fernando Sablno, Fernanda Ferreira de Loanda. Ollbe11o Frefl'e. J1111t LIDI de Rego lorct de Lima, Ll!do IYO, L11ela . Mirael Pe– reira. ~arta 4a Saudade Cortesio, Marque11 Rebelo, Manue, Bandel.ra, Marta Julieta Orummond. Marl· lo Menclee. OUo Maria CarpeaWL Paulo 116nal t ll&cbel de Quelroa. DE 8 PAULO: - Dom!Jlgos Carvalho ila 811- va, Edgar Cavalheiro, Roger Bastlde e Slirglo MlWd, DE BELO HORIZONTE: - A)pbol181UI de Gut– maraeoa Fllbo e Bueno de Rivera . DE CURITIBA: - Dalton Tre\'1JiaD e Wl.laoa Hartlna. DE PORTO ALEGRE: - WUson Chagai. DE FORTALEZA: - Antonio Girão BarrOIIO, Alublo Medeiros, Brara Montenerro, João -Cllmaeo Bezerra e Joe6 Stenlo Lopes. RETÓRICA. . ' (Conclusão da ultima pagtnaJ ;. a experiencia da moderna poesia inglesa, que precisan– do buscar antecedentes para sua ambição de manifestar um mundo cambiante e comple– ':xo, teve de recorrer à, li tera– tura barroca e seiscentista de um Donne e de um Marvell. Ou seja a uma literatura que ignorava, talvez deliberada– mente, a divisão estipulada pela antiga Retórica entre o estilo nobre e o remisso . Outro ponto de vista larga– mente partilhado pelos nossos mais recentes inovadores da poesia, em sua campanha contra a geração precedente, é a da necessidade de voltar– mos consistentemente às preo– cupações formais ' e formalis– tlcas. Preocupações que, de certo modo, já floresceram na poesia, por vez"s excelente do sr. João Cabral de Melo Ne– to e não só na. poesia, como nas importantes pesquisas técnica.."-, do sr . Péricles Eu– gênio da Silva Ramos. Este último censura no mo– «lernismo o ter sido formal– mente uma aventura sem dls– clpllna, que, por outro lado - acrescenta - não soube alijar de sua Inspiração "o prosal– po e o excrescente". E' certo que semelhante aventura terá tido uma virtude inegável: "a ele liquidar de uma vez por todas (?) a· pretensão .de o verso por si só ser poesia" . o néo-modernismo, nessas con– dições, - observa ainda - " não é nem pode mesmo ser uma negação do modernismo: ao contrário, é uma resul– tan.te , um produto fundamen– tado de sua evolução. A esta altura, só um perigo o amea– ça: o de cair na repetição das velhas formas e · dos velhos processos, embora forma na– da tenha a ver com forma. Contra esse mal é que deve– mos precaver-nos, pois técni– ca .sôzlnha, também não faz poesia". Desse perigo que assinala tão lucidamente o poeta de "Lamentação Floral" não pa– recem éonscios, em verdade, muitos dos seus companheiros ele geração . Em alguns destes parece certo, aliás, que o for– malismo, a exigência de rigor técnico, até a exigência de re– cuperação das formas regula– res e canônicas, não passa de argumento polêmico ou arm.a de combate . Ainda nessa pug– nacidade - e não só nela - revelam-se eles, por menos que o queiram. tributários fiél.!: da mesma: geração moderr.is – \a ge 1922, agora transforma- da em alvo de seus ataques. Seria Ilusório pensar que tais exigências proviessem em ge– ral de uma inelutável neces– sidade e significassem mais· ~o que mero artificio ornamental. Ou que participassem verda– deiramente dos esforços em– preendidos entre literaturas mais ilustres do que a nossa no sentido de se descobrirem as leis secretas onde há de descansar -perenemente uma criação )iterá.ria digna desse nome . . Assim como t.té agora não foi dado aos nossos . inovado-_ res, em geral tão exigentes de Ilnguagem poética e alevanta– da, explicar o que seja o poé– tico e o prosaico, não se pode dizer que a existência daque– -les esforços tenha . logrado criar, até agora, o que seria talvez licito esperar deles: al– guma nova poética fundada nas boas -lições dos antigos e modernos, e suficientemente prestigiosa para conter todos os · desvários formais nos limi– tes plausiveis. Qualquer coisa em suma, que fosse para o _nosso tempo o ·que foi prin– cipa1rp.ente para os ·_autores seiscentistas e não menos pa- · · ra · o classicismo frar.cês a Poética de Aristóteles, a par– tir do dia em que a retiraram da sombra, onde permanece– ra ati:avés de toda a Idade Média, e me:mo durante a an– tiguidade cl:' ~slea . Sem a presença dé..-..se códi– go formal, ou de unia doutri– na estética bem fundada, não vejo realmente como se possa tentar qualquer revisão de. va– lores que tenha por base, so– bretudo, critérios rigorosa– mente formaUsticos. E, assim, ou a revisão proposta não passa de mero argumento po– lêmico, ou repres.enta, apenas, e então seria preciso confessá– lo com franqueza, um puro e simples retrocesso às posições combatidas pelos moder11istas de 22. Não me parece. em todo ca– so, que esta última alternati– va seja perfeltamente exata com relação a alguns dos no– vos poetas, pelo menos com relação àqueles cuja obra se distingue por um cunho de autenticidade. Para Isso seria preciso, entretanto, examina– rem-se mais detidamente al– guns casos Individuais, o que ficará para o próximo artl- . go. Remessa de livro$ - Rua Hadock Lobo, 1.625 - São Paulo ' FOLHA DO NORTE '• I ,· , I"" , ... ·,, · ;Domingo, S de Mar~o de \950 Esquen1a Da Evolução Da Sociedade Paraense Vimos · que desde 1847 já possuíamos banco - Banco Comercial do Pará . Atividade · -- LEVY HALL OE MOURA --- " Duas g1'.andes nações, du:ls grandes potências mercantis fa zem de seus avultados capi– tais um instrumento de tira– n ia em todas as praças do globo" e em abono dessa sua asserção transcrevia um tôpl– co do rPlatõrio da diretoria da Sociedade Anon ima do Servi– ço de Aguas de então. onde se lia - "Não é de somenos im– portancia estudar e refletir :.o– bre a influência que, no jogo das transações comercials da praça de Belém, exerce o ca– pital estrangeiro. represent':l.– do em algumas casµ l tali· 0 "z: não mais de auatro) if!'uul– mente estrangeiras . Pergun– ta-se: esse capital é produti– vo pnra a sociedade paraen– se ? Ou visa ele uniçamente subjugar e escràvisar 885 seus interesses a a~ricultur11. e a in– dústria paraense ? " E o p ró– prio relatório resl)Ondia pela. afirmativa à última pergun– ta financeira antes de realiza- çllo estrangeira, imagina-se como não se acirrou a velha ção economica . Por intermé- luta entre os dois capitais, o dio d~sse banco é que o filho adotivo do grande proprietá- Inglês e o norte-americano . rio e fazendeiro Jonas Monte- Os analistas da época pa– negro, presidente da Assem- recem Ignorar essa luta. Uns bléia Geral da companhia a Ignoram de propósito . São Protetora da Indústria Pasto- os aue mais participam dela . _::, 0 govel'nador . Augusto Nenhum pode porém deixar . Montenegro. fez aos banauei- de observar a presença dos ros .de Londres Sellgman Bro- dois capitais entre nós e ge– thers os dois empréstimos ex- ralmente se colocar ao lado ternos que ainda hoje esta- de um ou de outro . mos •a solver . Em 1890, deal- Mauá é um dos que igno– bar da Primeira República. 0 ram. Chega a julgar e a de– diretor desse banco erà João clarar ingenuamente que a Alvares Lobo. grande pro- guerra movida à Amazon , ·prietário. pertencente à faml- Steam Navigation Company lia dos Lobo, a que já nos re- visava atingir a sua trefega rerimos, e que depois se ligou pess.oinha, misero dente de en– aos nanim . Esses Lobo. pos- grenagem facilmente substi– miam vastos tratos de terras tuivel como .o foi ! Diz ele dos quais os de~.apropriou sem " Todo esse servico acha-se indenização a Revolução de hoje executado pela Amazon 30 (dentro em pouco ab0t·da- Steam Navigation Compa.ny remos esse asswnto). que eu criei em Londres. e tal- Anote-se que esse - J oão AI- vez por ainda aparecer meu vares Lob.o era da companhia nome como principal interes– Mercant.il do Pará, empresa sado. tem essa empresa supor– ie indústria e comércio, com tado a guerra que lhe foi mo– escritório à rua República, 34, vida" • e da diretoria da Companhia Otávio de Faria, cc,mo bio- á Al 'ã grafo do agente do inglês, de Seguros Gr.am-Par · 1 s, Mauá, referindo-se fl. resistên– outro membro daquele Banco, eia do Brasil à abertura do o comendRdor Antonio Brau- , le Freire da Silva pertencia à, Amazonas, mostrava apenas o Diretoria ·da Companhia das . perigo americano. ocultava o Aguas Gram-Pará, à Direto- perigo lng~ês, quando pro– ria da Companhia de Seguros c~rava justi!!car ~ te~or hra– Paraense e era deputado à, . s1leiro ante à cub1ca rmperla– Junta Comercial José, Mar- lista aos t~~ouros do vale. de– ~ues Brae;a, também perten- clarando: P~ra dar vult~ a ~ente à Comoanhia Mercantil essas apreensoes, os amen~a– :lo Pará. fazia parte, por ou- nos do norte. que já em me1a– ;ro lado. da Diretoria do dos do século oassado, come– Banco de Belém . João Perei- cavam a r1:velar a enor1:1e :a da Costa, da Diretoria da forca expansiva de sua nacio– Companhia Ceramlca Aper- n alidacle. olhavam com olhos feiçoada, à rua da Municipa- cubiçosos que . n~o procura– lidade com depósito à traves - varo mesmo d1ss1mular para ;a Santo Ant.onio, 3'1. partici- aanelas riquezas" . pave da Diretoria do Banco Eduardo Prado. em 1983. io Brasil Realiz,avam todos não fazia senão participar da !les aquele entrelaçamento, a luta entre,.os dois capitais. 9:0 tue se refere Lenine, dos ban- escrever: Todos es~es _amen – ~os com as maiore!:\ empresas canos, nos seus escr1t~r1os, ! a-– Industriais comerciais e de lavam multo dos mteress~ ,eguro da' região . comerciais dos Estados Um- Aberto em 18.66 o Amazo- dos, nos s.eus capitais imensos nas ao tráfego (ou ao tráfico, que estavam ansiosos por um ~ traficancia ?) lnternacio- emprego no Amazonas . Che– nal. assim como sete anos de- gou o momento das cu::c~ns– )ols, em 1872 surge a The tãncias da oolit!ca. perm1t!l'em !\mazon Stean Navigation a decretação da liberdade da Jompany Limited, em 1874 navegação, e não apareceram nstala-s~ em Belém a Caixa os tais caoltais americanos . iõ'il!al do London and Brasi- Os mae;nlficos vapores aue lam Banck, Limited, uma das hoje sulcam o Ama~on_as s.ão ro agências que os 5 bancos os de uma companhia inglesa .ngleses haviam de possuir na que tem sido o maior propul– América do Sul, conforme sor do progresso e do enrlaue– observavam e lamentavam em cimento ,da região amazõni– i915 os norte-americanos. ca. Isto, porém, não quer di- Escanc:àrada a cubiçada zer que os americanos não te- candal amazon1ca à navega- nham mais vistas sobre o grande rio :ml-americano. O general Grant - conti– nuava Eduardo Prado - num discurso pronunciado em 1883, numa recepção ao general mexicano Porfü•io Diaz chegou a dizer que os Estados Unidos necessitavam de três cousas somente, por que o resto ti– nham no seu país . As três cousas eram: café, açúcar e borracha . E o general disse: Seja como fôr, havemos de ter café, acúca.r e borracha . O general acentuou bem a frase: Seja como fôr (by any means) , e 110 México es ta fra– se foi tomada quase como uma ameaça . O problema do açúcar estava até certo ponto resolvido pela absorção dl\s ilhas Hawai, aue. embora não admitidas na União america– na. estão. para todos os fins práticos, oomo aue anexados ao~ Estl\dos Unidos. o café julgava o general Gran t que viria com o Mé- xico . _ A borracha. para tê-la, é preciso ter o Amazonas - concluiu Eduardo Prado, isso em 1893 . R ealmente, em 1927 teria– mos a famosa Concessão Ford, para só falar nesta, por en- quanto . . Realmente, quanto às _pre– tensões norte-americanas sobre a Amaznnia tinha razão Edn– ardo Prado. Mas quanto a não aparecerem os capitais ame– ricanos já era concluir erra– damente. Ora, a verdade é que R.S companhias "brasi– leir as " (mais ou menos ame– ricanas) tinham sido. como vimos, abocanhadas pela bra– sileira, com sede em Londres, de Mnuá . No progresso e en– rlauecimento da ree:ião ama– zônica pela companhia ingle– sa. tato dis.cutivel, como Já vimos, ob, erva-se o "parte pri~" de Prado . Em 188-t, onze anos antes portanto do libelo de Prado, o nosso "Diário de Belém", estudando as causas da cri– se em que imergia a Provin– cla (seus editoriais traziam exatan:"?nte a epigrafe "As causas da crise") denunciava a presença e o perigo dos dois capitais, inglês e norte-ame– ricano, entre nó..."-, conquanto não se referisse a luta entre ambos. Pelo contrário: apre– sentava-os como dois bons compadres, ·dois cumplices, amesendados diante do mes– mo repasto cordial. Dizia o "Diário de Belém", em sua edição de 11 de setem– bro daquele ano de 1884· - Em 1893. nove anos depois, Luís R . Cavalcante de Albu• queroue. a respeito do comér– ~io da Ama zonia nom a Amé– rica do Norte e um convenio ~ue havia a- · respeito daquele ::omércio. interrogsva: " Os nandes interesses amazônicos roram devidamente cons'ulta– jos ? " E i:espondia: "E' for– ;oso convir em que nada ab– ;olutamente lucrou a Amazõ– ~ia com o aludido convênio". !!! acre centava: "Fazer en trar JS produtos americanos de maior consumo, com• prejuízo dos similares nacionáis, aue o ml do país, produz sobeja– mente. é, a meu ver. um cri– me de leso patriotismo" . Em 1901 t.lvemos a visita do ministro norte-americano co– ronel Carlos Page Bryan . Em 1904, o capitalista norte-ame– ricano, ancião de 70 anos de ,dade, E . C . Benedict. da fir– ma bancá.ria Beneciit e Cia . , ie Nova-Iorque; acompanhado :!um sequito de sócios. fez-nM uma visita. em grande estilo, ~ bordo do luxuoso iate "-Vir– ~in!a" de sua propriedade. .l:m 1906 foi o J)Tóprio minis– tro das Relações Exteriore~ dos !l:stados Unidos, sr. Elihu Root, quem nos deu a honra :Je sua visita, e não deixou de 1eclarar aos _jornalistas: "A 101ítica americana é muito na( interpretada. O governo los Estados Unidos da Amé– •ica do Norte não pretende <le '.orma alguma assenhorear-se !e alheios territórios. que os :em de sobra. mas procura fo– nentar nos países americanos, ,specialmente no Brasil, pela ;ua grande extensão, riquez11., !lima e ,indole de progresso, o (Continúa na 3 .ª pá..n: .) EM TORNO DE UM POEtv~I\. (Conclusão da 1.• pág.) simples. Mas como é perfeita a adequação de tudo à subs– tância do poema ! Para o homem rude, homem de guerra, é esse o tom con– veniente. Ele, que se esquivou às honrarias de •seu posto, a todo ó brllhareto ·da discursein e das salvas; ele, que apenas quis o toque de silencio, não deveria suscitar ao poeta a ver– biagem fácil de um dlscuroo, carregado de palavras faiscan– tes, de salvás vêrbais. E Bandeira soube celebrar-lhe a glória com a humildade vocabular e sintática pertinente ao 'apagado daquelas exéquias. Palj\vras -poucas, e secas; construções di– retas e claras, em perlodos curtos e incl....<tivos, como devel'iam de ser ·as falas do militar, as suas ordens de comando. Observação que já. me ocor_reu fazer a ·propósito da "Can– ção do Exíllo". de Gonçalves Dias: não há adjetivos no poe– ma de Bandeira. O único - ."militar" - não tem, a rigor, o caráter pictórico, oli ornamental, tão comum a esse pajem do substant.ivo. E' um. adjetivo rigidamente especificador, sem. ·brilho nem aparato. E note-se: ''militar", relacionado pre– cisamente com a natureza da função do vulto celebrado no poema. O primeiro período ...;.:, "O Major morreu - é o que há de mais natural e conciso: informação telegráfica. Seguem:. se-lhe · os títulos. também teleg1à!lcamente: " . , . Reformado . Vetera,io do Paraguai Herói da Ponte de Itororó". Tudo isso, que o poeta poderia ter reunido em 11m só pe, nodo, sàbiamente desdobrou em três, não, decerto, pelo gosto do período curto, tão grato aos modernistas, particularmente na .fase em que foram escritos esses versos, mas pelo ressalto que esses elementos da fé de oficio do soldado adquirem as– sim, Isoladamente, pela aproximação desse estilo - o que foi atrás assinalado - ao estilo das vozes de comando: "Ombro armas!" - "Meia-volta, volver! " - "Fogo I". Por outro lado, não deve pas.sar sem análise a arte do equilíbrio rltmico daqueles versos. O primeiro e o segundo, octossfiabos, e, embora com pausas diversas, bastante har– mônicos entre si; o terceiro, com uma silaba a mais, mas com a primeira das pausas na quarta silaba - enquanto a primei– ra do ·verso anterior é na terceira - de modo que, transposto o corte de cada um dos dois versos, temos, cinco silabas . A– preciado j'lm globo, o ritmo desses versos é mais ou menos, igual - ·o ·que serve bastante · à · monótona voluntária secura desse comunicado militar. Agora, espraia-se um verso mais longo, G primeiro em que se manifesta a disposição da úl tima vontade do heroi: "Nio quis discursos, não quis honras militares,. Um alexa.ndrino belo na sua sobriédade, cortado em três partes isométricas. Com esse verso - que pela sua extensão contrasta vivamente com os anteriores e com os seguintes - inicia Bandeir~ aquilo a que eu chamaria o comentá.rio poé– tico da morte do militar. Realizada essa transição, vem a parte culminante do co– mentário - -0 cimo do poema. Temos então o único --periodo relativamente longo de todo ele. ' A de um verso setissllabo - "Apenas a seu pedido ., - que nos deixa em suspenso, à espera do único desejo do só– brio militar, sucede um verso bem mais longo, constituído pelo nome, precedido de artigo, da função de um soldado - corneteiro do batalhão de linha; e depois dessas onze sila– bas, não obedientes (o poema é em versos livres) à tradição rítmica dos eneassflabos, mas de ritmo agradável, bem mar– cado, vêm doui versos muito mais curtos, isométricos : dois hexassfiabos, em que se anuncia, afinal, o cumprimento da única solenidade que o oficial permitiu se efetuasse por oca– sião da sua morte. Esses dois versos é que, verdadeirament-e, çoncentram por inteiro a funda emoção do poema: "Deu, à boca do túmulo. O toque .do silêncio" . As duas virgulas que delimitam o complemento do pr!– uteiro, além da patética ressonância que a este imprime, ain• da determinam ansiosa suspensão da corrente emotiva no verbo ·- "deu" - preparando o leitor para o prodigioso ver– so final : "Deu, à boca dÓ túmulo .. . " De rara felicidade o emprego desse proparoxitono no fim do verso. Depois da tônica, no fim do complemento circuns– tancial que separa o verbo do objeto direto, as duas sfiabu átonas - "nu-lo'"' - parecem tremer, - como se a elas sa estendesse a comoção do leitor - antecipando aquele desa• bar da terra sobre o caixão, · aquela última pá de terra - 11- quidação de uµia vida, silencio final . Palavras simples e pou– cas; construção direta . Não _é nada - e é tudo: "Deu à llnca do túmulo, O toqae do sil~ncio", .-

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