Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950

Poe·tos Do M·i-nho Gero cão ..::, STEPHEN SPENDER 1T redução de Lúcio Baue1feldtl Em 1929, quando eu tinha t eratura, o apelo era a. renova– 'finte an-0s, os livros de EsI- ção da esperança social na round Blunàen, Henry Wil- poesia. Porque o comentá.rio Jiamson, Robert Graves, e ou- final Eobre a sociedade da ·dé– tros, contendo a n arratív::. de cada de 20, parecia estar ccn– i;uas expf'riêncfas na Primeira tido nõ abandono àe toda a Guerra Mundial, pareciam re- esperança na Civilizacão Oci– velações de alguma vida se- dental, de que fala Eliot. no ,ereta, afastada de mim por poema ' 'The Waste Land": i.,ma barreira. de dez anoo, da Fa.llin~ towers ~mal havia participado uma .TeMJSalcm Atl1ens Alexam- :grração mais velha. ilria · •Atualmente. os aconteclmen- Vienn" Lcndon tos daquela época, em que a Unreal ,ninha· geração tomou pa:i:te, · Concordar que havia oprl– parecem. a uma geração mais midos e opressores, vitimas e 5ovem. tão remotos como fo- canascos, era abandonar a .-run, para mim, os da Primeira atitud·e de completo isolamen- 6uerra Mundial. Com efeito, é t0 do declínio ocidental que mai<>r ainda a bar reira que se- prosseguia oomo uma catástre– pa,ra àa minha a nova geração, fe da natureza. Era envolver-se e conslste não apenas de dez na questão. ~uivalia dizer-se 11.nos de paz. mas de vários de que haviam sido encontrados, guerra e de cáos do após- em Sodoma, doze homens jus– guerra. Assemelha-se-me esse tos. e que os poetas deviam dar p eríodo tão longinquo como o testemunho da existll-ncia deles d e 1870. parll. que a. cidade fosse pou- ·A Frente Ocidental parecia- pada. Era dividir a sociedade :me um conjunto teatral de em duas facções, a àos bons, tiinche!ras e de lama, de ter - elos civilizados e dos democrá– ll'a de nlnguém e de árvores ticos e a dos máus, dos bárba– destroçaàns. O período de 1930, roo 'e do tiranos. Essa insis– porém. não apresen ta à men- tência na esperança (aue ser– t alidade ela juventude oontem- viu de inspiração ao título de porânea ou:i.dro assim tão ní- um romance de André Mal– tido e positivo. Parece pouco raux) surgiu de acontecimentos mais ou'! 11 idéia abstrata de que exigiam que os homens 11m movimento lit,er,S,rio de es- enfrentassem o fascismo, o de– crltores com t emiências ao semprega, 1~ guerra, eEperan– realismo e comunismo em ç~mente, desde que Isso fosse moda. exequível. Mas essa atitude que 1: fá~il descre-ver movimentos era real, como o eram, tam– e tendências literárioo. ·Nana bém, os acontecimentos. trans– m ais dificil. porém, do EJUe de- formou-se em movimento l1te– m onstr ar oomo um movimento rário que hoje se despreza intelectual 11ão é apenas uma como se nuncà houvesse sido idéia que. sfm motivo especial ma is qne um capricho de um a l~um, acode ao eérebro de gnmo de escritore.~. O facto. ' qualquer individuo e se alastra porém, é cme não são os movi– com a mesma arbitrariedade mentos literários que se modi– Que determina a moda: n a in- ficam. e sim os acontecimen- ' d1 1 men tári a da mulher. tos. Novos acontecimentos exi- Mas •ain d'l. talvez, do que a gem novas al.itud<'c's, que se "poesia dP vuerra", de escrito- reflet,em na ' literatura como J'f s como Wilf,:'Cl Owen e Sieg- "movimentos" . fr' ej S Rssoon. a poesia social d:i. decaria de 30 surgiu da con- v!ccão íntima dos poetas d~ nne e.::tavllm vivendo dentro de uma situação especial. Em 1930 Auden escrevra: Consider this and in our time. As the hawk sees it or the helmeted a,rman. The clouds rift soddenJy - book th~re. At cigarette-end smoade. ring on a border _.. A ponta de cigarro que :;e que-ima é o símbolo do rasti!ho de uma bomba que. irá. destruir toda a sociedade da classe lhé– ilia, frequentadora de festas .: mst.lgo esse que Auden passa ► · debuxar em traços largos, Inspirados de uma malícia jo– vem e sombria: Seeker~ after happiness. aU who follow The convolutions of your slmple wish, n is later than you think... Ao iniciar-se aquela época, a atitude assumida por um es– critor moço, como Auden, re– presentava uma contemplação ·isolada õo desastre. Escreveu o poeta sobre os "jovens befos e enfermos " em "esta nossa In– gl:J.terra onde ninguém està bem". Era um:i atitude· estu– dadamente náo-POlitica. As coisas estavam chegando ao fim. e o poeta olhava para o t~eclinio oeidental com inteira riisplicência. Não aderia à ve– lha ordem, nem às forças que a derrubavam. Via, apenas,' a cat,astró'lica cena humana com ob.ietividade algo J)razenteira, "como a vê o gavião ou-o avia. dor de capficete". Essa visão de uma história r.al amitosa fora da vida. de ln– tllvtduos perspicazes e sensitl– \ros era a sobrevivência da !lecada àe 20. A graN'.e trans– formação que caracterizou a era de 1930 foi um elemento inteiramente novo em poesia. Foi um apelo : o apelo dos de. sempregados da derrocada de 30 - Ouvi-nos ! O apele dos hJdeus e de outras vitimas do fascismn denois de 3:J - Falai por nós I Penetrou na poesia rle 30, não só na Inglaterra r,omo em outros patses, Existe aqui, certamente, um paralelo oom as vozes dos pobres, dos 11ue outrora aspiravam e pro– test avam na poesla de Colerld– ge. Wordsworth , Burns, Shel– ley e Bvron. Oonsiôerando-o simplesmen– ;11 se seu,e e%eltG1 eont a , n,. São comparativamente raras as situações históricas em que a poesia se torna ativista, e, ta.lvez, sejam perigosas para a 1u,te poética. A raridade é de– monstrada pelo seu aspect.o oposto : as situacões em que a poe-sla não tem ligacão com a mudança social. Quando a ari-stocracia dominante parece ·ter atingido o ponto mais ele– vado de uma época de clarivi– dência (como aconteceu no século dezoito, ou no perfodo elizabethlano), a poesia repre– senta, então, os valores aceitos daquela era. Durante os perfo~ des de guerra as vozes dos poetas são abafadas pela pro– paganda e pelos mét-Odos obs– sesslvos do poder. A consciên– cia poética só se torna política nos momentos ·em que os lndi– l'íduos civilizados. agindo in– dividualmentP, podem, se assim quiserem, :::alvar a situação, defendendo-a ou transforman– do-a. Nessas ocasiões (na épo– ca de Milton, ou dos românti– cos ingleses. ou na décad11 de 1930).. sentem-se eles como. que impelidos pela necessidade his– tórica a tentar persual'.lir os contemporâneos a realizarem o milagre da ação. ant.es de ser demasiado tarde. São muito raras essas situações históricas e, posslvelm,ente, nu~ca se apresentarão na nova era de dominação armamentista do mundo, em que parece haver– mos entrado. A transfusão do sangue, da esperança popular em poesia é, de certo modo, tão perigosa quanto pode, de outro lado, ser benP.fica. Qua.ndo a poesia, ao invés de criar sua própria realidade interior dentro dos mundos ideais de voemas dis– tintos, toma por empréstimo do mundo da realidade uma fé ou filosofia religiosa ou SO• cial, ela faz sua verdade inte– rior depender, até certo ponto, da verdade das coisas exterio– res. Suas credenciais pOldem ser contestadas pelas provas comuns que se aplicam às ver– dades externas. ll: possivel, des– te modo. d1scutir as filosofias de Wordsworth e de Sbelley destacadas de sua poesia. e sente-se, até certo ponto. que a verdade dessa poesia depen– de da verdade das suas idéias panteístas e ~ lucionárias. Em alguns de seus lavores. os poetas de 1930 tornaram sua poesia dependente do poder das f orças h umanista~ de sal– var o mundo da tirania e da .(Centlh6a n• 8'a. pãgina)_ Defesa E Ilustraçao Do Trocadilho PAULO RONAI RIO - Esta crônica já se gédias da mesma forma. Abro, :hava pronta, quando, ao o, ao acaso, e encontro no inf– ,llrir o "Correio da Manhã" cio do Rei Lear este jogo de (e 3 de setembro, deparei um palavras, baseado nos dois sen– ,gudo ar tigo de . Eugênio Go- tidos, um intelectual e o_utro mes sobre o mesmo assunto. fisiológico, do verbo to concei– Nem por isso quero modificá- ve ("cemceber " ): la, tanto mais quanto as nos- "Kent: I cannot conceive sas conclusões parecem com- yo11. pletar-se recipr ocamente. Gloucester : Sir, this young P 0 -EMA A tua imagem é a fonte que nutre a.s tardes sem verso1 e os tempos ·sem presença. Em mim silenciosamente estás _prendendo minhas mãos até que a morte nos vis8umbre FLORIANO JAYME Não sei se alg.uém já estudou rellow's mother eould : where a psicologia do ·trocadilho, ~i; upon she grew roond-wom– lhéria desprezada pelos homens bed ... de bom gosto, nem é de meu Liberdade essa que, eviden– alca.nce empreenàer tal estu- temente, um Conieille ou um do, 'por mais tentador que seja. Racine nunca se permitirá; no Mas talvez valha a pena exa- século de ouro francês o ca– minar-lhe as ligações com a li- lembuz,go ·estm·á confinado à. teratura, para mostrar quão comédia, e só a criada de Mo– pouco seus antecedentes justi- liere ousará confundir gram- ' ficam essa atitude de menos-; maire e grand'mêre, a gramá- cabo. Uca e a própria avó. Poesia De Santa T .e rez i n h a TASSO DA SILVEIRA Nas definições dos dicioná- Lembremos que nas discus- rios mais usados, vejo que o sões da Reforma e da Contra– trocadilho é "gracejo r-esul- Reforma o trocadilho aparece tante de um jogo de paiavras, entre a s armas da retórica sa– cujo sentido é trocado"; "em- era e ch~ga a disfarçar-se em prego pilhérico de uma pa- argumento. "Assisti há algum lavra para sugerir sentidos tempo" - escreve Erasmo no diferentes ou de palavras ho- Elegio da Loucura - "à defesa mófonas de sentido d\ife- de uma tese de teologia, o que rente" ; "jogo de palavras me acontece com bastante fre– funàado num equivoco de sen• quência. Alguém procurava sa– tídos, numa similitude de ber em que texto das Escritu– sons", etc. o que nenhum de- ras a gente se : apoiava para les frisa, e que, ao meu vêr, é queimar os heréticos em vez elemento essencial do con~ito, de procurar convencê-los· pela é a impossibilidade de t radu- disC'llSsão. Um ancião de cara zir O trocadilho para out ras severa, cujo ar supe:rcilioso re– Jinguas ; impossibilidade t.s ve- vela um teólogo. respondia com zes parclal, pois alg1ms se_ ~o- veemência que tal lei vinha do dem traduzir para algum 1d10- ,,_r,óstolo Paulo, que disse : ma aiim, mas nenhum para ·•Evita (dêvita) o herét.ico de– qualquer idioma. pois de uma ou duas repreen- Assim, o trocadilho estaria sões"- Repetiu e fez ressoar ligado à substância intima de essa fórmula , enquanto .a cada língua. Como a rima, ins- maioria dos presentes pergtbJ– pira-se em semelhanças f?r- tavam a si mesmos, com estu– mais para apontar ao esp!nto pefação, o que ele tinha; por associações nov.as , às vezes ape- fim, explicou : São Paulo,· com nas divertidas, às vezes, po- aquilo, pr etendia dizer que era rém, espantosamente sugest.i- pr eciso eliminar o herético da vas. Embora já bastante desa- v1da (de vifa)... Alguns pu– creditado por abusos perma- seram-se a rir; outros julga– nentes deve-se confessar que ram o achado completamente nas mâiores obras da literatura teológico". · mundial é r ecurso frequente- Lembra-me oportunamente o mente usado. A própria poesia. meu ilust;re am;go Richard aliás, não é, sob certo aspeeto, Katz uma série da calembures um complexo e requin tado jogo na trilogia dramática sobre ie palavras ? Wallensteín, de SC'hiller, onàe Entre os . gregos, nã-0 s~ os um capuchinho arenga aos cômieos apenas que postam à.a solda.dos com uma sequela de-– paronomásia ou jogo de pala- liciosa de trocadilhos. ll: · outra vras. Platão, em seus diálogos, reminiscência da eloquência Eurípedes em seus dramas, di- barroca, pois nenhum desses vertiam-se com os vários sen- jogos de palavras foi inventado tidos da palavra soJ)hos, "há- pelo dramaturgo: encontrara– bil", "je-itoso", "sábio", "re- os todos nos sermões de um quintado" : Zeno distribui::\ ilustre 'pregador. Abraham a seus discípulos em filólogos, Sancta Clara. (O próprio Goe– interessados em conhecer as the, com toda a sua austerída. coisas, e logófilos, atentos ape- 4 àe, não foi infenso ao calem– nas às denominações. Também bur, ou, como querem os ale– o elegante Cícero não desde- mítes, ao Kalaoer : cometeu nha essa figura de retórica, e pelo menos um, no poemeto é com manifesta satisfação que "J_l:tymologit;"; um_ trocadilho insiste, perante o tribunal, so- !,l'1lingue, ·tão erudito quanto bre a coincidência do nome de md€-Oente, com_ a palavra gre– seu adveTsário com o de ja- ga A_res, a latina ars e uma vali" (verres). E como a loco- alema bastante parecida. com nicidade do idioma latino per- as duas primeiras, mas de sen. mitia jogos de palavras densos tido bem. menos elevad?), de ronteúdo, encontramo-los (Contmua na 3.• pagina) ainda onde menos se esneraria RIO -- De Santa Terezinha do Menino Jesus ficou cerca de meia centena de poemas, compostos de 1893 a 1897, ou seja, dos vinte aos vinte e qua– tro anos, idad€ esta em que morreu, - idade em que nas– ceu para a glória eterna, Situam-se esses poemas em plano muito diferente da poe– sia de grande· arte de seu tem– po. Terezinha pulsou a lira quando na França e no mundo era sobretudo o canto dos portas simbolistas que ressoa– va. E este canto se vazava em versos e estrofes de extr emo requinte artístico. A sensibil!– dade, fatigada das velhas fór– mas e dos velhos ritmos, e a. inteligência, desconselada lias feições que assumia. a vida tris– te dos homens quintessencia– vam o sonho de beleza, trans– ferindo-se para um universo de puras viv&ncias ti'anscen– dentes, de símbolos e sonhos luminosos, que só uma. música verbal riquissima poderia tra– duzir. Dai. todo o canto, por vezes hermético e essencial, por vezes protofônico, de um R imbaud, de um Mallarmé, de um Verlaine. mais t.arde de um Rodenbach, de um Maeter– linck. de um Veraherem, de um Stefan George, de um Eu– gênio de Castro, àe um Cruz e Souza. . . Dir-se-ia oue. irmã gêmea da música e ila dança, mas tendo-se desprendido; no transcurso dos séculoo, das duas i,rmãs gloriosas, a poesia procurava então r eintegrar-se em sua realidade primitiva, re– cr1ando música e dança em sU,'\ própria substância. A Terezinha do Menino Je– sus passou despercebido esse tumulto d€ ansiedade da poe– sia nova de seu tempo. Viu-se, depois, que n vertigem shnbo– lista significava, sob aparência muita vez de ?legação e :fuga, exatamente uma sêde do ab– soluto e do eterno. Viu-se, de- .pois, que a poesia simbolista prognosticava o retorno do es– píri t-0 à crença do t.ranscen– tlente. Terezinha, porém, não tinha que retornar. Desde a mais verde Infância Vivera sob o signo da fé pró!unda. Ser– lhe-ia dificil, por isto, se hou– vera entrado em contacto com · a poesia simbolista de sua. hora, entender toda a amarga exasperação e toda a estranha embriaguez de que- era ela fei. ta, toda a obscura ansiedade de que as vozes dela se entre- .teciam. Se não conheceu, con tudo, essa aflita procura de beleza diferente, foi-lhe familiar a. musa. clássica e romântica. Aprendeu a talhar versos e a. moldar estrofes de equilíbrio antigo com mestria notável. E estes lhe bastaram à expres– são de sua comoção perpétua. de Deus. Como já haviam . bastado a São João da. Cruz, em cujo "Cântico Espiritual ", · não obstante sua cerrada sim- · bologia, outro ma'terial não se emprega senão o que ao tem– po fornecia o arsenal do Clas- sicismo. . Que pôde fazer, - em rit– mos gastos, sem recursos a ne– nhuma transcendente música. ·de vOC'ábulos, em matéria de poesia, essa criatura angélica, inexperiente de todas as coisas do mundo, experiente apenas · do convívio indescontínuo com a doçura do Cristo e a Trinda. de Perfeita ? Pôde - não obstante - co– municar aos que tenham par a. sua linguagem ouvidos, exa– tamente as vivências de eter– nidade e perfeição de que tal indescontinuo convívio lhe en• chia o ser inteiro. Já no primeiro poema que lhe saiu da pena quase infantil, acertava ela oom os acentos definitivos de um conto purà– men~. altamente, teolôgica– mente cristão. Chamava-se o poema La Rosée divine ou le Lait virginal de Marie. E nele a cantora glorifica, ao lado do Redentor, a figura da Vir gem Mãe, Co-Redent.ora. A Jesus peàe que lhe revele o mistério que o exilou da celeste pátria. Mas, imaginando-o na Cruz, só consegue vê-lo como uma. flor aberta que aindl\ cons 0 r 1 a o matinal :frescor de quando, (Continua na 2.' pág.J - nos epitáfios : A:biit uon obiit ("Não morreu; foi-se"), ou Praemisi nón amisi ("Não · o perdi; ma;ndel-o para a fren– te") , são exemplos dessas sen– tenças lapMar.es, dificilmente imitáveis em qualquer outra lingua. Noite Num Bosque Da Europa Entretanto, os idiomgs orien– tais parecem prestar-se parti– cularmente ao ·trocadilho, por isso comum no livro inais aus– tero da humanidade, a Biblia. A frase de Jesus - "E tam– bém eu te digo que tu és .Pe– dro, e sobre esta, pedra edifi– carei a minha igreja" :_ jâ nasceu com o jogo de . pala– ,vras. que foi mantido no ori– ginal aramaico e decalcado nas versões grega e portugue– sa. Não é de admirar, pois, que não raro os fiéis atribuissem significação mística a essas coincidências fonéticas. Se o romano descobria, com orgu– lhosa s TJ'.)resa, que o nome de Roma, lido às avessas. dava Amor, o cristão verificava, com estremecimento, que do apeli– do de nossa primeira mãe se podia tirar tanto a alegre sau- dação ave, qt1anto a dolorosa exclamação vae ("ai") , estre– mecimento que. entre outras jóias elo hinário, inspirou o Ave maris stella. A Renascença não discorda do cristiani/;mo no amor do calembur. Mas, ao passo que nas orgias de trocadilhos de Rabelais é manifesta a inten– ção jocosa. Petrarca se com– praz em cllssimular o- nome da amada (Laura) separ ando-o em duas palavras (l'aora) e em tirar dai efeitos que nada têm de cômico. Mais tarde Shakespe:ire se– ria outro tr .adilhLsta a se– :mear de PIIDIJ com~aa o ~~ NO FRIO DA NOITE, QUE TRISTE ESSA LUZ PERDIDO ENTRE AS SOM· QUE GUIA OS MEUS PAS- [BRAS [SOS DO BOSQUE EM SILÊNCIO, NO BOSQUE EM SILÊNCIO, - NAO SEI PORQUE VOU. PERDIDO ENTRE AS SOM.. NAO SEI PORQUE TUDO [BRAS, ME DA TANTA PENA, NAO SEI. ... LA LONGE ERA BOM, LA LONGE ERA QUENTE, ô LUA! LA LONGE FICO-C ·A LUA QUE EU AMO, QUE APONTA NA SERRA NA NOITE DO MATO, ENQUANTO NO MATO COM CHEIROS QUE EXCI- ME CHEGAM RECADOS [Tfll\,f DE FLORES E BICHOS E VOZES DE BICHOS DO TRôPICO AMIGO. ... LA LONGE. QUE EU SEI. AQUI NADA SEI FICOU MUITO ALÉM ô LUA DA EUROPJJ., TUDO OUE ME OUF.R QUE ESTRANHA ESSA LUZ. E A QUE EU QUERO BEM. -Ribeiro Couto~

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