Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

,.. '.Domingo, 26 de J._u_n_h_õ__;d_é_l~9_49 _ __;__---:,_,:________ tO_L_HA~DO_._N_O_R..:....TE'-;--:~- .,r------'~~'---'--------_,...~ -3_. ª_P_- ~_g_·.-_ ' Se alg_uém deseja miciar uma publica;ão literária no B rasir - revista ou jornal,' p ouco importa - logo de sal• da ·receba este conselho nada animado1· . REVISTA BRANCA que alguns dos nossos maiores e·scritores vieram publicamen– t ~ ·sa udar Revista Branca e seus dirigentes Saldanha Coe– lho, Haroldo Bruno, Bráulio do _Nascimento e Rocha Filho . O mesmo dizendo-se do jornal suiço "Die Tat", que há 2 se– manas estampou um artigo enaltecendo o feito daqueles jovens. . ·Deixe isto d,e lado. Você vai s e arrepender. E ' que a experiência de outr os (de •rmitos outros), sõ• men te deixou uma amarga de– silusão. O públco não quer saber de revistas literárias: histórias policiais e anedotas picantes encontram mercado m ais acolhedor. Mas o nosso idealista só dá crédito ao próprio sonhei. Vai ao editor e pede um a nuncio, pois ele sabe que em nenhuma hipótese poderá con– tar com a propaganda do fa• brica nte de perfume ou de marmelada. Entretanto, a res– posta do editor é sempre esta: - Não, não é possível. A tiragem do livro naciona l é insignificatne. Mesmo venden• do toda a edição ainda tenh o prejuízo. Como posso anun– ciar? O rapaz não cruza os bra– ços . Bate noutras portas; faz empréstimo aos amigos. Fare- JOSE' CONDE ja a tipografia que -também está começando e que por is– so mesmo cobra um preço ra– zoável; compra o papel de qualidade · inferior, telefona a um e a outro angariando poe• mas, artigos e ilustrações·. Quando ninguém mais acredi• ta, eis a revista na rua. O cu– rioso adquire seu exemplar por dois cruzeiros e ao folheá- lo ainda fresco de t inta, está longe de imaginar o que o memo representa em sacrifi• cio e esforço. Eis, em resumo, a hitória di Revista Branca: de tantas ou– tras revistas que na sua maio– ria nem o público ignora. E to– davia a persistência e o amor pelas letras se traduzem , mui– tas vezes em milagre. Expli:. ca -se, assim, o feito daRevista Branca, que viu passar outro dia o seu primeiro aniversá• rio . Seis números. Cada um melhor que o outro. Reno– va ndo-se _sempre na colabo– ração e na feição gráfica . E, ':> a r alelamente, inveredando ,:,or novos caminhos. fazendo uma edição dedicada a Proust, dando-se a-0 luxo de fund ar uma pequ ena· editora para o lançamento de jovens autores. A Revista Branca é o exem– plo da vontade e da- capacida • de de uma geração que se vai afirmando através de livros de poesias, romances e contos, e também de revistas que dia a dia estão surgindo nos mais distantes recantos do nosso país. EM ,-·--.. POR~TU·GUÊS Jean-Paul Sartre e um dos escritores ,nais discutidos do nosso tempo. Se muitos têm negado a filosofia existencialista, da qual é ele o pontifi"ce, não houve ainda quem lhe negasse a qualidade de grande escritor. Porque seus próprios inimigos - e os_mais apaixonados - são os primeiros a afil;rna– rem: - "O existenc1alismo não existe; o que existe é Jean-Paul Sartre" •.. O lançamento em português do primêlro livro de Sartre - ••Ô Muro" _:_ constituiu êxito Invulgar. Foi um volume de contos. Agora, entretanto, os leitores daquelas histórias irão tomar conhe– cimento do Sartre romancista. Feferimo-nos ao 9,parecimento, esta semana, de A IDADE DA RAZAO em tradução dQ critico Sergio , Milliet. Neste romance conta o escritor fran– cês a· história do homem que se busca na -- sua própria liberdade. \ John Lehi11ann Uma boa noticia para os a.migos da li– teratura inglesa: na segunda quinzena des– te _mês chegará ·ao Rio, para uma visita de intercâmbio cultural, o escritor Joh11 ·Leh– niann, que vem ao Brasil scib os ·aÚspíéios do Conselho Britânico. John Le-hmann é irmão de Rosamond Li>.hm.a,nn, romancista muito conhecida e ad- i mirada entre nós, notadamente pelo .seu li– vro ''Poeira". John Lehmann nasceu em 1907 · e foi" educado em Eton . Além de escritor é ~ um dos mais arrojados eçl.itores ingleses. Pu- _– , rc 1iucou seu primeiro livro de poesias em 1931. e. desde então. já apareceram mais três livros . de poesias de sua ·autoria. e entre esses o seu conhecido 'IThe- Sphere ·of -Glass" . ·Mas sua produção lit-erária é grande e variada e nela se incluem dois livros . de viagem, ui-n -sobre. o Cáµcaso e outro sobre os países danübia- 11os, além do volmpe de critica "New Wri– ting in Europe" . N-o Rio, -John Lehmann pronunciará vã– . rias conferencias .sobre a moderna literatura lnglesa._· _ K . J. Alves Mota Sobrinho, de São Pau– ·Jo. estreia ·com um livro de contos "Bola •Preta'', punhado de páginas singelas, frescas , · nas quais se retratam aspectos reais de vida numa. pequenina cidade do interior e- na ca– pital. . Graça, qualidades de narrador, capaclda– · ae de, extrair seiva das críatur,as e coisas , murohas, possui o jovem . autor de "Bol11 Preta••. · Não foi por simples cortesia ESTUDO DE HISTÓRIA COLONIAL Sob o titulo de "Estudos de História Colonial", o sr. He– lio Via.nna reuniu em volume uma série de estudos e en– saios sobre o nosso passa– do colonial, acrescidos ainda de documenfos "reveladores de novos dados essenciais, ao res– pectivo esclarecimento. Algu– mas daquelas sínteses - diz o autor - aqui se encontram, acompanhadas i de biografias de grandes vultos do mesmo período, e _de transcrições de manuscritos públicos e parti– culares, úteis ao mesmo fim". Alguns capitules: "A Con– tribuição de Portugal", a "For– mação Am!!ricana", "Bases da Unidade Nacional", "Educação no Brasil Colonial", -"Guerras do Bi;asil Colonial". O livro· do sr. Helio Vianna aparece 11.a· "Brasiliana". , • Greta Garbo viverá o papel da "Duquesa de Langeais" , película de Walter Wanger inspirada em Balzac. Jean Faurez vai filmar "His– toires Extraordinaires", · uma a,daptação cinematográfica de novelas de Edgard Alan Poe e Thomas de QuinceY • .Em Nova Iorque estao seil• do re-exibidos os seguintes fil– mes baseados em obras muito conhecidas: "0 Mágico de Óz", de Maurice Ma~terlinck; "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Bronte; "Pig,malião", da peça de George Bernard Shaw; e "A Estalagem Maldi• ta", da novela de Daphne du Maurier, • Celso Vieira escreveu uma biografia de Joaquim Nabuco, ·que servirá de introdução às Obras Completas de Joaquim Nabuco (em 14 volumes) que se editará em comemoração ao centená1io do ilustre escri– tor ~ estadista brasileiro. Num volume de 100 pã– ginas, em edição de luxo, se– rão enfeixados todos os -livros de poesias do acadêmico pau– lista Guilherme de Almeida. .. Outros livros pro·grarriados: de- Luis Edmundo, "Algumas Poesias", de Olegario Mariano, "Poemas". · • O acadêmlco Mucio · Leão esteve recentemente em Reci• (e, sua terra natal, onde rea– lizou conferencias e foi hom~– nageado pelos intelectuais per- · nambucanos. • Em Belo Horizonte, vem de ser lançado "Mú!iica interior", seleção de poemas de aatista Brasil, um <Jos característicos poetas' tradicionais de Minas. Refertndo-se a Baptista Bra– sil, outro ;;>0eta mi\leiro, Bue– no de Rivera, assim se mani– festa: o Brasil precisa conhe– cer uma das vozes mais be, las da poesia tradicional dé Minas, um poeta dono de uma rica música verbal, senhor de um panteísmo dinâmico e pro– fético, possuidor de uma arte inspirada em sentimentos pu– ::os e humanos". .. O escritor Renato Almeida, secretário-geral d-a Comissão Nacional d~ Folclore, do Ibecc, foi convidado, pelq Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade, para abrir a sé– rie de suas conferências este ano, tendo falado, no auditó– rio da Biblioteca Municipal, sobre a "Música Folclórica". O sr. Renato Almeida, a- . com.panhado pelo · professor · Rosini Tavares Ltma, secre– tário· da Subcomissão Paulista de Folclore e membros do C. P.F .M.A., deposi-tou no tú– mulo do Autor.de Macuinaima uma coroa de flores. · Outra homenagem prestada à memó– ria de Mário de Andrade rol a inauguração' do seu retrato no Museu Folclórico do Cen– tro, que lhe guarda o · nome. GASTÃO CRULSE .A. flCfl.DEMifl Em entrevista concedida a uma revista, o escritor Gas~ão Crúz assim definiu a · sua po– sição em face-da ,<\cademia de Letras: - Deixemos a Academia. que é pompa, solenidade e, so– bretudo, _consagraçij,o de cor– po presenté.. Deixemos, as– sim, o embalsamamento -·para mais tarde, se os meus livros merecerem tan_to, .,- ·• Ela . estã lá'. .. e eu aqui, cada vez mais distanciados, pois sou por temperamento _um· homem - inteiramente avesso a tudo o "1.,. TEATRO DE R-OSARIO FUSCO O critico, romancista e pQeta Rosário Fus,:,o aderiu, francamente ao teatro·.: Em seis meses nos deu eie nada menos que _duas pe– ças. Publicou, inicialmente;-·"O '·Anel de Sa-_-· turno"; dá-nos agora "O Viúvo". ·E ,nãu fica ai a sua atividade -como autor teàtral: mais · . dui,.s peças de sua autoria aparecerão em 'li• , vro - "Au_to da Noiva'" e "O Anfitrião". · Paralelamente publicará o romance "Carta, - à Noiva", e··os ensaios "Introdução à Expe– riência Estética" e "Temas Eternos". As pe- - ças de R_osario fusco estão -sendo editadas · em volumes uniformes e gr9.ficâ.mente bem · feitos, ' Carfas De Rui Barbo s ·a Como contribuição aos festejos do cente nárlo de Ruy, a "Brasiliana" a presenta a terceira edição de MOCIDADE E EXILIO - coletânea das i:artas de Ruy Barbosa ao Con– selheiro Albino Jcisé Barbosa de OUveira · e ao d,r. Antonio d'Araujo Ferreira Jacobirn!\: O prefacio e as notas são do professor Amã rico Jacobina Lacombe, Urr1 'Apolog-:, Da .Alma Ocidental Aliás, a semana foi assinalada com o lan• ç3..mento de alguns bons livros. Além do ro• mance de Sartre e de · outros volumes que registramos neste domingo, merece uma a• tenção e&pecial a pequena brochura de au~ torla do profess'lr San Tiago Dantas e intitu– lada D. QUIXOTE j .um apologo da alma ocidental) - conferências realizadas em co– memoração do 4o. centenário de Cervantes no auditório, do Ministêrlo da Educação. • DEPOIMENTO De Rornancista Raimundo Sousa--Dantas, que estreou em 1944 com "Sete Palmos de Te!'ra", va-i publi– car ainda neste mês um novo _romance, "So– -lidão -nos Campos", e um volume· de contos, "A Vigilia da Noite". A propósito do seu ro– mance. disse-nos Ra\Inundo Sousà Dantas: - E ' uma história escrita numa fase em que acima de tudo eu colocava as idéias p·o– litico-sociais. Sofreu, portanto, uma influên– ,cia que hoje a.ponto !!Ornei prejudicial pare. a obra arti:stic!', em geral_. Não o abomino, co- - mo o ljz com "Sete Palmos de Terra"~ mas tenho para com ela sé.rias reservas, inclusive aporttando-a· como de Ú-mà faiie que já ul– bapassei. Desde· jád>Oi°ém, poderia afirmar que foram ·livrôs de .unia-- etapa que venci proçurando instruir~me a_' mim mesmo, anu– lando assim as -minhas. deflciencias rio ter– reno da vida propriamente dita ·como tam- bém no particular da literatura.' · • nunciou em "Ludovic", trata– . se de. duas , evoluções parale– ' las: de um lado, a transfor ~ • ma ç~ dos capitais imóveis (" ca.ml) Os, bosques, casas") em ' -Wnheiro, movirrient-0· ao qual '. . as classes conservadoras ca– : tólicas não !podiam resistir; : e, ·por outro lado, o "esqueci– ; mento" das doutrinas gue as i teriam esclare'cido, quanto à , verdadeira condição do homem HIST·ô EXTR,AORDINARIAS j no mW1do capitalista - que 1-:iiá nãQ é o mundo gótico e j sim apenas de construções , pseudo,..góticas. casas, viramoo industriais e banqueiros; e muita coisa: .foi - esquecida:. Um ·_Hello assus– tou-se disso. Mas ·os outros não .se -assustaram: defendidos pelo '.'sensci .. corrium" que lhes garante · a "casa", continuam a defender a civilização crist( esplêndida fachada por 1rás da qual os n egócios pretendtmt– continuar como dantes. Esstt confusãô entre ai;>arencia J verdad_e inspirou· ao "louco" nJ~la : l;>urguesa . porque não transformável · em "corpora- Heuo · a história extraordiná- sendo - transformável em -dl· ~Con"clusão da ·2.• pági µa \ ç!i.o" a exefripló "das ·corpor a"- · .tia "M'eniõrià..s dum·· velho nheiro; - . reconheceu a · dife- ções medievais. A sociologia morcego", ·a mais lúcida das · rença entre os '.'naturalmente" Baader, reconheceu a particu- de grandeza bibhca, desgra- catolioa · dii. primeira. métãcfe suas pa.rábola.s. · , ·!'· W() imc10 da época capita_- pobr-es -. ("que haverá sempre laridade dessa. nova classe, n ão ç~damente força~o~ a_ :l:!~re-: .do , séºculci xi.x ·é_- qu"anto às ú rri mórc~o tinha sua mo– lista nãio foi tanto assim. - O entre vós"), e os · proletários, fora no palco, representaram a : sentar uma m1serab1bss1ma exr>ressões e ºquanto ao f undo rada ·1,1os bástidores · dum ·"téã- · filósofo~católico -Adam•Mueller artif-icialmente p a up_erizados - "Athalie" de Racine. O mor- · tragi-comédia ·• l:>urgJJesa•: O " do pensamento; pré•-màrx ista. tro: atrãs' dos · bastidores, · 09 eX:plicou, - em 181_9, a elimina- pela ·economia- capita-lista.• ou- cego a-creditava, - porém, que. ·morcego, como • se ·vê, · estava Mas '· dep'ois ,~ -- õs-· "Ludovics" . · atores vfviá.m suas vidas· inr: ·· , · ção do fator humano d~ eco- :. tro ,filósofo católico da ·époc~; -aqueles hom!!ns · eram lteróis ·· enganado, - . - . vendei-áfu' · canioos:·•· bõsa·ues'. se°'rãveis: -inÍ'ámes:''.. i&otai:' Ji .

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