Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949
.fnlb do iattfe DIRfTOR P~ULO MARANHÃO °FOLHA riôNOÍ\TÉ "\ . Pomtngo, 10 de abril · de 1949 ou A. POESIA Noticias recentes dizem que, ,em Londres, alcançaram êxi– to sensivel .. páginas musicais de conhecido compositor in– ·glês inspiradas em poemas da --Osmar PIMENTEL- J_'ART-E I SUPLEMEN , LITERATURA f brasileira Cecilia Meireles. · A informação não é de cau– sar espanto, apesar do fato de - contando com alguns dos nomes mais expressivos da e pum poesia. Convicção, de resto a que, no caso particu– lar do lirismo de Cecilia Mei– reles ele só chegará depois de estudar alguns dos seus as– pectos mais inconfundíveis se postos no quadro geral da poética realizada no Brasil. Um desses aspectos será o que se refere à forma dessa poesia, Por ser varia, e abran– ger praticamente a expl'essão de todos os ritmos líricos im• portantes, o angulo· formal pode vir a ser, para o critico d.e "Vaga música", um obje– tivo de análise que, com pe– rigo, se baste a si mesmo, E' que, entre nós, não estamos ainda bastante acostumados com artistas qué possuam um dominio completo do arteza– .nata das formas poéticas. campo limitado da ótica' fül– ca, Mas, em inumeros casos, essa ampliação · de perspecti– vas formais levou muitos a incidir em outras ingenuida– des: nas de autores optarem em definitivo por metros e ritmos padronizados segundo modelos de certa poesia fran– cesa contemporanea - das experiências do dadaísmo às liturgias remançosa~ de Pier– re Jean Jouve. numa fuga, aquele "processtt musical de repetição" q~ aqui, já s~ encontrou nos poe– mas - sob outros asµc étos, tão sugestivos de Augus to Frederico Schmidt .' P ro"c 'sa que em seu ensaio malicilh.J.• mente intitulado "A v ulga ri– , dade na literatura"; Aldoua H u x ley lamentou maúchat' grande parte dos poemas de Poe, E processo responsavel - mesmo sendo a respeito opos.– ta a opinião de poetas do ta– lento critico de Paul Valéry - pelo fato de, ao ver do en-' saista, ficar o poeta de "0 corvo" com sua carencia dei metros liricos diversos, colo– cado diante da ,poesia maior na mesma posição intelectual de um burguês vaidoso que diante de _pessoas de boru ·gosto osten~asse no qedo in– dicador meia duzia de aneis ostensivamente caros. OIUEHTAÇAO , DI . HAB LDO MARANHÃO COLABORADORES DE BELf:M: -;... Alonso Rocha, Benedito Nunes Bruno de Menezes, Cauby Cruz, Cécil Meira Clé~ Bernardo, Daniel Coelho de Sousa, F. Pawo' Men– des, Gariballl Brasil, Haroldo Maranhão, Levi Hall de Moura, Mario Couto, Mario Faustino, Max Martins. Nunes Pereira, Orlando Bitar, Otavlo Men• donça,· Paulo Plinlo Abreu, R. de Sousa Moura Ribamar de Mour , Rui Guilherme Barata, RuÍ Coutinho e Sultana Levy Rosemblatt. _ DO RIO: - Alvaro Ltns, Augusto Frederico Sch• mldt, Aurello Buarque de Holanda, Carlos Dru.m. mond de Andrade, Cassiano Ricàrdo, Cecilla Mei• reles, Cyro dos Anjos, Fernando Sabino, Fernando Ferreira de Loanda, Gilberto Freyre, José Llns do R~o, Jorre de Lima, Lêdo Ivo, Lucla Miguel Pe– reira, Maria da Saudade Cortesão, Marques Jtebelo, Ml}nuel Bandeira, Maria Julieta Drummond, Murl- : lo Mendes, Otto Maria Carpeaux, Paal• Rónal e Rachel de Qaeiroa. · DE 8, PAULO: - Domingos Carvalho da Sil– va, Edpr Cavalheiro, RQger Bastlde, Serrio Buar- 11ue de Holanda e Serr;io Mllllet. ~ · DE BELO HORIZONTE: - Alphonsus de Gul– maraens Filho e Bueno de Rivera, , DE CURITIBA: - Dalton Trevisan e Wllson Martins. DE PORTO ALEGRE: - Wilson Chagas, DE FORTALEZA: - Antonio Girão Bllrroso, Alaislo Medeiros, Braga Montenegro, Joio Climaoo Bezerra e José Stenio Lopes . -'VAGA MÚSICA" --Menoti dei PICCHIA-- Cecilia ME!lreles cada vez mais ~e afirma como uma das nossas maiores forças lí– ricas. "Vaga Música" é o desdobramento mais pleno de "Viagem", mais enriquecido de substancia poética. A hip– _per-sensibllidade desta artista; _Jtue parece retrair-se mal Jange as realidades · exterío– tes, vai cnando um profundo piundo subjetivo que dã uma deliciosã consciência poética ao lrracipnal. Nela I esse an– .,verso do "eu" não é procura– .do Intencionalmente nesse es– dorço quase caricato, por ser eminentemente cerebral, de ·certos artistas nossos :-'"E' que não basta para criar coisas nov.as, atravessar a fronteira do subco_nsciente e ativar, à luz do plano consciente, todo o material informe e recal– cado que se acumula ali. Par– te desse material fie~ sem sentido porque, de certa for– ma, é ininteliglvel e mórbido; parte porque não contem poe– sia, A questão toda · da poe– sia moderna consiste em. sa– ber aproveitar esse material. Foi a descoberta do "lado cie lã da personalidade" que enriqueceu a poesia moderna. Deu-lhe outra dimensão. O que 'tem faltado, porém, é medida no peso do material · fornecido pelo ,sub-conciente. Ela é quase sempre uma- de– formação quase onírica do real, extremado em simbolos, (iesviado para fórmul~ que às vezes se tornam sem ne– nhum transito no mundo ex– terior. Ninguém, talvez, me– lhor que-Modigliani, com sua perspectiva sentimental, soube ,dar um exemplo, no plano li– near, do justo ·aproveitamen– to desses valores. Quando o uso dessa instintiva deforma– ção fez-se "cliché", insistin– do-se no desenho convencio– nalmente deformado, dando a impressão de que toda ·a hu– manidade passou a sofrer de elefantiasis, deu-se prova de se ter perdido o sentido da ·medida ou melhor, a intuiti– -va espontaneidade gue enri– quecia o real com o· mistério ·do irreal. tal·-., - na estrutura do sea yjlrso, A própria forma geo– métrica de certas estrofes acu– sa a nobre ancestralidade. Ela é !ll0derna sem precisar devo– rar a carne lírica de Valer.v, de Claudel, o constante re– pasto poético de outros ar– tistas nossos que cheiram, às léguas, a requinte gaulês. Fi– ca a sua arte em território lusitano. Camões está presen– te com sua enxuta e substan– ciosa forma dentro dos ver– sos de CeciUa quando ele desce do · seu mundo lunar, e pisa com pés humanos a terra. Mas toda essa objeti– vidade poética dilue-se, re• trái-se pela reação constante do rico mundo interior da. 3ensibilissima ~rtista. E es– ses fragmentos objetivos, . va– mos dizer, materiais, _cercam– se de diluídas perspectivas de distancia, aumentando o yigor do seu recorte, mas fundindo o seu desenho na mágica pe– numbra desse horizonte es– petral, jamais nos ofertandQ assim um poema viscera\men– te realista, valendo pelo seu sentido claro, pelo desenho nitido da sua forma, enfim, pela sua objetividade. O . sur– realismo - um surrealismo explicavel pelo que conté·m de lirismo - predomína a poétl- · ca desta singular artista. Não é o surrealismo mal compre– endido, grossei.ro , polêmico de certos vates que ouviram can– tar o galo sem saber onde ... E' um valor lírico que subti– lizá e dã um sentido sempre transcend,ente à evoluçíi,o poé– tica, uma instintiva ausência da explicação destinada a dei– xar múltiplas ressonâncias n:\ alma de quem ouve essa "va– ga música" ... ••• Há uma nostalgia invencl– vel na alma de C!!cilia, uma. espécie de tonto maravilha– mento por' se encontrar num mundo formal . anguloso, en– solarado, cruamente realista e um ansiado desejo de regres– são ao seu neblinoso mundo intierior, feito de esgarçado3 devaneios. E' como a tristeza. ·de um exilado que não se conforma com a paisagem es- Cecilía levita, como um pu- piritual e fislca do seu exilio. ro espirito, nos seus transes Dai, como uma constante, a de inspiração, na linha. de- nota de desencanto, a triste– marcadora que limita o cons- za de · uma enervante sauda– eienté objetivo e o sensitiv:J de interior por outro 'Upo de mb-cousciente lírico, místico vida ou por outra essência de .? imaterial. E' essa insta.bili- criaturas. Seus desejos se ·clade entre os dois mundos despetalam, após uma anslo- que forma _a constância do sa busCQ, em torno de géli– mistérfo da sua poesia. dos ideais mortos. Toda a sua Sente-se que, a artista, pro:- poétlêa fica entre sua ânsia. fundamente nutrida de um a seu desalento, sua concep– :segu'r'o lastró clãssic!>, procu- cão de um ideal e o vasto do ira a · melhor ·'forma da nossa mesmo. A marca · de um ce– )f,}0esiá · no 'qtie ela teve 'de · ·tlclsmó amai:go &Sl!inala todo ;melhor construido. Não há seü inqui~to nomadismo poé– [dúvida que se percebe o vi:- tico. E' ela a "serena deses– tho gosto lusitano - Antonio pera.da ". Sua flêugma é fei– ·Nobre T João de Deus ? Quen ta p_or uma angústia crista- poesia do continente - per– ma,nece1·mos ainda, na arte como nas letras, desconheci– dos ou amavelmente ignorados do mundo. E' que, pelas li– ções do seu sentido lilico, a poesia de Oecilia Meireles talvez seja, dentre as poesias de brasileir os, a que , mais passa abandonar-se, sem a1ti– ficio, ao indefinido e ao uni– versal, própl'ios da música. Em geral, nossos poetas pa– recem possuir seus metros e seus ritmos preferidos, e em pequeno número. Reunindo uma variedade admiravel de metros líricos - dos ·metros das 1·edondilhas e romanceiros enlevados às for- ~mas extrémas da poesia pu– ra - o livro de Cecilia Mei– relf s representa, porisso, um tema peri~oso para certo vir– tuosismo da análise critica. Pois a música de seus ritmos não é aquela a que, com tan– ta inteligência, se referiu AI– dous Huxley em seu ensaio liiO ~ poesia de Edgar Poe. Foi, de resto, a própria Ce– cilia quem deu ao seu último livro o titulo revelador de !'Vagcl música". Um livro, co– mo era de esperar, que não ·t eve, por parte do nosso pen– samento pl'ofissionalizado, a atençã-0 que por certo mere– ceria se nossa critica literá– ria, em geral, se dispusesse a. ser um poucó menos a criti– ca de "seleções" que ainda é. Mas, mesmo assim, li.vro sobre cujo sentido poético . é con– veniente volver a memória, principalmente ago"ta, quando uma ondulante conspiração de mediocridade se · propõe a impôr aos leitores, como ver– dadeira, mais uma contrafa– ção da história da moderna poesia ·brasileira. passando as cadencias Ao lado das questões do artezanato e de expressão poética - as quais, para mui– tos, poderão ser se bem as– similadas, uteis sugestões de boa pedagogia lirica - há a.inda em "Vaga música" um :ios mais belos documenlários da pw·eza de pensamento 11- rico a que já atingiu a poesiA brasileira . Antigamente, di.spunhamos · previsíveis daqueles · metros mesmo de poetas especializa- quase invariaveis de tão in– dos em alexandrinos, e.m ae- sistentes, ela signifi ca bem cassilabos e 'até ,na propalada mais que "música já feita, dificuldade das quadrinh&S.., música em sél'ie". O lirismo O movimento literário mo- e as musicalidades dt! "Vaga derno, é verdade, ampliou esse música" transcendem, ~orno E' que essa poesia ao con• trario de muitas outras, re– pele o simplesmente acidental ou anedótico. Suas preocupa– ções atingem os temas fun– damentais do lirismo . ·eontrafação, aliás, que é possível supor constitua ma\s que um.a esquecível homena-– gem em letra d-e forma, a co– nhjecidos rimadores do mi- moso Parnaso nacional. Mu que irá com certeza contem– ·plar, com..-generosidade, toda uma casta de poetas menores que --c- ausentes' das graças d:t poesia legitima ~ vêm, de .muito tempo, explorando ma– nha.sarnente, de parceria com o modesto abecedario lírico de alguns editores, o nome da poesia moderna do Brasil Poe– ta--0u que assim se chamam– cuja habilidade manual nem sequer basta para disfarçar os textos de onde seus fingi– mentos de p0esia vieram, a– colchoados, é certo, pelas su– tilezas comuns à arte do "pastiche". Modernistas que a.inda aparecem paradoxal• mente, com sua voz de fal– sete lírico, sufocada, coitadi– nha, entre as cadencias am– plàs, mas literariamente gor– durosas da poética de Clau– del. Ou solertes mascarados do pensamento moderno que - serv.idos por uma inteli• gencia bastante plástica -dian-· te da técnica das imitações artísticas - servem poemas aos leitores como· se estives– sem recortando desenhos pa– ra fotos~montagens com um pauco de Paul Eluard ou Tris– tan Tzara, um "agonismo" d<!: que, viv9-, Unam~o certa– ménte não assumiria a res– ponsabilidade e até mesmo com algumas metáforas no– vas, dessas inventadas pelos industriais do cinema . Parece, assim, conveniente uma releitura de poemas co– mo os de "Vaga música" . Pois livros dessa grandeza proporcionam certo . consolo ao leitor, solicitado a formu– lar um juízo menos superfi– cial sobre a poesia brasilei– ra posterior a 1930, mas visi– velmente perturbado pela maior ou menor indigencia artística ·de muitos que no momento, par,ecem represen– tar - oficiosamente, ou por imposições compreensiveis d~ nossas "coteries" !iterarias - nossa melhor poesia. · Dessa releitura o espectador das letras nacionais sairá com a convicção menos inquietan– te de que nem tudo em nos– sa literatura significa apenM alarido de tropicais se mos_• trando uns arrivistas, uns novos-ricos . diante d.r grande ce·ciJia E'A Poesia ASCENDINO LEITE -- Quando lemos pela primei~ uma intima propriedade de ra vez Cecilla Meireles, o qu~ palavras, de esquemas e até :entimos jã não podemos des- de rimas, a embaladora, a ~rever exatamente. Que foram evanescente canção lírica das emoções supérflua.,;, isso não, formas absolutas dos tr-a 11 s– A.s imagens de Cecil!a Meire- ,portes musícais que teriam, les são de uma fluid.ez indes- por certo, um dia emanado critivel. Sugerem tantas con- da lira de Orfeu ou da frau– cordancias entre o imaterial e ta de Pan. o, que de verdade exist.e den- O que, em verdade, nos tro de nós, que lembram a ocorreu lendo pela primei-ra música, a inundar os campos v,ez Cecilia Meireles e o que, da nossa atenção, da. nossa · ago1·a sentimos diante destaii' mais re~ondita sensibtlidade . materializações ma g n ifLca;; Se sl quise1· um conceito destas concordancias verbais quase total da poesia de Ce- indelimitadamer,te liricas do cilia Meireles, do seu "pathos" "Mar Absoluto" _ para des– respirador e da sua ciência - crevê-lo era preciso que tam– porque nela bá, por igual, bém possuissemos, sobre . a uma forma urdida conciente- ignorancia do mistério póéti– ~ente - cremos que se acer- co e a ausencia d,e vocação ta.ria que ela é simplesmente para elãborar a poesia, as a música. Música vária e chaves do segtedo pelo qual fluldica como o sonho, músi- a poetisa aprisiona as suas ca rara feita ,em palavras, em imagens. abstrações, em miragens. A música tem uma função Esse reino é um território embalante e uma certa, volu- ideal, em que não podemos bilidade maravilhosa. Cecília penetrar por inteiro e colher, Meireles se apercebeu disso e como uma flor, o processo fez da mobilidade mustcal a das metamorfoses que ai .;;e essência dos seus versos. verificam, com uma frequén- Lembram-se da "Vaga Mú- eia e um ritmo surpreenden- sica" ? , - tes . Frequência e ritmo ma is Eis que não é só um titu- ou menos semelhantes aos de lo. E' toda uma ordenada uma experiência pela zona mensagem de beleza, embe- sub~corisclente de alguem que, bida nas riquezas ·melódicas desde a infancia viesse acu– que sobre exis!;,em ao roisté- mulando em si mesmo uma rio e no inefável da natureza riqueza particular de finissi– humana. Necessitamos de po- mas vibrações. Mas, por ser esia, necessitamos de lirismo, difícil precisar o cara.ter do mas necessitamos antes de que sentimos em contacto com tudo de música. E' preciso essa poesia sem idade e sem que ela nos embale, porq·ue limitações, onde o sentido do a inteligência é exigente nas clássico belo extrema oom a suas leis de va.iabilidade e no agitação cósmica, do mais império de sua perpétua flui- profundo ao mais esgarço dos dez. seus. movimentos, resta-nos o Acontece que Cecilla Mei- expediente de evocar as pró– reles nos trouxe, através da prias imagens da poetisa, não sua arte, a grac- das bar- toda!l, mas certos instantes em manias aparentemente esque- que eles correspondem, ao !a– cidas nas estradas do conhe- do lógico de nossa sensibili- . cimento estético. Ela sentiu da.de. multo bem e tornou claro me- No mais que a poesia de lhor do que ninguém que a Cecilia Meire1es representa música era a alma da poe- como fenômeno de· trahscri– sia. Viesse apenas vagamen- ções, de volubilidade e de in– te, surgisse sob formas me- cessante mudança de formas, lódicas ou em ritmos disper- vagando em profundidades sos, crescesse em ondas im- temporais ou investindo para o precisas ou em grandes mas- eberno infinito, deslocamo-nos sas de sons, o -essencial é que pelas suas incomparãveis idea– com ela se inundassem as lizações musicais e nos entre– fontes criadoras e' que a sen- gamos involuntariamente a sibilidade, · isto é, a humani- uma espécie de estado de dade de todos nós se dissol- graça, de dormencia vivente, , vesse nela para se purificar. de magia poética, Como num. No geral, Cecilla Meireles verso dela, que fala melhor atingie essa associação dese- do que as nossas humílimas jável e unif'ca no seu sonho e grosseiras palavras, a gente liz ada diante da evapora,,ão de poesia presumindo-se àe se deixa- embalar num ,.. " .. , constante solilóquio, de todas as formas de beleza, sem exigências de principio e fim, e de sublimldade por ela so- desprendida de terra e céu", nhadas e tornadas cinza ao t f tid . d ã E, todavia, ainda não diz poesia de Cecilla. Talvez es– oque ª ~o as suas m os· tudo do que de real se pode• se "Baile Vertical" coincida Por isso ela se move, "vi\'• jaP sonha com navios com rá inferir das dimep.sões do melhor com o mistério em que nu;ens, com coisas erra:ites e · mundo onde chegamos a pai- ela se transmuda, sob estra- té i t • rar, conduzidos, por essa ma- nha mobilidade, de uma rea- e re9;.9, move s e espe rB.1S, gia de beleza espiritua.1, eclé- lidade distinta pare uma ide_a– transformando em pura poe- ila essa caminhada. "Levai- tica e candente, a :fluir d.a Uzação absoluta: me para esses longes verdes, "Deslizamos tão fluidos, vagamente, cavalos do vento!" exclama neste chão verticai 1 · C~~ssi~a pela nitidez e pelo equiltbr10 de suas arquitet u– ras métricas; moderna porque inteligível à sensibilidade a– torm_entada destes tempos, a · poesia de Cecília Meireles também mergulha raizes nas: essencias do. simbolismo. Não evidentemente, de certo sim– bolismo a.rtificial e exterior de algumas artinhas poéticas Simbolismo esse qué, aoii olhos dos mais cautos, pare– cerã antes uma outra moda– lidade do parnasianismo: a cté um parnasianismo dos eslados liiicos do inconsciente. Ao contrário, o sim.bolismo de '"Vaga música" é àquele - de linhagem arti.stica ilu:;tre - em cuja pesquisa de solu– ções poéticas originais o le[– tor pode sentir a pulsação do humano, e do que tendo si– do sofrido com lucidez, foi' ?ensado na meia impessoali– dade das metáforas isentas . 1 Porlsso, a geografia lírica de Cecilia Meireles pertence tan– to ao quotidiano· quanto aos– territorios do sonho O mundo poético ·de "Vagi• música" é, assim, oro mundo onde também contam as vo– zes de uma videncia pnética que, · para moltos - os não iniciados na !inguagem musi– cal dos sonhos - poderá atti parecer fanllasmal, de tão des– gostosa ela se mostra em certas rotinas, com determi– nadas mediai;iais comuns a civilizações urbanas d.este sé– culo. Desgostosa, aliás, com coerencia, porque em Cecilll\ Meireles o dom poético nun– ca apareee sozinho. Vem sem– pre valorizado por uma acw– dade critica que se nutre de exigencias exatas em tudo quanto se relacione com a mais perfeita expressão dos estados de graça lirica. De modo que se for possi– vel de cumprimento o voto de Harry Levln no sentido de que •os críticos da ' verdadeira poesia organizem, · desde já, '.lma iconografia dos símbo– los literários (porque, , ao ver dele, um ,estudo dos modos de ser do, simbolismo poético poderia dar aos antropologis– tas subsídios sérios para a elaboração objetiva de um!\ teatia da migração das cultu– ras), suponho que os iconos liricos de "Vaga música", por , sua natureza a um tempo ·hu– mana e intemporal, serian1 capazes de inter-essar a aten– ção dos que viverem. a se ocu- · par do destino do espirito e d.o lirismo brasileiros. E' que eles são de uma limpidez, de uma fluidez ex– pressional que - só ele - 01 devem te.r ajustado, com pro– priedade, às pãginas do com– positor inglês, ~ que aludi. II isso apesar de que nessa ir• '. má - pela emoção e pela.: sensibilidade - dos melhores '. poetas portugueses contempo- !. râneos, à semelhança . de um 1 :!l'ernando Pessoa, uma lucidez 1 critica implacavel a esteja·; chamando constantemente às ansiosa de procurar novas Nossos braços nã_o lutam, na torrent4!1 coisas após ver .que seus "se- porque este é um baile sobrenatural. gredos se transformaram em Caem todos os nossos dons humanos nores dé espuma",., .:... palavras, pensa'mentos... - • • • Vão, mais depressa que nós, a,os derradeiros planos, . rea.lidades que não são prói ' prias do inefavel da música. E l'epetindo-lhe, em sua sere-· na desesperança, a adverten- "Vaga música" talvez seja onde, afinal, se deixa mesm!) o coração 1 mais alta voz poética deste Mas é tii.o grande a festa !. . . Há tanta gente Instante brasileiro. Nossos tamanha confusão, tal vertigem pe1o ar rnrreallstas precisam ler esse que ninguém mais pergunta onde .começ11 !l.vro, Elé ensina. e parece -impossivel termina~". _cia amarga de outro poeta: . ""Não dormes sobre os cl• preste.a. 4, Pois nii.o há sono do mun~_ 1o"•.
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