Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

NATALICIO NORBERTO 1 - Já me foi feita uma vez, essa mesma pergunta: co- es.A sendo condensado, reduzido a uma simples ino julga você a falta de popularidade do conto ? 'Dei a res- jugação de frases, o romance não sobreviverá posta com a maior sinceridade dizendo que isso era prove- anos, pois não há mais tempo para o leitor niente do pouco interesse dos editores, em face do progres- aventura de um volume de 400 ou 500 páginas, so comercial do romance, mas que o gênero como tudo in- o vento . levou". e hábil con– por muitos se lançar à como " ... E clicava continuava bem e que, provavelmente, substituirá O 3 - Quanto à maneira de contar, indiscutivelmente, o próprio romance ainda neste século. Agora. mais uma vez caso não mudará . de figura. Ninguém ficará dispensado de me apercebo escravo de uma síntese nada facil para bor- fazê-lo com engenho e arte. Aliás, como gênero literário, o dejar a mesma pergunta, pois vejo qÜe é preciso uma ati- conto é mufto mais difícil do que o romance, pois, neste o lude razoavel para não provocar discussões, ou bipartir uma tom largado da. compo~ção não q_uebra a harmonia do tex– politica de ação objetiva pessoal. Noutras palavras: embo- to. Ai do contista, porem, que nao 1ntender que o conto é ra tema fazer um julgamento severo, sinto-me tentado a di- um romance em miniatura, e que sua area de liberdades é zer que o que .tem havido, ultima.mente, é um verdadeirt bem estreita; arri.sea-se a um verdadeiro fracasso. A ação, abuso da parte dos escritores, em relação ao romance. Este no conto, tem que ser viva e concentrada, enquanto que no gênero, dir-se-ia, exf>ulsoil os demais no desenvolvimento romance o escritor pode dar-se aos maiores caprichos da vertiginoso a que atingiu, e domina, soberanamente, não só criação e da fantasia - e sair-se muito bem. na qualidade dos seus elementos, como ainda _ 0 que á 4 - O conto, como dizia Ara.ripe Junior, não é um gê- mais essencial - nas livrarias: nero arbitrário, nem é, c~o muita gente pretende, um ex– 2 - E' .certo que os livros de contos têm sido raros ul– timamente, e isso indica, de parte dos editores, um retrai– mento que, por seu lado, parecê-me ser, apenas, o reflexo aa falta de popularidade do · gênero. Mas será exata essa observação ? Terá o conto decaido dessa maneira em nosso país, quando óuvimos dizer que foi um genero dõs mais po– pulares? Discordo disso com todas as .minhas forças . E ·quando digo "ter o conto decaido" é porque, se bem que considere o romance o genero mais nobre da atividade lite– rária, não vou muito com a sua atualidade. Resultado: pen– so que num clima . vertiginoso como o atual, em que tudo vGrão De Areia" -Em 2. ª Edição trato, um esboço, um romance resumido. O conto é sinté– tico e monocronico; o romance, analítico e sincronico. O conto desenvolve-se no espírito, como um fato consumado; o romance, como a· atualidade dramática e representativa. No primeiro, os fatos filiam-se e percorrem uma direção li– near, no segundo, apresentam-se no tempo e no espaço, reagem uns sobre os outros, constituindo trama mailí ou me– nos complicada. A forma do conto é a narrativa; a do ro– mance, a figurativa. Não há, portanto, como se- vê, supe– rioridade de um genero em relação ao outro. E por que a sua deficiencia na literatura brasileira ? Fica aberta a interrogação dos motivos à critica. ' Trecho de uma carta do escritor Mauro Mota, diri– gida ao orientador desta secção, sobre o aproveitamento - dos "novos": •'E' um •crime deixar de lê-los coou , at-ençáo. Pele, menos entre 50 cretinos, dá um valor que nio podemos deixar sucumbir por falta de estimulo e compreensão. Se formos aceitar 90lllente os . chamados . "nomes feitos" contribuiremos para levar em breve a lite~tura a uma . prova no tempo e no espaço", Já se disse que o ensaio, antes de tudo, exige do es– critor a posse de um estilo ·,ealwente destacado, pelas virtudes da precisão, elegân– cia, clareza e apuro estético. A tudo isso talvez foose con– v,eniente · que acresoentásse– mos, também, a posse das idéias em debate, que sem elas qualquer página d!!, me– ilhor prosa soaria como um !fu'asco vasio. Dono de um es– tilo nas condições exigidas, e 11a posse legitima · das idéias que debate ou ventila, Gil– berto Amado, em "Grão de ,areia e estudos brasileiros", cuja 2a. edição acaba c;l.e ser 1 publicada pela Livraria José i Olympio Editora, mostra o que é, em verdade, um gran– ~ ensai..sta. Novela ~icare~ca Pequenas Notícias :.."A Luz Da Estrela Morta" .:--· Com "A luz da estrela -morta" romance há pouco pu– (iblicado pela Liv-raria José 1 Olympio Editora, Josué Mon- t , telo, seu autor, inicia uma no– va. fase de sua ca-rreira lite– rária. Nome dos mais presti– giados da nova geração · .d&.. escritores brasileiros, Josue \Montelo que cómeçou sua vi– Ida literária com um romance ~ orientação naturalista, pas– ndo depois ao ensaio e à tica, penetra agora, com "A uz da . estrela morta" no ter– no do romance filosófico e t -t>sicológico, numa tentativa mja originalidade e força não . ;erá licíto negar. O , sr.. Galeão Coutinho é um cultor da "novela picaresca". Nesse genero literário tão fascinante podem ser incluidos os seus li~ros "O Ultimo dos Morungabas" e "A Vida Apertada de Eunápio Cachimbo" - qu., foram tão 8,JITT!Ciados pelo público. Ago– !'a, a Coleção ·Saraiva apresl!nta como sele – ção de mato, outro romance de Galeão Cou– tinho, "Confidencias de Dona Marrolina" uma histó1ia movimentada da pequena bur~ guesia de São Paulo "onde há tons de dra– ma, tragédia, comédia e pa.ntomima ... " Sincronizando alguns de seus 1ançamen- ~ com o sucesso e.lcançado no cin-e.ma na coleção "Os maiores êxitos <k tela" a ~i- tora Vecchi publicou: ' - "O filão de prata" de Robert Louis Stevenson; · - "O diabo branco", de Tolstoi. JEAN COCTEAU esteve reoentemente n~ E;~tados Unidos, onde assistju à "pre– lDlére do seu novo filme, "Aguia com duas cabeças". De regresso à França, escreveu para "Les Nouv,e-lles Li-ttéraires" uma sé– rie de artigos sobre o que viu na América· "Carta aos am-eri<:anos". Diz Cocteau qú~ os ~meric111DOS estão perdendo tempo se preocupando com a, "terrível situação da F:rança". - Na realidade, meu pais está hoje co- ~ estava antes ... Aooim, façaan o favór -de parar de sa<:udir a .cabeça por causa da França. Somos • ana,rquistas por natureza Isto é. anara uistas conservadores. •• '_ O poeta José Ta.vares de Miranda que ao ~ublica,r "fl~bôa." mereceu tã~ ex-, press1vas referencias d() critico Se,rgio Mil– liet, promete para e.sté ano um novo livro de versos. José Taval'OO de Miranda pa.r– ti~i~a do · gruJ?O da revista "Colég_io", sem duvtda um_ dos setores representativos da nova. geraçao · paulista. • * .. José Escobar Faria. ("Os Dias Iguais") vai entregar ao edit.or os originais do seii próximo livro: "Poemas de Câmera", • * • Carlos Burlamaqui Kopk ("Fronteiras ~tranhas") tem em preparo três ensaios: ~a.rios . Drummond de Andrade - Poe– sm, Estilo, Ideal"; "Graciliano Ramos e os Problemas do Romance" e "Meditações So– bre a Critica- e os CTiticos". • * • Doming,os Ca.rvalho da Silva, um dos va.lores da nova geração de poetas brasi– leiros e a..utor de "Bem-Amada Ifigênia'' (1943) e "Rosa Extinta" (1945), pretende pu– blicar em 1949 mais dois livros de versos e um ensaio critico sobre o poeta Rodrigu,es de Abreu. • · • * • O ~ritor cearense Abelardo F. Mon– t':_neg.ro concluiu . um ensaio de interpreta– çao da. vida e da obra .d!e Sorlano de Albu– querque. Ainda de Abelardo Montenegro teremos este ano os ensaios Cruz e Sousa e o "Movimento Simbolísta no Brasil", e "O Roonan-ce Oee.rense". • * • . Duas traduções: O DIABO BRANCO, 1 romance de Leon Tolstoi - adaptado ao i cinema na Itália; O FILÃO DE PR'ATA, . \ romance de Robert Louis Stevenson, tem Fichario Letra E AUULIO BUARQUE DE HOLANDA . ) , como oená,rio a Califórnia dos tempos da descoberta. dto ouro. Tradu!:(ies de Boris Solomonov e -Jayme Carlos Duarte respec- , $ivamente. Seu nome é AuréUo Bua.rque de Holanda. Ferreira, ala– goano de Passo de C11in1.a 1 ragfüe, onde nasceu em 1910. .Exerceu várias funções públicas no seu Estado, foi secretá– .rio da Revista do Brasil (3a. fase), e a,tualmente é professor no Colégio Pedro II. Ho.me:r:n de hábitos sim,ples, muito sim– pático, goza de grande prestigio nos meios literários, onde é idustamente admirado e de não menor estlmia entre os seus 'alunos. Em 1942, reuniu os seus ct>ntos no volume intitula– do Dois Mundos, premiado pela Academia Brasileira, e unâ– llimemente consagrado pela crítica. Estudioso do idioma nacional Aurélio dispõe de um rico instr-umento de expres– são, que só fai, valorizar o conteúdo humano das suas histó– ftias. Em ~ola ação com Paulo Rónai, em 1945, publicou f<Mar de Hisw,us, antologia do conto mundial, trabalho de i!mportancia extra.ordinária, que terá prossegui~nto em ou- l tros volumes, um deles já no prelo. Co-autor_do Pequeno Dicionário Brasileiro da Lingua Portuguesa, principalmente t:na parte de brasileirismo, publicou um excelente ensaio so– l bre a Linguagem e estilo de Eça de Queiroz, incluido no 11- jVro do centenário do autor de Os Malas, e tem a publicar, ,devendo apa.recer brevemente u,rna Antologia da Lingua lf"ortuguesa, obrá de grandes propO'l'ções, em colaboração 'com Alvaro Lins. Tem, ainda, .a publicar: uma edição orí– tica dos Contos Gauchescos e Lendas do Sul, de &mões Lo– pes Neto, e várlosc outros trabalhos. , ' . Elegia ~ n ·esconhecida MAURICIO SOUSA FILHO E a tua mão tombou sobre meu corpo Como a folha caida no chão árido e seco A tua voz soou como as trombetas do profeta. Anunciando a aurora que libertaria todos os homens. O teu soluço, naquele momento estático, despertou ml- (nh,a alma ·amortecida, E a tua lágrima desabrochou o llrio da m , da E veio o vento ... o frio . . . a tempestade Velo tudo que havia de ·alucinante no ln Com suas sombras descomunais movendo E o meu esplrito esparso refugiou-se no Sendo levado como o aceno da mão desc , ee A Região onde os sonhos se formam, <ido ,to. so- wa o~ingo, :, de Junho ae Ull'il~ ESCRITOR ESTRANGEIRO EMILY BRO'NTE Emily Bronte, mais nova das irmãs Bronte, n asceu na. pequena localidade de Haworth, na Inglarerra. Herdou de seus pais as características da raça. céltica e a ternura so– nhadora, repassada de melancolia que transparece em to– dos os seus escritos. A natureza agreste e selvagem que a rodeava, dotaram-na de um temperamento romantico, uma imaginação ardente e original. Silenciosa e esquiva, enér– gica e apaixonada, .Emily não di.rigia. a palavra à gente...da. cidade e fugia ao avistar qualquer pessoa estranha. As inspirações que vinham de seu' mundo interior, supriram a pouca ou nenhuma experiência que teve na vida: A impressão profunda causada. pela ·charneca inós,pita do Yorkshire e a tristeza grandiosa da paisagem d-e Ha– worth, sempre açoitada pelo vento proporcionou o cenário para o livro que a devia tornar famosa - Morro dos ventos uivantes. Um ano após escrever o livro, seu espírito torturado encontrava na morte a serenidade. que não tivera em vida. - • t " Um Poema De Santa Rosa Oferecemos hoje aos leitores uma mridade, um verda- deiro 'achado. E' u,m poema de Santa Rosa Júnior, iht'itu– · lado ·"Rubayata", publicado no dia 30 ·de maio de 1933, num jornal de Maceió . O poeta. é o pintor. cenógrafo, ilustra- 4,or, professor Santà Rosa. '- lá fora, a noite se desenvolve como um rio. vem, as horas escorrem. fugitivas e o amor eapera a tua presen"a para cumprir-se. as rosas oscilam. o vento é tão mansa. ... vem, enquanto, lá fora a noite se desenvolve como um rio, dá-me em tua boca o sabor de todas as alegrias do mundo. O Cântico Dos Cânticos José Olympio vefn de lançar uma nova edição de O CANTICO DOS CANTICOS, atribuído a Salomão, numa versão portuguesa. do poeta AugU.&to Frederico . Schmldt. Valeu-se o tradutor, nesse trabalho, do orientalista francês J. C. Mardrus, que fez úma transorição literal e completa dos textos semíticos. 0 CANTICO D0,5 CANTICOS - na definição do próprio Augusto Frederico· Schmid:t - "é uma rosa frágil e estranha que surgiu na. somb1:ia, antiga e mi.s– tc'riosa terra de Israel". Poesias De Múcio Leão De MÚcio Leão, acadêmico, jornalista, critic~. sistema– tizador da obra de João Ribeiro, responsável pela exce– len~ iniciativa que foi o suplemento "Autores e Livros", esperava-se, sempre, algo mais do mesmo campo de ativI– dades. Surge, ele, porém, com um livro de Poesias, reunindo versos que compôs desde a juventude, em 1915, até os nos– sos dias. Alegria dJe amor, Angústia universal,- Amplitude, A fo– lha do arbusto, Povoação adormecida, Paises In?xistente.s E Sonetos .,- eis as partes em que se divide o volume, algu. mas já divulgadas, embora parcamente, e outras inéditas. Dentre poemas modernos, transcrevemos: "Creio sentir no teu silencio, Noite, A inquietação do pensamento dos mortos, Que se del>ruçam para as estrela!!". Os Heróis De Galeão Coutinho O autor popular que criou, ou melhor, retirou ' do seio de uma humanidade bem viva e real, os tipos de Vov&- Mo– rungaba, Eunápio• Caximbo, Vitorino Lapa e Simão o Caô– lho, o escritor pitoresco. e (lramático, ao mesmo_ tlmpo, que é Galeão Coutinho, oferece agora a história da mnlhe!' de um d-aqueles tipos. Tal cwno nas "Memórias d,e Simão ·o Caôlho_'':' este depõe ,aobre- a mulher, esta conta a pró~rlà. vida e -a do marido eni. "Confidências de dona Marcolina" . ? estilo dessas páginas e, sol:>retudo, o fiel apanhe.do da lmgu,agem popula.r ·em São Paulo, tornam o livro espe– cialmente agrad-ável e curioso. Lanço.u-o a Coleção Saraiva na· sua linha de 40 mll exemplares. O Caminho Sem Aventura :Qeste romance de Lêdo Ivo pode-se salientar que o seu tmço mais caracterlstlco é a gJ·andeza. Dentro · dessa am– plitude desenvolve-se o poder criador de uma das _mais au– .tênticas e ricas vocações literárias d-o Brasil. O Caminho sem Aventura é um romance denso, sentin– do-se a todo momento que o autor, dando à sua prosa uma flexi!bilidade poética, já domina serenamente o seu meliei– ~onduzindo a história desde as primeiras páginas até o fi~ do livro em uma atmosfera de expectativa e interesse com;– tantes. Além desse domltúo artístico, o romance apresenta uma :.,aisagem larga, tanto em sua amplitude d,e movimentação p~cológica, ·de paixões humanas fixadas através de perso– nagens e episódios que, em sua realidade cotidiana denun– ciam a preset}-9a . do amor, da inquietação e da ~rte nos menores pass,os da vida humana. Este romance de Lêdo Ivo é desenrolado em uma zona. brasileira suloada de canais e lagoas, povoada de mitôs, on– de as pessoas vivem presas às ãguas, escravizadas a um - barro que as fascina, afundadas em uma miséria fisica e moral que a beleza d.as tlh1':o e a imponência dos coqueirais não conseguem ocu , ' Se pudéssemos mahcista de Lêdo • entre a brutalidad nuncia as miséria• ·•. na lwma, na fome tanto luminosa de déia mais clara da arte de ro– fllOS que ele realfaa o eqÜilibrio nciia do romance social, que de– edaço de humanidade afundade. :?, e a suWeza sombria. tt eDtN– .alistaa.

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