Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

SUPLEME j) ' -~......-----------------·---------- _-_:.:.:.-_:.-:-_:.-_-_-_:_-_-_-_- _:_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_ 'l ""· .GU12I \LITERATURA Parã-Belém . Domingo, 8 de Maio de 1949 -- , ... lmoórtancia ECrise Do Crítico An,ericono • O lino (The Al·med Vi- e qualqu,er poesia; mas en– ~ n, Knopf, 1948r em que quanto foram aplicados com Stanley Edgar Hyman expõe êxito por homens como Emp– OE mé:od-Os dos plincipais cri- son, Blackmur, Robert Penn lticos literários norte-a.meri- warren e outros, é preciso canos (e de alguns ingleses) confessar a divida de grati– é de utilidade evidente. E' dão; lê-se h oje com outros porém preciso lê-lo com cau- olhos, ou então, como diz .tela, não se dispensando a Hyman, com. ''armed-vision". .~itura de outras obras se- A vantagem é parecida com ' melhantes (The New Criti- a dos astrônomos modernos, eisln, · de Ransom; The ln- usando telescópios diesconheci– tent Of the Criüc, editado dos aos nossos antepassados: ,por Donalq A. Stauf!er) nem . Mas nem todos usam os mes– a tios próprios críticos, Hy- mos instrumentos; e até o itll3C. é ,entusiasta. Não contei uso dos mesmos instrumentos ,quantas vezes ocorre no livro não exclui a "equação pesso– o adj etivo " tremendous" em al" do observador. Dai são , sen tido elogioso. Mas não é nat urais as divergências en- rju;;:to par a com UJl). Edmund tre os novos críticos anglo– ~Wilson , Não !ala bastante de saxônicos. Um T . S. Eliot i alguns novos, Robert P~nn desdenharia os resultados do ~arren e outros, Não da a exame psicanalítico ou da , clev:da importancia ao grupo análise mairxista. Entre os r11a revista inglesa "Scrutiny" . críticos da observancia socio-• E m compensação, os capítulos lógica. e os "formalistas" que sobre Eliot, Richards e Emp- isolam a obra no tempo e no ,:son são muito in~ormativoJ. espaço, não há trégua. Ain<!a. o,Nem todos os leitores vao há pouco Em;pson opôs restri– aprovar o entusiasmo de Hy- ções ao seu mestre Rfcbards. man por Kenneth . Burke (as Meio brincando, Ransom fl!'– crestrições que Manus Bewley, lou certa vez d06 novos cri– no último número d~ "Scru- ticos como se constituis.sem ..liny'' opôs a esse cntl~o pa- !rente única ou sociedade anô– r ecem dignas de co!lSldiera- nima "New Criticism Inc .", .i;ã o). Ma.s conforme o plano E O ' entusiasmo juvenil de do livro de Hyman, Burke Hyman tomou isso ao pé d~ d evia aparecer com<> auge do letra. Mas o que os re~ne e "new crlticism": só em sua apenas a oposição - um a metodologia reunem-se todos oposição, mas contra q~? o.& métodos que hoje se em- Porventura contra • cntiea .pr egam para estudar as obus tradicio11al? literárias . OTTO MARIA CARPEAUX O leitor da obra de Byman o.etiere ! Porque Hyman, com não afirmaria isso; por que todo o seu entusiasmo com– se pode cf>mbater e que se bativo, não é bobo. Está cons– ignara? As referências de ~iente do fato de que a mo– Hyman a Saint-Beuve e De derna critica sociológica se Sanctis são pobres . Meneio- baseia. :nas lições tlos "velhos", na, uma vez só, Benedetto Taine e Brandes, embora Croce, chamando-o de "aes- empr ,egan.do os ins.trumenioS' thetician"; parece ignorar a mais exatos da análise mar– importante atividade · critica xista. Mas como representan– desse "velho", as.sim como te desse ·método só sabe a– ignora a admirável critica !ta- presentar o franquissimo in– liana- em geral (Momigliano, glês Caudwell; confessa não Gargiulo, De Robertis, De- • ter lido os livros muito mais benedetti, Carlo Bo). Quanto importantes do marxista hún– à critica alemã - bem é algo garo Georg Lukács, ..mas nem difícil conhecê-la porque is- sequl:ír conhece o nome do so supõe boa formação uni- maior critico marxista Walter versitária em geral e hege- Benjamin. E tão radicalmen– liana em particular; cairia em te ignora Hyma,n os nume– erros tremendos ("tremen- rosos trabalhos de crítica dous") quem se satisfizesse psicanalítiea. em francês, ale– &pena.s com. algumas tradu- mão, italiano e holaadês que cões espa11holas, e nem estas um livro avulso de Maud ;ão acessíveis a.o americaDo Bodkin, em que se emprega Hyman, que até ignora o no- o inétodo "herétice>" de C. G. me de Di11hey. Em compen- Ju.ng, lhe JJarece t.ei ' !eito taçã.o, - elogia o velhe Bm- época . E quem gosta tanto - CARTA cA•Los DRVMMOHD DE ÃHDRAl>E :ie Villon ? Ou por que n ão e com razão do "cl~_e . rea- ~xperimentar o "close rea– ding", da análise e:>t1~1st1ca, ding" de um poema b1·asilei– tem porventur1_1, . o direit~ _de ro -,. Seria a maneira mais se– ignorar _a analise estih~t1ca gura de introduzir entre n ós dos alemaes ~ossl!r e Sp1tzei:. os métodos americanos , e dos espanhOlS Damaso Alon- Até então o entusiasmo de so e sa.linas e no enta.nto es- Stanley Edgar Hyman· pare• creve hv:·º. so~e o_ ass_unto? ce-se com a embriaguez de um Essa ~1~taçao na.o e, ~o- "baby" que acredita ser tn– r ém, propna de Hy~an_e S1'!;1 ventada a pólvora. Mas gran– também dos seus obJetos . d,es criticos como Eliot e Ri• Ele mesmo menciona uma .ou chards não caem ne ta . As outra vez que o respect~vo suas continuas referencias a critico conhec_e pouco as lm- Aristételes, Coleridge e outros guas estrange1i-as. Mas talvez critioos do passado revelam a nã,o ·precisasse. O método do vontade de restabelecer valo• "close rea.âtn~". exige, eviden- res e "Standards" que a cri. temente, dorrumo completo da tica mais ou menos impres• lingua em que 8: ?bra:_ '.'lida", sionista do século XIX tinha está escrita, domm1O tao com- e.squecido, E não há critica pleto como só é po51vel com sem critél"ios. Ma os "stan• respeito à lingaa. !l'laterna . dards" antigos eram dogmáti• Daí os críticos americanos se cos. E o homem do século XX limitam a estudar o~ras e~ encontra dificuldades em ad• lingua inglesa, pre,fermdo ate mitir dogmas. Veja-se como ·nesse teneno o estudo . da um T. S. Eliot se esfor!;a pa.– poesia de determinadas epo- ra ser "ortodoxo", e no en– cas (século XVII, Wordswor~ tanto sua ortodoxia a.figu ra• th, Cole1·idge, os modernos); se como h eresia a outros or• fora da poesia, o drama lhes todoxos . Daí a dif.iculdade · de · importa me11Os e o_ romance dar o último passo: da anã• quase nada (exceçoes; Sten- lise critica ao julgamento cri• dhal, Hienry Ja-me~,- Joyc!, tico. Faulkner). Llmitaçao sau~a- Com muita intellgência os vel enquanto fôr ,,01untár1a. novos criticas americanos p~e– Mas quem sa,be se aqueles ferem, por isso, a interpreta• métodos não se aplicam por- çã.o à apreciação. Mas já co– ventura, com vantagem, s6 a meçam a sentir a falta de determinada poesia inglesa? critica judicaUva. E William Por que não fazer a pro.va ? Barrett se queixa: "Desde qua Por exemplo, "close read!ng" a critica comercializada em. de um .poema de Leopard1 ou jornais e revistas perdeu a Sã.o, principalmente, a anã- Quisera escrever a,,na Use estilística, baseada :nas li• com palavras sabidas, Muito depressa, nõe. significação literárta, Iamen• tamos a perda dessa f íg-ura outrora Importante: do jor• Jialísta-critico, escrevendo se• 111anaI ou bissemanalm.ente . O desaparecimento desse géne- 10 valioso,.. prejudicou-nos". ções da semântica, e a análi- se etrutural, baseada nas teo• -s mesmes, t riviais, rias do velhíssimo Artstóte- embora estremecessem iles ou do velho Coieridge, tianto patrono da critica mo- • 11111 toque de paixõo, d erna; ou então, o estuoo psi• rerlurando os obscuros • ,colúgico (com prefe rência: p si- CalHliS de argila e so,,,6ra, canalitico) das intenções cons- cientes ou subconscientes do aia e/a contando autor, reveladas nas suas ima- 4Ue vou hem, e amo semp,e ~ens e em outros sintomas estilísticos; a análise ideolo- e amo cada vez mais ~ica, que recorre a principios o essa minha moneir9 l!Ociológicos, inclusive a teo- · !-' ria das ideologias, marxista ou te•eiaa e ret icente, 1não. Tudo isso exige, emim. e espero uma resposta, nova maneira de ler as obras - _. •ijiterárias, o "close reading", ,nas que noo farue; e PefG iteit ura "exata." que produz •m objeto minúsculo TeS\lltados inesperad011 e sem- só para dor prazer ;pre i.nteressantes. N~te sen- tido dizia um dos represen• • quem pode ofertá-lo. ,tante.s do "n~w criticism". ,lírio ela do t empo ~ohn Crowe Ransom, qUe a f _. ,,.__. nova critica llllt!' parece supe• que az uo nosso '"'º: rior a qualquer outra que ha- • s chuvas já secaram, via no passado. • st _., Embora evitando o adjetivo as crianças e uuam, r,tre·mendous", acho que Ran- uma últ i,na invenção som tem razão. Admiro sobre- l az ler nos corações )uqo I. A. Richards sobre o I [ qual escreví, salvo engano, 08' ainda não é perl eíta), :primeiros artigos no B:rasü . lllaS todos espe,amos ~Sei bem que os novos méto• 1t. d . (µos não sã& aplicáveis a ted_a_________ •_e_v_e_r_-_n_o_s_u_e_m__ e_p_~_e_ssa __ : _ ___ ~ . Há uma criança na zona sul que não pod~ ser acu- Ji ada de abstencionista; todos oe acontecimentos, mesmo os ue lhe escapam ao poder de compreensão, merecem f> seu CR.fJN I CA V ai .se tornando • tempe, estranhamente longo i medida que encurta : O 4ue onteffl disporcivd', 'desbordado alazão, ltoje se paraliso . em esfinge de mármore, e até o sono, o sono ilfW era grato e llbsurdo, é um dormir acordado ...,,... planicie pave. Rápi,Io é o sont,o, apef!a•, .,e se vai, de mandar noticias amorosas .· .,ando não .bá amor o ,lar ou receber; r,aando só há lembra~• eu ainda menos, pó. Menos oinJo, nodo, ,ioda de nada em tudo, e-m mim mais do ffUe em tudo, e não vale acorilor f,Uent acaso repouse 110 colina sem ítrvore&. Contvdo, esfa é a,mo corto: 7 Encontro essa frase no órgão s:>rlncipal da critica nova, na "Ken'yon Review, núm~ro XIII, datado Inverno 1949. Lá se manifestam, no momento em El\J.e ·se divulga o livro en– tusiasta de Hyman, quatro re• presentantes da critica nova. ,sobre a situação atual da rua atividade: chegam a ve– n:Hca.ções desoladoras, sobre a decadência da critica e a sua eeparação da literatura e da • ida. Mas quem é o culpado'! A eritica "velha" porventur a? Não. Eis af o inimigo comum rle tedos os criticos- novos de todos os- matizes, que estáva– ,nos procurando: o ambiente J>.ostil, comercial, inculto, do '!Ual os "fomialistas" tentam :fugir enquanto f>S criticos marxists tentam contribuir a ,transformá-lo . Mas apesar de um esforço enerme ("tremen– rlous") não consegu~in . Não é acase o !ato de que a grande maioria dos críticos novos são professores. vivendo 11as Uni• (Continua. Q 3.ª páf,) - nteresse, sUllcitam suas pergwitas, fazem-na ficar pen.sa 'tiva pu falar demais. Assim acGnteceu há semanas atrás quando 'os jornais andavam cheios de noticias a respeito do fim do M A D· A L E t\J A; ~ue fl'llerla ver o na.vio afundado, E em seguida, sUTglu uin 11~plente de cabo elie1tora1, que. lhe efereceu um binóculo N a~\lstamento,_ nem só de navios falav1m os homens, pois· ha~ v1~ J)erlki>nalldades, e estas não conseguem, pôr maior que seJa o espetáculo, te1· o espírito muito longe da terra - LtDO lVO -..: Íonundo , A criança ouvia pelo rádio as informações, escutou 1 conversas de pessoas grandes, estava a par de um trecho de rôiálogo entre o carteiro ·e o encarregade do edifício. A neite, :~,nteg de dormir, perguntou, ao seu pai, a fim de orientar-se '.n o dia seguinte: "Hoje à meia-noite é o :fim da mundo. Ama• 0 1Dl1ã, quando eu acordar, onde é que piso?" Partindo do laJnento. Aconteceu que o :ne,vlo e»calbado eons€guht safar• iJII"indplo de que a terra ia desaparecer, ela precisava. de um se ãos ~ochedos, arr~stado peloa r,ebocadores. A criança, que eselarectmento qualquer, pois é uma criança que gosta de não obtivera dos pais que o levassem para vê-lo prisioneiro , !Pas sear, de in teirar-se dos movimentos da vida, de nutrir-se iria asaistiT agora à pa.s&agem do barco pela baía. De sua ja~ de elementos que possam dar-lhe a convicção diária de que nela,. viu~e o mar; e quem vê o, rnar, vê navioo, t odas as horas são dignas de· sua :peqU1ena existência, e aptas E~ porém que o deus dos navias é cruel, e não atende a para fornecer-lhe o que ela exige em navidade, surpresa ou prece Jn!ormulada de uma criança. Em plena baía, diante de ·d t>!!lumbramento. . ealmas ilhas de pedras e de intranquilos barcos, o navio de Dois Políticos, de passagem para as batalhas verb~ís con– versavam entre reticências. "Conheci um Saraiva que' deP• ser seu pe.re ~t.e", ,dizia o magro. E o gordo completava: '·To':: _ dos ~ Saraiva s~o em principio meus _parentes. Este faz 0 que? O magro mformava: "E' coletor de anúncios"; O gor – do fl:°hava a questãa: ''Então não é meu parente. Há flutros Sarawa" · E en~u~nto o magro, amargurado, se· queixava de qüe ,i.gora, no pmáculo de sua carreita, estava pagando em em,. pregos algumas amizades arranjadas quando, estudante numa pensão do Catete, a navio ia afundando. E havia quem éhorasse . . E havia quem se perguntas.se Pois foi esta criança que chamou a atenção de múmera.s belo name feminino partiu-se ao meio. De um lado ficou a p ei;soas grandes para o destino de um navio, neste abril cruel proa, afundando. Do outro, a pepa desgovernada . E a crian– !J)ara os barcos, n este mês In imigo do mar. As tais grandes ça, estar.recida, nãe podia ~ompreender o mistério do transa– personagens se comprometeram a obter pormenores sob1·e o tlàntico partido em dois pedaços. caso, tend:O-lhe jornais, desenhando-lhe transatlantic01, enri- A criança quis ver ~ navio de peno. Como satisfazê-la, q uecendo-lhe o léxico oom uma linguagem banhada. pela azul sem que ela abandonasse a terra ? As pes.soaa grandes lem– o e uma bru;a marinha. Em menos de um dia, a criança es- braram-se de pedir m;n binóculo emprestado; contudo, os im– ü n ~ completa-mente pre!)arada pará !alar sobre os estaleiros, prestáveis binóculos dos dias anteriores eram agora objetos os portos, os escaleres , os mastros, as tripul~ões e os passa- àisputadissi~s, e seus proprietários tinham passado a me– ~eiros . E d ~ posse de todos esses dados, ela poma com.preen- recer a.tmções. incomenso:rávei!J. ~ er melhor a triste história do navio que lhe oouJ)ava o J)e!!;' ·- ··· A»~1tee\l aí :um eanà.iõato ~ presidência Ela Repúbl,ica, pelo destino dos tripulantes do barco. · · Um cidadão advertia que os rebocadores estavam arras– tando os pedaços do transatlântico. A criança, ouvindo-o in– trometeu-se na conversa, e ficou sabendo que o navio pod€– ria ser restaurado, De- passe dessa verdade, ela se afastem da multidão, sentou,.se em uma pedra debaixo de uma amendo– eira -e fechou os olhos, para imaginar. Em seu espírito, deu – se o milagre; havia um navio atravessando a baia, um gran• de navio iluminado e, embora fôsse crepúsculo, ela podia ler na pr-0a o n ome feminino do barco e-m demanda ao seu porto no outro lado do mar. E 41 nome do. navio u,- e atu noJJ'-e . Cllamava-ac Ma.la- lena, · · ·- · - -- -- --·· .- - - -- - -- - - ---· -- ~ -

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