Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950

FLORIANO JAIME "M E A Poesia cial No Romantismo Brasileiro LóVIS MONTEIRO A 2a. geração dos poetas ro– .aúi.nticos brasileiros (oi empol– gada pela leitura qõs autores &:ftGIO Ml iLIE1' A paz que me vem tirar desta elegia não é fonte de rochêdos • como 6 elevador nos transportando . ,/ · europeus, q~- mgis se distan– -ciaram, esp 1tualmente, do Romantismo na sua fase m1- cial, com Byr n, Shelley, Mus– set, Reine, LfU!ardi, Espronce– da e muitos outr os adeptos da corrente satânica, segundo a qualificação de Frederico Sch– legel, ao considerar a sua pró– pria obra da mocidade, produ- 2.ida antes de se manifestarem QS seus pendores mfsticos e de fundar, com o seu irmão Au– gusto Guilherme e alguns con– frades, a Escola Romântica A– lemã com as suas obras, contamma– das do chamado "mal do sé– culo", os germes daquela 1.0e- 1anoolia, daquele desespero e daquela revolta que faziam murchar, na alma da mocida– de, as suas primeiras esperan– ças, e lhe incutiam sentimentos de horror ou desprezo à vida, e de indiferença aos prazeres rnais legitimes e às aspiraçOes mais necessarias. ' "'.O PAULO - Est::ira a sat_; , 0 ao mundo nos poe~s. u está nos homc11s de c1en– ci. Até o fim da ulti~'I g,i-er• r,1 nma 1,al pergunta pare.cena ric'i.::ula. Ninguém tluv1dav_a r.ntii.o da ciência e suas ~oss1- bllidades. Pensava-se caminhar a passos gigantescos para ~. 1 ealizaç.ão do homem atr~– v~s de sua libertação da m1se– ria. da doença, da desigual~a– de social, graças ao esp1nto r.1cnt1fico e aos progressos da técnica. O último adversário a vencer era o nazismo . _obs– curantista que grilara a. c1enc1a e a explorava a serviço do er– ro. Venceu-se o nazismo, mas a atmosfera não melhorou. Pouco a pouco se percebeu, en– i!l.o mediante experiências do– lor~sas, que o mal _não ti11h_a uma causa especifica e fácil de debelar, mas era generali– &Qdo e suas raiZes mais com– plexas e t1rofundas do q~e de inicio se imaginara. Pacientes nnàlistas, sociólogos, economis– tas, psicólogos e filósofos es– tudaram, meditaram e chega– iam a conclusões pessimistas,· para não dizer desabusados. O qne se processava era em v:er– <lade uma decomposição do corpo social pelo desprezo dos valores individuais e a superes– timação dos valores coletivos uma "substituição do concre– to pelo abstrato", no dizer de um romancista contemporâneo. Sem que sentissemos sequer a mudança de mentalidade, fo– mos nos deliquescendo em um no~o fermento que já agora começa a dar forma à. nova ••civilização". Repentinamen– te, verificamos que as palavras chaves de nosso pensamento h.,v1am mudado, que as de ou– trora, como "alma", "ho– u..em", "direitos", "liberda– d ", ,não tinham mais serven– tia,..a.Jguma e as frases com ou– itas se construiam, cheias de asperezas essas, objetivas, du– ~as, tais como "eficiência", "conjuntura", "atômico", "es- 1.at1stico", "planejamento", elic. Em compensação, surgiam também do lado dos resistentes a essa desumanização do mun– do, d lado dos poetas, miste- iil$0 vocábulos prenhes de esperança de mistura com a angústia e o desespêro. Falou– se em "mensagem" e houve quem se apegasse de unhas e dentes a essa vaga pr omessa ue dias melhores. Dias melhores! Para quem? Para quando? Não será nem mesmo para nossos filhos que ll'lasceram e vão morrendo con– dicionados pela escravidão e o conformismo, entregues com indiferença aos pequenos pra– zeres. ainda concedidos ao indi– --v1eno dentro de uma organi- zação que o elimina paulatina e inexorà.velmente, pois a pró– pria ;-esistência se vai extin– guindo c.>m o desaparecimen• to dos sobreviventes de uma época a que se convencionou chamar "feliz". Não porque não houvesse miséria e desi– gualdade, mas porque era pos– sível a qualquer pessoa atra– vessllr fronteiras sem escolta :policial e a nenhuma prisão se procedi.a sem primeiramente esclarecer o crime do inculpa– do ... Os cientistas n ão eram as p oderosas máquinas de hoje a serviçç de um Estado ou de uma polttica, as idéias não se atochavam nas cabeças ao som 1., slogans" radiofônicos, ti– nha-se ainda a ilu~ão de uma ·vre escolha. cucos anos i? duas guerras am para que aos esptri– is lúcidos se evidenéias– xtensão e a profundi– desastre. Vivemos a– damente uma hora de e de insânia, uma que a liobrevivência , ça abdicando. P éguy de nos primeiros jlerra de 1914, "mor– a bela causa", ou ·orrer pela ilusão de causa. Nós já nii,o o fazer e só nos resta sem nenhUttna esperan– vencidos de que a luta ia e "co,;iceJJtracioná– ' tomada de posição que ,tusiasmou em dado mo– torna-se dia a dia mais ra e concomitantemente ificil, porque o compro– . plica em jamais dizer implica em aceitar, en– mesmo, o que pareça '!1,,1,1,~111- .t-4.~ - ~ q1l;;!lquer lado que se volte ~ inàfviduo, o que lhe pedem, llle otdenam, é a aquiescência E é penoso, insup-ortável às ve• zes, dizer sistemàticamente ºsim". O que ·se exige de nós, po– bres mortais indefesos e insufi– cientemente afeitos às táticas políticas, porque nos educamos nos dias em que a política não submergia a existência, é o compromisso cego, é a fé, é a escolha definitiva. E aos pou– cos terão todos que se defiuir. o homem de nossos dias não vive mais sozinho, ainda ·que sua existência não perturbe ninguém. Antes· era-lhe possí– vel ser sapateiro e não ter ca-. Jnisa. Hoje não. Até a cõr da camisa lhe é imposta. Quanto a sapateiro, r..ão somos nós que escolhemos a profissão, são os técnicos, pois o que vale é a eficiência e um sapateiro sem ·camisa não merece o pão ga- nho com o suor da fronte, des– de que o simples fato de · não ter camisa já demonstra não estar ele dentro das cânones da civilização cientifica e téc– nica da eficiência ... ·Amanhã contemplando os limites da Mórte .as palavras transformarão o meu canto. Já compreendo o azul do mistério como quem se abandona e se esconde na poesia que embala o reino que deseJamos Porisso só quero da rósa o invólucro sem a ternura que não me póde libertar. O sõno atormentando os sentidos desconhece a face de Deus e do fantasma que muitas vezes anandonamos. A voz rolando sem éco acende o sol em desesp'êro na ânsia do canto que vem de longe ao enigma de virgem à porta por onde seguirei me descobrindo. Falta acalanto no homem que dórme à margem do, campo sem colheita faminto esperando as aves em vôo sobre a multidão que já nasce maligna. UMA EXPOSIÇÃO DE MATI'SSE RUBEM BRAGA Os cientistas, i;nesmo quan– do idealisticamente voltados para as boas causas, riãe po– dem salvar o mundo, porquan- . .-ARIS _ Tive Ulj'l.a im– to nunca vêem e pesam, pon- pressão triste quando entrei na deram e julgam, senão fatos e exposição de Matisse, na Mai– cifras. Jogam com regras e ge- son de La Penséc Française. neralizaçóes, a exceção que se Na primeira sala há uma por– dane ! Mas O poeta não confir- ção de desenhos datados de a– ma a generalização e se api:e- bril e maio de 1950: caras de senta como uma verda·de con- mulher, às vezes um tors.o, um tra- "a ve1,dade". A ele, caberá, pedaço de corpo. Desenhos talvez, salvar o mundo, se ain- grandes, de mais de meio me– da houver possibilidade de sal- tro de altura. em traces gros– vá-lo: ·, .e.os de nanquim, a pincel: me dos há um que me encantou. Tem dois metros e tanto de altura pór um e tanto de la1 .. gura, e apresenta um~ mulher de pé, cada mão apoiada a uma mesinha. Está datado de 1950. E' espantoso que um oc– togenário tenha produzido es– sa obra-prima de esplendor Ju– devenil. Um ou outro traço de desenho, leves e raros re– toques a pincel - e essa figu– -ra Pm cores vlvas se planta em nossa frente com uma in– desc:ritivel, luminosa sensuali– dade. Dei uma rodada pela sala do eiic·Jltura, mftb não pude concentrar meu interesse n~– queles bronezs escuros. Os autores citados, apesar· <las suas divergências; no (lue toca a doutrinas filosoficas e religiosas, daqueles qu~ promo– veram o movimento romântico europeu, eram tidos na mes– ma Europa, e também no Bra– sil, como expoentes da nova escola. Nada valiam os protes– tos de Byron, como também :n,ada valeu a critica mordaz e in-everente que Heine fez em França, em 1836, a Es::ola Ro– mântica Alemã atacando-a ru– demente nos principais funda- · mentes. U). Em verdade, o Romantismo pelos próprios princ°ipios em gue se esteou, como já foi ex– plicado noutro lugar,. dava !J]argem a que autores e cor– rentes literárias revelassem tendências até opostas. O indi– vidualismo, que foi um dos postulados da poesia romântica vitorioso em tõ:la a Europa culta, daria ensejo a que um mesmo autor, traduzindo esta– dos dalma diversos, parecesse estran110 ou indiferente aos seus credos literários. Assim também o nacionalismo d.idas as ~iyersidad~s de co~dições soc1a1s, polltICas e religiosas das nações, poderia ter como teve, interpretações e m'anifes– tações discordantes na Europa e fora dela. No caso do Brasil, cumpre assinalar que os jovens poetas que surgem depois de se haver aqui firmado a Escola Homan– tic!l, for a m principalmente guiados pelos :neo-romãnticos ~uropeU3, que disseminavam Estas reflexões fazem-se a. disseram que ele prende o margem de um mau romance, pl11cel na ponta de uma vara porém, impressionante pelos para fazer isso. Fiquei trlste fatos relatados e pela atmosfe- porque, como toda gente, co– ra de medo e de angústia, de nheço de longa data essas ca– incompreensão e estupidez. ras e corpos em linhas sim– flentro da quual nos , coloca ples, ritmu limpo qllf ele in– (Virgil Georghin - La vingt- ventou e que domina hoje os cinquiême heure), a dos cam- olhos e as mãos· de mil jovens pos de concentração de todos pintores. Mas no fim de "de– os paises da Europa. zenas de anos fazer a mesma Há no livro uma observação coisa e sem a mesma- certeza curiosa e que me sugere algu- feliz, fazer a mesma coisa de mas teses: a observação de que um modo levemente grossel- PI!~TURA E POESIA . t d p· 1h ro, fazer a u .esma coisa e não ANDRE 1 MALRAUX a· pm ura e icasso, me or fazer mais tão bem isso me do que qualquer outra manl- Durante séculos, no mundo festaçào artística, exprime o pareceu uma prova de que (?S inteiro, a poesia foi um dos momento histórico. Essas figu- · 31 anos de idade tinham afi- elementos da .pintura. E, mais ras desconjuntadas e trágicas nal- (o que é abu nd ªntemen- do que isto, em certas ép_oc~s, horrorosas e comoventes, qu~ ~ compre1:nsfvel) pesa d o sô- a ·pintura passou a const1twr, :repelem e atraem a um tempo b_ e essa mao de anJo e de sá- para ela, o meio privilegia~o . · b10 . Na mesma saleta outros - um ôlho s~rridente, outi:o. v~r- desenhos a fusaln, datados de de ação. Morto Dante e nao tendo _lágrimas, rosto d1v1d1do 1946 , eram Infinitamente mais nascido ainda, Shakespeare em dois, pedaços de carne ~an- belos: mulher nua apoiada sõ- - que 'são os poetas da cris– grenta _e s~ltos cabelos 11ricos, bre os cotovelos, 0 queixo na tandade diante de Piero della tu~o dissociado e no entallto. mão direita _ que força e Francesca, de Angelico, de un_1do n_um mesmo espaço Pª1'.ª graça nesses braços, nessa an- Botticelll, de Piero di Cosimo, ev1denc1ar·_ amarga e sarc~sb- ca, em tudo! _ uma dança- de Leonardo, de Ticiano, de camente a_ ~resença ~e todas rina sentada, uma jovem de Miguel Angelo? Que versos as_ co_ntrad1çoes, de todas as blusa, essa mulher de vestido co:r;;temporâneos de watteau misérias e tõdas as grandezas ae quadrinhos (1939) as per- serão dignos dele? da época. A interpre~ação é en- nas cruzadas, 0 belo braço es- A distinção que hoje se faz gen_hosa, mas pode~1amos op~r querdo apoiado na coxa... entre os pr.>eessos especificas ~ pmtur~ de um P1c~sso trág1- Na sala . seguinte nada po- da pintura e seus meios poéti– co, que dissocia, exprimindo o deria mudar minha impres- cos é tão artificial como a que tormento, a arte de um Bra- são mas eu a esqueci. E' que se estabelece entre forma e que, que também dissocia, mas ali' estavam alguns dos mais cor.teudo. Houve af imlivis!vel para revelar uma integração belos quadros a ~leo pintados di>mfnio. E' pela poesia que as alegre no cosmos. Dois aspec- neste meio século. A partir cores de Leonardo são "dis– tes do mesmo momento? Tal• do impressionismo de uma na- postas numa certa ordem". "A vez. Dois marginais, como quer tureza morto de 1896 e mais ointura -·escreve êle - é uma gue seja ainda que toma'ndo dois ou três quadros, passando poesia que ~e vê"• partido, ainda que se afirman- pelo pontilhi~mo de 1903, vem E até Delacroix, a própria do .peremptóriamente na luta tudo crescendo em beleza. Es- idéia de grande pintura foi Creio que a pintura moder- sa mulher que olha o mar de •associada à de poesia. l'>oder– na exige para sef compreendi- uma janela em 1918, essa de- se-ia crer que Duccio, Giotto, da," e sobretudo sentido, wm1 liciosa janela de Nice de 1919, Fouquet, Grunewald, os gran– meditação preliminar sõbre a mna espanhola de 1921, uma des renascentistas italianos, política, a sociologia e a psico'- odalisca (das mais belas des- Velasquez, Rembrandt. Ver- 1 · t d. á · 1ç meer, Poussin - e a Asia - og1a. Exige também. e princi- se . ex. raor m no su ao. o_ tivessem conhecido a poesia palmente, uma experiência vi- mais rico de todos os te~pos) · vida no nosso "cáos organiza- de 1928 e tgda uma série de po. descuido? do ". o mesmo se fiá de exigir moças sent~das, de naturezal.' Quand'> os contemporâneos também para a . compreensão morta~ cheias da mais d(?Ce nossos pretendem proscrever a de alguns dos maiores e mais vida dao o teste'!1unho de trm~ poesia da pintura, o que êles dificeis . poetas de hoJ·e, como ta anos de felizes aventura~ proscrevem, na verdade, é a no desenho na cor Aqui es pintura de assuntos, em par- Elliot, por exemplo: - e · . - ticular a do século XIX. isto "Clean the air, Clean Ule tão algumas flores disso que 'sky ! Wash the wind !,,. ~ra~on chama ~10 ~,retácio "o é, o realismo do imaginário; a A düercnça, a meu ver, en- Ja!d1m de Matisse . um dos submissão da pinti.ra a um milagres da França espetáculo romanesco ou sen- tre o ·poeta e o pintor está em · timental, muitas vezes ligado que êste apenas exprime o O q~e,•e_ntreta~to, me p~re- à história. Assinalei, já. que presente, quase de uma manei- ;:~ ~~~~ 1 \~f;º .{~ 1 d~-:i~u: 1 ~unea ela rejeita o Napoleão na es- ra foto.,.ráfica por mais para- · ' · - trada lan1acenta dn "11114". do " ' . . tas da Capela dos Domlruca- ,, doxal ~ue_ pareça o adJetr~_o, nos de Vence não chegam a Meissonier. e não o "Vieux· e o primerr_o aponta a s_oluçao permitir que se avalie O que Rei" de Roiault. Se os assun– da r~volta, md1ca o ~aminho a será na ~alidade essl! gran. tos de 1850 são sucedAneos. é segmr ~ por vezes exibe ao fim, de ~rabalho que um;., lrmã e~- porque. longe dr ser suscitados no hori.uult.e.,. uma esperança.· tnm.eira conv~neeu Mati,.s<:e e pela arte dos que os pintam. C?mo naquel_es versos de_Ver- tazer _ e com ·tanta doçura e constituem ,; ·b<'elos 'l que es– lame, tradu7:1dos por Gu1lher- paciencia que o levou l\ Ir ves- s~, arte se submeteu, ~nposta– me de Almeida: tlndo su11 Virgem. primitiva- mente. Ticiano nã,o "repro– A voz dos botequins, a Jama mP.nte núa. . . duzia" espetáculos \maginá- [das sar]etas. Anedota verídica e singular- rios: arrancava Vem.:s à noite ••. , , . , • . . . . . , . . . , . , ... , , . em que o velhc pintor apare- de Cadore. ••,, • ••, .. •, , • .. , •., • . . . . . ce um pouco teimoso em que- Em vez d? excluir a ,Joei;1:i a emmrrada entupindo o ei;gô- rer exprimir pela nudez a mais da pintura, seria preferível ob- [to, o asfalto liso. perfeita pureza . Mas entre servar-se como toda granae e!$ meu caminho - mas no outros quadros feitos com re- obr plástica lhe é ligada. Já a ---.,.jlWl..~~el àfr ,ow. M~ descobriJuoa mwi nature.zM m01·tas de Braque, tanto quan– to·nas férias de Chagall. Quan– do um realista tem genio, ela o encontra sem que ele a pro– cure. Como não sentia a poesia de Vermeer, de Chardin, ou mesmo de Bruegliel e dos gran– des Courberts? Pretendemos só admirar a cõr, em Jerôni– mo Bosch, em Ticiano; mas essa cõr é um meio de expres– são da poesia dess~s pintores: para separarmos cor e poes1a, no caso, seria preciso admitir que a arte deles fosse u!'la téc– nica da representaçao. Por mais realista que pareça, ela une o "Escam!lteador.·" â~ "Tentações": as árvores do melhor Ticiano .i e r te n cem também à !'éerie. O ra a féerie de Ticiano não é acresc~ntada à sua pintura; é menos apar– tâvel dela quando o fantástico o seria da ,Jintura de Bosch . E ela não procede...do gõsto de Veneza como a escrita 'de suas composições decorativas: nasce sot!lente de sua arte. Isso ~e torna evidente com o desenvol– vimento da reprodução, e com a circulação das obras orimas quê são emprestadas para as exposições de conjunto, porque .a cõr, mais do que o desenho. foi o melo de expressão da poesia. Em "negro". Ticiano, um dos maiores poetas do mundo,.nuitas -vezes ná"l serâ mais do que um nM?stre da ta– peçaria. Sem dúvida haverá dentre os nossos pintores. ">S que dizem preferir um Ticiano sem Venus. Is!.o significa que desejariam naturezas mortas onde Venus foi tão pr'?seLte quanto no Prado. mas onde êle;; não a reconheceriam. C\J– mos e Laura Di Dianti, Venns ~ Adonis, a Oalipso, de Viena e ~té A Ninfa e o P astor oerten– ~essem ao munrlo de Càzanme :>U de Renoir! Não será apenas ;i diferença entre duas palhe– tas e que separa os retratos de Rembrandt de llU::tse todos os 1h Hals? E também o que , e. paTa os "Regentes" dos "Ar– rabuzeiros"? Dessa espécie de poesia. a pintura sempre foi pelo menos cumplice, e a pintura religiosa ná.'.> o foi menos do que ~ nos– sa. E, da Ren"~<'Pnca a Dela– cro!x, tornou-se mais do _que ,continua na z,a pág.) O poeta, nas paginas mais celebres dos neo-;omânticos europeus, -era :tigurado como un1 ser inadaptável às contin– gencias da . vida social e que por isso se insurgia contra tu– do quanto se lhe antolhasse cerceamento aos seus anseios de liberdade. Goethe, sem ser romãntico, no sentido em que se orientou o grupo chefiado pelos irmãos Schle;el, na Alemanha, con– correu, com a sua gigantesca realiZaçâ.o do Fausto, para que tomasse novos rumos o Ro– mantismo europeu. Por outro lado, com a sua obra da moci– dade, intitulada As dores do jovem Wertber, influiu sobre.– modo para o estado mórbido do espirito rómânticç,, que se não conformava com as limita– ~ões impostas pela religião, pe– las leis e pelas normas e con– venções sociais. (2) São numerosos os poetas de excepcional talento no segun:do grupo romântico brasileiro. Quase todos morreram na flor da idade como que vitimas da.! quela fatalidade que ha 1am imaginado os românticos euro• peus para os que se entregas– sem ao convívio das musas. Em verdade, tendo formado a sua mentalidade ao influxo de leituras estrangeiras, transpor– taram para o mundo real, para o seu próprio mundo, as estra– vagantes, quando não trágicas concepções de vida que se en– contravam nas obras dos gran– des mestres da poesia européia. De qualquer forma, a poesia brasileira nessa fase é -rica, e nela ora se refletem sentimen– tos genuínos do nosso povo, ora se retratam quadros autênticos da nossa natureza. Casimiro de Abreu, por e– xemplo, representa o lirismo simples e espontâneo, caractc– ristico da alma popular. Nas. suas poesias, quase tõdas fruto de tristeza ff de amargura, re– vela o poeta delicada sensibili– dade artística, a que se devem comoventes versos, conhecidos cm todo o Brasil. Outrns, porém, como Jun– queira Freire, de cultura supe– rior a de Casimiro, demons– tram tendências diferentes da que celebrizava o lírico melan– cólico que tão bem soube can– tar a inocência e a felicidade dos oito anos. Imbuído de idéias cépticas, apesar de sua formação reli– giosa, deixou-se Junqueira Freire dominar pelo "mal do século", de que é uma das ex– pressões mais vivas na poesia nacional. As suas composições de cunho religioso são de certo as me11os sinceras de toda a - sua obra Dos poetas românticos da nova geração, contudo, é Al– vares de Azevedo o que mais se aproxima, talvez por afini– dades de temperamento do grande Byron. E' verdade que muitas vezes traduziu em seus versos sentimentos puros e in– gênuos, mas quase sempre a sua inspiração se voltava para os problemas tenebrosos da vi. da e para a visão tétrica da morte, o que está fortemente patenteado nestas estrofes de seu poema Um Canto do Sé– culo: Debalde nos meus . sonhos de [ventura Tento alentar minha esperan– lça morta E volto-me ao porvir. A minha alma só canta a se– [pultura, Nem última ilusão beija e con– [forta Meu suarento dormir ... Debalde! que exaurm-me o de– [salento: A flor que aos lábios meus um ranjo dera Murou na solidão .. Do meu inverno helo céu ne- 1voento Nâ!) se lev13~tará nem prima– [vera, Num raio de verão. Invejo as flores que murchan– [do morrem E as aves que desmaiam-se [cantando E expiram sem sofrer . . . As minhas veias inda ardentes (Continua na 2,ª páü

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