Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

Oõmiiigo, 1 O ele julho 'de 9~~ ,:-oLHA DO NORTE'- Um dia era uma dôr de CONT L R-INT Jabeça, manhosa, lmperü– Jiente. que o punba zonzo; noutro, uma pontada do la• . do; lá vinha depois um ha• milhante desa~ de fira– Ih, que o obrigava a ficar em c,asa., acamado. tomando •· linos, perdendo negócios eer- , aos, numa época em que eles " '..I e Ih. h ,, cortb'la, as folhas do tlnho • ,se tomavam raros. fli)loeando a sua m orte sob Embora o . conto Circo ue oe 1n os te- rão . E as estrelas brilhando, A mulher, macia. sobre os outro plano: n\ia sido lembrado como um dos dez maiores con- Brilhando imensamente, dis- chinelos, chepva-se com• - Como você fi aria se eu um suspiro, acarinliava-o. morresse aí de uma hora pa- tos brasileiros, no inquérito rea li_z:ado pela "Revista tankls, distantes e impassi- •·"':-ría-o, tri-5te e delicada: ra outra 'l Quinhentos e três Academica" entre os escritores do Brasil, e como tal veis no céu escuro, no céu . . Você ainda gosta de _ mil reis na Caixa E conômi- - misteriO"JO. no céu infinito. O &•• ~ . -• ea. Qo.inhentea •e três mil tenha _figurado ria grandé maioria das antologias do céu infinito... Que haveria - Que pergunta ! réis e nada mais, senão os gênero, nacionais e estrangei ras, publicamos, neste no céu ? A st ros. ª st ros ro- . Gostava mesmo, mas na- pobres \ cacarecos rebentadoo M R b I lando, almas talvez, almas ,quela hora O que ele gosta- por oito mudanças nos dez numero de homenagem a arques e e o, O conto dos que morreram . lUorte ! ·Iria ~ra de ficar bom e aque- anos de casados . "Labirinto", t irado d livro ªStela me abriu a por- Veio um arrepio - seu .João ,_ ._ carinlioª ...,,ueles temos Ela zan"'ava-se, zangava-se ,, • -~ d t • t • .1 tremeu. E' o vento que ba• ..,.. .., -'.f. .. ta , .que na op1n1ao o _u or e o seu con o cons,,.,era- 1a .&. _._ M rt ,, /: olhares, todo aquele selo, e ria balançando os seios far- nça, "' • ano.- .. • o e:. :.deixavam-no insensivet e até tos: vel, pelo que atingiu nele de simplicidade e intensi".' Uma angústia toma-lhe o ~ pouco irritado. - . - Mas que idéia! dade . p eito e o silencio -é demais. Depois, vieram-lhe as ton- Nunca pensara que ele pu• ◄ ---,111• F oge do silencio - como &e leiras. Quase que caía na es- desse morrer. Que 11gour o ! fugisse da morte: cada do cmq,reco, uma esca,- Nunca pensara e nunca• pen- - Maria..• iila li1gubre, imunda, em tria Hria: lhe aquela vaga. esperança de bações - o olhar se tuna• - Que é 't .lances. Apoiava-se is pare- - Doente, toei• mundo fJ. que podia ter uma melhora. va. sentia ânsias de vomitar _ Seu Joio ia falar, la falar ales. Via tudo tremer. Becea- ca, João. Toma remédio e ELE era misericordio , ELE - ânsia aó? - pressão . na um mundo de coisas que ge- l'Fll atravessar aa roas. fica bom. era- o senhor de toei as al- cabeça. mal-estar, um saor mla-m no aea peito cansado, ,, o médico pranüa-lhe qu - Mai eu já tomei, Já to- mas- :ELE tudo p odia . g-elado pelas têmporu - pen• no sea peito medroso. Mas o ~ lúes, e reeeitoa-lhe bis- mel tantos, qual ! . . . Ag-ora, não eram mais ton- Coram mexidos. •• homem bateu na Janela: t muto-no principio vai ficar - - Não aceriaram, mas t eir , somente. St'fria uma Riram mais. - Estão chamando ao te- ; mais- excitado. mas depois.•• acabam acertando. As coisas espéc·e de sustos, sem que - Feliunente-não -temos fl• lefone . .- Excitou-se. Chegou a ber• não podem ser wempre comd b ouv o menor motivo. Ia lhos. - Multo obrigado. .-ar· em casa, ele que era tão a gente ás quer. Tem fé em muito bem, de repen te, o co- - E'. . Seu João ficou sozinho, ~allmo, tão delicado, tio pa• Deus, .Joio 1 ração pulava, depois parava, Houve um sllendo, eomo ae-ntúido coisas, sentindo me• . ct,mte. Como prevenira, a 'l'lnha. E' o qae ele tinha. doía n uma flspda, fina como se um g-rande miai-estar ti- do. Afinal dona M.aria do ,mulher dobrou de tolerância felnmente. Olhou para o cru- se ele d escesse um elevador vesse pesado subitamente SO• Carmo voltou da padaria: :-, é o bismuto que está ag-1.n. eifh:o de ferro pendurado na em forte velocidade .· Apoo as bre a., suas almas. O vento - E' Dora, ,João. Está do- ''1,o... cabeceira da cama - vet_ o_- _re_f_ei_ç_õe_s_ J>_assoa ___ a_ te_r_ p_e_rt_ur_-_co_n_tin_ua_r_o_rte_ ,_ bala __ nç_ a_nd_o_a_en_te. __ d;...' e___ eama __ , _co_m __m_ui_ta . As injeçôeff doiam,, aenta- ,n-se atravessado, fartou-se ,lile compre!lll&S quentes para )ilesfazer os nódlllos aguentou f-tuào na esperança de me– tlhorar ! Nada ! ED&'ordara aó ilDD pouco, mais corado, me– ·lhor apetite. Danou-se. A llílulher consolava-o: - , .Você melhorou. bem. \João. Quem •be- se as ln• ~.:jeções não foram poucas 't [·Por qne você não toma mais , ~ caixa ? · - Eu ? Está louca t Dona Maria do Ca.rm.o ~ udeeetI, (era o bismuto f!"gindo). Não: era estupidez, ji,rntalidade, loucura - abra– ~-a : - Me perdoe. 1 - Não tinha nada que per. ~ou:, ora! .•• Continuou abraçado, numa lamúria doce. Tinha mêdo da :morte. (Tolice, João). 'l'1nha. ,snedo, sim ...,.. para que- men– ~ 'l Ficar frio, amarelo, du,– :S'O, desa.parecer. • • Virar pó, tnra.r terra, nunca mais vol• )ar ! E o enterro ! ! . . . Todo ~ uele espet'l\culo, que já 1.an • 1-.as vezes presenciara,, lhe metia medo, um medo cons– iante, tenive], mais forte 11ue 4'1140. Procurava _ disfarçá-lo, · MARQUESREBELO, OSEME6DOfs -CIBO MENDES- instalar o primeíro Museu de Arte Moderna de carater ofi• cial. Conta esse modesto nucleo, provisoriamente, com treze peças de pintores ·estrangeiros e brasileiros. Vale,•no entan– to, como ·um começo auspicioso que ~ogo, naturalmente, se desenvolverá. Agora, é a vez de Cataguazes, a, cidade min-eira que já se integrou na história literâria do Brasil. Lá deixou Marques Rebelo o germe de um Museu Municipal que ficará ao cuidado do sr. F. Inácio Peixoto. Espalhando por esses Brasis uma fecunda sementeira artLstica, Marques Rebelo cumpre uma das mau belas missões do intelectual brasilei- ro. Toda a gente que lê nesta erra, onde o analfabetismo é co llservado com desusado desvelo a fim de servir de prato lo ,te para ca,mpanhas ruidosas e mirabolanlies _promessas el .1,torais, conhece, pelo menos de nome, o escritor .Marques R .+belo. Poucos sabem, no entanto, do esplendido trabalho que o literato carioca vem, hâ t empos, realizando pela divul• gação das artes plâsticas no Brasil e no estrangeiro. - Sem faustosos recursos financeiros, contando· apenas com Ó seu es– forço pessoal, a indispensavel ajüda e boa vont ade de alguns cdeclonadores e artistas e um minguado apoio oficial, Mar– ques Rebelo tem feito pela difusão da pintura muito mais do que reunidas deveriam fazer as instituições públicas; para es- De fato, ao invés de ficar pelas rodinhas Íiterárias do Rio se fim destinadas. Tivemos, primeiro, a noticia- da exposição de Janeiro, gozando as vaidades fofas dos seus confra des, o que o autor ·d-e "Oscarina" levou a Buenos Aires. Apesar das contista que sabe, como poucos, sentir a delicadeza e o 11.ri .'!1- restrições que se pOderiam levantar quanto à escolht, dos mo do povo, prefere embrenhar-se pelo interior do nosso quadros e, principalmente, a lamentavel ausencia de alguns Pais, incentivando legitimas vocações literárias, promovendo pintores paulistas, tudo l:sso passa pãra um segundo plano ao conferencias, organizando exposições, aconselhando os novos, l•embrarmos que os argentinos quase nada conheciam de pin• distribuindo a sua experiência artistica, sem pedantismo e tura bra.sileira. Além do mais, foi essa exposição que desper- sem a sensa-borona atitude de mestre consagra-do. Pena é que tou nó sr. Romçro Brest, o simpático interesse pela noss& tão digno exemplo caia no vacuo, pois a · grande maioria dos pintura, logo mais concretizado no excelente livro que a res• nossos escritores estima muito mais a gloria fugaz de um peito dela escreveu. Chegou-nos, depois, a informação de sua el<>gio camarada, do que a obra proficua, clrjos frutos. custam atividade em Santa Catarina onde, com o amparo valioso do a aparecer e cuja reeompe~ nem sempre corresponde ao sr. Armando Simone Pereira, eo~u Marques ~ebelo empenho honesto e sinceramente empregado. b e. . . e e ara eu ir dor– núr lii . O m o fu,. ·u . E ' todo c5lera: - q ue vá plantar fav-.s ! \roce não enferp·d-~ nc. , criada e ·oguém. Pa.- que é que ela tem marido '? - O .Júlio -entrou de p' . n– t ão à. úitima h ora. - Eu sei bem o p!:1:.1••: ~ dele como é.. . S"~º ! .' ) dão massa.das . Se fos~e r~– ra um teairo, para uu f ta. nem se lembraria, . e vidariam o Car,usa e a lher . Mas co o é r,u, t • trabalho, para pn~sa r l'L . •• em claro ... Se a rraulem ! , --1 também estou d ot;nte e 1 ~- •> dou trabalh o a in,, ,~ , . Dona Maria do Carr..10 fic:m Inter dita: - Vou ? · - Vamos, ptlulas ! E" su,l Irmã, afina . . Lá se foram, ele se quc:– xando das tonteiras, do zt m– bido nos ouvidos . . • P arece um besouro, Maria . - Também vocé fuoa n– to, João .. . - Não, Maria. · Não po".e continuar assim ! Não podia, não. Aquilo ,.,, ,-. era vida . Não podia <. ~ . ; ~ .– consigo para coisa · n cnhui- ,• . Era um imprestável, h~– válido, uma pobre coisa m. -– serãvel e sem remédio. A~ tonteiras persistiam. os tn:– mores, os sustinhos, tudo con– tin1J1,va. e cada vez pior. r,re– lhor era morr-er logo duma vez! - Meu filho! Voltou ao oculista: - EtJtou na ·mesma, dou – tor. O senhor disse que e•1 melhoraria com as lentes· no– ~as. Nada! . • . O oculista, que estava com o rosto sombrio, não respon– deu. Era metódico . Foi con– sultar PQ!Deiro a ficha do cliente. A enfermeira trouxe o papelão azul. Ele leu e re– leu, balançou a cabeça: - Custa uin pouco, m.eu amigo. O senhor durante qua– tro anos não mudou de len – tes. Vai pouco a pouco . Cal– ma. Duram muito estas per– turbações. 'As v ezes vã.o a meses. São perturbações do labirinto. Seu João riu amargo: ..,. Num labirinto vivo eu, doutor! O médico baixou os olho~ pequenos que (João reparou bem) pareciam ter chorado: - Ta.mbém eu, meu ami– go, também eu. Todos nós andamos num labirinto . E sentou-se desoJa.doramen– te na cadeira de ferro, pin– tada de branco, com a fiei.a na mão. OESPlfsiTO DE MARQUES REBELO Fez uma careta e at irou longe o cigarro: - E~ pena que um livro assim tão bonito seja · · 1 J - O LIVRO QUE MARQUES REBELO GOS– tTA.RIA DE TER ESCRITO viveu o seu cândido romance, recebe a carinhosa de– dicação do pintor f_edro Bruno. Porém, o artista, ~o ~eu amor insular foi um pouco excessivo . ~ ão poderiomos deixar de ouvir Marques Re- Alastrou, o bucólico recanto de sonetos escri- belo, que inicialmente disse que estava acompa- tos em lapides de cimento, cartões de visita de um nhando com interesse a "enquete" promovida por ,em número de nossos dedos. LETRAS E ARTES, tendo . ~otado que os escritores Tanto assim, que o escritor Marques Rebelo sera lmente preferiam ter escrito livros acima de sua c >mentava: .c:apacidade intelectual. Marques Rebelo ficou inde• - "Já não se pode mais ir ver Paquetá .' , ; !eis.o entre "A estrela -sobe", "Três Caminhos", ' "Ste- Hoje, vai-se "ler" "Paquetá" .. : ~a me abriu a porta", "Osc:arina" e "Su,ite numero ·,· (Letras, Rio, Maio, 1936) hJ", todos de soa autoria • -.::..:.. De repente, exclamou_ definitivamente: · ... Gostaria de ter escrito "A Estrela Sobe" • 1 (-letras e Art,_es, 6-4-47) - 2) PARA Q_UE PúBLICO ESCREVE 1 r - Para um público muito exigente, muito di- ic:il 1 muito refinado - eu ! · · (Diretrizes, 15-5-41) : 3) CONDIÇÃO üNICA _ Alguns litera tos conversam nas oficinas da edi- tora Pongetti • · i· · · D'Almeida Vitor, em a ltas vozes, alega que ierá candidato à Academia Carioca, manifestando p sua convicção ~e que eiit-breve estará entrê os lntortais • , 5) A PROPóSITO DE UM COLEGA Â última perfidia do sr. Marques Rebelo, de passagem pelo-·-Rio, diante de uma ~ itrine: "Lucio Cardoso - "O Desconhecido". Não é uma capa de livro. E' um cartão de visita". · (Eucl ides, Rio . 1 Fevereiro 1941) 6) QUE PENSA DA NOSSA ATUAL LITERA· TURA? E Marques Rebelo respondeu, muito simples• mente: . _ ) E' ele inspirar t error pânico . •• (Unidade, Rio. Janeiro 1943) _1 7} SOBRE BEETHOVEH c:l.o Schmidt .• ~ · . ·(Correio da Manhã, 23-6-46) 9) OPINIÃO POLITICA . - Não tenhô própriamente uma opiniãÕ peli·– t1ca. Acho tudo uma porcaria, de modo que todo regime é ruim. Não é minha opinião politica nem meu voto de eleitor que modificarão a ordem exis– te~te. E' verdade que há regimes piores do que ·os ~u1ns . Embora ache que o mundo caminha para uma 1gu~lda~e, uma divisão de recursos e ganhos ma is equitativa, e olho com admiração para os homens que se atiram a essa tarefa de construir a lgo me . l~or, creio qu!, ao final, continua rá sempre a ambí – çao, a neceis1dade humana de desejar mais a indr:!, sem _q~e tudo que veio de melhor t ivesse a força á~ mod1f1car um milésimo de milionésimo dentro cfo homem, que é um monstro, capaz de tudo, at é de abnegações. Quero dizer o seguinte: sou incapaz: d.) .votar mal, de votar com os que conspiram contra o Amanhã . Estou ao lado _dos humildes, dos pobres, apesar de crer que estes são tão safados como os ou– tros . O que acho ruim é que todos os homens sendo safados, não tenham os mesmos privilégios . . (Revista d_o Globo, P . Alegre, 25-5-46) ·10) ROMANCISTAS [ . Marques Rebelo, que o ouv_ia em silencio, acon– .elhá-o num tom ~e voz pérfida e paternal ao mes• - E' o genio mais burro qué õ münéfo já teve°':'- . (Revista do Globo, P·. Alegre, 25-5-46) · _' __ Uma a~edota da vida literária: apareceu re- . centemente 11 10 romancistas fa lam de seus perso• ~ tempo: ..- -- Você entrará, D'Almeida : Continui escre– fendo, escrevendo . • • mas não melhore . • • não elhore que você acaba lá dentro r --· . (Vamos ler, 25-2..:43t r 4) UMA NOVA EDIÇÃO DE PAQUETA' Paquetá, a deliciosa ilha, onde a moreninha 8J SOBRE AUGUSTO F~EDERI CO SCHMIDT nagens", que reune depoimentos de a lguns dos me– lhores escritores. nacionais . A propósito desse livro, comentou .o escritor Marques Rebelo, conhecido por suas maliciosas criticas: Há poucos dias, Marques Rebelo me mostrava a e·dição de luxo do livro de Augusto Frederico Schmidt, "Canto da Noite" . - Está vendo ? Não é uma beleza de edicão ? Olhe o papel, as ilÚstra§ÕN ~o Santa, a apres;nta~ ;ão gráfica , • ✓ - Mas, dez romancistas ? Como ? Se no Bra– sil somente há ~ois. • • Eu e o Gradliano Ramos/ (Correio da Manhã, 23-3-47)

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