Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

Ly·J , s pnmeiros adepto,; da --~•r, nte exi ·t ·n~;albta t e fl , i f .J )~1 CCl'i ::l 1: f' ~et:.:::.idad e d::; !a,. ar a ~,L: ut ita d e tr~.lar--.,;-= de m::.1s u;11· ··ctern:er -:.-li d •~ bouleYard", d e mais uma mu– da daquelas que deu em tem– p os pa:sados ensejos para "roo,s" aos anatolianos, en– q uanto os homens " sérios" costuma \·am a dvertir desde– nhosamente: '•Isso é literatu– ra !" Então, os primeiros adep– '°s da corrente já desenhâra.in "árvores genealógicas" do exis– tenc ialismo - um galho cha– rnaclo de Pascal e uma folha ~hamada de Kierkegaard etc. e umas raízes pré-socráticas, enfim: o existencialismo seria 1:ão velho como a filosofia , co– mo a própria humanidade. Tudo isso é verdade e também !Jlão é verdade porque· de– monstra de mais. Desfolhando o monstro botânico, sint-0-me iPerfeitamente à vontade por– que não acredito que os exis– tencialistas apenas sejam uns homosexuais nem os anti– existen cialistas uns "porcos de :Epcuro" do baixo mate1ialis– m c: "je ne loue ni _blâme, j,l– expose", e o melhor recurso ex:J, s\tivo ainda me parece a v elha d ialética, cuja árvore ger- ?.i !ógica também possui r aiL >' an tiquissimas, nos diá– lot:., '·Phil é'bos" e "Theaite– to,.- ::le Piai.ão . (V. os Estu– do, õ0l1re a evolução da diale– tica nl atõnica". de Julius Sten– :tel,. Somos todos platônicos ou uistotélicos natos, pa.sca– fü,ria,; on h egelianos natos, e ils ,, eze:; isso e aquilo ao mes– mo rempo; e no entan to a m;,:, . ;lustre árvore genealógi– ca r:': J pode desmentir a cr etí– nii:~ do bisneto. E agora "in me!1•r,s res": até os sérios en– t:•i ••' ,obre a história do exis– te.-. ·::,lis:110 não con~eguiram n,.,,um ier a .duas perguntas: l) rlc nde prO\·êm, no existen– r iaJ;_~;no ele Sartre certos ele– men i os seguramente marxis– tas, cn,110 o conceito da ''lit– tl>raLure engagées" ?; e 2 ) se Kiei·i{egaarct é o pai do exis– te.F·' al i::;m o, onde desapar.ece:.i n ;•é;'.giosidacle e. pecifica desse t e ·,·,.::o pr'otestante '? Não sa– b c=i dar resposta completa; l'\ i)a': as algo como indicações bi ul:::igní(c:as: mas se servem pP. rJ Üumit: ai- cer tos caminhos si .11m,os da hi stória intelectual 1;,;, úllh ios decênios - que 01,;:u.; tntão esbocem o itiue– n, : 'J Carhi.n.har não é tudo, m., muito . Como se clefinê um exist.en – ;í&_; ,rno ? Pela oposição ao he- 1; e) ;:> nis1110. Pela afirmação do tle•·,pnto individual contra o oe::· ·:ninismo universal da Hi c:tó~·ia; e pela negação do p;u:-l1gismo hegeliano, admi– \indo-·se a inescrutabilidad" ftud :i.;11ental da vida. Dai - p f _ r>1 ;tn-.ne antecipar um re– su'·-~do - l1 atração irresisti– v e; que o existencialismo ex_ ::(;e sobre os escritores e p oc,'. :1-; ui.ia ra zão de sei· se pe,,ie: ia num Universo acaba– do e ex , lícact o: a importancia do f :s ist2ncialismo é primeirà– m on:·e cie o_rl:é:m estética . (;·km deci<'.i a, então, exami– n a; " ·,~é-11:stória do existen– c5;, 'i.0:-,1·0 deve procurar o no– n, , 1:? um filósofo anti-he– g!'i. :·t,:J üe índole e interesses µ r":r•:;,a,:11t nt~ e~téti cos: e en– te. •·.. :·ú Schelling. Nome ilus- 1-h 1, J ., eu tem\JO, 1na s des- prezado e- esquecido jâ em vi– da pt'los hegelianos, figu– rando n as histórias da filoso– fia apenas como curiosidad~ , Hoje se n ota novamente certo interesse pelo filósofo do ro– nant!smo <v. o recente livro, em- in glês de K . T . BluthJ , Mas só num estudo dificil– mente acessível ("A última metamorfose de Schelling", de Gerbrand Dekker, 1930) en– con tra -se alguma informaçã o sobre episódio notável da vi– da do filósofo, episódio cujo conhecimento contribui para a compreensão da história inte– lectual do século XIX e do nosso tempo , • O mais famoso catedrático da Universidade de Berlim íô– ra, em vida, apreci::\dissimo pelas autoridades do Estado. Hegel foi considerado como filósofo oficial da Prússia. De– pois da sua morte, em 1831, os seus discipulos revelaram, porém, veleidades de inter– pretar a doutrina do méstre' num sentido que inquietou o ministério. Os sucessores cie Hegel na catedra berlinense, personalidades sub alternas, não conseguiram nada contra ~s jovens "hegelianos da es– querda", cada vez · mais re– volucionários. Enfim o pró– prio rei Fi-ederico Guilh erme [V, "o último romântico" . aconselhou a · nomeação d 0 Schelling, que viveu, quase es– quecido, na Baviera, No dia 16 de novembro de n341, o velho subiu à cátedra de He– gel para falar sobse "Filosofia da Revelação"; e o primeiro nome citado pelo professor foi o de Pascal. Mas -é ainda mais interessa nte examinar a lista dos alunos presentes: en- E' admirável o esforço do~ moços do Cêará. Agrupados 2m torno de "Clã", editora e revista, ::t~ra\·és da qual dão evasão aos s~us trabalhos, vã,) deseiwolvendo intensa ativi– dad e literária. Graças a per– sisten te trabalho conseguiram afastar numerosos obstáculos do meio, chegando a arreba – tar das mãos dos tabus os suplementos de dois . presti– giosos orgãos da imprens:-. ale~carina, !'>- compensação obtida . constitui satisfatório motivo para. prosseguirem no árduo mister, porque, além de instruir o público ledor cria também clima para a litera– t ura de cunho moderno. Que diferença entre o gru– p o de "Clã" e o nosso ! Ten• tamos dilat.ar o acanhado má- ,·imento das letras regionais com a publicação de "Encon– tro'.'. A inicia tiva porém nãJ foi além do primeiro núme– ro . Logo voltam·os à apatia de sempre. Ficamos assim >'estdngidos aos suplementos hebdomadários, onde com par• cimonia aparece algum tra– balh o, sem gran(les méritos. Julgamo-nos entretl_\nto uma. geração privilegiada, dotada de excepcionais' qualidades, capaz de suplantar as dos demais Estados, embora permanecendo em condenavel inatividade. Os outros, por nós tantas vezes malsinados, vão produzindo a ; [· o,-;so era o J1erói da casa. Andrejo, aventureiro, im- 1,c• 'i\ o. seMim,antal , haYia n ele, desde pequeno, qualquer e·.·· ,1c, e., p,,d,: ,:hi.m 1·omãn ti co e do cigano ·civili zado que foi, ll• ,·,, ,·,,.!,;. a \°ida mtei ra . • .'., le;;1y1·a n,:as de Afrl111io (1) sôlJre o irmão menina° el'am St.. · . .; : ,;; n i i·ath ·as. .·.,.:in,·n fi zera con :::truir um carro de boie; 0111 miniatura, 11t, , : , é) 1, l~s o.s ,·nr·neiros - o Redondo, o Chinês, - e to1·• n &\1.·.'<: ü c~·1· mdis feliz do universo percol'renclo h er õica– J!K ;d•' , s \· ie!.,:s ado rmecidas da sua cidade colonial, Afrânio • <- '.'· 1,11,:-nllaY:J. meio timidamente, nas aventuras. Lembra– '\la·a•' !Jem c!,i d-i-a azir1go em que o irmão ousado decidira t ti •. \·, ,c, ,, r cnm seu ca1To o Ca rrego Rico, em plena cheia, As 11\gt, .-. 1·Hl<c 111oinh,1\'am em torno· ao frágil v eículo, ameaça– \73ill u ·?.:,;a-lo bem -como aos carneiros e aos meninos, na ~º' ·, ;,,.,;:a. i\fas AfonsQ tudo vencia cantan do, estalando in– iiún' .. ,·' men1e o c)1icote súbre a superfície revolta, até que 1mi -·:,m tio outro larlo. ru rno à casa do avô, encha:-cados, ofe– gar ·''", ,·iLor iosos, OcP ras n , zes Afonso construia uma espécie de andor, em IJUe , •J '-'i'ri1•;:n-a, niisto de cadeil'inha brasileil'a e de palan– quim ori ent al. .,enclo que uma, aliás, descen de elo outro. Afrãn i0 e a lguns meninos da vi zinhan ç:a participavam, en tão, ila ,fat'g,, nte honra de ca1Tegar o herói ladeira acima. nq;ilio, (J) no período em que foi magistrado em co• mar cas i 1 1abitavei;:, deixou a mulher e filh os em Paracatú. Mas, ao s,:r remO\ ido para a capital goiana como desembar– gadol', <'ntendeu de l,J\·at' consigo a família , Afrànio deveria 11.nd: u- pelos seis a nos e Afon so pelos oito. Mas e1·am, parn o futuro (•1,çritor :-.c,'tGn i. ta, oito anos muito mais enérgicos e l>ravic,s que os de C, 0 -,imiro. A ciYiUza<;-iÃo litorânea, em que \rlvía o poeta, civi liz,,ção agrícola e sedentária, permitia ao llllenino r om ·· ·'s j\lnto à s ca- OTTO ~'1ARIA CARPEAUX bardt. Em 1846, Kierk.egaarc! publicara o "Ultimo Pos-escri– to a-cientifico" que pode ser considera do como a obra fun– damental da :filosoí!a existen– cialis~. No mesmo ano saira a "Ideologia alemã" de Marx , tre eles estiveram Engels, K i• erkegaard, Bakunin e Burck- E a quem dos dois pertencerá o futuro? Schelling não teve êxito. F oi muito combatido, tam– bém, pelos cientistas que~não eram hegelianos n em pasca– lianos: em 1846, o velho de– mitiulse, derrotado. A vitória foi mesmo dos cientistas. Em ACANCÃO DA ORFA ..:> - RAINER MARIA RILKE Tradução de SlLVIO DE MACEDO, Não sou ninguém, e nunca serei ninguem. E para sê-lo, agora, sou ainda mui 'pequena; porém, também, mais tarde . Mães e pais, _ sêde piedosos para comigo. Pois não mereço esse cuidado; e não obstante sou ceifada, Ninguém necessita de mim: é cêdo demais. e amanahã, muito tarde . Tenno so um vestido que se esvái em leveza e perde sua cor, mas, por acaso, haverá de manter-se, diante de Deus, por uma eternidade. Tenho apenas um pouco de cabelo (q mesmo de sempre), que foi, uma vez. de UM muito amado. E agora, ELE nada ama, mais. r.;HAMA INFINITA PERí AUGUSTO 1842 . publica1·a Rober J\,lyer o ensaio sobre a "Constância da Energia do Universo" , fun da – mento da termodinâmica . Em 1845 publicou Faraday -0s ''Ex- . perimen tal R e s earches in Electricity". Em 1844 saiu o estudo "On the Origin of Species by Means of Natural Selection ", de Darwin. Esta– va decidido o rumo do sécu - 1~ que , pertencerá ao positi– vismo f1sico-matemático e bio– Ió_gico à maneira de Spencer. Ja pouco depois Hegel será condenado como ''inventor de absurdidades" . A sua derrota desacreditará a filosofia inteira . Hegel será esquecido. Kierkegaard nem terá leitores. Hegelianos e an– ti-hegelianos encontram-se re– legados ao mesmo limbo, O í1ltimo hegeliano - Marx - viverá à margem do mundo univ-ersitário, filosóficamente (e socialmente) desclassifica– do, Não podia haver simpá t ia entre os dois derrotados. Mas ,;e existe sentido nessa histó– ria deve haver pontos de con– tacto que expliquem o desti– no comum; e há realmente. O cientificismo do século' XIX. todo objetivista, não podia J)~estar atenção às preocupa – çoes do existencialismo com a existência individual, Mas Marx prestara. O seu estudo de 1844, "Economia política e Filosofia" <só publicado em 1932, na edição das Obras Completas, do Instituto Marx– Engels, Parte 1. volume 3), não é - como se poderia su– por. - uma critica da filoso– fia do ponto de vista da eco– nomia política mas sim uma como apresenta o seu livro dividindo-o em 3 partes: Vida: critica da economia lfuiJtka do ponto de vista filosófico; contra o objetivismo da eco– n omia moderna Marx 1•ei\°in – dica os direitos do humanis– mo, prestando a ten ção à "exis– tência r eal e co~pleia" do Homem que não é só instru– mento econômico . São ex– pressões surpreendentes . De– pois, M :ux descobriu n o idea – lismo objetivo de Hegel o "pendant" do .objetivismo eco– nômico, ou seu reflexo, e quiserem, sua "ideologia" (em 1846 aparece, pela primeira. v;ez, a expr-essão "id,eologia alemã) " . Desconfiando do Idealismo, como mera arma de dominação, Marx r eivindica– rá os dixeitos da "realidade", da existência real dos ho– mens . Enfim, o marxismo vi– rou parcialmente anti-hege– liano; e, enquanto se afasta de Hegel, apres.enta aspecto existencialista. Esse fa to não é descoberta · nova. Mannhein cita Pascal entre os precursores da teo– ria da ideologia. Em "Ideolo– gia e Verdade", de Hans Bar- th (1946), aparece Marx ao lado dos existencialistas. Mar.'< encontra-se elogiado na pági- na 87 de "A teoria de Platão sobre a Verdade" (1947). a última obra de Heidegger ct<a qual os seus transcritores · franceses ainda não tomaram conhecimento; talvez porque. o · ' _filósofo · alemão ali -se :mani-: .: festa contra o "biologismo pseudo-cientifico" de Sartre, comparando-o ao mater ialis- mo pseudo-cientifico (à ma – neira do século XIX) do mar– xismo or todoxo. De modo que; r espondendo-se à primeira da s nossas perguntas, Sartre apa-· rece de r~nte - não como marxista, mas p elo menos en - tre os discípulos daquele Marx que dissera: "Mais je ne suis pas marxiste". Mas se os mar-. xistas abandonaram a possi– bilidade de um marxismo ex istencialista, ninguém ter ia, assumido essa atitude no en– tanto possível? Seria espéci e de socialismo cristão, mas à base de um cristianismo tá,~ a-dogmático que permita ana – lisar dialeticamente a Histó– ria . Eis o socialismo reli gi o- Iranel cousas boas e mãs, 3orém fazendo cbnsequente– inente mais pelas letras. Os jovens paraenses limitam-se, como abúlicos, a discutir e ,11 perder tempo, em intermina . veis papos de bancas de café . E, o que é para mais lasti– mar, procuràndo destruir com furi'<\ iconoclasta o que se fa:?; por ai afora. - Não nos apercebemos do l'i- _diculo a que nos ex pomos. Somos até levados ao pelouri– nho, apontados como ineptos, pelos velhas que infelizmente ainda dominam o ambiente local, não obstante exibirem idéias de jecas tatús. Na nossa estulta vaidade procu– ramos, inutilmente. esconder esta verdade. Lamentavel que havendo tanta gente moça em Forta– leza, a produzir num ritmo · cada vez mais crescente, te– nha "Clã" recorrido a um es– critor cearense que vive no Rio. Na Metropole, não obs– tante serem. maiores as possi– bilidades publicitarias, o sr. Mart.ins d'Alvarez não conse– guiu editor. Certamente por– que não passa de escritor fracassado, no conto, no r(!:, mance e na própria poesia. generos por ele tentados. Luz e Verdade, A menos pior de todas, a primeira, em que t rata do amor, é de wna pie– guice ..vulgar, Mesmo ferindo tema. tão sugestivo e univer – .sal, capaz de inspirar aos in– cultos poetas do sertão, é d'! uma boçalidade cavalar . Ve– jamos um exemplo: "Toma conta desta ahna. Casa nua Que o teu amor tornou linda (e florida! Casa que já foi minila e .ago~ (ra é tua . .. Que seria t ua para t oda a (vida" Não desperta .emoção ao. menos letrado dos leitores nem ao mais benevolente espiri– ta critico. Enfim não merece sequer analise séria o 11ovo livro do sr. Martins d'Alva– rez. .so de Paul Tillich que se :, e• fere igualmente a Marx e K i– erkegaard; pois ele é profes.- · sor de teologia protestante. Quem não teme o paradoxo diria: o existencialismo corri– ge um rp.arxismo que virou positivista; o marxismo corri– ge um exist(!ncialismo que vi– rou anti-humanista; ou er!tào, para ficar dentro rios llllll – tes deste estudo: a pré-histó– ria con;ge a história. "Je ne loue ni blâme, j 'expose", e poucas coisas me parecem ma.; fascinantes do que o estudo dos encontros e desencont ros de ideias contraditórias, em– bora custe caro: não é pos. sível expô-las com a famo,,1. "clarté" anatoliana que Or– tega y Gasset já definiu co.:. mo preguiça mental ou aYer.. são de reconhecer a comple •, xidade do mundo. Em com" pensação, existencialismo {) marxismo, que já prejudica– ram tanto a literatura pelo.<J ,eus dogmatismos, restituíram• lhe, pela discussão, a digni .. · dade de coisas "1·eais". Ape– nas o resto este -=- •·tout Je :este est littératw·e". O entusiasmo da auto-criti• ca est>ã nos levando a desviar o curso natural deste registro. Quando nos referimos à "Clã", linhas acima, quisemos nos reportar ao livro do mês, qu-, aquela editora acaba de lan– çar - "Chama Infinita", co– letânea de poemas do sr. Mar– tins d 'Alvarez. Este "Chama Infinita", que me chegou às mãos, é de uma mediocridade ilimitada. Em– bora liberto na forma, con– serva o sr. Martins d 'Alva– res simplorias imagens parna– sianas e, em alguns versos, recorre até ao recurso de ri– ma. Por isto a sua poesia é cheia de lugares comuns co– mo no mais rotineiro dos so– netistas. Sem fugir dos canones, em– bora surjl;\ com a capa apa– rente de modernista, o sr . Martins d' Alvarez decepciona logo de inicio, desde a maneira \IELHO o 'ARINOS - . AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO - choeiras. A zona ser taneja, velha zona decaden te da mine– r ação, criava meninos tam bém românt~cos, m as de u m ro– mantismo menos piegas, menos atra ído pela noiva morta, pois a amplidão e mobilidade da vida davam às crian ças mais in ependência ele caráter, faziam-nas mais rijas e fe– lizes . ''Clã", cujas produções fo– ram recebidas com o calor de nossr. simpatia, muito perden ao lançar o anemico opusculo de versos do sr. Martins d' Alvarez, Merhor seria para si e para os jovens cearenses, que o autor de "Chama In– finita", cumprisse a sentença contida nos dois versos fi– nais do poema "Sabedoriá": "a minha própria sombra vã (cobrindo os sinais de meus passos pelo (chão" . -dos insetos e das águas, tôLla a fôrça renovada do munclo, que a · luz do nascente ia revelando nas qu ietas ampli– dões. Quando pousavam à noite nos r anchos, - e ternos e:;a• tas descrições do que eram êstes a brigos, n os livros dos Yia– jantes antigos, - frequenteme nte tinham a companhia de tropeir os. Afonso, nessas oportunidades, nunca ficava com a familia. Sua atração irresistível pela vida poética do se1·– tão o arrastava pm·a junto daqu"eles homens rudes, fi éis e probldosos, aqueles homens que transpor tav am dinheiro e mer cadorias dos outros du rante centenas de léguas. Ana Leopoldina contava que, acomodada a famíli a na parte elo rancho que tinh a sido escolhida, podia ver, no outro ext remo, o seu menino mais velho montado numa sela colo– cada sôb1·e um cavalete; a silhueta bem marcada ao cla1'âc~ das fogueiras, ouvindo os casos heróicos ou acompanhando as ·cantigas dolentes daqueles n avegantes do deserto. · A obra literária de Arinos está cheia dêstes hon:iens .• <\ Em 1876 par tiram Virgílio e os set1s de P aracatú, a fim de iniciar a longa viagem, à maneira pitoresca de então. Multas outr as semelhantes empreendeu em seguida. Cama– ràdas, provisões, vários animais dé sela e carga eram com– plementos in di~pensáveis para tais expedições. Vefculos n ão havia, pois os camin~os não el'am carroçáveis. A r ota, quan– do feita com senhoras e crianças, era realizada em cu rtas jorn adas de poucas léguas, Pela tarde se fazia o pouso em alguma fazenda, ou, na au sência de habitação, à beira de al– gum olho d'água, no 1-ancho rústico acaso existente, ou ain– da em barracas transportáveis,- qu ando a té o r ancho fa l– tava . Ana Leopoldina, (3) na velhice, lembrava-se com sau– dade daquelas v iagens, elas manhãs em qu e acordava na rêcle sentindo }Jor debaixo da lon a das barracas o bafo dos ani– mais que pastavam junto, sen tindo entr ar com ~ste apêlo quen te e :vivo o cheiro das ál'.vor~s e dos campos, o ruido cena in icial do "Assombramento ", com º!> tropeiros deitados ·pelo chão depois da lida da descarga e da raspagem dos ani• mais, os primeiros sons da viola arrancados como soluços do bojo da noite, cantando as saudades das morenas esquivas, perdidas nas distân cias elo imenso país, retrata ao viyo epi– sódios frequentemente presenciados na infância e daí lhe vem àquele sabõr agreste de uma realidade inapagável. Os tipos que fixou nos seus contos saíram também do m umlo em que viYia. J oaquim Mii·onga era um camarada dos Pi– men teis ; o Flor, agregado à casa do avô João Crisóstomo, foi quem acompanhou o jovem Arinos em uma das viagens que fez a Pa1·acatú , ainda estudante; Pedro Barqueiro serYia nas estradas do sertão. Este Manu el Alves foi quem cu rou como capanga dos J\.Ielos ; Man\lel Alves, o do "Assombra- .(C~úa na. z.• pág.)

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