Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

5 ·- Fti«m M ' ' , ~ .... - 1 .alhâ AR f [ 1 LITERATURA ), .... - ,-· ;..•· i • f ' · Belém-Pará · Domingo. 27 de fevereiro -de 1949 NUM. 113. · No.s poemas d~ Antonio San– \os Mor_ais, ó autor de "A Nu– ;vem de Fogo". (Rio de Janei– l'o, edições "Literatura", 1948) J)rocurariamos • inutilmente · o 11rofuso Msenal que se osten– ta em certa poesia mbderna. ·Sua imaginaçãó poética har– }'D-Ôniz.a::se •com sui. inspiração '.l)redommante, que é ·unitária. Não de uina unidade ex'terior .e deliberada, coino parêce ser, ~e certo modo, a . "Ode ao ,Crepúsculo" ·de L~<!ô Ivo, .que ~pe:iar. ·.de -«onter passagens das mais. admlraveis de nô.s- _ea atpal_ . ~i'.!, !IeJx!l.,.· não .iraro, a Jrnpressao de ter sido ~or vezes .. artificiosamente ,alon_gadà pa_ra artendei: .a um .pla_no prévi9, fican.d~. no .en– ;tanto, à mo~tra, ,algµP.la,s Jl)ar– ·critica Literária lida.de . Contudo é dificll evi– tar esta •palavra - origih.alt– dade - tantas vezes mal usa– da e mal ex&ltada, diante dos poemas que se r1)unie-m em "Visão de Paz", ôe Maria Isabel (Rio de Janeiro, Livra– ria ' Agir Editora, 1948) . Não , ' · conheço outros livros da au– tora, mas estes versos , mos– .tram uma realização madura · e plena; que não têm ·verda– deiramente similar iia de ciu- .· ·- , . • ,, .· ~ • .. . tros poeta~ : brasileirQS. • Qv, ---:- $er~io Buarque àe HOLANDA -•. quando muito, podêriam suge- . . ... ~ ~ ~ .,. rir alg:uma api:oxin)ação rbm · · (E~~i~i ;a;a-a FOLBA- DO NORTÊ). · ~ · - > ~ f>qtra voz femi,n.ina, e , do :1u- . , . . . , ·. · ~- •·· ·., • .. ·-.. ~'r. de · ''.Baladas p~ra- El Rti " Aptox-ima,.te do. mar, homem . E há, por ·fim, a noite vin-= • Se a. poesia de· "Nuvem de anterlones,. é q\le ~la se fl.lta ' · e 'de ~'Viagem". Nos· ilois éa. · (desespeFado ! da atrn,;és . do:S • séculos, e lr\:>go",•, gira, toda ela, em . muito mais, do ponto de··, vf.s- sos "amos ·encontrar, ·por ve– Ele te dará a sensação das que "caminha· até nós, dJe to;rno de um número reduzi- .. ta fo.rrnal, às ºrealizações ·.·de· · zes, ·.a · mesma·· ambição de (distancias que. se uniflcl\m · dentro de 'nós mesmos": do de .motivos centr~i.,, e 1 se alguns ··desses autores, .s~br-e- . fundi_! co~ _aJg!-1~ª~ das e~- Pela ·força ·de um ideal de so- A noite vem. . . mas uma .nu- .esses motivos alcànçam nela . tudo às . de um Carlos Druni:. · pr1;ssoes maJS fmas da sen 1- , ' · Oidarledade e amor·. (Yem _de fogo como U!_Ila trans.tigu-ração P~:: . mond de Andrade . . , . ~-lhdade moqerna, os_ velhos '8aS da (lostura. Aqui a uni– .dade nasce da própria singé"– ileza os :motivos q_üe impreg- 1.1am é fazem a faiáo de ser õá poesia..E esses motivos vão :f4lrmar, :por suá . ·vez,- como - lllma· constelação em:··volta de E JAm tema "único, o•, v·dno te- Olhá os ·gi·anmes navios desa-:. soai, . nao _se pQde dizer que . . Isso. não constitui . certa- _ntmo~- populárés.• E tao bem ,· ~_pareéenl:lo aié~. Surge com um esJ~lendor nt- cheguem· ,ª· .~eterminar . uma rn_ente, elogio, riu~it _ époêa•. su~ed1~a que pode, resul~r_ e_!Yl · . , (bro· d_e a.lvo,rada forma. propr!a, Ewbo~, Cb- qu'e ainda . não se-. desprien- . v~1 sos ,f;Omo e~tes,· de. - ~1sao .se púde!es · compreender a · E e no.eso cornção se abra- !i10 acima foi n~tado, n a.o 4a- deu da superstição herdada de Pa,z , ,on_de_um elle~e de · . (mensagem do. oceano (za ao seu calor. Ja .nesta obra nada. que lem- · gos0 simbollsj;a, _se ~ssoc1a or- Que une multas terras e ba- ,:nina , e transfigura a es- bre a.s manifestações mais do· ro}!IAntisn 1 o; que· erjge ·em· garucamente .ao con1unto! per- 1na dà inanidade da ·vida pre- 1enl.e . :· Nad~ podié compensar. aqui iessa inanidade, e o· tédio que germina das insistentes derro– . (nha todos os portos, · · rcuridão, recentes de nossa poesia, na mérito supremo,. para nm es- dendo o cunho convencJDnal: Que não .te~ _. fl;"O~~irjls .e é E os nossos olhos vêem atra- medida em que procurà des- c1·itor, sua completa a~tonó- · (sempre o mesmo, O grande (~es das triwa~ · fea;er.:se ·. das marcas deixa: mia,_ em face das influências ·Vei:el -~u ,rosto s~reno · ( r Tudo O · ,.. 1• .,_ d J • fl • · · •• .Pelo caminh ficar. · ,4as · é ·apenas uma ' fatalidade; · Serás um homem ma , . que- e.x1s.:., a em "" as pe a . m ueneia dé auto- exteriores, e· reclama a qúal- re ~~•ci·do I e ••t t t · - Bem haJ·as tu que adorm. ece!. ......, •• • nUII._ e , . .- · res per encen es a gera_i;_oes q_uer preç-e a- própl'.ia- o_rjgina- · --Mas -eu ou··de- camlnhar: .. »ão é uma sabedoria, Ela nos · ensina, ·quando muito, a · soli– dão esteril, onde Ó. vazio da .existênêia Cre ce como um aneurisma. ~ também · a certeza, õ dese- ;"jo, por ve;es a ei perança. da treva final, 'flUÍe há de ser, no entanto, começo die outra e _.,misteriosa solidão". · Nessa existência :tísica sem– J)re ameaçada e declin·ante, :resumo a continuação de ou– ;.tras . existências, hoje remo– i tas (como os guardados do · "Armário Antigo", a lembra- rem- · Tu estás distante no tempo, (mas um fio misterioso Liga inexoravelmente a tua (vida Aquelas reliquias, às vezes • , (destroços de outras vidQs); que pal,'~ de poesia, transitória à própriã; noite. muitos · é condição ,,converte-se em imagem,. da mort_e. . ·Essa filosofia, apare.ntemen– ite tão pessimista e negadora,,· JJão leva. cqntudo, ao cami– nho do desespero, pois o poe- 1:6 encontra um ." porto se!(uro em tudct quat1to, ajudando -a. abolir nossas vontades parti– ,çulnres, e por isso nossas am– lbicões e vaidade. nossa tor– tura e nosso tédio. é remérlio !J)ara as misérias terrenas. "Há e sono, aue "despersonaliza ()S . homens": {) sono que mata· o t.édio :F. confunde as anai:flncias, <;lnc parallza e desfaz ·Nossos gostos. e instintos, •Pensamentos e remorsos. . ;· H:'l também a Juta por · ul"fl :eomum anseio, oue .faz vibral' :o." "coraçõe.9 aflitos". mas f'Ul. i,cújo torvelinho renunoiamos ice algum modo a nós mes- 1nios e alcançamos, no melhor. !'caso. a· "alegria mecânica. das ; ;vitórias": \~-l'I não somos nós mesmos. 1 os que momem nos transmi- (tem ódios e dores 1 E · nós nos transfiguramos to- · (talmente. i:Somos herdeiros ·ae milhões . . (de mortos, f-De seus sentlmentQs, amores, : . · · (afliçõ~s, /Esperança, sonhos, desesperos. 1:SOmos fantasmas. · Os mortos · (nos conduzem l} 'a.ra os campos de guerra. !,.. : . . - .. . l , •:· Há além disso a visão do 0ooeG.JJ.O, q-ue suprindo o "a- ~ argor dos venenos sutis" e "consolo .das mlst.ificações'.', O,!l dá uma lirão de fraternl– ade, Lembrando aos homens arqculares. como .na balada éJPbre d Paul Fort. que bem odenam dar-se .as mão . t.lArrnbando a~ b:1rr<'ir"~ " as dífcrcri~as @1 /JS stl,a.ram: •--i . l ~AaLO PICASSO - ·:cara de Mulher.. - Oua~ro da exposição d .....; ......... p .... r-.;-;~ ... ;-;-..-;-~-;;,-... p--"";..,.,i~~l- contemporanea do Museu de Arte Moderna do Rio-de Jàneiro . · :: · -H4',,•4y,ç,~,u,ç-, . . '? ~~~>#>#->#-HH-•>#~ttU>##*.l-~#"'-11 .Tua lembrança comigo, Serihor, vestido de luar. Mas a lembral)ça de ~cl– Jia Meireles servirla ao me– nos para frisar o que enfim é inevitaver trisa.r nos versosc que se reunem ntt>Ste livro: a qualidatle bem- feminlna de su~ l'1spiJ•acão. E ocor re pen– . sar a propósi-1.0 n&s palavra! que há setenta anos escreveu Rosalia Castro, em sua sabo– rosa linguagem galega: "Nos (f!.S mu!heres) somos arpn_de soyo duas · cordas. a ima-xina– cion y'o sentimiento . .. ", Se ao mt"nos nos dias que correm. a harpa se fez mais comnle– .xa, ·comportando ~té o "duro trabalho da meditação", que para a grande lirica da pe– ninsula eJa incompatível com a condição de mulher. nem, s empre esse pensai;nentp ~on– segue repousar nos desertos _da abstração ppra. . No poe– mas <ou não .seria melhor no poema.?) de Visão · de Paz, mesmo onde o mundo que nos representa pareça ideal e obs– curo, liberto das circunstan– ci8-s de tempo e lugar; des– pojado de contornos terrenos; a verdade é que prevalece bie– . les uma fina · tessí turà de emocões. jamais uma ·, con ' – trucão da inteligencia. . Isso poderá exp_licar. talvez, a escassa novidade e a nouca audár.ia das - suas metáforas, oue isoladas do co.ntexto _po– de'lll deixar com frequência a, sensacão do já visto e do es– tereotino. De onde à diflcul– dad,e de se separarem. partes do poema e mesmo do livro inteira . A obra desta poeti ·a só podP lser devidamente a– prec:iada se .a tom11nnos em · seu conjunto. 1Sua linizuagi?m é a da emociio qu~. df'i;m-c – zando contorsões e artifil'io.~. , não pode ser impunemente fr:Hrmentada. Quando mui to se pode rlizer _de ce.l'ta~ · imagims_ r pej,ida~, que ajudam a provocar a ·at– rnosfer• peculi.a r . a .e tas poe– sias e riue r~spiram essa mes– ma atmosfera . Na última e m.aior narte do li vro - o nor.ma "Os inimiS<"OS" - uma lnslstente neiteração de for– mas O)JP sngei·em .nitidez, ·t.im– 'l)re metálico, translú cirlo bri– lho, casa-se admiravelmente com a e:xpressão constan te da vitória alcançada ~na própria solicitude. d·e altivez sf'rena na humildade, de renuncia asem derrota, de tudo, enfim, quanto se traduz, embora in– completamente, nestes poucos verso : Pcrtencem-1>e os pés e l~vá-Jos • .(t~ podes Para n~ caminhos õo gelo, (os solitãrio penhascos As terra de amarga coro– ( grafia. Mas -esta -tristeza é mlnhi. ! A (lâmpada· (Continua na 3a. pag.)

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