Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

I FOLHA DO NOR.l"E . Domingo, 1O de ju ho de 1 9 , , "MODES IA A PARTE EU SOU DA. VlLA'' E PAULO MARANHÃO J~SUP r,T'l'li!R.A'J'TIJ>J. J ORIENTACÃO DE • HAROLD MARANHÃO COLABO&ADO _ES DE BEL'=M: - Alomo Rocha, BenedUo Nunes, Bruno de Mennea, Cauby Cruz, Cécil Meira Cléo Benaardo, Daniel Coelho de Sousa, F. Paulo' lfen• des, GartbaldJ Brasil, Haroldo Maranhão Levi Hall de Moura, ,Mario Couto, Mario Faustln~, Max Manina, Nata.Ucio Norberto, Nunes Pereira, Orlando BHar, Otavto Mendonça, Paulo Plínio Abreu, R. de Sousa Moura; Ribamar de Moura, RuJ Guilher• me Barata, Bul Coutinho e Sultana Levy Rossem- blaU. · DO 810: - Afvaro Llns, Augusto Frederico Sch• mid&, Aurello Buarque de Holanda., Carloa Orum. mond de Andrade, Caaálano Ricardo, •CecWa Mei– reles, Oyro doa Anjoe, Fernando Sablno, Fernando Ferreira de Loanda, Gilberto Freyre, José Llns do Rero, Jorre de Lima, Lfdo Ivo, Lacta Miruel Pe– reira, Marta ela Saudade Cortesão, Marques Rebelo, Manuel Bandeira, Marta Julieta Drummond. Murl– lo Menda, Otto Marta Carpeaux. Paulo àónaf e Rachel de Quelro:a. DE 8 . PAULO: - Domf.ngos Carva,lho da SIi– va, Edrar Cavalheiro, Roger Bastide e Sérgio Milliet. OE BELO HORIZONTE: - Alpbonsus de Gw– maraena Filho ·e Bueno de Rivera. OE CURITIBA: - Dalton Trevlsan e Wilson Hariln■. DE P~RTO ALEGRE: - Wilson Chagas, DE l'ORT*EZA: - Antonio Girão Barroso, Alai1lo Medeiros, Braga Montenegro; Joio Climaco Bezerra e .Joaé Stenlo Lopes. . ·um Capitu oDo Es e.ho Partid ·. (Conclusão .da 1.ª pág.) ,_. Depois· de1·,;i el Julio Verne, Coe– .lho Neto, etc.. Até que em 1919 urun missãt'I p1•otestante me dei• """' uma ~ lia na mão, ,cuja leitura- me imp1·essionou (tam– bém este l h ro me é mostrado). Depois vier.o.n naturalmi:nte .Eça d Queiroz. Camilo Castelo 3 anco, Telli.•r, Daudet, Olck• ens, Manuel de Almeida - so– bre quem es.-.revl um livro, polll constitui uma das grandes des– cobertas de 1 '1nha vida - Vic– tor Hugo, Brt'l Harte e Balzac. Em seguida " estes, surgiram R. Pompeia , •loltaire, Flaubert, Auatole, Kipll •g, Tolstoi e Ma• coado de Assis, que vim a ler r elativ·amente \arde. 0$ ESCR ITOR•ES DE SUA FOR, MAÇÃO LITERARIA - Os úl tinw!l autores dessa fase de mink vida foram Ib– sen, St' ndhal, Jules Renard, .Thomas 3:irdy, Turgueneff, Cer• vantes, GalswN thy, e Theodore Dreiser. Além iisso, eu jà es– tava len 1o quas,i todos os portu- _gueses e brasile:ros. Detalhe cu– rioso : j2. nais t"· nsegui gostar de Lima Barreto , Fui -então con·rocado. Durante o período da cc•1vocação ·li mui• _ to pouco, mas por outro lado houve em mim 11 _ decantação de Iodas as leitura,. jã feitas. EXPLICAÇÃO NECESSARIA AOS OUTROS 1::SCRITORES E AO PUBL' ~ O EM GE• R/, L - Terminada · a convocação, voltei a escre\'~'I' e também a ler. Minhas leitura nunca foram 1bsolutamente l!t.erarias. Lia so– ·,re os assuntos mais disparata• los e esfapafur lias, instruindo– me em ofidlsrr,o, maternidade, etc. . Sou capaz de saber mais sobre alimentar'io que Josué de ::astr o, que an:'a cada vez mais m agro . 1 TUDO QUE F"AÇO E' AUTO• BIOGfl' \FICO" - Acho que nenhwn escritor pode fazer obr lB boas se, além ie ler muito, 11ão viver muito. Categoricamente, confessa-me: - Tudo que Caço é autobiogrã. lico. Prossegue: - Fiz muitos contos, um ro– mance prepar2 tório que se cha• mou • Marafa." e preparei-me então para u.-1 romance que ae chamaria • A estrela sobe". ·Os _ livros de contos foram feitos - Não ficou com pena ? Não seja boba! E Ma~alena queixou-se: - Pois guarde a sua sabedoria pa– ra sl. Ninguém aqui está precisando dela! - Puxa l Estou com as pernas to– das picadas, e levantava a saia e mos– trava as pernas roliças com muitas marcas roxas, empoladas, de picaduras recentes. Estão furiosos ! , Pinga-Fogo fugiu com os alhos: . - Quando chegar em casa você es– fregue amônia. Passa logo a comichão e não inframa. ' - Inflama, corrigiu Emanuel. - Vá corrigir os porcos no chiquei- ro I emendei eu. · - Mas se é inflamar mesmo .•• Emanuel balançou os ombros, es– carninho, e Madalena insistia em mos– trar os , lugares ofendidos, quase nas coxas: - Veja, Pinga-Fogo, como está hor– rivel ! Vamos sair daqui. Ele, ainda ruborizado, levantando– se e fugindo mais com os olhos: - -Vamos. Mas isto não é nada. Antes de casar passa. E Madalena, veemente: - Eu não quero me casarl . Marques Rebelo E A ·Crítica ( Conclusão da 6. a pág.) bom vendedor de remédios, incutido este sidade e vivacidade é:te ~tllo que sEto uma. desespera<::o amor da vida e este claro hor- verdadeira vocação de escritor. ror ~ _metafisico? Mas o certo é que, se · Pedro Nava me disse uma vez com o nos hmi,tarmos ao circulo da vida, existên- séu espirito habitual: "Vi o Marques Re- cia. cotidiana, ·com suas dores e alegrias belo no bonde de Tijuca". "E que :fazia?", hwnildes, sobretudó com ·esta paixão tão perguntei. "Estava compreendendo muito", ,visivel do carioca, o namoro, devemos re- retrucou N,ava. E' isto mesmo. Marques conhecer que Rebelo entende tudo, observa Rebêlo vai no bonde de Tijaca e onia o que tudo, v ai ao fundo dos seres. Restrinja- se passa em tomo- (nunca até o Cristo Cor- !tno~: .ªº fundo desta parte dos seres que covado, que aparece lá em. cima, -entre as ;está llga,da às forças da vida terrena. Nes- nuvens). Mas olha como ninguém, com- te sentido. mas somente nele, é que eu di- preende como nin~m, e quando nos con- 21.a acima que, além da visã,o e da sensa- ta o que viu nos revela a poesia, a tris- ção, a gente encontra a cada passo nos teza, e, por que não dizer, o patético da- contos de Rebêlo, o sentimento e o pensa- quelas vidas humanas cariocas; que mal mento. Aliás não é nada pouco, principal- pe1·ceberiamos, sem ele, men_te porque devemos ligar tudo isto a · · (Conclusão da 1.• pág. ) antes do romance, se bem te- - Cada um faz O ue nha, em 194:.l, publicado "Ste• o que pode. Arte é qcomquer ºr l!1 me abriu \ po~ta", onde en- jo manteiga - uns gosta':n qu~: eixei _velhas historias. Quando tros não . Entretanto, proc'1a:1o i sujeito che,ia__ a escrever con• que existe uma verdade lite– tos com haPilidade, chega A rária, pela qual eu sofro c~nclusão d.. que é capaz de deço e morro. E' possiveÍ t'!;" iazer ~uatro mil contos por dia, todos estejam certos e eu e~ra- · sso nao te."tl. nenhum valor 11. do. Meu problema está ligado terárlo. _Por sen ír que posso fa• ao famoso bom gosto, e O bom zer milhoes 'lie contos e que não gosto é uma coisa muito discu– fa~o mau, nenhum desde 1939 Uvel. "MODEs·nA A PARTE;, EU. Então Marques Rebelo me SOIJ DA VILA" conta: QuPntio a gente começa a - Eu me lembro de wna li• fazer . um romance e lutar com ção que uma moça me deu, de– as dif1culd"\des que esse gêne- clarando-me: "Livro bom é li• ro ofeEece, dificuldades, aliás, vro em que a gente chora pa• que nao s iio levadas em conta ra dentro". Compreendes ? pelos mew1 colegas, que abusam Como eu tivesse compreendi- das facilid ides - acontece que do, ele contlnull : . de um romance para outro tem - Lendo "O empalhador de forçosamente de haver um passarmhos•, de Mario de An• grande e~paço de tempo para drade, depatou-se-me um tra• gestação e desenvolvimento in• balho sobre minha obra, ,em que lenor, até que lhe seja permi- 0 g~a'!-de Mario fala de meu tido pôr p,.ra fora tudo isso. pes_:1musm_o. Reahnente, minha Meus roman1:es ·o espelho visa_o da v1d_a é inteiramente pes– part1do " e "A cidade" estão es- sumsta. Nao há nada mais es• critos como lhe mostrei. Mas tupldo e mala melancólico do entre eles saírem de mim e se- · que viver• Como não acredito L·em publicados hã uma fron• em nada, a arte é minha ma• teira - precisamos _ trabalhar neira de acreditar em alguma materialmente, transformar es- coisa. te grito em uma obra de arte, Lembro-lhe 9ue seu pensa- modestia á parte. mento se identifica perfeitamen- Marques Rebelo informa que te com arte pela arte. nasceu na vila Isabel, como Marques Rt;belo se exalta: Noel Rosa e, aludindo a urn d - Claro. Sou pela arte, Aln• famoso samba desse grande a · perguntais ? poeta popular, diz: , Tranquilizando-se, confessa: - Se eu tiver um dia de pos- - Com o que faço, não pre- suir um brasão, minha divisa é tendo melhorar nada nem nin• esta: "Modestia à parte eu sou guém. da vila". ARTE E' COMO QUEIJO. MANTEIGA Nwn pequeno intervalo, o au– tor de "Marafa" mostra-me al· gumas recordações infantis. Ve– jo Marques Rebelo bem crian• ça entre. as plantas de wn jar– dim. Vejo-o novamente crian– ça e seu rosto infantil parece possuir alguns dos dur9s tra• ços de hoje. Cumprimento-o num time de futebol aos dezenove anos. "Eu jogava mal, mas jo– gava" - evoco-lhe, Marque• Rebelo, entretanto, contesta: - Sempre joguei futebol mui• to bem. Em outra fotografia está o Marques Rebelo de 3 anos, re– sidente em Barbacena, De sua cabeça pendem cachos. Era em, 1910, no tempo do cometa 1 SUA VISÃO PESSIMl TA DA VIDA Conversamos sobre a criação intelectual, e ele pondera: "NÃO ACREDITO Q\JE HAJA RAIZES CATóLICAS EM MIM" A .conversa continua Fa1amol! sobre .• A estrela sobe·", que eu pessoahnente considero um dos maiores romances jã escritos em lingua portuguesa. Digo-lhe que no referido romance há passa• gens que levam o leitor a pen• sar na possibilidade de o seu autor firmar-se em .uma mística religiosa. Marques Rebelo re– bate : - Não acredito que haja rat• zes católicas em mim. Acho que, vivendo em um mundo de hllbitoa católicos, naturalmente tenho de. . apanhar certos cacoe• tes espiritualistas, que minha razão rejeita. O FOTOGRAFO, O PEPINO E A CEBOLA - Cabe a um escritor que te– nha orgulho de sua arte e se– _gurança do que cstã fazendo não ser nem pró nem contra em O Con o NaLi eratura · , (Conclusão da,_ a.• pãgina)_ , até o povo, ou este efovar-se • até ela? - indagamos. no gênero, isto porque eu re- - "No dia em que a lite- puto ser mérito de um escrt– ratura descer até o povo, ela tor quando ele chega a dom1- estará liquldade. Para as nar suficientemente um gê– idéias faceis e acessiveis hã os nero . literãrio, nele não mais jornais. Não creio que ne- tnslstir. Deve, pelo contrário, nhum escritor rea.lmiente de ir procurar errar em outro valor possa ficar satisfeito gênero, mesxno que esse em ver sua llteratUI'a reba1- ' gênero seja inferior ao :x:ada a um vespertino for- que ele se dedicava anterior– mato tabloide.,." mente. Prepa~o no momento - Acba que estamos ca- um romance, 'Espelho parti• minhando para uma nova do", no _qual venho traba.– concepção literária e artistl- lhand-0 desde 1936. Mas ago- ca ? ra, ele sairã mesmo . "Não existem nova! DEPOIS, O TEATRO concepções literárias ou artts- Para finalizar, sa,bendo ticas, - diz-nos Marques que o escritor tinha publl– Rebelo - más sim um pro-- cado uma peça de teatro, in– cesso natural de desenvolvi- da.gamos: mento da literatura e da ar- Pret ende t entn outro te". . ,gênero literário, além do PROCURAR ERRAR EM /conto é do roma·nce ? OUTRO GENERO - "Estou ainda tentando A entrevislla estã chegando exclusivamente o romance, a-0 fim. São 11 boras da no1- mas. d P .'lis. • "n~an°inha-r– te, Perguntamos ainda: · m~-e.l para o teatro, no. qual - Pr,epara algum novo ll- já fiz uma peça que não fi- vro de contos atualmente? caria em pé em nenhum tea– - "Não, porque, no ano de tro do mundo, mas que me 1939 reuni os - contos escritos ensinou bastant,e, razão até · aquela época, publicando pela ' qual tenho esperanças em 1942, "Stela me abriu a de poder fazer coisa melhor sua obra. Imagine que houve1>H um fotógrafo que &6 tifasse re,, iratos de sujeitos positivistas.– lmpossivei. Ele é obrigado a fo-·· tografar tudo. homens de bigode, 1 e sem bigode. . ~ _Indago a_ Marques Rebelo se 1 ha -J;>Ossibilidades de sua visãc, ! pessunista das coisas, dos h-, 11;ens e da vida se m n~l1 icar . Em tom categorico· ele m e ,,e, clara : -· Minha visão pe::;.;;1n-;:..:s~a C< !·, .. tln11arã. Ninguém ~e mo:::t' a:i mais, Aliãs, ninguem se m odl• fica nunca. Quém nasceu. p'1ra comer pepino morre comendo ; pepino, Quem nasceu para co- i mer cebola mor re comendo ce– bola. 1 "TENHO GRAND E RESP'.:: I T O PELA BAIXE·ZA HU l'v, ANA ·• . 1 Outro · interv.alo: Ma,· 1 t(:, Re– belo tem wna compreensão º"' • ! · ampla da arte, vibra ,;orn a ' ptr,tura e a música, tanto ~~,irll que- em sua casa hã bon. .- qua- . dros e ótimos discos ·· H:i s u– jeitos que eliminam as oulrus artes - declara - Eu gosto de to<',as". O que acontece co.ulgo é que sei fazer apenas lite;·atu– ra . Conversamos sol>re üpiniõea pollticas. Marques Rebelo tala 1 dos escritores que se dtilxam as• i soberbar por preocupações poli• ticas . . Muitos, durante a ditadura, anunciavam obras geni.l!.,. A ditadura desapareceu e eles con• tinuam escrevendo excepcio– nalmente mal. Marques Rebelo afirma : - Não tenho propriamente uma opinião politlca. Acho tu• j' d<> wna porcaria, de modo que t~o o regime é l'UÚ)'l. Não é minha opinião política nem rne,. j vot9 de eleitor que modifica, ão a ordem existente. E' ver<laaei que há regimes piores do que 011 ruins . Embora ache que o mW(– do caminha para uma igualda• de, uma divisão de recursos e ganhos · mais equitativa e olhe com admiração para os homens , que se atiram a esta tarefa d& construir algo melhor, creio que 1 ao llnal, continuarã sempre ~ ambição, a necessidade humana l de deseja~ ma1s ;,,inda, gue tu• do. que ve10 de melhor tivesse a; , força de modificar o milesimo e ' miliones!mo dentro do homem. que é wn monstro éapaz de tu• d~, até de abnegações; quero-j dizer o seguinte: sou incapaz ae votar, mas de votar com os quo : conspiram com o Amanhã . Ea– tou ao lado dos humildes, <los pobres, apesar de crer que ei,, tes são tão safados como os ou– tros. O que acho ruim é que todos os homens sendo sa!ado■ não tenham os mesmos privile- . gios. Diz ainda: - Tenho um grande respeitG pela baixeza humana. OS INTROSPEC1:IVOS DE EN• TRE Rios A:s diretrizes literárias de, Brasil constituem assunto d& nossa entrevista. O autor de "Oscarina• de– clara: - Acho que no Brasil existe uma coisa (fue é bem boa par• a nossa literatura. E ' o poder de individualidade. Moda llterãria sempre haverâ - todos os grandts escritores são, entre– tanto, aqueles que não fazem moda literãrla. · Agora é moda o romance so-. .cial. E' besteira. O romance file, trospectivo é outra besteira mui• 1 to grande. Hâ o -escritor nana. ralmente intimista e hâ a moda; são coisas totaµnente diferentes. A moda é uma maneira facU • de o sujeito querer brilhar, ser in• corporado. Fala,me . de Montaigne e -Vol• taire, o primeiro intimista, o se– gundo aberto. Volta· à carga: - Existem atualmente 26 •fn., trospectivos no Brasil. P arece time de futebol . Hã o primeiro i time de introspectivos, o segun• do time de introsoectivos . E há l ainda os introspectivos de EntrJS-j Rios e Cascadura. São os creti•. nos. O melhor que a gente fa& ' é ir tomar cafê . · uma capacida-de de cont,ar, a uma flexuo- (De "Portulano" ) porta", meu último volume no gênero". :...:.........::..::.::.:::~==_:::__==.....:.:.:.::.=::._~::_:._-------:----::---::~-::;:--::::: Prefacio de Marques Rebelo para a edição bra_sileira do "Werther", de Goethe, publicada pela Editora. P~mgetti: · claradamente como inestres exclusivos, ressalta a posição do segundo m1üto mais favo– ravel em relação ao tempo em GOETHE go Fóscolo. matematicamente, pela proe- 0 encanto inapagavel de minencia do primeiro em ma– Werther tem a mesma ex • térb de felicidadi,, o que não plicação da .personalidade d-t é pouco. Por muitas vé-zes Goethe teve ocasião de se referir aos seus "demonios", coisa que não pode de~r de surpre– ender a todos aqueles que não conseguem imaginar a fi• gora do imenso alemão. senão como u~ manequim de gelo no alto da montanha da se– renidade. • Sereno foi ele, na verdade, mas melhor seria dizer - "conseguiu sê-lo". E, para atingir a tal altura, foi preci– so ir pouco a pouco, com & proverbial tenacidade germâ– nica., vencendo os se!ls demo– nios interiores. Se chegou a vencer todos é impossivel apurar. Mas o certo é que l\ famosa impressão de. perso• balidacle olímpica que nos le• gou, nada mais é do que. a coruiequência das S1Jcessivas vitórias obtidas na dnicil psi•. quê de um gênio que sempre aspirou ao universo. No Impressionante paralelo Nietzsche e Goethe, que nasceu.· • conservou o respeito à ordem Goethe, com efeito, veio aa (tão incompreendido por Bee– mundo numa das épocas mais thoven, seu contemporâneo decisivas da História, tende mais avançado no tempo), bem tido, segundo o conceito do como um sublime amor da. autor de "Decadencia do Oci- forma; antecipando o futuro -dente", a oportunidade única próximo, foi o consolidador da e ~ravilhosa de presenciar o. posição do individuo. ocaso de uma cultura e o Talvez seja sob este aspec• nascimento da civilização re- to que melhor se deva estu– sultante . E o mais curioso é dar O caso Werther. Pela pri– que o criador do Fausto tinha melra vez na história literá– abso!uta consciência dessa sf. ria do ocidente; aparece com tuaçao, e a sua atitude dian• força poética uma análise pas– te do fatidico fenômeno da · sional do individuo, com tão revolução napoleônica: é uma evidente escândalo para o prova disso. classicismo que então lmpe- Plantado como um solene rava. Com os processos· mo• rochedo no fim do século demos de psicologia, dir-se-á XVDI, via encerrar-se com que Werther foi para Goethe ele um ciclo de inexcedível sublimação. E s c r evendo-o, graP.deza, e, ao mesmo tem- talvez não tivesse outra fn. po, sempre interessado e pers• tenção senão vencer, livrar– cruta.dor, lançava o olhar so- se do seu primeiro e mais .te• bre todos os desenvolvilp.en - mivel "demonio": o da embria– tos possiveis de sua era. E se guez da mocidade. E' inútil dentro daquele cenário agita- Querer rebuscar arquivos e díssimo foi o ator do. mais devassar correspondências pa– consoicuos, nunca houve na ra averiguar até que ponto a platéia do mundo espectador realidade coincidiu com a fie– mais i,,tllacJo nem mais justn. rão. ,_ é f.a."efa -,,ara os Lu- • • LI'-~ - ___..__ AAa rã. acrescentar ao valor da obra. Pelo contrário. O que importa, antes de mais nada, é o estudo aprofundado de um coração de vinte e três anos, é o inicio brilhante daquilo que se passou a chamar de subjetivismo literário. O in• dividuo surge, portanto, com todo o seu vigor, rasgando o úJümo véu pundonoroso com que teimaram encobri-lo os clássicos da época. O caminho estava, eviden– temente, preparado para re– ceber a revelação. E o wer– therismo se ton1ou um · fato antes de se tornar uma pafa• vra . Hoµve até uma certa epidemia de suicidios, que alastrou por quase um sécu– lo, e cuja causa bem se po– deria atribuir ao romântico rapaz do Reno. No cam1>0 das letras os d• tragos não foram menores. Uma enxurrada de imitações e contrafações correu por to• dos os cantos, das quais só logrou sobreviver, assim mes– mo de maneira bem a~– "-1 en O _ • •• de n- autor: reside na fusão multe No seu célebre tratado so• , harmoniosa. . de duas épocas bre o amor, dh Stenc1hal: "O dist intas. Se o "eu" aparece amor tipo Werther predispõe ' nela com um vigor de con• a alma a todas as artes, a. 1 ·tomos quase imoral para o todas a s impressões doces e , tempo, a foupagem que veste românticas, ao luar, à beleza é ainda puramente clássica, dos bosques, à da pintura, em quase arcadiana - um exces- ' resumo, ao sentimento e ao 50 corrigin~o O outro. gozo do que é belo sob qual• / Werther constitui, além dis• quer que seja a forma em que. se apresente, nem que seJIII so, uma das figura mais sin- r;;ob o disfarce de um burel". guiares na galeria dos g randes "O amor tipo D. Joio é um tipos literários. Os céticos po• sentimento no genero de gos•. derão não levá-lo a sério, to- to pela caça. E' uma neces• mando-o por um desprezlvel -'dad - • representante da e.......,.ie mas- "' e de açao que precisa ~ ~ ..- despertada por objetos diver culina. Muito critico superfi• sos e que está constantemen ~I pensará hoje que se tra• te pondo em dúvida os talen• tá apenas de leitura destina• tos do amante'' . · ~ da a mocinhas ingênuas, se é stendhal sa.bla O que dizia_ que .ainda existe tal gênero embora nuuca tivesse podid de leitoras. Mas houve um aplicar eom êxito os se : gênio com a mator autorida- principios. De qualquer ma• de em assuntos tanto llterá• neira, 0 seu. depoimento a rios quanto amorosos, que precioso, E nada se podens soobe elevar Weriher à ·ca- desejar de mais auspiciOINIII tegorla de simbolo: foi Sten• para O hcmiem do que a pos. · dhal. sibilldade de sentir ainda nDI O rrande Beyle eolocou pouco Wertber, ao menos por, Weriher com antitese de D. um dia. a d~petto do pro- ' Joãe, e estudando a fundo o •salsmo dos D08NS calamitoscNI amb~ cone uiu,

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