Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

, l · Domingo, 10 ele abril de 1949 FOLHA DO NORTE 1 i 7.ª , -- - paq _ Poesia Feminino E·Poesia /\1\osculino Haverá uma poesia femini– na distinta, em sua naturez11, ó<> poe;:;ia ma.seu.tina 1 Discu– t.u-ae muito esse problema en• -Roger BASTIDE---<'- . ma - a poe.,ü, de Cecília Meireles te n e .,a.,u u ,r a, impre3sê,o lio ma, ··, ~.i; ours 1·ecommencée" -::omo dlz Va– lery; a d e Henriqueta Lisboa, de _pt::dt'as translúcidas, ilhas isoladas num deserto de águas, de reflexos de lua sobre fo-· lhas, ~e uma fonte azt1I nu– ma cova ensombra d::i . · tre a.. 2 guerras, depois da pu• blicação de um célebre artigo de Maurras sobre o romantismo feminino . E, no caso de exis•• ~ir e.ssa poesia especial, dever– se-á procurar nela caract eres tais como uma sinceridade levada até o exibicionismo, uma sexualidade que nacta mais é d_g que o. desejo de 3e fezer amar pelos leitores? Na realidade, não hã um mas inúmeros tipos de poesi~s fe• mininas, e encontro a prova dessa afirmação em dois li– vros de poesia publicados com alguns meses de l,ntervalo: COA UNIVERSIDADE DE S , PAULO) "Mar Absoluto", de Gecilia Meireles e "A Face Livid-a" üe Henriqueta Lisboa. ' mtes de tudo a Imagem de 1m sentimento, de uma ex– >eriência psiquica. Mas eiy– ~ontro também esse senti• menta nos romancistas :eno– menologistas, desde Kafka até Càmus e porisso não posso considerá-lo um elemento pu– l'amente feminino; Isso se dá porque o femi- nino só existe na sexualida– de. Em todos os outros aspec– tos da , vida é o social que domina. é 'I> sêr construickl nela cultura do meio e da éooca. Todas as vezes, pois. que nos distanciarmos da se– xualidade pura, será dificil distinguir ô feminino do mas– culino a não ser por certos detalhes dificeis de serem de– finidos: o gosto pela música oposto ao da plástica, uma certa prolixidade oposta à ri- gidez da forma. Mas mesmo B!>Sim, ·ainda estamos no so– cial - e podemos encontrar a pro':ª disso em que, segundo as epocas, ou 9 pudor ou o exibicionismo serão conside– rados caracteres de sensibili– dade feminina. Além dis.so, encontramos novamente a lei 1111 barreira e do nivel tante> ne_sse dominio da oposição se– xual como no da oposição de c!Rsses; - a mulher querendo ultrapassar a barreira das di– fei·enças educacionais para pe– netrar no domínio masculino pôr-se desse modo no mesm~ nível do llo!llem. E' daí que resulta á poesia filosófica fe– minina, como a de madame Ak:ermann. No fundo, a idéia dé pro– curar uma poesia feminina •é uma idéia de homens, ª ma· riadas. A poetisa também não nifestação, em 'alguns críticos ign'.>ra a doçura dos versos de um comple~o de supe! 10 - iguais, mas ela pretere o ver– ridade masculina. Precisa.• so livre que llle pa1·ece maiS 11;1os ~bandonã-la., pois a so- apropl'ia do para dar a lm– c1ologia que nos mo st ra que_ pressã o de vagas, de um flu– as diferenças entre os sexos xo e refluxo do ma1· sol:>re a são mais diferenças culturais, praia. Henriqueta Lisboa que de educação 9-0 que diferenças sabe do mesmo modo mane– fislcas, nos convida ll.. isso. jar o '\.'Crso livre, como o pro– Diante de um livro de versos, va sua "Pri;,ioneira da Noite"– não olhemos q~ em o escre- tende' cada vez mais para os 17eu, abandonemo-nos ao pra• poemas cur.tos, relativamente ier. regulares G•.!e encerram um "Cecilia Meireles conhece muito bem os poderes encan– tadores da rime. - o terceiro motivo da rosa, o prova; em geral, porém, a rima só apa– rece nos seus versos em raros momentos, como c o n c h P.. s iguais balouçadas pelas onda; entre conch as de rormas v::i,- sentimento, uma imagem é uma música. Ela prefere os versos curtos enqt,anto a ou– tra poetisa go3ta de usar ver– sos lon2·os, como o lento d~ senrolar das águas levando a espuma, as a1gas e as con– chas úmidas. Vê-se que a forma tanto numa quanto nontra é apropri.1da ao poe- M~s se, no primeiro ca,~o, ft !,entimen to tende à j_rilooili– dade de uma agitação cunti– nua e no segundo, à cristali– zação, o qu e se ;,dmira tan– to num como noutro é' a nro– ftmdid_'.l de poét,i~a. E nÍ:so, e_las sao bem d " seu te,n po; ligam-se a e~s:i iir it a. tnJder – na que joga cu:t' inú.nem.3 di – mensões: ca ve·nms g.'::;. J r,as sub-marinhas. refh: xo~-- nlis– teriosos fechados no interior d~ pérola. li' q ue He01t,1ueta Lisboa aprendeu junt-0 c·o,n a :' Não deixo de reconhecer que há nesses dois repositorios de poesia elementos comuns . Muitos deles, no entanto, são devidos ao acaso. E' curioso, com efeito, notar-se que es– sas duas séries de poemas são ligadas entre si por um te– m.a que reaparece de tempos em tempos, como se não cons– U tuissem senão um único poe– lna como um refrão que as• itnala os parágrafos liricos . O refrão de "Mar absoluto" é o motivo da rosa que aparece tm quase todos os quinze -------------------- ----------------------- - - ·-------- - •criança ("O menino poeta" 1 a descobrir o que nossos Glhos não sabem mais ver. e Cecí– lia Meireles de.scobriu junto de uma morta ('·Eteg:•a") a presença, no, mais profundo de nosso ser, de fanta.smas. UM CASO DE--POESIA ABSOLUTA Nos dois casos, poe3fa cte experiências interim·es, ci<' iso– lamento de vasio da vida· experiências trãgica.s, ou, a in~ da, experiência~ de amn , Ua; poesia traduzindo-se ein mi– tos, às vezes análoJoE (o bar– cu a aerlva às ilhas telfae!i, 9.3 mais das vezes em mitos diferentes, uns marir, llos ou– tros da face aluci:1Jtoria <ou da face velada l . ~nclusão da 8. ª pág.) , E. emas e cujo perfume sutil sr.e modo flutua nas pá– as do livro. "Eu deixo aroma até _nos il.eus espinhos" . O refrão da "A Fàce Llvi• ta" é justamente essa fase lívida. que divide a seleção ~m quatro partes e, cujo re– flexo pálido e tragico trans - f!'rece, assim, em todos os .,,,emas comQ uma imagem dlsta.nte de espelho. A exis– tência desses refrões assina– lam, tanto numa como nou– tra, um desejo de unificação, &nas que nada tem de femi• nino; e devido ao acaso. Pa– ra se mostrar melhor como lé possível ser diferente a poesia feminina, bastaria. to-– rimar dois poemas de Henri– ~ueta Lisboa e de Cecilia Mei– éreles sobre um mesmo tema - ·por exemplo, o do navio per• _ ldido no mar - para se ver · e.orno ele é tratado de modo diverso. \ · :' Para isolar-se o feminino il.a poesia seria melhor, en– tão, comparar-se as poesias ilnasculinas e fetnininas sobre um mesmó tema. O símbolo :.do mar pode ser encontrado !tanto em Schimidt quanto em !Bueno de Rivera ou ainda em Cecilla Meireles. Em Augus– ;,to Frederico Schimidt ele é ,o apelo à aventura mística; lem Bueno de Rivera é uma ;descida até o inconsciente. :,Poder-se-ia, pois, dizer que o ·homem ou é mais intelectual ou então se aprofunda mais. Em Cecília Meireles tudo é oceano, a terra, a vida, tudo l uma vaga que joga pra cá– ,pra lá, sem direção e sem ve– '\as, o poeta. O mar torna-se A nota da evasão e do incer• to ~ ' muitas vezes dafla por localizações vagas, como es– tas: entre flor e nuvem, entre água e estrela, entre a _poei– ra e Sirius, entre chão e céu, entre Deus e o mar. A atração pelo mistério é dos maiores encantos da poe– sia de Cecilía Meireles, e aquilo que a projeta para li• rismos transcendentes. . ·_Ela o diz: ''moro no ventre da' noite (Mulher adormeci– da), "andam arados longe em minha. alma". Tira riquezas inesgotáveis dà despovoada inconsistência, das despovoadas tardes. O ar da noite estã cheio de nascimen– tos e pétalas. Por isso, foge por dentro da noite. J;l.espira amanheceres, bebe horizonte. O mundo é mágico. Por isso pergunta: "Que faremos, er– rantes entre as invenções dos deuses?". O amor, em Cecília Meire– les, mergulha nesta mesma atmosfera de mistério e pro– jeta-se, - desprendidQ dos sen– tidos, inconcreto, para longes que já não são deste mundo. Atente-se nesie vago desejo sugestivamente sentido da poe• sia Romantismo (pág. 37) e transportado metafisicamente a uma esfera que embora ves– tida de colorações formais ex– tremamente belas tem afinal a pureza, a reàl.idade abstra– ta de um arquétipo: "Quem tivesse um -amor, nesta noite de lua, 1 para pen– sar um belo pensamento I e pousá-lo ile vento !". "Quem tivesse um amor longe, certo e · impossivel para se ver chorando,, e ro■- tar ~e _chorar, 1 e adormecer de lagrunas e luar !" "Quem tivesse um · amor, e entre o mar e as estrelas f partisse por puvens, dorm~n– te e acordado, 1 levUando ape– na!, pelo amor levado. .. " Quem tivesse um amor sem dúvida sem mácula, 1 se~ an– tes nem depois: verdade e alegria... Ah! quem tives– se... (Mas quem teve? quem teria?)". Tal abandono, esta incon• sistêncla mercê da força da fuga, sente-se .em toda a poe– sia desta autora. Este Roman– tismo não é excepção. "Falai ! meu mundo é feito de oútra vida. 1 Talvez nós não sejamos nós" (Interpre– tação). Hã um devir que se não esgota, as mais pequenas coisas por que se enternece jamais se cumprem . definiti– va!llente: "E o rio .corria, transportando o dia I menina Ondina I para o escondido mar. 1 Levava esquecidas tambéln nossas vidas, com os peixes, os-- seixos e a.s coisas divinas I que morrem Mm se acabar . . .:._' (Saudade) . A muralhá espessa da 'IlOr– te é devassada por lúcidos rasgões nos maravilhosos po– emas da ,elegia final, à me– mória de sua avó, composi• ção impressionante em que o concreto e o amável da vida, sentidos com a maior ternu• ra, andam paredes meias com as mais pungieontes intuições sobre o destino da exi;;;tência e do mundo. Em boa verdade, Cecilia inclinou-se sobre o rosto da morta, inclinou-se "absoluta, como um espelbo",- da mor– ta "modelada pela noite, 11e– las estrelas, 11elas minha3 mãos". Interroga: "onde fi– cou teu · outro corpo -?". nota íntima fi.mda: "até vir o mais poderoso I que esma– gue a r!lsa guardada em teu peito" . A apercepção pela intiml- . dade, que é sabedoria de poe- E' extraordinãria a evoca-- tas, tem em Cecilia Meireles ção e o transporte do no. 6 um dos mais altos expoentes. desta elegia: "Tudo cabe aqui o seu mergulho sobre a sen• dentro" - "e os fusos ainda . sibilidade é pleno de êxitos. vão enrolando o fio" - Nes- Extrem_amente subjetiva, a si , se fio vai o campo onde O própria se abandona, e den– vento saUou. 1 Vai O campo _ tro de si encontra a transfi– onde a noite deixou seu so• guração de tudo. Criou O seu no orvalhado. 1 Vai o sol com mundo (soube criá-lo) e acre– suas :vestimentas de ouro 1· dita na ri.queza dele; ·isso a cavalgando esse imenso ga.. faz desapegada e exteriormen– vião do céu. 1 Tudo cabe aqui te céptica, até em relação à dentro: 1 Teu corpo era um própria poesia . espelho pensante do univer- so". T·ambém extraordinário ..é.,. o número 8: "ouve o amplo e difuso rumor da cidade em que continuo I Tu que resi– des no Te~po, no Tempo unânime ?" "a aceitação das nuvens" - "E mais es– se perfume de eternidade, in• tocável e secreto, 1 que o gi – ro do universo não pertur– ba." São lances de inexcedivel beleza em que o sentimento atinge lucilações pensantes, a grande altitude. O estilo mental de Cecilla ganha ritmos que chegam a ser épicos na Cavalgada, poesia que é das mais belas e na qual o- curso fatal do tempo se desenvolve em re– giões astronómicas, numa ca– valgada cheia de alegoria: "Escuta o galope· certeiro dos dias I saltando as roxas bar– reiras da aurora." - "Se– meia, colhe, perde, canta" ... Mas ai mesmo não falta a ..As palavras ai estão, uma por uma: !· porém minha alma sabe mais". (Interpretação\ . "Porq~e abraçada nos bra– ços meus, 1 porque, obediente ·à minha solidão, 1 vivo cons– truindo a penas D e II s ... " ·Este intimismo fecundo, transcendental, de uma pes– soa insatisfeita, jamais nasci– da, aliado a um sentido ar– tistice apuradissimo, é poesia, e da melhor. Poesia que se afetiva em expressão verbal que é roupagem ajusta.d.a e transparente aos sentimentos que veste. Fica nestes apontamentos e impressões não só o testemu– nho do interesse q_ue me me– receu, mas também, implici– to, o voto para que mereça o maior interesse à cultura lusiada, uma coletfne.a de ))U• ra, imorredoira poesia, ·qual é o Mar absoluto e outros poe– mas, de Cecilia Meireles. LISBOA, - 1947 1 Voltando ao tema da p::iesia feminina, · !!erá preciso . _ligai· esse sentido da expencnc1a interior a um carater essen– cialmente feminino. ou. ao fato d e pertencer a certos grupos literários, a Minas ou ao Rio? Para terminar, desejo falar ie um livro de _versos de um _poeta masculino, Fernando de Azevedo Sales, "Roteiro Sen– timental das Lavras Diaman– tinas. Evocação de Lençóis''. São poemas de um extra-ver– tido no qual o l!entim·en to es– tá preso a objetos e quando se l!ga a imagens, estar; não são místicas, mas recorda– ções concretas de uma inian– cia que ainda guarda alguma cousa de colonial,. E se. como muit.o bem o diz Afnmio Pei– xoto, os versos desse poeta têm o reflexo de certas pe-– dras preciosas, é a. poeira de diamante que encontramos na terra de Lençóis. Poc'.er-se-ia dizer que esse apagamento ao real sej a um dos carncteristi– :ios do homem em oposição à mulher ? Evidentemente não., pois existe também uma poe• sia masculina interior. Trata– se ·pois, no oa~o de F. ~e Azevedo Salles, de uma trn • dição do nordeste, ao mesmo tempo lirica e naturalista. tra – iiclonalista e voltada pRra o real, a tradição de Gilberto l!'reyre, de José Lins d,o Rê.;o de Jorge AmadD. Dezembro de 1945. Os conhecedores da poesia léu das associações, pula das .4e Cecília Meireles obs.ervarão impressões visuais às da ló– k~m sua última coletânea o gica, do mar efetivo ao mar ! • esenvolvimento - cada vez ideal, conferem ao poema !.. ais forte das tendências ~á uma complexidade 11ingular, t manifestas nas precedentes; caracteri.stica de toda e. art-. .Mor Ab 1 so.uto humanas, ·'bichos, flores, nu- ente, descoberto há po 4 co, vens. seus versos não ostentam ne- Debalde a poetisa procura. nhum sinal do t~mpo, ou peh reagir a esse pendor à evasão menos não o re velam senão que llie é tão característico: por finissima.s· vibrações ner– os poemas com que responde vasas. Deseja-la-iamas m;:' 3 aos apelos do presente, seus próxima, menos alheil\ ? 5 '.')-- :• o culto da beleza imaterial, a de Cecilia Meireles. -- Paulo RONAI- ;;_preferência pela abstração, o A maior ou menor corres– ' desa.pêgo do ambiente real, a pondência entre as coisas e . dissimulação do lirismo, a sêr,es e o seu padrão meta– ;::Jpredominãncia de motivos mu- físico é o problema central :?sicais e pictóricos. dessa arte. Ser-se o que se é, que se evapora se vê a luz do jardim suspensa", ou as alte– rações imperc.eptíveis e conti– nuas da criatura: O poema que deu seu titu- exprimir seu teor ideal com a "Quando 0 lo ao volume oferece indica• maior intensidade, constitui tempo em sen · --.ções pr,eciosas para uma via- para ela a finafü1ade poética • · · (abraço 1-i'gem através ,do mundo da da existência . ú s objetivos quebra meu corpo e tem pena, ~etisa . O mar tangível e em que melhor se entrevê ~ qu3:nto. mais ~e despedaço,, r :verdadeiro está para o seu molde eterno tornam-se, por mais fico inteira e serena • t' "mar absoluto" como os oi:>- isso, os simbolos naturais de - , L;jetivo.s da realidade para as sua poesia: a flor que se des- - nao, porem, nos avatares. da : •"idéias" de - Platão. "Não é folha, o peixe servido à me- mulher que se retorce dian– i apenas ·este mar que reboa nas sa, o cadáver que um mq- }e do esp~lho. ~ara ?bedecer ! minhas vidraças, mas outro menta antes foi ser vivo e as tranSf~guraçoes impostas ! QUe &e parece com ele" . Este um momento depois começará . pel~s capnchos da moda., . 1,,,nar invisivel é como que a a desagregar-se. o molde re- E esta ·3: a.tmos~era poet1• t~essência do outro, do qual vela-se nas suas materializa• ca de Cec1lia Me_1reles: um ·' resume a natureza profunda. ções ap,enas em instantes ra- , universo em movrmen_to . in- i poetisa dispõe não apenas ros e fugazes, em relances; cessante, um subst1tmr-se e sentidos apurados para eis porque a durabilidade, "o coaj;inuo de formas e aparên– a.ptar-lhe as emanações, mag descanso, a estabilidade não cias. Para poder encarnar-se -•também de finíssimos instru• podem ser atributos da bele- a si mesmo, à sua "idéia'', ~mentas - as -imagens - para- za. Dev-e-se procurar ver os - paga-se inevitavelmente ess" !~exprimir aquela recôndita es- fenomenos . por entre o ln- preço de suces~_i,yas transfi– l'"sência. A .série de compa- cessante variar de suas for- gurações: eis porque nestes ;,_~cfflções em que procura apri- mas. Este, porém, para dar poemas, em que se sente co– : sionar o oceano infinito re- ensejo à encarnação momen- mo que um continuo rolar de ::.presenta outras tantas tenta- tãnea de uma idéia, deve de- tempa, quase não hã sauda– : ,tivas para chegar mais perto correr das leis da natureza, de: . . . . . . • . . • •• • . ; ; •... · do âmago de seu conceito, de como a perãa sucessiva das ' sua "idéia". As rápidas tran- cores da flor, processo esse "Não te aflijas com a pétala aiçõe.s em que a fantasia, ao durante o qual em cada çor (que voa, versos sobre a guerra e em ria desconheoer o segredo. l\ também é ser, deixa.r de ser geral os que "levam uma da- feição particular de sua ·ar te, ~11,ssim''. ta não atingem o patético dos a.o mesmo tempo . classica e Dai uma inquietação ináta, um.a impossibilidade de parar e de descansar . O movimen– to é tão ·ininterrupto que· ul– trapassa os limites d.a vida individual para a frente e para trás; a alma carrega consigo a lembrança de vidas já vividas e o pressentimento dte outras por viver, chegan• do muitas vezes a confundí• las. · cinco imateriais "Motivos da cosmica. rosa". Note-s.e por fim uma .int.e- Na forma dos poemas per- ressante coincidência na e.se ~- cebe-se um desenvolvimento lha dos simbolos deste volume cada vez mais nitido em di- e em "A rosa do povo" d.<! reção ao epigrama. As pala- · Carlos Drummond de Andra – vras enchem-se de sentidos de. Em ambos a rosa é mo – múltiplos, um verso conden• tiva central, , embora m i.n sa três, uma imagem, um poe- sentido ant/41.gonico: emblem ma in'teiro. As frases dão a de comunhão coro os homens impressão de terem nascido para o poeta, imagem de be– gravadas no bronze ou no · leza desinteressada para a mármore, de tão equilibradas poetisa. No entanto, apesar e definitivas. Com isso, a dessa div:ergencia' de signiii - A delimitação da vida pes- tentação da musicalidad.e pu- cações, uma e outra a ssociam soal eljtã em conexão intima ra ou a frequente predomi- a o símbolo o mesmo nome, o com esse sentimento de exi- nância pictorica também apa- .de um terceiro poeta já 1nor– lio, não menos permanentie gam ou, pelo menos, restrin- to, Mário de Andrade. E ' seu nos versos da poetisa: Exi- gero o lirismi,, e concorrem ouvido fino que ouve o crez.. lio começado antes do nas• para a cristalização de uma cimento da rosa do povo; é <:1 cimento, e que envolve uma poesia algo impessoal. ele que numa dedicatoria .;e separação bem marcada dos Por .mais perfeito que seja , ofer-ece a "surda e silencio.~a. conterrâneos e dos contempo- o manejo da lingua portugue,- e cega e bela e interminavel'" râneos e uma procura impe- sa nestes versos, de todos os rosa da poesiQ pura. E~ta riosa das coisas da natureza: seus contemporâneos é Ceei• coincidência marca níi.o so– as plantas, os pássaros, os lia Meir-ele& quem se mostra mente a presença de Mário ·de insetos. Repare-se que nos menos ligada a uma lingua, Andradte em toda a vcrà?.:lei– poemas d0 ciclo ·"os dias fe• uma terra ou uma literatu- ra poesia do Brasii :id: 0 rno, lizes" os motivos de conten- ra. . Por mais sutil ou pene- como também a br2·:1 c:d en– tam,ento provêm quase qlM trante que seja seu olhar, são do seu domínio espiri• exclusivamente de fontes não afeito a sondar o subconscl- tual.

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