Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949
Domingo;; 28 de· março; de 1949 FOLHA DO NORTE . Esta. colabo1·ação, porém, foi rejeitada, com tantas palavras que se podem resumir nestas: "escrevo em linguagem técni– ca e precisa. A culpa não me cabe de não ser bem compre– endido ,por ''}ovenzinhos" CO•' TÉ·CNICA E ES TI LG tribuir dentro das minhas . pos:,ibiiidades para um aspec– to de .futuras ohras desse "imortal". Por que e~quecel' o público, qua,ndo a história está tão cheia de ex.emplos mó você". · · ,,.. mestre servir de intermediá– rio entre o aútor e· o leitor, NATALICIO NORBERTO Antes ae tudo e necessário removendo as barreiras de um 11ue se esclareça um maJ· en- · intelectualismo aristocrático ·1 tendido. Não afirmei, duran- Mestr~, ,no caso, sinônimo. de·.· te a nossa palestra, que foi critico. •Mas ·existe o critjco longa, estranhar o· significado de bom. gosto e (j.e mau ·ggs- . ga terminologia que ·o sr. X to, que, na . opinião de 'l'!'iS- . jisa em seus artigos; apenas · tão de Athayde, "é ·o. homem disse qúe a exagera.d~ pre- 11iie,"1lão tem gosto. Mas pen.:. ferência por . esses vocábulos, sa <rüe o tem". Valez:y acon– "chega a ponto ele criar uma selha que se oscile entre· o lamentavel obscuridade". Po- estilo e o sentido. Não .en– rém o sr. X acha que não, e contrei no sr. X esse equili• ao invés de procurar cónven- brio e ._da~ julgá-lo como um cer-me do seu método, exal- escritor de ~au gosto, o que tou-se, chegando à tolice de implica ein .· dizer que não é afirmar que escreve "técnica- bom critico de a:çte nem nun– mente'', se técnica não fosse ca o será . E defino-o, aquí, • arte de escrever bem, de tomando -de empréstimo as possuir um estilo-claro; a pon- palavras de Tristão .de Athay– to de, ao se julgar o escritor, de: "O mau critico é o que, exigir dele as três grandes acredita firmem~nté nos seus (Espec~al para a FOLHA DO ·NORTE• Apesar de limitado ser o espaço deste supl~ento, a ca– maradag-em do meu jovem amigo, e seu dirigente, escritor Haroldo Maranhão, · permitiu a.o autor desta cronica vir de público responder à falta de conh·ecimentos literários .de uin intelectual da terra - nesta referência ao estilo e à ane de escrever . Desejo àfirma.r, · entretànto, que não pre.tendo re– vidar a esse ''imortal~ as palavras de mofa -'que me dirigiu, por fazer parte desta geração dos "novissimos"; daí, porque, _atenden(\o a um principio de ética, co,nservarei o seu nome, em seg-redo, mais como uma .,sincera . colaboração à sua fu. · qualidades _segundo o_s france- padrões inflexiv,tls, nos se;1s ises: cJareza, clareza e cliue- dogmas intangiveis, na sua es- · tu•.: nh..,. :..*- 1 4'!Ctual do que · outra coisai ·· · -:-:- xxxxxxxx -:-:- doença. que ataca. os escrito- . rev~lou, desde os - primeiros res med{ocres ·que. se julgam anos de . colégio, mergulhou .gêni0s : O s". X, segundo -me- · nos •segi:,<>dos da • epistemol-0,. CANÇAO 'iEa. Se a técnica ·de escrever treiteza de espirito, que con– está no emprego de palavras sidera apenas como· rigorosa de uso técnico, repito aquí obediência· as regras supepio– a.o sr. X que então o ma- rei! de uma critica transcen– lhor livro do mundo seria um dental e perene, •comunicada manual ·de torneiro, ou um pela .Providência a certos elei- . guia prático de . guiar' auto-· tos . das musas". . A h d b móveis. Não pode haver téc- · _Qual .o resultado da. refle- . morte C egOU e ranCO nica ·quando não há estilo. E xao do sr. X _? Uma · ~mgua-. .nos artigos do sr. X o que se g~m. obscura . Foge às adver– not& · é um abuso de palavras t~n_cras ~os ~a~des mestres. de terminologià que- assom- E de qide:_ Nao- te preoeu– bra os incautos ·afasta os 'lei- pes senao. com a ·forma·; . de•· tores de bom 'gõstó torria a pois a emoção , virá natural– Idéia magra vestida 'num rou- m_ente . habitá-la". Paul Va– pão frouxo de mal traçado lery aconselha: . "pevemos a.– estilo. Não será antes um bandonar uma ideia, se outra problema de falta de estética nos surge com melhor for- Mas quem a-viu não· fui eu. Foi a moça do barranco Que mal a viu se escondeu, : i 11a 'distribuição e escolha do ma": ~al~r Pater, e~ "Ap-· Chºego'u de bran· ..co tr .~zendo· vocábulo ? Não quero chegar preciations- ·prega a clareza: gia, e dai porque concluo que . de escritores que escreveram · a lingliagem da metafísica com uma admiravel ·e· inve– grudou..se -nele, destruindo o javel clareza, dentro da téc– que d~ melhor· poderia sair · nica - •a verdadeira técnici1 de sua adolescencia. Disse- do bom estilo? nos mais que demonstrou lo- go cêdo um interesse de a.pai-· - "Nunca ·.tive muita paciên– xonado pelos livros; um be... eia com os escritores que exi– lo exemplo de dedicação ao gem 40 leitor um esforço pa– estudo; mas cafu-,· porém, no ra compi:eender o 'que ·querem pecado mortal do farisaismo e dizer· Basta - ir 'aos grandea nunca poderá dizer com a filósofos para vêr que é pos– absoluta humanidade de São siv,el . exprirrúr com -limpidez Tomás de Aquino: ."tudo aqui- as reflexões mais. sutis. Você lo- que escrevi não me pare- ·. i;>ode achar difícil o pensa– ce senão.um pouco de palha". mento .de Hume, e se você não Ao contrário. confessou-me tem nenhum· ·traquejo filos6- _que, . dominado por "grandes fico, · suas . induções sem dtí.– preocupações intelectuais e vida lhe escap:,,rão; ma.s nin- profissionais". está . "lendo guém de alguma educação po– êonstantemente autores na-· . -:lerá deixar de compreender cionais e .. estrangeiros, entu- exat'.lmente1 o .significado ele siasmado· no estudo dos tra- ~ada sentença"· · E' de So- iner1:1et Maugham, trecho ex- balhos sociológicos, linguísti- . traido de "The Summing Up", cos, etc•", e, por · isso; "não livro de comissões. Admira– me apercebo de estar usando vel este ·inglês, e veja-se eo– uina linguagem .f1'0tlX'a" • Níi,o mo ele julga esses escritores seria melhor, ·no caso, ,não .. · ·to 1 d "O lér' . ta:nta colsà ê culdár de- ..e esqmsi :pa avrea o: u- tra caúsa da obscuridade, é perceber a fragilidade do seu e~til_o, o snobismo ·das ex_p.res- que O .iescrits>r, ele .mesmo, · ponto de exigir, como Flau- " ... · diga ·o que ·tenlla a . di- · bert, harmonia 4.e··fra~e com ,zer, o que, tenha _:v:ont9.:de- de Um sôpro-d:e' te~ras ·s'·ant~-- , não está seguro do que quer sões? Oificil é convencer, mas di~ei" . . Alguns escritores que eu chego ·ainda a · ponto de não pensam· com clareza são acreditar que, se o sr. X .es- inclinados a • supôr que seus queoesse por uns dias os es~ ·. pensamentos· têm uma impor– tudos agitados no campo da tancia ·maior-ao que parecem, filosofià, da linguística, e E:e à.1 primeira vista . . Há outrl\ apalpasse, fizesse - uin exame · forma de obscuridad•e que se de consciência de suas possi- mascara de exclusividade bilidades, relesse os traballios ·ai:istocrática. o :autor embru– que me mostrou -,- daria pa~ lha o que quer dizer num ra encher volumes - como se mistério, a fim de •que' G lei– seutiria pe'qu,eno ! E'. possivel tor.. comum não.. penetre • o 11,té que imitasse ·os poetas_: assunto.· · Sua alma asseme– sempre rasgam as primeiras lha-se a um jardim secreto, ' ·1>r<>duções. · Depots .reiniciaria e para o eleito penetrar -nele, · um curso de composição, le~ .tornà.:..Se · necessário transpôr ria Machado de · Assis p:µ-a perigosos obstáculos. Mas ea~ ap11ender a arte d.e : escolher. sa ~pécie de· obscuridade ·.não as palavras,.. · os clássicos da é somente pretensiosa; é de língua francesa, 1,1m curso· de <11.lem tem pouca visão" . Montaigne e Renan, -longa Disse-me, porém, o sr. ·· X, convivência c o m Anatole que sua obra já foi julgac{a France que lhe, diria· sorrin- pelGS- grandes··mestres- da- ar– do: ''A · form& é o vaso . _de te de · escrever, no Brasil, e ouro que · preserva o pensa- · ·por is§<> mesmo que teve a mento e lhe 'leva .. a essência honra de ser eleito para uma ..as necessidades da respira-'- di~r,· ~o modo i::nais simples, cão"; eufonia ao menos, e se mais direto e mais ex&t?,, -sem . e sr.. X não percebe que nãa n~nhµma .superafetação, . Fa- . posstii essa virtude, nada pos.: gu~t ..explica .a arte de escre– so d:azer, senão advertir da ver,; · Começamos por· ter 11:ma . necessidade de uma conviven• idéia, abstr,!'ta, incolôr,- sim• . eia com os mestres do esti- pies operaçao de nosso espl– lo; ser-lhe-ia bastante provei• rito, ~ nós a traduzimos nu- to~. · ma - imag 7 m . para.- tomá-la · · . .. . çompreens1vel. · Para· nós, a · Há outro mal-entendido, es- imagerri não ·é uma sensação; te no campo da linguagem fi• é uma tradução",. . . ·losófica. Favorável à lingua- Poderá insistir como fez a gem impermeavel, só para ser escritor X que a sua lingua- De ~osas castas e rios Onde em clarqs ·arrepios Se·deita ·o soriho gem~ndó. Chegou de· verdes colinas De longinq~~s povoados 1 ·E tinha toda a pureza da pelos que .entendem .de gein é depurada. e _que não técnica, o ·sr; X é de opinião devo -mistúrar linguagem lité– que filosofia deve ser· dtvul- rária com linguagem filosófi– gada em um circulo de enten- oa·.. -E repetirá:· "Não es'crevl) didos. A outros leitores, "jo- diflciL Escrevo técnicamen– venzinhos com:o você", não; te'.'. Lamento à . diflculdad~ $ão "párias do intel,ecto". "pre- ' do sr. X de perceber o que é . Da risada das meninas guiçosos mentàis", condenados clareza e obs·curo. ·Admira- certamente à ignore.ncia..· Par- me, também, que um disci- . Da._s a' gu· · -as ·v1"rgens ·. das'plantas·.... · ~dário ·· de uma aristocracia pulo -de Bergsbn;-··como sé diz intelectualizada, "torre de o sr. · X, esteja a escrev-er . ·. Jl),_arfiip\~. ~s_<>la~a _da _co_l~tivi-::. sa.né !,ic~~\ ~ ,ne~-- ao ~jlnos, ,te- -Dos camp' o··s m·a•l-a"s·sombrados' ' ·• · -clade; há nes.sa prefereqcia ·nha captado .'- se é ·. que , lê • . . · , · nma confissão' de: pedantaria mesmo o filosofo ...,. a ·form11 . . · . · . . ·e snobismo; ficaria a :cultu~à <!,e expre~ãó do autor de "Le _ · . , -. · . · . . dentro de, ~ pequeno circu- Pr?bleme, de .l~ ' Survivance~~ ' Chegou de branco'!.De branco ., ·l-0, monopolizada pelos senho- Leia"-se o depoimento de . W1ll •, • res feudais do ·conhecimento Durant: "O que p,rimeiro lm– ,ihuroano, com ·a sua termino- 'préssion,a em Bergson é o es– ilo~ia: pesada semelhante · a tilo; brilhante, sem o fogo de ·De•branco como· Ó silêncio • • ~ 1 - ' portas . de .ferro dos çast 7 lgs arti{iclg__do ,P!l!'aã;o:iço . I!,iet~- :Como as núpeiãs de _branc~ "' da 1dade . antiga. Contra isso cheano - brilho .firme, contr– ~ ·a. criação de uma · no".a nuo, do homem ."que se ' pro. casta <J,e hom~ns - prov:a,m ,ps .. põe· man!;er,.. f;lS tradições . da. Como o p' n· ·... . . . . . di@~gos de ~la.tão;· escrito§ . p~osà • francesa.. Tem:~s . ·de · . . . · melfO SUSpll'.O · lli_9ma .lingua_gem cl_ara . pa~a nos conservar ~m !t~rdjl C!'!l· · . · · · · . entendimento de , todo· grego tra. O . seu poder ·imáginativo, ·•Da moça qu' ,e no_b_arranco d,e cültu'ra mediana; ó, Mestre tal se estivessemas diante du– çultivou a .-filosofia e não · a ma . vitrina de j6ias; einbora. guardou pam si, ~eu-a .à hu• reconhecendo com alegria que manidade. Sua maneira. de a sua "Evoluçii<> Criadora~ expre~são - o estilo - · o ·constitui - a primeira . grande Imortalizou • . Era dos ra,ros, obra p'rima , da -literatura. · fi• · diz Durant, que cultivava· i> losófica do nosso século. Só por vê-la se esçondeu: · A morte chegou de 'branco,: Mas quem a viu não fUi eu. . à posterldi!.de... . O artista só ,das v:agas de _"imortal" da. sobrevive t>elâ forma ..• · Dar ·Academia, "e eu já me dou forma para uma nova · idéia por satisfeito". Desconheço o é tudo na · arte;. e o único tt- que teriam dito sobre o es– po de. cri1ição dado ao ho- tilo de que falei. Mas existe mem". No caso de o disci~ uma diferença, bem profl!,11• pUlo pergúntar '- · "Mestre, .da, entre simpatia pessoal e não escrevo · tecnicamente ?" simpatia intelectual; entre .:... o bom . Anato1e acrescen- polidez de ·escritor feit.o e cri– ~ria em voz· baixa: · "Há um tica do mesmo escritor. · Ra– '-1eio de atrair que . está ao ro ·é - o ·exemplo ' de destruir- 11lcance ~té .dos mais bumil- . se a obra. de escritores, j:i tles - a : naturalidade".- "Não "velhos"· e ·;•imortais" como o compreendo, : não · compreen- sr. X, mesmo quando se lhe d-0 . " - balbucia o discipu- .notam êrros. Em ·geral o lo. Afasta~se Ariatole, o · dis- escritor· di . renome acolhe à cipulo resmunga que si:! tra- esses . sempre com eternli .ta de. fi-lo-so:-fi-a, r~pete a · promessa; diz-lhes· algumas palavra ·linguagem; surg,e-!he, palavras, aniri:ta-ós a continu– porém,. Mme. de Stael ,que o ar; nunca os desiludie. E' de ensina:' · "A : filosofia. e 11, ·elo- Zola a Hysmans, mediocre quêri.cia· estavam muitas ve- escritor: "O senhor· será in– zes reunidas em casá dos c o n testavelmente· um · · dOil atenienses·. Os sist.emas me,, . nossos romancistas de àma– tafísicos e políticos 'de -'' Pla.tífo nhá; mas; com f_ranqileza., seu éontribuiram menos para a · estilo deveria ser · mais "bon• sua glórla, do que a ·beleza: de · homme•! ·(simples ôu direto): sua linguagem e a nobreza do convém que. não .- abuse di,. · seu estilo". Não. diz a histó-· excessiva riqueza de seus re– ria se ·o .. di~cipulo , aprenderia cursos"'-. · Um simples elogio, alguma coisa, ou s,e, obstl- '\lma simples · referencia, nio é nado, repetiria: ."Me,stre, es- ' motivo de se dizer - - "eu Já crevó em: ·11nguagéin' técnfoà me ·dou · por satisfeito" - a e precisa: A culpa não ·é ·m1- não ser um caso de auto-au- , . nha de 11ão ser bem compre-. fíciencia,: doença, li!;erárià de 1 ' endido' por alguns''. cura difícil, de sintomas com- . · .·· . .. - , •· plicados, ·de penosás canse;;, saber; é também a· arte: ]!'oi · . . · . . quem primelto ;nt#nâi;iizou ,o · t:f_ã~. não . te,nho o ~ostt,\m~ oonhecimento, , tornou-o a_ces- . de andar citando: fv!:as _aqu.1 ai'\'el; ere.. o Me.,tre wi:' e}!:ce- se_tra~á :de ui:n, ca~ raJO, ,li.e . ·lencia. E · não é função do auto-suficiência mtelectual, ALPHONSUS DE GUIMARAENS lf 'U.HO - ~orno".'µÍe prolongâdo, a crô- q~ências, principalmente co– nica. foge às própoi,ções:- -da mo tive oportunidade- de- ob• .. crônica. E' 'dülcil convencer servar . n:esse sr. X; escritor ·11. escritores como ·o sr. . X; mec!.i~cre das letras· par&eii.• eis porque nada fiz senão con- ses. Eis uma grande noticia pa– /8. o mundo literário. As obràs de Àscenço Ferreira vão ser reeditadas. Desta vez em edi- . cão' de- lu:ico, tir&;gem limita– da; ilustrações de Cícero Dias, Lula Cs.rdoso· Aíves, Augusto Rodqgues e Hélio Feijó. Maú; ' ainda; acom_panharão os VO• lumes quatro discos com os poemas · de mai11 difici1- .leitu"'. r_a çavados pelo p.róprio poe– ;ta . . Manuel Bandeira escre- 1verá o p~·efácio. Lembremos a - propósito de po:eta Ascenço ,que conquistou o Brasil lite• rário e o Brasil popular, não só eo,;n seus versos mas tam– :ibém com as canções divul• gadas por Estéfana de Mace~ do . (quem não se recorda de "Toré ?") o qué ele próprio escreveu sobre sua infancia e que nos explica as fontes de sua inspiração; "Passavam os comboios rumo à estação da estrada de ferro (Palmares> e de · volta faziam pouso para e.s coi:n;pras, _lavar os cá.valos, dormiJ', matar o tempo ; Foi o rancho o grande e principal cenário do meu mundo fol– clórico, do meu contacto. com o povo: toadas• ·de engenhos, toadas do sertão. Côcos. Sa– pâteados !· Ponteias de .viola ! !fistória de · malassoinbrados, caçãdas, pescarias; viagens, narrações". · Na · convivência . cóm os troveiros, · os violeiros, os narradores, o mentfló com– prido; Ascensinhó, impregnou– se, do espírito da gente sim– ples, descobriu a sua. poesia, armazenou, graças à sua me– mória procii-giosa, -motivos poá– ticos de que se utiliz.ou em "Càtimbó" e "Cana Caiana.". Iiá dois anos, em ·São Paú– lo, Asçenço disse poema·s na Biblioteca Municipal. Foi um sucesso ãquel.: gigante senti- · mental a talar_ ca.ntando; a narrar a. velha história das casas grandes e das senzalas, da hwasão do progresso pelos sertões de Pernambuco, a re– viver as saud&des caboclas- e negras e as lendas mais • po– pulares. Muito mais· do que ·a de Catulo à poesia do As· .canço, ·. pela .sua simplicidade, pela. !l,USênci,a, de pel'.Q,Osticis- que, , o único. pintor que, a meu ver, .se situa· exatamente nó pento certo dá evolução. .Mas · voltemo.s a .Ascenco SÉRGIO.' MILLIET Ferreira. A' noticia de uma têm falhado sempre, como edição definitiva' de suas obra.i que desmantela.das pelo indi- enche-nos de júbilo. "Catim– viduallsmo dos poetas e artis- · bó" e '"Cana Caia.na';, são ra– tas. Se· quiséssemos mostrar ridades bibliogrãficas:· -l\lém em . um · esquema a evolução disso, a inova.cão dos discos é (Copyri(ht E; ~. 1., com e:xcluslvidade para a FOLHA DO . · .. NORTE; neste ES:tàdo). mo llterário,·.nos comove e convence dá força expressiva do .povo. Multo mais do · que a outra, também, é essa poe– sia . um · espelho fiel do sentir popular. Seu valor folclórico é enorme, embora· os ·temas e os versos de Ascenc<> tenham sido "digei'idos". e nã9 sejam simples reprodução "cientifi– ca", objetiva, imparcial do que o poeta: ouviu em criança-. Na realidade Ascenço 'é úm poeta e ~ão um sociólogo, muito menos um pesquisador. Mas é urn poeta que tem o sertão no sangue, que é repre– sentativo d8' sua coletividade no. que ele revela de rriais õri- ginal. · · Estranho que acerca do aparecimento de Ascenço .Fer– reira tenha um critico obser– .vado que a poesia popula.r o levaria à l'eação contra O ro- da expressão artistica de nos'- uma excelente idéia. Com · níantismo ! Ora · o níóvímento · sos dias · teríamos' que ,estabe- efeito boa· parte.·dos poemas ·modernista foi um movimen- Lecer duas curvas: uma. har- · "precisam" ser cantados: $ó~ to aoentJ.Iad.amente romântico z.noniosa relativa ao ftindo, que mente corri a melodia conser- e de · reação contra O parna- parte do romantismo e sobe, va/tl todo o· seu· encanto ingê– ·sianismo. A poesia, de- 22 a.té lenta, até um novo . clássicis- nuo. Ouvir· recitar "Toré" e os últimos tempos, foi uma inó mal · ep.trevisto. ainda; e ouví-lci cantado são coisas di– exteriorização do mais des- outra quebrada, que ora a-. ferentes. Lembro-me de que bragado ·ind,ividualismo, tanto companha a primeira (futu- Mário de Andrade lainetitav~ na forma,, anárquica e livre, rismo, expressionismo, etc) ora não terem sido gravados esses quanto no fundo, subjetivo. á ela_ se opõe inutilmente (cu- poemas, .e gravados pelo au– A exceção de pequenas ten- ·bismo, abstracionismo) . Ain- tor. E dizia: "essa poesia mor– _ tativas de volta ao equilíbrio, da agora estamos num desses re com Ascenço. E' pena... à disciplina, aos assuntos de momentos de ,reação clássica Pois não morrerá mais: Tal• da forma em antagonismo p'e- vez se torne anônima., ·divul• ordem geral, acis lugares co- rigoso com o romantismo de gada pelo rád~o; ao alcance . muns, toda a linha moderna é fundo. Dai a · complexidad·c de tçido o mundo. Será. a· romântica, o · que se compre- · da produção do nosso tempo grande consagração e sem dú•. fnd~ de, ·resto. facilmente; ten- e os paradoxos de .um Cícero vida o que o poeta pode de• do em ,,vista a. fase de tran- · Dias . abstracionista... e prt-· sej.ar mais ardentemente. En• sição em que vivemos. 1E . tão mitivo, · de um Picasso cubis- tretanto em virtude do pre• romârit1co é o movimento no ta . . . e expressionista. E, ao fácio de Bandeira · não seri seu conjunto, que essas · ten- lado desses extremados;·· · a dificil, em: qualquer mome~. ta.tivas, puramenti: tormais, magnífica _ç;oncillação- g,e :Sra- ~esvengar-se o anonimato,...,·
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