Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1950
' \ { ~~--..:: ·, ~ "'' ..,......;j ·~: 't:'.1 : Domingo, 26 de f 'evereiro de 1950 . 1: ,,, ,,. ·"- ~ . FOLHA - ;oo NORTE· 3a. pág. A· 'ARTE CRISTA MEDIEVAl_ NA .f NGLA TERRA O .dt>sénvolvimento das artes expri~em nobreza de concep– n a Europa não se en1uadra çáo e exr:elência técnica sem fà"' 'mente dentro das cate- par na criação artística de g oriàs nacionais. As vezes, 0 qualquer outro entre os povos gosto pessoal de ,algum pode- . novos _d~ Eur?pa, Levada pe– roso patrono das artes, ou a los m1~ionár1os celtas e .an– força de uma personalidade glo-?axQ.~ a _arte de Northu– criadora. cercada por um gru- mona dissemmou-se pela Eu– po roc!\l de discípulos, lança- ropa t~r~ando-se fator im– lram determinada moda em p_or~antiss1mo d!' . cultura ar– determinada região: às vezes t.1stica do !~peno de . Car~os a diferença de' religião tem Magno . O seculo nono ass1i;– causado contrastes marcantes tiu às. invasões dos "Vikings" entr e os hábitos estéticos de que · espoliara~ os mos~eiros Eitt.ãdos vizinhos.. Contudo. as de :r-:ro.rthu:mbria, prejudlcan– inflllências gerais são as mes- do seriamente a ar~ e o e~– m as e um idioma e motivos tudo, no século segumte ven– têm sido geralmente empre- ficou-se o reerguimento artis– gados Isto se deu especial- f,lro e cultural para o qu!l.l mente· durante a Idade Mé- muito contribuiu a arte Ca:ro– dia: quando a Igreja única e lirig!a . Diila veio. a . espessa in têrnacionalmente reconhe- !'olha de aCllnto qµe . decora cidà regia, por assim dizer, as 8:-~ miniaturas do _."Benedie– finàlidades para as quais as · tional" de S. Aethelw?ld (980) art~s eram de modo geral em- e o•djlsenho leve e v1br_ante do pregadas . Desde a Espanha Psa1tério de Utrec_ht, produto a te· a Escqcia. a arte roma- da ~scola de Rheims o qual, nesca se desenvolve na uni- trazido para a Inglaterra. foi dade e s_tias variações não são U!fl dos elementos da forma·– def\nid~s por limites geográ- ça~ ..da chamada escola de ficos. A arte medieval bTitã- Wmchester, cujos trabalhos nir0 é, pois, a arte criada na nos alcan:ç3;ram sob a forma Grã -Bretanha durante a.que- de manusc;itos d?s séculos. XI la 'época, e não uma arte que e XII, . ~~o behssimos, ri_cí!s aoresenta caracteristicas na- de sensibllida~e e dramatim– c!oha!s !'econheciveis. Aqui e dade. Cons~itu1:.m uma das ali - pocferiamos apontar algu- grandes. .reahzaçoes da arte mas tendências inglesas, po- inglesa e son:iente ao apa~·ecer rém, D;lesmo quando o gênio os · aqtul.rehstas do . seculo lnsillar . revela inventividade XVIII tornaremos & .encon– ex<':ipcional. os temas e moti- trar · expressões tão belas, e vos· empregados fazem parte nitida1:1~nte inglesas, das ar- da nera.nça universal do cris- tes graf1cas. . tianismo . Com a Conqmsta Norman- Nt>.ste curto estudo meneio- da a arquitetura se desenvol– naremos a.penas ' de leve uma veu. Pouco resta das edifica– ou duas ,fases principais da ções q~e precederam aquele arfe cristã medieval na Grã- acontecimento; nada sabe– BrPt!\nha . Suas primeiras mos a respeito das catedrais grandes _realizações datam do anglo-;;axãs a não_ ser a.tra– fim do · sétimo século. Nor- vés as crôniêas antigas ou pe– .thumbria foi o ponto de en- las ruinas fragmentárias des– oontro entre a tradição cél- cobertas pelas escavações . ti<'â. que na Irlanda, Isolada <;:ontudo ~ estilo amplo e &?– do continente, havia aperfei- hdo · trazido da Normandia çoado seus próprios padrões pode àinda ser admirado em dPéor ativos., e o novo Impulso numerosos . edificios, desde a clássico trazido para a Ingla- p-1aravllhosa Catedral de Dut– t erra por Santo Agostinho e ham até nai: igrejas pequenas clérigos em contato com Ro- como a de Iffler. Os nor– m à tais como Wilfrid e Be- mandos eram apaixonados pe– nPi:Úct Biscop. Vemos, por la construção. apesar dos pro– exemplo. no manuscrito de blemas do transporte da pe- • Lindisfarne (700) páginas in- dra, quase toda vinda de Ca– t eiras compostas de desenhos en, do recrutamento e prepa– entremeados, enquanto as fl- ro de trabalhadores., e do fi- , guras dos evangelistas, ainda nanclamento dos demorados que altamente estilizadas, são projetos . Re_v~lara~, po~ém, visivelmente baseadas nos talento admm1strativo digno eú-mplos romanos . Em Ruth- de seu espírito de empreen– ·well e Bewcastle vemos cru- dimento . Realizaram na In- zes em pedra esculpida que glaterra as experiências mais J. S. R·. -BOASE real!zou-se no fim do século. ceb<>mos as qualidades especi– Em 1174, o côro de Canter- ficamente inglesas, "opus an– estranhos e fabulosos. A ln- bury (chamado "o glorioso"), glicanum". ousadf'-5 da épÓca; a abóbâ,da da Catedral de Durham com– pletada em 1133, foi uma rea– lização nunca vista ã.té então. Foram os pedreiros de Dur– lmm que introduziram a no– va arquitetura na Escpcia, e sua influência pode ainda ser cc,nstatada na CatPdral de Kri\{wall na ilha de Orkney. A arquitetura normanda em sua . pr.imeira fase é de- uma slmplicidade severa; já no sé– culo doze as ricas esculturu emprestam nova beleza ao es– tilo, Os antigos e inspirados padrões decorativos anglo-sa– xões tornam a; aparecer nos capitéis ; a cripta de Canter– bury é esauloida com bichos O momento é de ancústia e minha alma chora; o momento é de tristeza ven.tividade aparece também um_dos mais perfeitos e ricos O século XIV foi o século nas iluminações, nas quais a exemplares ·da escultura e da · do estilo Decorado, curvili– traqição anglo-saxã é modi- P i ~ tura romanes.ca inglesa neo, predominando. por toda ficada pela escola normanda. foi destruido por um in- a Europa as formas interna- A arte romanesca; síntese da cêndio . Sua reconstrução foi cionais do estilo gótico . A arte romana, da ornamentação entregue a um pedreiro da arte inglesa é ainda caracte– bárbara, e do humanismo bl- ile-de-France, Guilherme de rizada pela escultura e popu– zantino, teve _ granc;le desen- Sens. Sua obra representa a laridade do grotesco .· As mar– volvimento dentro do império primeira exposição lógica e gens· das páginas · são decora– auglo-normando que abr:;in- corupleta do sistema vislum- das com pequenas caripaturas, gia a maior parte do ncrdes- brado pelos pedreiros de, Du- assim como os capitéis e as te da França. As grandes bl- rham ·e recentemente desen- madeiras esculpidas das igre– blia.s inglesas do século XII volvido no norte da França. jas . Já no meio do século a– €.Stão entre 05 mais belos e- Este sistema adaJ?tOu-s~ rã.pi- parece um estilo novo e es– xemplá.res do estilo romanes- . damente ao ambiente mgles . sencialmente inglês . O gótico co. da expressão européia, ru- A fachada ocidental da Ca,- perpendicular poderá ter cer– jo ·~mprego de formas ~ tão tedral ~e Peterborough, com tas afinidades com o gótico gCeitável 110 gosto moderno. s_eus tres vastos a_rços de . qe- contemporâneo na França, A transil',áo para O gótico sen~o , romanesco, fqi tçr~ 7 porém o desenvolvimento das na!la em 1200 no novo estilo. arcadas retangulares, iniciado As..catedrais de Lincoln, Win- nas Catedrais de Westmins– chester e Chichester, foram ter e Gloucester, con~tituem .àoristruidas no mesmo .estilo . reallzaçãQ nitidamente ingle- __, As obras primas desta fase $8. que empresta éarater úni– . primitiva dei estilo gótico na co à arquitetura medieval :.Inglaterra são as catedrais de · posterior . A severidade das W e 1 1 s (1239) e Salisbury . linhas retas é uma reaçi\o <1258). Alnda · se pode ver na contra a exuberância de de– farhada da Catedral de Wells talhes exemplificada em obras as .esculturas originai:; repre- tais como o T\imulo Percy em e as rosas vacilam na madrugada._ Nesta ausência de , música sentando a · coroação da Vir- Beverly, ou o Sàlterio Lut– Sl'm, cujo culto era um dos trell . A simplicidade do ar - elementos mais importantes cabouço arquitetural enqua– da vida relic!osa inglesa . A dra a ornamentação concreti– Catedral de Salisbury com- zada nas pequenas capelas pleta'da por sua torre álta, re- esculpidas, incorporadas às presenta a perfeição· da si- grandes igrejas nas abóbadas lpueta gótica, visivel por mui- dos belos edificios que encer- nesta fuga de orvalho brotas misteriosamente - r.osa impressentida ... Neste. momento em ·que o apelo do' mar é recusado neste-momento de aurora inquieta - . surges feéricamente. rosa inefável de meus· olhos. E nésta hora em que tudo parece morrer par& o mundt nes.ta hora em. que. a poesia anda errante e 'desabrigada · tu me envolves rosa eterna ·e me embriagas·'eom tua músfoa. EXERCJCIO No. 1 Subitamente eeôa o poema em minhas mãort; Serei rosa inútil entregue aos ventos notumDÍI. Onde a música inefavel para me conduzir ao absoluto? EXERCICIO No. Z Um pássaro rubro rompe o silêncio e suas asas exaustas entoam 0 preces de desespero. O que seria este pássaro: - ode brotada da inconstância ou mensag-em de tua. auséncla '?' CANÇAO '.rRJ E's ausência - imagem de somnra tombada em lírio murcho. Entoarei a prece de tua fuga tas léguas em ~eio à pJanl- ram o período medieval, en– cie, inspiração Imorredoura tre eles a Capela de S. Jor– dos poetas ·e pintores ingle- ~e. em Windsor. a Capela de ses . Henrique VII em Westmin,!l- . A revolução gótica se fez ter -e a Capela de King's Col– sentir menos nos ·outros ra- lege em Cambridge . mos da arte. A iluminação A escultura inglesa por vol– transformou-se num classicis- ta ·do século XV, Já. não flo– rno •sereno e substancial, obe- rescia . As esculturas do tú– decendo à mesma inspiração mulo de Henrique V em west – ~ue criou a fachada ocidental minster Abbey são grosseiras da Catedral de Rheims. As e pesadas, obra de um escul- primeira.$ manifestações da tor- secundário. O nível ge– transformação gótica apare- ral ~ baixo . o· novo realismo cem na pintura inglesa dos consistiam em obras de la– últimos anos do século . · refletido na Inglaterra duran- Nos meados do século XIIl te um breve periodo, desper– º·· gótico na Inglaterra é dé tando. porém, pouco ~teres– es t H o predominantemente se . Os dois grandes tumulos francês· a reconstrução de do século, o de Richard Be– westmi1nster Abbey, levada a auchamp em Warwick (1453) efeito pelo rei Henrique Ili, e o da Duquesa de Suffolk foi modelada no estilo da ar- em Ewelme (1477), se enqua– :i,uitetura de Paris no reino de dram dentro da tradição gó- e o vento levará minhas palavras perdidas e elas dançarão loucamente em teu corpo de Na noite triste meu lamento ::.uis IX chegando a consti- tica anterior, ainda que o tú– tuir um'a homenagem àquele mulo da Duquesa, pela con– som escondido . monarca. Os manuscritos da cepção ampla e nobre, pareça época refletem a predomi- pre1;1unciar o "quattrocento.. é rosa frágil. MAURICIO SOUSA FILHO nãncia do estilo ,francês; sô- Italiano. Os trabalhos c~me– niente nas artes secundárias morativos em sua maioria sobretudo nos bordados. per~ (Continúa na 2a. pãg:na) EM TORNO DE MARCEJ__ PROLJST sem de$peito. sempre disposto a gracejar de seu modo de sentir e de viver. classe decaída como dos "nou– veaux riches" que surgiam, a– trevidamente, com o advento d!I bur!?uesia, após a Grande F.evo111ção . Balzac, apesar de fa vorável ao " ancien régime" sua vida. · Prous.t perdeu a . (Conclusão da la. pál!'i"ta) Mas tem a velhice do mundo. e de seu ódio à burguesia tri- saúde aos nove anos de ida- gos, empunhava a pena e pas- das. Proust, entretanto, era oE' a primeira das folhas so– unfante, não conseguia vencer de, quando regressou de um sava horas sobre horas, to- intérprete legitimo e creden- bre as vel.has ramagens, na cer to despeito pela nobreza passeio no "Bois de Boulog- mando notas sobre notas, en- ciado, ou melhor, o autocon- selva secular. Dir-se-la que que o olhava friamente, com ne". A asma o · perseguiu cl_lendo folhas sobre folhas. fidente da classe que invoca- vemos os novos retornos do superioridade, arrogância e desde então até o fim de seus ~ixava ~o papel tudo o que va e descrevia. prnfundo passado dos bosques Bem curioso é o fato de Marcel Proust ter, hoje, em dia, m u I t o s adversários e partidários apaixonados e ir– redutiveis. Uns proclamam o seu gênio não só no campo literário e o m o também no campo filosófico .. Outros vêem em Proust um escritor fa$.tidioso, monótono, vazio, que só pode conduzir o leitor ao sono ou ao tédio. desdém . Dai o fato de tratá- dias . Vivia permanentemente tmha visto e ouvido, prepa- e da dor de tantas primaveras la rudemente, mesmo quando sob a ameaça dos terríveis rando assim os elern,ntos pa- Dizem os biógrafos de Proust mortas . . . Também o livro de pretendia justüicá-la e defen- acessos deste mal que tolhiam ra a grande obr a que iria, em que Anatole France escreveu nosso jovem amigo tem fatl– dê-la . Zola via os e,ristocra- os seus passos e desfaziam as breve, construir . o prefácio de "Les paisirs et gados sorrisos, atitudes de tas e os burgueses como ad- suas mais caras aspirações . O mal agravou-se com o les jours" a pedido de Mada- cansaço que não deixam de ter versários dele e da hmnanl- Teve a in(ância privada de tempo em lugar .de curar-se. me de Caillavet. Isto, como beleza e ·nobreza: Sua própria dade. Julgava-os com exces- passeios, de travessuras, sob a Não tardaram os médicos em ile vê, constituiu mais um êxi- tristeza torna-se prazenteira siva severidade, negando-lhes ·extremada vigilância dos pai~ lhe asseve:ar a incurabfüdade to mundano do que prôl)ria- conduzida, como o é, por um obstinadamente aualquer es- Pretendia seguir a carreira da moléstia que o afetava. mente um êxito literário. Ana- maravilhoso espírito de obser– péçie de virtude. Tanto Sten- diplomática, mas logo e.bando- Se~tindo-se pior cada vez tole France não deveria sim- vação, por uma inteligência dhal como Balzac e Zola es- nou este projeto, pois sempre mais, Marcel Proust percebeu patlzar-se com Marcel Proust. flexível, penetrante e verda– tavam imbuídos, consciente estava de cama. Sua fraglli- que a morte estava próxima 11: sabido a sua ogeriza pelos ho- deiramente. sutil . . . Marcel ou Inconscientemente, de pre- dade orgânica não o permi- e lhe sobravam poucos anos mens de salão, pelos iantares Proust goza igualmente em • conceitos hóstis contra a no- tia viajar a fim de satisfazer para a realização de sua obra. e reuniões que Madanie Cai!- descrever o desolado esplen- brP:,a e a burguesia. '.\ sua ardente curiosidade, co- Que fez? Transformou o seu lavet o forçava a comparecer. dor de um pôr de sol e as agi- O mesmo. porém. não acon- nhecend.o novas · terras, nova modo de vida.' Afastou-se de Como se depreende de sua tadas vaidades de um espirito tecia com Proust. Proust não gente, novas paisagens : Rá.ra- tudo . Em .sua casa do Boule- obra, achava aquele mundo mob. E' insuperável a contar abri11;ava no coração e no cé- mente saiu de Paris . Ai, po- vard Haussmann, .quase com- ex e e ssivamente enfadonho . as dores elegantes, os sofrl– r ebro nenhuma hostilidade rém, sentia necessidade de se pletamente isolado, p'ôs-se a Diver't'ia-se, por vingança, a mentos artificiais, que l1?11a– pess-1al ou ideológica contra expandir, de dar vasão às for- escrever "A La Recherche du zcmbar de suas maldades e de Iam ao menos em crueldade os componentes da classe do- ças contidas e recalcadas de Temps Per'liu", dominado pe- seus rldiculos, •já que não ti- aos que a natnreza nos ofe– mina,nte . Achava-se insuspei- sua vigorosa personalidade. la febre que consumia ·o seu nha, como Zola. a capacidade rE.ce corr prodigalidade ma– to para descrevê-los tais como Se o organismo fraquejava corpo e inflamava a sua en- de odiar. Considerava-se um terna!. . . Confesso que estes os ~1.a nos dias de reuniões ou ainda mais se apurava a sen- genhosa imaginação . Abando- escritor do povo. que oerten- 6éntlmentos Inventados, estas na intimidade de seus apo- sibilidade dos nervos e dos nou os salões das "altas ro- · eia à raça indomavel dos lna- dores encontradas pelo gênio sen tos particulares . Não sen- sentidos. Desenvolvia-se de das" , aproveitando, infatlgà- daptados, dos rebeldes, dos re- humano, estas dores nascidas tia nenhuma repulsa pelas dia para dia o seu poder de velmente, o que lhe restava de volucionárioi;. Representava, da arte, são, para mim, infi– suas frivolidades, seus vícios, observação psicológica tanto vida para refazer uma socie-· em seu tempo, segundo ele, o nitamente interessantes e pre– suas. tolas predileções. que bem em relação a si próprio como dade decrépita cujo desmoro- mesmo papel que o côro re- ciosas . .. Sentimo-nos numa car~êterizavam um estado ine- também em relação ao meio namento ele chegava a pres- presentava na trarrédia anti- atmosfera de estufa, entre or– vltáyel de completa dissolu- em que vivia e atuava . A vi- sentir. ga. Isto, porém. não o !mpe- itutdeas sábias que não nu– ção. Não se escandalizava da que levou desde a infân- O proletariado, na França, dia de reconhecer o talento de trem na terra sua estranha com o egoísmo ou a incons- eia, a doença que o atormen- não teve ainda o ,seu poeta co- um jovem, estreante que pro- beleza. Repentinamente no ar ciência de uma Duquesa de tava,·provavelmente o zelo ex- me teve a classe possuidora. curava abri11ar-se à sombra de pesado e delicioso, passa uma Guermantes que deixava o cessivo de sua mãe, tornaram- Zola não descreveu a vida dos seu nome. E' mesmo posslvel flecha luminosa .. . Com um si, amigo, moribundo por causa no uma criatura nervosa, fà- trabalhadores com a mesma que tivesse influído na esco- traço, o poeta penetra no pen– de um jantar . V:a, frlàmen- cilmente excitãvel, excêntrica, dedicação com que Proust lha definitiva do titulo do 11- sarnento secreto, no desejo in– t e. como se abaixava o orgu- inquieta, contraditória. Havia descreveu a vida venturosa vro, inspir ado em Hesicdo. que confessado . . . E' bem o clima lho aristocrático quando o dl- nele qualquer coisa de femi- dos protégidos da fortuna . O revivia. fugitivamente. o eter- decadente e "fin de siécle " o nheiro entrava em jogo. Neste nino, e tudo leva a supôr que fenômeno é fàcilmente expll- no fulgor do mundo helênico . que se respira aqul .. " Estas terreno, realizavam-se as mais Proust não era um homem de cável. Zola não per tencia à Anatole France não escreveu palavras de Anatole France sórdidas maquinações, os con- sexualidade normal. Na vida classe operária. Jamais se um prefácio formal: Sua oers- poderiam, dezessete anos de– luios mais abjetos que en- noturna de Paris, frequentan- identificou com ela. Só empi- pica.eia deu-lhe o en•ejo de pois, servir de introdução à charravam de lama aquele do o que se chama a "alta ricamente conhecia os seus prever o que Proust poderia grande série dos romances de mundo aparentemente ele- sociedade", foi onde achou, anseios econômicos, politicos e represent!lr para as letras de Proust. gante, harmonioso e sedutor . com os triunfos mundanos, a sociais. Não se mostrou capaz sua época . Seu julrramento se- Proust é, certamente, o au– Proust descreveu, com mãos de supercompensação para uma de compreender, em toda a reno e objetivo .não envelhe- tor preferido da " alta socie– mestre. o aburguesamento de- existência parcialmente frus- sua extensão, o que ela ver- ceu até hoje . Em 1896, ele de.de" e. daquP.les que 1tmbi– finitivo da aristocracia fri,,n- trada, que quase se desenvol- dadeir'l.mente sentia e aspira- captou as caracteristicas fun- clonam frequentá-la. sonhando cesa t:il como Balzac descre- veu num leito de doença, en- va . Seu contacto pessoal com damentais do talento literário com os amáveig sucessos de vera este mesmo aburguesa- tre acessos de asma. O inte- o pr::oletarlado foi deficiente de Proust: "Seu livro - di- uma vida mundana . Esta gen– mento em sua fase Inicial. ressante é que ao voltar de e superficial, apesar de ter si- zla Anatole Fr:in r-f - t, rC'mo te. é claro. njí,o poderia ver · Para melhor. comP.reens{lo uma reunião elegante ou do do ele, Zola, quem Introduziu, um rosto !overn •.h r ln rle r'I - em Anatole France senão um da obra de Proust ê jÚSto que Ritz, onde passara a noitP. a no romance, as massas o~ri- ro .encanto e rt . fin a ~r. i:~. inimigo implacável, s0rriden- 11voquemos alg~I)$ aspec,tQ/l de conversar numa roda de ami- mid~,. sofred.oru #' - hIP•-. Tem a juven\ude do a utor . te e irônlco, sem amargura, Evidentemente, há certo exagero tanto nos "amigos " como nos "inimigos" de Proust. Em primeiro lugar, . o critério do fastidioso é relati– vo como tudo no mundo. 'Pa– ra os mundanos. por exem– plo, que se vêem refletidos na. obra de Proust, não existe es– critor mais agradável do que . ele . Em segundo lugar, a obra de Proust constitui, indiscuti– velmente, um depoimento no– tável sobre a sua época, ou noutras expressões, o sumário de culpa de uma classe em de– composição que já perdeu his– tôrlcamente a sua razão de existir . . Nada, entretanto, mais pue– ril do que a tentativa de trans– formar Marcel Proust num filósofo moderno . Já quem visse nele o grande intérprete do pensamento bergsoniano . Mas a dolorosa verdade é que Bergson foi, em seu tempo, um pensador medlocre que não trouxe nenhuma contrlbulçáo importante ao conhecimento humano. Não passou de um fi– lósofo da moda, cuja obra vai, lentamente. caindo no esque– cimento . Sejamos sinceros : como homem de pensamento, Proust é de uma lameutável vulgaridade apesar de se co– locar acima do.s precoaceltos morais e religiosos. Proust morreu aos ctnquen– ti1 e um anos . Deixou, po– rém. uma pintura excelente do meio em que viveu. Embora pareça um paradoxo, não he– sitamos em dizer .que preci– samente na " superficialida– de " estã a ·• profundeza" d& obra de Ma rcel Proust e. por– tanto, é 'elemento funrlamen– tal qúe a tornará duradou.– ra, _______ ......;.. _____________
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