Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

POEMAS DE ,A,LPHONSUS DE GUIMARAENS FILH -~O~OLENTAS -C.AltlPÂNULA S DO · . . .Sonolentas campânulas velando . .. .. Silêncio de demônios aflitivos ... Grand~s caules de dor. . . Céus onde ando. . •. _ Estrias de luar. . . Pa_vor de esquivos. Torturados refúgios••. Sonolentas ·Pancadas de algum pêndulo cansado... Um sangue milenar coagulado– Sobre terras ·estéreis. sucirentas ...: Sonolentas campânulas ... A vida Se esvai. em convulsões intermitentes , 1 •• ; , ' . - Grandes olhos sem luz. na comovida - Espera. junto ao vale... as mãos dorm~ntes fransfigu:rando nuvens tran"sparéntes ..• E em treva e em fogo a carne consumida. AZU~, NUM ·SONETO.' Verificar o azul nem sempre é puro. Melhor será revê-lo entre as ramadas E os altos frutos de um pomar escuro - Azul de tênués bocas desoladas, Melhor será sonhá-lo em madrugadas; . Claro. inconstante az~ sempre imaturo. Azul de claridades sufocadas Latejando nas pedras - nascituro., , ' Não este qzul. mas outro e dolorido• Evanescente azul qu_e na orvalhada Ficou. pétala ingê11ua. torturada. Recupero-o. sem ver. e -ei-lo perdido, . . .. Azul de voz, de sombra envenenada. · . . . ..Que em nós se·esvai sem nunca ter vivido. A . . A · E·:S SE N C IA · DAS ESTJIELAS Flani_a nuvem suspiro ventania ts tudo. ao léu das nuvens e dos ventos: . . Respiração de rios sonolentos. Humilde sonho que mal dura um dia • 1 Deito:te à margem de uma noite fria, Tr(l11Sfigurada em gritos e lamentos: E-te acordo. desnuda. entre os rebentos. i Germinações e brotos de c;rgonia. Flama soprada pela tempestade, Pássar~ eni busca de um beiral sombrio•. Essência das estrelas. adorada 1 Se vou colher-te, fica-me a saudade; Se vou beijar-te (porque tenho frio) Jl~sta um sabor de noite inanimada~ AGORA Agora que estou sozinho, Agora que estou mais só Do que a tarde no caminho, Agora Que nada mais posso ter Que o so~o-de uma criança ·Num cgnípo que vai morrer. Ah ! deixem que eu cante. agora l D,eixem. agora. que eu me ria ! ~ -saia pelo planalto . Conduzindo 'cem C!:andeias. E me despenhe do alto Crispado de luas cheias. Deixem que eu me esqueça, agora J Sai~ procurando o dia - · · Como quem respira treva E contra a noite se atira. Deixem, agora, que eu me rial, Agora, sim, que de brusco .Tudo.mais morreu na sombra. Agora que as coisas choram E·nem mesmo rect:>nhecem Aquele que vai sozinho., Aquele _que vai sozinho. Agora! Como a tarde no caminho., -Por volta das cinco horas Cheguei cantando. Ninguém .• Quem saberá onde moras? - Nas noites e nas auroras A mesma calma. Ninguém ... Por entre m~qos e rios Irreais, uma lembrança •I, Era loura linda e louca • 1 1 Trcizia a lua na boca.– Navegava em sombra mansa Nos corredores sombrios•! Por volta dos cincó dias De desalento. na espera · .. ·- 1 .:ras tantas agonias; Gritei ao mJ1D,qo: onde está ? Respondeu-me a estranha hera Crescendo nas lajes frias 'E algum sino angustiado Em plena noite"ácordado No tédio de Sabará. Nunca mais pretendo vê-la Como a não vi nem verei.: Bebi a treva da estrela, :Vint~ reinos vomitei. E a loura a linda essa louca· Por volta dàs cinco horas Entregou-me sua boca Me fez dono das auroras .. ;

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0