Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950
1 ARTE/ 1 .1· . · LITERATURA 1...-------------, Pará-Belém :>omingo. 9 de Julho de 1950 N. 0 152 JUO - !I de janeirb - Na hora do conllaque, antecipadamente mui– to gabado, na sala de estar com maus quadros, uma fabulosa natureza morta de Mar«:Gs Eu• seblo inclusive, (madame não gosta de deformações!) e pesa• das cortinas sangue de boi bri- 11ando com tapetes cor de jaca, foi que Loureiro falou de .Tulla: - Voei! precisa conhecê-la, Gilberto. E' uma pequena es– plendidal Viva, alegre, elegan– ie, lindíssima... Um pouco cha– ita, às vezes, com certas atitu– des, digamos, interesseiras..• Mas passa logo. Vou te apresen– tá-la. Olhe, amanhã mesmo, sa– be! Amanhã às cinco, no bar do Palace, você pode? Pensel, repensei, - Podia. .a.- Bem, eGtão, ãs cinco, mas na batata, ouviu? Não darei bo· ia não. Vou telefonar para ela, de manhã, combinado. Você vai tlcar encantado. 11 de Janeiro - Fiquei encan– tado. Julia, um pouquinho atra- 11ada, velo de cinzento, um cos– tume de linho cinzento, pisando elegante e leve como gazela. -'- Então, Loureiro, como vat esta bizarria? Ah! você é que f o Gilberto combinado, não? Toque aqui I estendeu dedos e anéis. Jà o conheço de sobra ..• O Lore fala muito de você. - Bem ou mal? - Você jà viu o Lore falar bem de alguem? - Já. De voei!! - Pois então està melhorando Jnutto 1 - Bem, se é questão de falar entrou Loureiro, vamos contar– o que você disse dele no tele– fone ... - Bõbol - . •. que jà o conhecia ~ul- to ue retrato e que tinha cara éle macaCG. Não foi lsto? aACHEL DE QUEIROZ RIO - Que pausa, nada de pausa. Não posso mais esperar e fazer pausa nenhuma. O mal e ;justamlnte este: agora não se pode parar, já não hã tem• po nem há calma. Podia escre– ver minha historia, mandar pa– ra o radio, muita gente haveria de chorar. Talvez o homem des– se um conselho. Mas essas coi– sas custam muito I A historia tem que entrar na fila, esperar .vez e nem :sempre eles selecio– nam - só :se for caso mesmo muito interessante. E eu jã não posso esperar.. O meu mal é não poder esperar nada. l"ma vlgem a Petrof'Olls, com dormida no hotel, e um fim de st.-mana em Paq_uetá. Tudo corria muito bem. Cleõ não esperava casamento, jà que ele casar não podia, consolava• se com as promessas de divor– cio no Uruguai que ele sempre estava a fazer. Até que um dia ele foi preso. O rapaz acabou• enlezando com aquela histoTla de fornecer di– nheiro todo o dia para o pessoal da repressão. Não havia hora em que não estava um sujeito aparecendo no seu ponto levan– do algum. De começo pediam pouco, qualquer cinquenta che– gava ; mas agora era de qui– nhentos para cima, e olha Jà. Não havia movimento que agu– entasse. O moço bicheiro :!O"Otou tudo p:ira Cleõ, desesperado. Pensara até em mudar para São Paulo, onde diziam que a prac;a era muito mais calma. Só não o fazia por causa da pequena - apesar de contraventor, tinha medo de se enrascnr com rapto de menor. E largar dela não podia. No dia da prisão tudo teria corrido razoavelmente não fosse o diabo do tiro. O fato é que o rapaz estava mesmo desespera– do, vendo que lhe levavam toda a renda do ponto nas gorgetas. E asslm, quando o ~tira" llle deu voz de prisão (pela terceira (Continua na. 2a. pág.) GEORG Homem tloutras, horrorizando o leitor :ln- rar-se, cujas contorsões fazem. cauto que se perde nas suas J>3gi• mais violenta a queda. Ou as eas sem saber antes do que se quedas, que estas lnemorlas são, trata, mas prendendo-o sempre, afinal, uma serie de s3!tos par_a de principio ao fim, este Le Sab- baixo e para cima, de tentah– bat, de Maurtce Sachs. Jà não é vas de salvatão e de ncaidas recente, aparceu em 1946, e DO na lama. João Gaspar Simões LISBOA - llà exJstenéras que nos atraem por aquilo mesmo que sentimos que nelas nos re– pele. Se o segredo da vida de Byron ou de Strindberg se nos descerra através dos anos em que se foi, traduzindo nos atos que desenham o seu proprio destino, e esse destino é, ao mesmo tempo, um destino hu– mano e um destino sobrehumano, o segredo da vida de um Goe– the não ~ nos descerra nunca, porque Goethe não • teve um destino - "realizou", ele pro– prio o seu proprio destino, e o destino que o homem realiza não està no destino em si, mas na vontade do homem que o realiza. Goethe, soliçito auscultador da natureza, razão tendida ao mls– terio que se esconde na rota dos astros, venerador dos prin– clplos lnlciativos que constituem o magico terreno da alquimia, era, quanto a mim, o menos misterioso dos seres, pois .os se– res misteriosos são aqueles em quem o mlsterio "se revela", não aqueles • que revelam" o misterlo. Sei que ha grande irreveren– cia nesbls palavras. O autor do "Fausto• é um desses homens • (Continua na 2a. pag.) TRA~L momento lembro-me de ter sa- Nem a sua pessoa nem o seu bido que se comparava o autor meio estão de acordo com !lS a nlnguem · menos do que ao suas aspirai;ões. E por isso co– marquês de Sade. Foi lnfluen- meça a sofrer desde a mfancia. ciada por essa opinião que co- Desejaria ter nascido numa fa– mecei a lê-lo, e logo, surpresa, milia conservadora, traólcion'l– me encontrei com um moralista. lista, de tranquila vida bucolica, Entendamo-nos, um moralista e sua gente, de origem israelita, a seu jeito, com aspectos de ci- distinguia-se, ao contrario, pelo nico e de cabotino, de ' cuja sin- animo aventureiro e fantnsls• ceridade, ou, melhor, veracida• ta. Todos se casam e descasam de. se pode por momentos du- com incrível rapidez, as mulhc• vldar, mas moralista apesar de res são levianas e bilontras os tudo, moralista quase pedagogo, homens, ninguem cuida do JDC• prodigo em maximas e conse- nino, que muito cedo conhecia ]).los. E tambem, ainda mais, em • a pr azer angustioso do roubo". maus exemplos. "Considero-me Era o primeiro de uma su~es. um mau exemplo do qual se po- são de vícios que o 1artar.n de• dem tirar bons conselhos•, ad- sontsto, ébrio, pederasta. Jà vi• verte. Mas não se contenta em mos como preza o ultimo; deixar que os tirem os outros, quanto ao primeiro, conlessa que concluem por si: toma a que só o abandonou por moti• • dianteira, julga, condena ou ah- vos e:;teticos, por não · corres• solve, explica, orienta. Escreve ponder o ladrão ao seu Ideal fi• tanto para si como para os ou- guratlvo .Nunca teve remorsos tros, tanto para "buscar no la- de roubar, e nem os poderia ter, birinto de minha consclencla o porque "não hà remorso quando fio condutor de uma dignidade não hà o senso do euo•. Só a que se me tornou tão cara como embriaguez e as falsidades qu& a vida•. quanto para ~exaspe- cometeu lhe parecem realmente rar nos jovens... o gosto por importantes, e grave«. - Brincadeira I riu ela. - Na verdadt; não está mal Assim pensava e se atormen– tava a jovem Cleõ, enquanto es– fregava maquinalmente o pano encardido no balcão do café ex– presso onde era garçonete. Não, não era possivel. Melhor pro– curar um fim, qualquer fim. E contudo uma coisa là dcntTo de– la dizia ao contrario, o melhor era não se precipitar, que ha– via de aparecer um jeito, tudo no mundo se resolve. Mas Cleõ P.ncolbia os ombros, não via como se resolvesse. Devia ter pensado era antes. Amores com bicheiro - muita gente avisou. Porém, mocidade pensa? Qual! Mocidade quer é gozar a vda, quer cinema todo dia, aparta– mento, · em vez da casinhola de suburbio a quase duas horas de trem da cidade, sem contar a meia hora a pé para chegar à estação. Mocidade quer baile, quer passeio de automovel. quer piquenique na Bana da Tijuca com banho de mar e cerveja gelada , quer ver 06carito re– presentando., quer Ir ao Jardlm Zoologtco com ldilio na Quinta da Boa Vista. E, acima de tudo, mocidade quer amor. Cleõ ti– verà isso tudo, não tivera? l\41• Jagre que conseguisse conservar o emprego através de vida tão vertiginosa. .Só o que a fez a– guentar foi o medo do pai, que de vez em quando passava por ali, comprava ficha na caixa e vinha tomar um cafézinho servi– do pela pequena. Uma, duas ve– zes, por semana, o velho apare– cia na certa, não para vigiar, que não maldava nada, mas pelo gosto de ver a rapariga, tão fresca e diligente, com o seu a– vental azul, a sorrir para a fre– guesia. Era português, de cora– ção mole e fala mansa, mas Deus te livre de ver o pai de Cleõ no~ seus rompantes de rai– va, Ficava cego e doido, era capaz de matar. Por causa disso mesmo viera para o Brasil, fu– gido, depois de quase acabar com um primo a golpes de va– rapau. Cleõ gostava do velho, mas principalmente tinha medo dele: - aliás o melhor era des– viar o pensamento do pai, 11'1quela hora. Um Grande Poeta Alemão duas revoltas: contra a ordem, Ao lado disso, lmpulslvo, ale– contra a desordem, jã que é pre- tuoso, capaz de dedicação e da ciso passar primeko por uma e generosidade, pronto ao entusi• depois pela outra antes de ser asmo, inconstante nos estudos. um homem•. Não quer ter ne- porém ávido de saber, de ver. nhuma "infame complacencla• de experimentar tudo. MuHo com seus erros, e os recorda moro, apro,rlma-se de Cocteau, J)ara obter a absolvição que con- o primeiro amigo que lhe deu fere a confissão publica, par3 a sensáção de compreender a que sirva a outrem a sua expe• de ser compreendido. São allâs r:1encla e nunca para escandali• das melhores deste livro as pa• s ar ou vangloriar-se. gtnas sobre Cocteau e o melo E, entretanto, se vangloria e intelectual . e artistico de Paris Jembrado. .. - Boa lembrani:a seria pedir llm coquetel para mim. Estou eom a garganta sêcal STEFAN BACIU se escandaliza Dão deliJ;)el'ada• dos anos vinte, do Paris do sur• mente, mas po°rque, a despeito realismo e do Boeuf sur le toit• de fiUas tendencla.s morallz:in- A mocidade era, então, -- e nao tes, não se pode sempre furtar o ê !empre? - crédula e arden– ao vezo, muito humano, de jus- te, !)ala em todos os logros. tiflcar , jà não os atos, mas as acreditav~ ~m todos os descspe– lncllnações mais ~ofundas, a«1 ros, participava de todos os que realmente O marcaram. E dramas, vibrava com todos os é là possível marcar sem, ao amores". Logo, porém, o inqule– Jllenos de leve, deformar? o ho- to adolescente _"\leria que se en– mem que revela, através de ganava, que nao encontrarta em suas confissões, uma pungente Cocteau o que de ISl mesmo o sede de pureza, de dignidade, de galvarla. !!4 de janeiro - No segundo IJisque - uísque para o miocar– dio 1 - .Tulia me contou um ca– ao estranho, acontecido quando ela teria dez anos. O pai (jà falecido) acordara à mela-noite em ponto gritand,o: "Marina morreu!" Ninguem mais dor– miu. Logo de manhã chegava '° telegrama. Marina morrera . , Era a sua un'ica irmã, sete a– nos mais velha, que fôra passar uns tempos na fazenda de uns J)arentes. O automovel em que vi– Ilha de uma festa, numa fazendola "Yizinha, tombara -numa riban– ceira, justa-mente à meia-noite. Foi a unica vitima e ·os sobre– '\'!ventes garantiam que ela a;ó teve um grito: "Meu pai!• - 20 de abril - Eu gosto de voei! como de uma coisa. - Que coisa, Julia.? -Um vesUdo, um sapato no- vo .. . 30 de abril - Algumas ve1tes os - escritores que · •abusam de contar as suas vidas têm os seus embaraços. Por exemplo: não ael se fica bem contar a hlsto– J'ia de Cadlda . • , Mas relato a Julia, numa noite de hl>ertac:ão, a historia de Sablna. .Tulia, insaclaveJ, exige eempre mais minucias nas mi– ~ias, Désfaço-me de algumas eomo de tesouros: :-- Pé ante pé, ela vinha no escuro. O assoalho estalava..• . 22 de Junho - Não deve per– der as esJ)eranças, Maria. Um dia você i:>oderà ter sapato bo- (Continoa na ia. pág.) Pois é, nunca espi?rou que o seu caso com o bicheiro fosse dar naquilo tudo. Jà t:izls quase um ano, ele em casa era 1cce– i:'/cto como um pretendeme sé– rio. liinguem sabia que era ca~ sudo e deixara mulher na clda– cninba de Minas, de onde ,1e– ra A mlie de Cleô fazia v:sta R•·ossa quando os dols <'onver– savam na esqulnà, ã hors de ncolher, deixava que ele Ji le– v::.sse a festas - que a garota jurava serem em casa de faml- 1:t: aniversario de • uma cole– ,i11inha. E a mesma hl:.i<>tl!Uca rnleguinha tambem flervla para lhe justificar as escapadas - Ol1tono .Transfigurado GEORG TRAKL V IDENTEMEN'TE termina o ano . · Com vinho dourado e frutas nos jardins. Nas redondezas as florestas silenciam milagr~a– . l~llte e são os companheiros do solitário F ALANDO-SE hoje em dia sobre os mais importantes poetas lirlcos de lingua a– lemã, mencionamse principal– mente os três grandes nomes Rilke, George, Hofmannsthal Hã mais de quatro dezenas de anos que a Jingua e a poesia a– lemã estão debaixo do dominio destes. As suas sombras gigan– tescas pairam, por assrm dizer, acima de cada poema que se escreve, e o numero elevando– de seus di"scipulos, está longe de diminuir. Rainer Maria Rilke, Stephan George e , Hugo von Hofmannsthal são realmente os representantes geniais da alma alemã. Há muito tempo, que a obra destes escritores é conheci– da além de todas as fronteiras. Quase não se pode contar o nu– mero das traduções, das crltlcas e dos ensaios. Principalmente, a poesia de Rilke, se tornou "J)ro– prledade comum de todos os a– migos da poesia no mundo intel– b o. E ' natural, pois, RiJke cons– ta sem duvida entre os três ou quatro maiores poetas da er a moderna. Mencionando estes 3 nomes ain– da não se. fechou o pequeno· cir– culo dos grandes poetas de lin– gua alemã, pois falta o 4.•. Falta o austríaco Georg Trakl, cuja obra causou sensação na Alema– nha, colocando-se atualmente DO plano dos três poetas menciona– dos. Georg Trakl é um doa proeminentes, um dos melhores poetas verdadeiros da Alema– nha, e os entendidos jà amam as suas poesias, enquadradas en- tre os bens mais preciosos da literatura alemã. Infelizmente, ainda não se compreendeu fora fla Alemanha a grande impor• 1ancja lle Trakl no seu pleno alcance e em amplos clrculos de&– eonhecendo-se a sua poesia e o seu singular cosmos liricos. A– ])areceram diversas traduções e ·J)equenos volumes de poesias. l)a França, na Romênia e tam- bem na Holanda (pode haver mais uns poucos mas escapam ao nosso conhecimento). Como tradutor de Trakl, e modesto E o camponês diz: está bem assim, ·Binos da noite, longa e suavemente da.is no fim do ano alegria. . IUm bando de pássaros saúda ao _partir 1 -~ o tempo do amor. :beba!xo da canoa, no rio azul que corre, quadros e quadrinbos se sucedem - ~ tudo acaba silêncio e calma. ])esquisador do seu mundo poe– tico, podemos afirmar com to– fla calma, que a obra do poeta - não t bastante conhecida. São traduzidos e discutidos por mo– 'ÜV08 diferentes, poetas poliü– eos, e os que estão em moda. .A sua "gloria" parece brilhar na luz do momento, percebe-se, J)Orém, depressa, que tudo Isso é afêmera poeira prateada. Sen· de Trakl um grande poeta ver– dadeiro, nenhum "poder organi– :a:ado" empreendeu o u-abalho de discutir, traduzir e louvar, a– CL_uem .e além, a 11ua obxa. Ullá - , ainda o dia, em qre serà con– cedida a Trakl, a gloria tardia, como aconteceu com Marcel Proust, Rákmond Radiguet, Kaf– ka e outros escritores geniais. Consideramos, porém, mais belo e mais justo, irradiar até lã um pouco de luz sobre a breve vida e a obra do poeta. Georg Trakl veio ao mundo em Salzburgo (Austria), em 3 de fevereiro de 1887. Salzburgo pertence às mais belas cidades antigas da Europa, e me lembro exatamente do passeio sonhador que dei, há alguns anos, pelas ruas seculares. Segui ás pega– da" do poeta, pela "Rua do Tri– go•, (Getredega$se) escura, que ali se estende com as suas lojas e os seus cafés empoeirados. A Rua do Trigo, é uma destas ruas estranhamente antigas, que se encontram tambem em Ber– na, Basiléia e Amsterdam. Colu– nas e Igrejas conduzem então até o Largo da Balança (Waag– platz). l!:le se estende ali, ines– peradamente e escondidamente. e aqui há um predio com uma tabUleta, na qual está escrito que ali nasceu Georg Trakl. Nu• ma porta, havia uln pequeno escudo de latão: uTrakl". Aqui moram ainda .boje a sua irmã (que aparece frequentemente na11 suas poesias) e o seu irmão. Não encontrei nlnguem em ca– sa, e me doí ainda hoje na al– ma, que tenha deixado Salzbur– go sem cumprimentar a fa– milia de Georg Trakl. O jovem Trakl se formou co– mo farmaceutico, embora não lhe agradasse a profissão. Ele gostava de viver retraido, na luz do outono, na sombra fresca, junto da calma lampada, assim como ele disse repetidas vezes nas suas poesias. Ele foi para primeira iuerra mundial e morreu depois de pouco tempo, já em novembro de 1914, no hospital militar de Cracovla, quieto e sozinho, na idade de 27 anos, duma into– xicação / de remedlos. Até hoje, não fol esclarecido, se se trata dum acidente, ou de um suici– dlo. Os entorpecentes parecem ter causado a sua morte, e esta morte corresponde a muitos dos seus geniais poemas. Escreveu~ se muito sobre este "desapareci– mento" do poeta. A sua familia protestante, negou sempre e de– cididamente a possibilidade dum suieidio. Até hoje em dia - 36 anos após o falecimento do poe– ta - não se conhece a causa de sua morte, embor a ae inquirisse elevação, deixa por vezes perce- Foi entretanto de Cocteau qu& ber uma completa ausencia de ouviu uma palavra que lhe pare– senso moral. Nota que volta, eeu um momento,_ reso;ver todas sempre que fala de seu homo- as i,uas lnquletaçoes, uma pa– sexualismo, o unlco vicio que não lavra curta à qual n!lo empres– lhe parece tal, que tenta noblli- tava_ !)OI' _ assim dizer nenhuma tar, talvez por ser o unico que slgnificaçao, uma palawa bre– essencialmente faz parte de sua ve que nunca escutara .~em 11a natureza. Exalta a felicidade famJJia nem no coleglo . Deus. • de viver a dois homens, de Como ~,a pedra num ~ço, o passar insensivelmente da ca- nome cam-lhe no fundo d a1ma, maradagem .ao amor, da pai- Era o tempo em que as convcr– xão à :amizade, com aquela ale- sõe~ estiveram em moda, con– gria, aquela bonomia despreocu- tag:iesas como todas as novlda• pada que os rapazes sentem des, no tempo em que alguem, muito melhor do que as rnulhe- já não me lembro quem, dtsso res•. Depois de trechos como a MJ:luriac, nascido e criado no este, é dificil aceitar-lhe a au- catolicismo:_ uMeu pobre Mau– toridade para elogiar Maritaln rlac, tu nao te podes conver• ou condenar Cocteau a slncerlda- ter!", Foi teatral como todas as de quando se diz enojado de ,si suas atitudes a entrada de Coe. mesmo, ardendo por uma elds- teau na Jgrcja. E o seu exemplo tencia sadia e justa arrastou Maurlac Sachs ã casa E, entretanto, paginas adtan- de Ma.ritain. Ao simples olhar te, descobre-se o acento da ver- do homem que achou semelha_n– dade, com seu timbre inconfun• te a todas as Imagens de Cns– divel, percebe-se uma calma to, sentiu que voltava ã lnfan– contraditoria, sim, mas ansinsa ela, que rompi3 as espessuras por uma ética em que se apoie. da bnpureza. Percebe-se o '!Pêlo desesperado Continua na Ult. Pg. Canto-· Noturno GEORGTRAKL A noite, quando andamos pelos caminhos soí' nbri.oa. nossas pálidas silhuetas nos precedem Quando temos sêde, bebemos a agua pura do lago, a doçura da nossa triste infancia Exaustos, deitamos debaixo dos sabugueiros e .9lhamos as gaivotas cinzentas Nuvens de J)rimavera sobem sobre a cidade escura, na qual monges de tempos mais nobres silenciam. Quando peguei tuas longas mãos, abriste suavemente teus grandes olhos, lsso foi hã muito tempo ... o seu ordenança, que esteve coro Porém quando um ruido obscuro procura tua alma, :iro ~~n~u?i~ 1 1"!ltfo l~~r:~ . ~ai~; ª~~ branca SOIHJ'a, na J)alsagem outonal deste (Continua na 2a. pagJ ?" lamliO
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0