Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

, TRADt. 1 COFS . DE· CECIL!A MEIRE.LES . . RES.PON.SO POR. .R-OSA DOS VEN-.TOS G,ARC-IA LORCA· -~o vir do vento a qu~ chamam suão, '. . - .. ~– ·J:ns se sent_em a gosto, :~utrÓs ·ft,cam d oentE?s; _ tenho amigos que· são -. . coi:iipletamente "indif~rentes, De Oscar Cash't, (chHeno) -Levava o dia na cinta · _como um alfange de pi.ata~ e, no arção de sua sela• .üma guitarr a git ana . _- .. ll.011,1~nc_~, de luzes nç.vas· brilhava em sua garganta e do . ,;éante jondo" ôs ais_ 'iambfani-:rfo 'como éhàm-as 1 ·Quando deitava uma trova, '.,- . cantãvâ toda ,à Espanha. - .. . . • -N~<;> morr eu c~m10 um gitano~ ·. -~OID6Fre~ dé _púiibàfadá: ::· - Cinco fuzis pr ocurar am, ·-por cinco estradas, sua alnia, . Abriram-ll;le o cor ação . como romã desmanchada . E o repuxo de seu sangue foi ' man~1ar estrelas altas · _Como ·chor avam ·os riós · ·, da · Espanhá '! . Naquele instante indeciso z das mulheres despenteadas, naquele i11stante em EfUe.. o· grilo . a mjna da aurora ·cava, Ga"rcia Lorca, no chão, · com uma fio_r encarnada -condecorando-lhe o peito, quedou, sem•canto e sem fala. • Como t remiam os montes da Espanha! Ao emudecer-lhe a boca, não dobraram campan,ários . Ninguém lhe tr ouxe uma rosa, : nem verso algürri, nem guitarra . A. eintilação; apenas, de uma estrela desfolhada . . , ' , · Apenas a visão .úl!ima da -cal daquela muralha. : . ·· Como rangiam os ossos da Espanha r Garda Lorra ! ai, Garcia Lor ca ! - Mil vozes clamavam. Preciosa, a <lo pm1deiro, no bailado desmaiava. Saltavam, enlouqueci dos, os, seios de Santa óJalla; A r asada . do Romance suas entr anhas r asgava ... 1 Como se rasgava a alma <la Espanha : · E morto ficou na terra, cortado por cinco balas. Este ano não darão fruto · os laranjais de Granada. ÊstP ano não terão crayo<;; – as Janelas sevilhanas, O rlo Gúadalquivir, levará sangue nas águas. . . . :., ;_ ,,.· . . C o~10 chorará S<'U ,;spH1o 80bre ·as .Ruitar-ras da Espanha! Au.stros, fógosos; fiéis ·Alisios,· 0 Bóreas, -e tu, iéfiro, ·e vós, ó Aquilão, ó :Brisa. --- minha boca deslisa • . .- ·..entre às vossas, confraditóriruL· .. ·~ : • ' : .. 'f ' .... ' ~ · - '"'. ~ '" • f" •.· Pois sou Rosa nas franjas deste- sal- .•do mundo que a gaivota habita.;·. e o ·. ccrtave:eto - ·conlíece por igual · 1neu paraisa e ··meu-torm.ento. · · ., ..-... -·· . . . ~ . . . ·-' ' _, ' ··-· . ~ ... • > • '• •• ·~undo qu~--tanta vez•. me- f9'.Z JJep.sar.v . ·· : .·. · · . . .•. · ···:iue sér louca- ou prudente; ·hones1a e ~u deq:rado:do: -"' · ~ •. pode não ser -mais nadei . . . . .. íue nma· sim:ples. dfréçãêi do-·cit. ~-;~' . :. -· Ml!LOT· DU DY (BELGA)· -1 ..... .. ,_,_ ... .. · .. - ,-: . ··.· . ' -- : - . ... ·T" .·.• _·· · . •··A· C-A t· A N O --· • • .- . • ' -··, : : u ,_ . ' • • : 1 . ·; .• Um â .ia, tendo-te ·perdido~-,.. , .. · :. ·· pQde ,rás aco:s9 dormir ·. - ~- .. · · . · sem·qué eu~ éoihô Clcôpêi-"da -tíliêi ; :·· ..:· ~ sussurre pot cup_a de ti 1 _ ,. -- - - · __. ,. -~ ... Sem que ~ti aquí fique em vigilia, . sem que minhas -palav;ras ·p©nh a . ' . • ' L • como pupilas, ~ní teu pe1,,to, . , _ ..- . ..eµi teus brçrços~ em tua .bôca ~ .._;.-? _ . Sem ql).e te- techi e qu.é t~ deixe só contigo, como ,úm ja rdiin • . ,,~ com· seus -maciços, _·com .seus bos·que$ _d~ ~ elissa e ~strelado á:nÍS·? .. ; .· - ~ . .. '. , _,.. i ' . . . .. ... RlHNER··MARIA RILKE DO:·DIÁRJ-o·~ ·oE -UM AJUDANTE DE GUARDA~tlVRO)S . • • . •. t • • • ~-- • • r ·•. • r - - ANTON TCHECOF . -. ~} DE '."fAIO DE 1863 :_ Npsso gual'd~-Uvro;, o séxagê~ n ãno Glótkm, estap.do ,cem t osse, tomou leite com conhàque· · e adoeeeu na mesma ocasiã o com deliriuin. treinenii.- Os ·dou~ tores, - com a sua peculiar auto- confiança,_.Asseguraram, que nmanhã estará morto. Assim, serei, afina l, guarda-livros ! Há _· rnui,to· t.empo que me está ·prometido· esse ·iugar , ' · • - o . secretário -Kliech-tchóf -· compareceu em juizo , por ei!~ - pancar um requerente que o chamou de burocrata, Isto- é coi~a aparentemente resolvida. Tomei um cozimento contr a o cat a1'1'0 g-ástl'ico . 3- BE AGOSTO DE·· 1865 - · Nosso gü-arda-livios GÚ,tkin tornou a adoecer do. peito - -Começou 'a tossir· e está t omando leite com conhal:JiJe ,· Se- morrer, o· lugar ·fica para mim . Te•• ~ho etJperanç.i s, porém fracas, - JlOis, ao que parece, -0 deli- r ium fremens nem sempre ~ mortal ! · · • Klleehtchóf arrancou a um armênio .uma. notá, promissó– ri a e rasgou-a. Pare~e que o n egócio irá t er ao t ribu·nfll. 1 Uma velh1Jta <Gúl'ievna) disse ontem que eu não tenh o catarr-o, mas h emorroides sêcas . E' muito possivel ! 30 DE JUNHO DE 1867 - Na Arábia - escrevem - está gra~ando o cólera. Pode ser que chegl.le à Rússia, e então bavel'á muitas vagas. Pode ser que o velhote Glotkin m-orra e eu fique com - o lugar de guarda-livros . Que homem resis– tente ! Viver a~sim tanto tempo, na minha Õplnião, chega a ser condenável. - · Que tomar conka o catarro ? Sementes de santônica,' talvez? _n iucov·a. Estt:;· ~egunlio Õuvi, foi a.o ·tr_~bunal. · Por ·causa dest~ catarro. auero ir ao dr. Bõtkin .- Ill~em que fQz grandes cura! . • - 4 DE JUNHO DE 1878 - -Em Bietlianea, escrevem, há peste_ O povo continua a tombar, esc.revem, Glótkiri toma. aguardente apimentada . · Bf!J\l, a um velho· destes, .esi;à-- ll-g11ar– dente pouco a juda . Se ch ega a ,pes.te , en tão, com tt-qa cer– teza, seni guarda-livros . 4 DE JUNHO DE 1883 - Glótkln está morrendo. Fui ter co1p. ele e, ·com lágrimas, nos o1}1os, pedí perqão, dizen\io-Jhe que esperara impacientemente a sua morte . Perdoou com lá– grimas, m a~nânimo, e aconselhou-me a usar;- coritra _o ca- . tarro; café de bolota. , Kliechtchóf de novo escapou de -ser chamado ao tribu– nal, empenhou na casa de p enhores um plano alugado·. E, não obstan te, possui a Ordem de Sto . Estanisláu e o -posto de accessor dé colégio. E' 1m!;!raçado, o · que acontece· neste mundo. 7 DE J UNHO DO MESMO ANO - -Enterraram · Glót,ki n ontem. Ah! sem nenhum proveito, para rnim, a morte deste, velho. Apareceu-me em sonhos, à noite, de túnica hranrn e acenande com os dedos. ·E oh, desgraçado, -dese1raçado de mim, pecador; o guarda --livros não sou eu, mas Tchálic nf. Não fui eu qile fiquei com o lugar, mas um jovem pro:te~ido da tia do gener al. P erdi todas as esperanças, 10 DE JUNHO DE -•1886 - A mulher de Tchálicof fugiu, P obre coitado. Pode ser que de mágoa se suicide. Se as.sim .fôr, então serei guarda-Jiyros . Já se fala nisso . Quer dizer q'Ue as esperaD<:as ainda não estão perdidas, a vida é possi- 2 DE J ANEIRO DE 1870 - A' porta de Glotkin, toda a -vel, e talvez até a capa de racum não esteja longe , Quanto nol.te uivou, \im cã o. Minha co:zinbeil'a ·P ielaguiêia disse que · ,ao casamento; não estou contra. Por que não cas:u, se uma . é um .sinal certo; e até as duas da madrugada, conversámos t boa oportunidade se .apresenta? . Só -o que necessito é acon- . sobre isso; _JlOis eu, conseguindo o lugar de guarda-livros; - selhar-me com alrmém.. - uolci ,o ~asamento é um nasso sé• compro uma capa de racum e um roupão . E •talvez me ·case . rio, · Natur!l,lmente, não com uma jovem: não é para a minha ida • · de, - nias com uma viúva, ,Ontem, b-Otaram K1iechtchóf parà fora do chibe, por e!i• iar contando anedotas imorab :diante de todos, e ril'-se do .Patdotismo de um do., membrOll, o· delegado com ercial P o• - . . Kliech tchof t rocou de ·ll!aldch as com o conselheiro pl'ivado · Llrmanco . Que e.s_càndalo ! · () oort.elro Paícine flronselhon contJ·a o catarro o uso do bicloreto de mercúrio . ·Vou experimentar.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0