Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949
' 1 l ª } JFT _.:...=,._ . - crr " ...,,.,..._,_ Domliigo-;s· de Jünho de 1949 _ ( n r' d -. ·. í7'\ : 1 ._ . . não havia nada lá for ,, ~a:: '• & f 1 4',0 va erno ue"•'" tJO'a@::'::.·: ªªi.ª 1 i~.d=~:se~m:r~ pit~i ,•---- o t ' Por que não os tive s 1 _ n tt - (Conclusão da l.a pág.) J·wito ao I r d i " ' · "doce França". Ainda com as ca O o se sl- - J\, cicatrizes do bombardeio. ta dentro de um quarto uma os braços o. aparelho e, o olhar ie~~i.~u~on~ fºm~~~ ndlq do Das impressões em turbi- voz de laringe gasta. Si c'est• desvairado, abre a porta que t . ª 5 v lha- 0 x•em O cansa"º que as 1 ·n- J t . .- 1 . f razia os olhos cravado _,_,=.t::;,: • " eanne te que vous cherchez, dá para a escurmao a ora. h • t 1 D.,RETOR PAULO MARANHÃO . c=::=l SUPLEMENTO 1 ORIENTACAO DE - ' HAROLDO MARANHÃO COLA..BORADORES LITERATUR~ I, DE BELf:M: - Alonso Rocha, Benedito Nunes, Bruno de .Menezes, Cauby Cruz, Cécil Melra, Cléo Bernardo, Daniel Coelho de Sousa, F. Paulo Men– des, Garibald! Brasil. Haroldo Maranhão, Levi Hall de Moura, Mario Couto, Mario Faustino Max Martins, Natalicio Norberto, Nunes Pereira,. O~lando Bitar, O~vio Mendonça, Paulo Plínio Abreu, R. de Sousa Moura, Ribamar de Moura, Rui Guilher– me Barata, Rui Coutinho e Sultana Levy Rossem– blatt. DO RIO: - AJvaro. Llns, Augusto Frederico Soh• . midt, Aurelio Buarque de Holanda, Carlos Drum– mond de Andrade, Cassiano Ricardo, Cecilla Mel• reles, CYt'o ·dos Anjos, Fernando Sablno, Fernando Ferreira de Loanda, Gilberto Freyre, José Llns do Rego, Jorge de Lima, Lêdo ·lvo, Lucla Miguel Pe– reira, Maria da Saudade Cortesão, Marques Rebelo, Manuel Bandeira, Maria Julieta Drummond. Murl– lo Mendes, Otto Maria Carpeanx. Paulo Rónai e Rachel de Queiroz. DE S. PAULO: - Domingos Carvalho da Sil– va, Edgar Cavalheiro, Roger Bastlde, Serglo Buar– que de Holanda e Serglo MilUet. DE BELO HORIZONTE: - Alphonsus de Gul· maraens Filho e Bueno de Rivera ." nE CURITfflA: - Dalton Trevisan e Wilson Martins. ; DE PORTO ALEGRE: - Wilson Chagas . · DE FORTALEZA: - Antonio Girão Barroso, Aluislo Medeiros, Braga Montenegro, João Climaco· Bezerra e José Stenio Lopes. J Surrealism-o Contra A Literatura (Conclusão da !a. pag.) ""ert·ompe .· Alta· noi·te, no ban- 1 d onzon e · • ele est pa.rti ce matin. Volta-se para despedir-se os o ·d N · di co do vagão, essa.s impressôe•s - Sou eu, Madame, ea que- móveis. E' demorado o olhar lhmariFo: - ada tÇ, s.çdo, invadem o plano onirico, en- · p · d. d fl mu er. oi uma ques .,.o e ria ver aris. .. (ouve-se uma sur ma e au- bicicleta / quanto o viajante dorme e o - ."Qu'est-ce que vous dt- ta e violinos) . N t · · •• t "i d expresso avahça sobre Paris . tes ? Compreends pas, - re- Adeus, mãe ! Adeus, es e momen o, um r o e Nova Volta aos doze anos' . CC I linha desprende-se do tear e truca a voz. pai! ... Até nunca mais. a ·rih 'nh aos element os adormecidos da O homem esquecera-se de o pano) começa ª· cami ar soz1 () idade em que nascera o sonho . h I em direção à janela, enquan- que era preciso agora respon- O segundo ato, o ero t Ih g da via:gem . Faltam poucos d d o a ve a o se ue com os der na Ungua do país, desP,e- passa-o, inteirinho, an an o Ih d L t mi·nutos para C'"-egar-lhe ao A o os, pasma a . evan a-se e " dir-se do idioma natal. Esta- de bicicleta fora da cena . 1 h • l termo . Ele acorda. Mal pode reso ve acompan a- o pesso- va embara,,ado . Como expli- platéia reclama. O palco con- ai e t o ... d · supo'""ar a ~Aalidade- do sonho " O m n e. ·J.io esv1a -se pa• n ~ - car coisa quase inexpllcavel a tinua intensamente vazio. U• t t Ih q ue entra pela J. anela com Iu- ., d ra a por a. oca- e a ma- u' a mulher desconhecida, tão ve-se apenas o f,.rfalhar os d · t· d ~ zes e via:dutos, reflexos de ca- eira, recua e oca e nov~ invisível quanto exigente, que leques de verão no colo das i f , la A ' nais, floresta de chaminés e O pomo se qu sesse orça- . o interpelava do outro lado damas . Chega o momento em - · te ret r · En casario severo _ mundo em mae procura m rp a . - da porta ? Construiu a frase que o heroi aparece desgre- quanto isso o marido senta que se misturam O hostil e O penosamente e soltou: - C'est nhado e explica rapida{Ilente d to - , ~scama; maravilhoso do desconhecido. mol, Madame·, 3·e voudrais voir ' bli o o ao can • poe-se a t d DeseJ·.ava aproximar-se aos ao pu c : o peixe ! A desven ura a Paris. - Os senhores estão vendo - d f" 1 ente o noucos, não assim subitamen- mae compreen e ma m .,. •.., Pela primeira vez utlli2.ara que o espaço é pequeno.. E' que quer o fio da linha Abre te. Tudo agora há-de ser no- por necessidade um instru- · AI· do mais eu t b · · b vo e tudo será possível. por1SS0. em • O a porta; abre am em a o- O sonho vem recebê-lo na mento de comunicação que não quero ir embora, sumir . . . ca; leva as mãos _à cabeça era o seu . Foi como se esti- Brasil é -grande, o mundo é 1 oh I p0i que v" gare feia ·de Austerlitz. Desce, e exc ama, •• s " vesse sendo ·investido de no- mai·or e vocês todos são uns I d d' t d seus olh·o~ Greve de taxis. Os amigos o surg n o ian e e ~ mergulham nd último me.tro. va personalidade . A frase par- imbecis . .. enorme figura maltrapilha e Brotam com ele nos Campos tira i nd ecisa. Monta de novo na' bicicleta cambaleante . E' o Filho Pró- Elisios. E ficam a observá-lo, - Voir quol? · · · Paris? e atravessa o palco a dizer digo que chega sobraçandO' à espera do seu espanto, do -Vous êtes sa.oúl. adeus com a mão esquerda . O uma roda de bicicleta. O primeiro efeito de Paris sobre - Oui, Madame, Paris - público não deve agastar-se, mome"nto mais forte do dra– o seu rosto . Cada qual pro- respondeu mais encorajado porque logo a seguir -- ape- ma . Damião está quase irre– cura transferir para si a emo- agora . nas. o tempo de trocar o ce- conhecível.. Seu vulto pare~ "ão virgem da recem-chegada - Oh! Fichez moi la paix. nario - o heroi rea.parece . ce duas vezes tnaior do que " ·Laissez moi dormir. Voir Pa- E tá t d · "' · t· T do em os e adulta criança. Há um si- s -sen a o no meio da ce- quanuo par ira. o •- . lencio. · ·ris!.·• II e st toqué - sussu- na em penu!T)bra e segura sos e- tendões . · - Isto é Paris! lembra-lhe ra ª voz . E mais alto: Allez uma baliza . Na ponta da ba- alguém. Que tal? pergunta au - diable ! liza, um relog~o vai marcan- 0 homem volta ressabido d 18 21 23 27 um outro~ provocando . Ele o: , , , , num mos- não responde, olha desconfia- para O sotão, mete-se debaixo trador luminoso semelh&.nte do. Está sucumbindQ . Seus das cobertas . Pensa agora em ao das. bombas de gasolina . A olhos parecem marejados . Jeannette, particula de Pa• cada número corresponde a - Vai dormir. Amanhã vi- ris. Qu~m seria? Que teria mutação do pano de fundo, o remos buscar-te . havido com Jeannette que qual ora 'representa o cais do P artiu pela manhã ? por•o B ·1 c t I Caindo· de cansaço, entrou O , ora o rasi en ra , no pequeno quarto improvi- xxx uma aldeia do Oriente, o in- sado ao fundo do corredor, 0 12. RESUMO DO DRAMA. terior de uma pensão alegre, único vago no hotel. Poderia Ao erguer-se o pano, -0 h eroi a sala de um hospital. etc . . ser o quarto de qµalquer ci• é visto atirando ao chão o Algumas personagens femini– dade. prato . ...:.. "Aí está uma solu- nas, horrivelmente pintadas, "Amanhã saberei se estou ção", diz, olhando para os sentam-se sobre os joelhos do em Paris" . Atirou-se à cama. cacos. E voltando-se p!!,ra a heroi, mas logo o largam num Tudo lhe parecia mais irreal mãe: "Mã,e, faço hoje empurrão, enfastiadas. Quan– sob a névoa do ·sono . De re- quinze anos; não quero cari- do ci dito relógio marca 30 a– pente, pôs-se a pensar que em nho, quero revolver". nos, o Filho Pródigo começa torno, debaixo do travesseiro, - Bebê,. meu filho, para a envelhecer a olhos vistos. pertinho de seu ouvido,· devia que queres revolver? (Música aflitissima, só de ins- estar Paris. COl!)O dormir sem - Mãe, em primeiro lu1?ar, trumentos de sopro, sobres- vê-la antes, sem verificar ? peço que não me chames Be- saindo um fa.gote nostálgico. Saiu pelo corredor à procu- bê; Damião é o nome que me O pano cal apressadamente) . - Mãe, eu queria ui:n banho geral. (Aqui, devido ao pro– saico do pedido, a emoção do público descai visivelmente; e se . não chega ao cómico, é porque a' sujeira do filho é realmente de entristecer) . Há,. troca d!! olhares . N.o rosto rugoso de Damião lê a velha o traçado dos caminhos, percorridos . Comove-se . Mas é um breve instante, porque logo enxuga as lágrimas e as- · sume ar severo . - E os outros ? indaga . . . - Os outros. . . vêm a( atrás, mãe .• - Sente-se, ordena-lhe esta, Já viu tudo ? Está satisfeito ! Então tome l ra da j_anela . Entrou, por um deste. Se quero revolver é Terceiro ato. Quinze anos rar-se • que, como em toda w. e.. Alta lucarna dando para atirar nos outros, nada depois. Entardecer no inte– rna coisa . E, criando ·poesia, a literatura, também nas cria- para a noite. Subiu ao banco. Jl'\.1'-iS. rior de uma casa modesta . ou entendendo como poesia ções surrealistas havia uma Apoiado nos rebordos da lu- ,. - Damião, meu •filho, que Ouve-se o · gemido sem con,. tudo aquilo que fazi·am (à 1 dif b" I t i I d - ã d erença a issa en re a poe-. carna, içou O corpo, os tetos Deus te perdo . soo a mae de Dami o, e• E larga a bofetada (peiz?"i– cato de., violoncelos) . O filh() vira a outra face. A mãe, o rosto, iluminado de alegria, _ exclama: "Ah ! enfim !" . Retira-se a providenciar qualquer coisa. Antes 9-ue cheguem os outros irmaos, começa a- cair o pano. lenta– mente, enquanto a cena é in– vadida pelas escamas opales– centes do grande peixe que o pai continua a descascar tran◄ quilamente, alheio ao que se passa em torno. parte as outra.s atividades já sia espontânea de uns e a es- ..nab proximos, descobriram-se Nest'e interim, entra o pal bruçada à janela, a olhar pa– referidas), algum direito tl- pontânea... vacuidade, dos Os mais distantes misturaram- com enorme embrulho. Bei- ra os caminhos. Senta-se a nham de pensar que não es- restantes . se à garôa . Era fim de inver- ja o filho. - Pai, não quero po.l;>re mulher junto à velha t avam a fazer literatura - Se é certo, como penso tam- no. o homem espia. o con- saber de teus beijos; tenho roca e começa a tecer. A's mas sim a procurar revelar bém, ser a poesia a forma de torno da Torre Eifel, aos pou- quinze anos e já pedi .revol- primeiras sombras da noite as vozes m~is intimas do ho- expressão (não cuidemos ago- cos, desenha.=se inteiro .. Não · ver. Eu quisera também qual- entra o pai, sobraçando enor– mem, antes e- para lá da cons- ra de saber se é· literatura ou pedira tanto para aquele mo- quer máquina de fugir-, se é me peixe . O pai: - "Ainda.? ciência, nos recessos . ocultos não) em que mais imediata- mento. "Ah, agora sim: eis i\ que não trazes uma neste em- O' mulher, já não tinhas gra: em que .se esconde a sua ver- mente o homem se revela, a- cidade feita a mão, salva <le brulho . - Filho atrevido, é vado no disco o teu pranto 1 dade. Nós é que p0demos ar- través da qual mais profun- mais uma guerra . Eis Paris, o teu presente de aniversá1io. Liga a vitrola . Deixa que ela gumentar: sim, mas isso é pre- damente ele se conhece e co- Biblla em Pedra".. . Antes não o trouxesse. chore por nosso filho perdi- cisamente o objeto de toda a munica, registemos, cem por . Paris respirava como um ani- Encolerizado, o pai joga ao do . Olha o peixe que te trou- verdadeira literatura. Se os cento no ativo do surrealismo, mal em · repouso. a · pele eri- chão o embrulho e sai. Atl• xe para a ceia de amanhã . surrealistas reprovávam, em o bem que ele lhe fez, p0r- çada dé chami1.1ês. "Ah, at ra-se o filho ao presente e co- A mãe (perdidamente) : - absoluto, toda a idéia de com- que a despiu do arsenal de está ela !". meça a rasgar-lhe o inv6lu- Ele nã<1 deve estar longe, eu posição, de retórica, quer dl- tradições sob o qual jazia . o extase relaxa os múscu- cro (efeito musical). pressinto. Oh! Por que o a– ~e-r, de qualquer trabalho "so- atenuada, pàsteurizada, anes- los. O hClmem não aguenta o Quand0 vê a bicicleta toda companharam também os 01,l· Deve o públ!co abster-se de aplaudir logo, para que possa ouvir o rumor da água enchendo a banheira atrás do pano. b're" ª espontaneidad_e, ele'll teziada - inerme. Reconhe- próprio peso e cal sobre - a despida e reluzente nos me- tros? -,... · próprios nos forneceram um cemos que eles lhe devolveram tampa da banca. o estrondo tais, cai de beijos -em cima - Porque são uns idiotas, argumento contra a sua tese, a virulência, a . agressividade, res-sôa em todo O andar . dela. As rodas dão-lhe ver- responde o marido. Imitado– pois que não tardou a verif!- a força - e ii. inocência. Qu'est-ce que c'est? gri- tigens de partida. Toma entre res ! Sempre lhes prev.eni que Pedaços de bicicleta, velas: de jangadas, · patins, proas de barco , e patas de cavalo são atirados sobre a platéia . São os irmãos que já che– garam e estão. se despojando dos seus aparelhos de fugir. ,. _., Um poeta, um teatrólogo,– um roma ncista e um ensaísta acabam de reafirmar a pre– sença de Minas na literatura nacional. Entre os livros apre– ciados neste começo de ano, QUATRO LIVROS DE MINAS quatro são de autores minei- dos altos eucalipto3" de que ros, e todos se' recomendam só ele S!lbe o caminho, a -ver– pelo teor literario. Conside- dade é que seu isolamento rando-se isoladamente qual- nunca será egoístico. Arde qu er um deles, o juizo favo- por manifestar-se, e: ravel do leitor será natural- De repente direi tudo mente determinado pelas qua- Mas com tanta veemencia lidades próprias de cada obra· E com tamanha aspereza mas, vistos em conjunto t.. De expressão e sofrimento . impressão por assim dizer Que terás minha demllncia circula que eles nos desper- .. No coagulo de sangue tam é ·a constancia de um es- Desabado sobre a · mesa. pii:it& ao mesmo temp0 dife- De resto, a estrofe é -cita.da 1·enciado e multiplo, na base menos . para documentar o d essas construções tão distin- que há no sr. Alfoiisus de tas _uma das outras: o es.pi - Guimaraens Filho de anseio rito de Minas, a exprimir-se l)ela comunhão com o mun– em sua vocação literária . do, que para atestar a sua Do poeta, o sr. Alfonsus de energ_ica e emocionante ex– Guimaraens Filho, se pode pressão artística. Em outros dizer que, com perseverar na passos do livro, a nota é an– trilha espiritualista de ser tes meiga, surdinada, 'melan– egregio pai, soube adaptar as colica. A paisagem fislca de exigencias da. moderna con- Minas ·não se espelhe. n~tes cepção do p0ema um tempe- versos, mas sim a suá paisa– ramen to romantico de inten- gem interior, esse halo de so lirismo. E nesse tempera- "sonho ·acordado", que às ve– mento há uma consonancia zes surpreendemos no olhar natural com o temperamento distraido dos mineiros. mineiro, no que este apresen- O Anel de Sa:turno é a pe– ta de fiel às verdades .do sen- ça, em um prologo e um ato, timento, mas . sobretudo de com que o sr. Rosario Fusco fiel às verdades da pessoa dá o seu primeiro e ambicio– humana. Seu individualismo , so passo no campo assás es.. desbordante acusa-se a cada corregadio do teatro. E' ú -verso do belo livro que é a teatro aquela provincia- d li• Cidade. tlo Sul; mas não é o t,eratura, em que nauf:,.gan individuàfumo. do ser inapto os autores de' ficção, 'll'-' d· P~ a. convivêfu::i senão a dos talvez de que t •.1 r(} ~o que aspira .a ela por um pede uma técnica :, , · ' ula,-, "to de amor . Se o poeta pre- rissima, destinada a tende "sozinho romper cami• realmente tu- perso:na i.s yyc bbo& • act,ormecer no além o roma.nc · ta f!,,z mf,, f.'ren:1 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE sua natureza mais profunda, intacta sob a banalidade apa– rente do cotidiano. O sr. Cor- , nelio Pena é um especialista no abstrato ou· na imagina-da, que o seja por artistas de em tipos dolorosos, .que re:– ção de cada leitor . O teatroqualidade e para pequeno pú- moem anos a fio - uma exis– pode ser considerado um cor-6llco, também escolhido . Seu tencia inteira - a sua incon– po-a-corp0 ent.re autor e pú- aspecto p0ético bastaria• formidade com .a pauta regu– blico: nas outras formas lite- para comprometê-la peran- lar da vida, e_ chegam p0r ve– rárias, trava-se a mesma lu- te ouvintes menos exigen- zes a assumir o aspecto de ta essencial, porém com um tes - que são curiosamente fantasmas de sl mesmos; fan--. pudor que favorece a posi- os que exigem mais... tasmas . previos,. movendo-se ção de quem escreve. Não No romance, tivemos em num_ 'mu?do _crepuscular, an– importa: o sr . Rosario Fusco, Repouso, do sr. Cornelio Pe- gustioso, confmado e sem re– inicialmente poeta, depóis cri- na (nascido em Petrópolis, o cuperação possivel. tico, ensaísta e romancista, autor é de origem mineira e Já o sr. Cristiano M_artins versado nos segredos da con- está vinculado a Minas por nos abr~ uma, , ampla Janela cepção surrealista, e bastante uma inelutavel inclinação de sobrl: Rilke - o Poeta e a dotado de astucias mentais espirito), mais um retrato da Poesia, vale ~zer,. sobre _um para não se deixar vencer fisionomia espectral de u1n11, dos caso mais umversa!s da numa aventura tea.tral. Com- cidade do nosso interior tal poesia em qualquer temp0, e pôs, assim, uma peça que a- como a vislumbra a mentali- particularmente no nosso, on• presenta a vida sob um an- dade personalissima desse de o gosto da contemplação gulo cruel, uma vida "em qtíe ilustre criador de ficção . A metafisica do mundo não cons– cade. um toma conta de . sl f.l doçura pachorrenta de nossas titui preocupação de grande o diabo de todos'', e o mito cidades antii:e,s será assim número de poetas, voltados· do anel de Saturno significa perturb~da p0r uma tal mor- mais para a interpretação, em "a liberdade em todas as pri- bidez psicologica de seus ha• termos dramáticos, do próprio sões". Sensível às mensagens bitantes, p0r uma tamanha drama político e social do ho– do tempo, o autor não terá insolubilidade de tempera- roem contemp0raneo. A fas– deixado de ou.vir à voz exis- mentos, constringidos e até cinação da poesia de Rilke so– tencialista, para a qual o nos- mesmo frustNl.dos à falta de bre um au<iitório cada vez so próximo é o i:iosso interno, g·randes tragédias onde eles m~ior de jovens cántores ex– e o aibsurdo da vida busca re- afinal se resolveriam!. . . Que- phca-se mesmo pela necessi– generar-se através do reco- remos crer que não. Mas da• dade de tugir lt obsessão do nhecimento da força oculta na mos -ao romancista o direito mundo aquinista e ·à sua m é no desespero _do de interpretar as almas, co- presença atroz, em todos os hom.-m. O lMI ciz:ii do d1á- mo lhe parece, e de criar uma atos de noss~ vida, através de l ~e;, <4 e i 1 na.:, ofende a atmosfera interior, à cujii, ln- uma .concepçao que resolva fl– s1:1 ! ,rma ll rarta, e pode fluência os pacatos mora,do- · losof1ca e artistic9:me~te n~s– dize·-:-~ melmo qu.,. esta pe- res de uma velha cidade sos problemas e mquietaçoes ?.• • er 11® do que montanhesa se revelem em mais duras . Rilke oferece-nos ada Se representa- possivelmente um refugio, com a sua teoria da arte como ex– periência, elaborada em com- : pleta solidão, e sua valoriza– ção das coisas, que o sr. Cris- , tiano Martins, assim resume exemplarmente: "A fenomeno– logia rilkeana se assim nos podemos exprimir, é uma fe– nomenologia sui generis; as coisas nela se revelam num ; ·sentido determinado, assumem.; um valor especifico, -que nãll 1 se identificlllln com o valot: ; comum ou geral. Por oulraa, ; palavras, as coisas tratadas ◄ nas · poesias são provldas da. 1 átributos e qualidades que emi_. última análise consubstanciam;] a atitude em qu eo próprio 1 1 poeta se coloca em relação a. elas . Elevam-se, a uma ca te- ! goria extra- material. tornan- ! do-se sujeito de idéias, ação, · vontade e sentimento". E p0r.1 aí se atinge a "uma comuni- i cação intensa e direta com IJi , essencia dos objetos e. d8$ > coisas". No mundo mecaniza- 1 do de hoje, esta comunicaçã~ •' é uma riqueza .e uma esperan– ça. Vale recomendar a leitur~ do livro do sr. Cristiano Mar-: i tins como um apanhado fe- : liz, Iucido e denso do que constitui, na sua' pureza e sin- · gul~ridade, a figura human,; e poética de Rainer Maria Ril– ke, pois sua leitura nos ofe rece-mais de uma chave para. 1 a penetração das sutilezas d& sua poesia, sem embargo de que toda grande p0esia se ex– plica p0r si mesma . Por tr~ dele há a .melhor bibliografia sobre o assunto, e em todo ele palpita, discreto e consci- · ent,e, o amor à poesia,
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