Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1949

Chegot.t pela noite jà tal'- wi, ralhava, mas dai a poueo de . u comboio tivera uma vinha aconchegar-lhe os co– avar1a e vinha atrasado. Niin- bertores e beijá-lo na • tes~ guem. o esperava na gare. ta ..• Ninguém l Só dois passageiros Reahment.e a janela se se apear,am. Na gare havia abriu. Uma cabeça es:vre"i– apenas o chefe, de boné bran• 1ou: · o, a lante1-na na mão e a gola - ":és tu, Jaime? 1:8 tu... ?" do sobretudo levantada. Fora1 - "Sou. Abre·! Ab1·e, Ju• no- la.rgo mal alumiado, não dite 1" CONTO MEIA JOÃO GASPAR SIMÕES Joie Gaspar Simêies (Fig-ueira ela Fo:s, Portvcal, 19t3} formoa-se em Direito em Coim)ra, GDde fundou eom alguu colegas a reYista "Triptieo" e, mais tarde, com José Regio e Branquinho da Fonseca, "Presença". O curso, muito inter– rompido, principiou em 1921 e só tenninou em 1932. Três anos mais, transferiu-se para Lisboa. ria a morte 7 Porque baveria ll vida? Não chorava de emo– çao, chorava de desespero. "Mãezinha ! Minha querida mãezinha!!" soluçava, sem levantar a cabeça. Era como se ainda . fosse pequeno. O ebá, debaixo do cobertor, es– perava. O pa1 andava ·a fe– char as portas e a experimen– tar lll! janelas. O relógio ba– tia os segUn.dos com o seu pêndulo doirado . Na cozinha a criada polia os metais do fogão. · sim: e\ea tinl deixado de ser os .rresmos. lera a mor-. "te levar o J)ai. Depois a irm~ havia um carro, uma carro- Não. Não era a mãe. Era ,:a: nada, ninguém. A chu- a Judite, a irmã mais velha .. va, o vento e a noite. Le- Mas a mãe estaria ao alto da vanJou. a gola do casaco, en- escada, de braços abertos para 1errou o chapéu na cabeça e ele. Atrás estaria o pai, com meteu-se a caminho. os óculos para -a testa, e os: Tinha, que andar. la para olhos claros na face se1·ena. o extremo da cidade. A rua A Maria virta depois com as eetava encharcada, e a ágla bonecas a arrastar pelo chão.• EECorria~e jã em bica dõ Mas a porta abriu-se. Uma ebapéu. A maleta de mão criada desconhecida estava no Romàneista, contista. e sobretudo, ensaist;.. e critico, é dos mais importantes· escritores portugueses de nossos dias. Tem colaborado em publicaçies IH'll.sileiru - O .Tornai, · "Vens gelado, filho. Judi~ te, vai pôr brasas na brasei• ra".... . A voz era a mesma. Mais cansada, mais b:iste. "Qi:.e andaste tu a fazei·, Jaime ? Na brincadeira..." --- Não. Vie– ra da escola direito para ca~ sa. O chã ~tava quente. As torradas úmidas de mantei– ga. E ela, com o croché en– t.re mãos, a vê-Io~comer. E o tempo- passara por ele, como uma tempestade . .~ll estava ainda na parede a me~ ma · paisagem bordada a ma.. Uz. Ali estava ainda o me&,, mo barômetro no seu ca ixf ... lho de madeira. As mãos que tinha bordado a paisagem jã não bordariam outra: estava~ trêmulas e inúteis. Os dedos que à noite vinham bater- no vidro .do barômetro comera-08 - a terra. Não mais se oi.:viriá naquela casa a voz do pai° di,• zendo com gravidade: - ."Vai chover ! Temo& bom tempo! Há tempesta• de!" batia-lhe nas pernas,: tocada patamar. pelo vento. Que noite ·! Que "Muito boa . noite, ·menino deserto I Havia seis anos que Jaime!" não vinha a casa. Andara pe- "Menino Jaime", pensou lo mt:ndo, pel'ldido, lutando ele. Continuava "menino" pa– pelo ·pão de cada dia. E agora, ra OB seus... Mas ao alto de naquela triste n-0ite de Natal, escada estava, de fato, Judi– regre§áva •por vinte e quatro lie·. Sim: a branca Judite. a bwas. Ton.tas coisas se ti- nervoea Judite, a magra Ju– nham passado- _entretanto! dite, com os seus lindos 01h08 Mortes, doenças, horrores ! E castanhos e a sua cara rosada ele longe, só no mundo, lu- de menina . tando. · - "Judite!! Judite ,,. Era triste voltar numa noi- - "Jaime I Jaime 1". te assim t Sobretudo era tris- Abraça1·am-se. Beijaram- - te chegar .e não ver ninguém. 1e. .Antiga.mente.. : Oh I antiga- "A mãe. Que é da mãe?" mente era outra ceisa f Vi- - "Est.á lá dentro, na sa- nha o pai, vinha a Maria, vi- la •• Entra..." nha a Judite, Era uma ale- Um ·soluço embargara a l'OZ gria desembarcar. Mesmo de Judite. que cho~. mesmo que o - "E o pai. .•,. mar bramisse ao longe come · Calou-se. ag-0ra, :mesmo que as ruas es- "Perdoa-me, Judite. Tlnha- 1ivessem tão desertas como me esquecido...- O nosso po• naquela noite, -abraçavam-se bre pai. .." jovialmente e pt:nham-se _a Os olhos dela brilhavam de caminho, como se fosse pri- lágrimas. Ah, sim, os olhos :ma vera. 1 dela ainda brilhavam, mas de Conhecia ~m aquela rua. lâ,."fimas, de lágrimas... E Pudera não conhecê-la ! Alí Jaime ·pôde ver que aqueles dan·çara em pequeno o "Pa- ·· olhos sé de lágrimas brilha– pagaio Loiro", numa roda de vam, que aqueles cabelos es– crianças vizinhas. Vive1·a na tavam cheios de tios brancos, casa amarela da esquina. Por· que aquela cara rosada de me~ aquela porta· encarnada saía nina estava retalhada de ru– de manhã para .a. escola, c'om gas, qt:e a magra Judite era– O!l dedos enregelados e uma a.gora uma mulherzinha pe– agonía lenta na alma. Ali es- sada, sem graça, sem f.rescu• tava o quiosque onde com- ra. Sentiu uns deq_os finos J)rava estalos chineses. Ali o apertar-lhe a garganta. Mas passeio em qi;e se .estatelara teve forças · para dizer: um dia da bicicleta. Parecia "Estás na mesma, Jc.dite'' ter sido ontem I Andara aos - ,"Ma.is velha. Jaime, mais tombos pélo mundo e chega- velha;.. E tu? Vens todo va a tempo de v-er tudo no molhado, filho.. Entra, entra. moomo sitio como se a vida depressa". não tiveEse -passado par ali... Jaime não estava molhado: No entanto havia uma estava bem. Tirou o sobretu– grande triste-za em tudo: uma do, poisou .a mala. tristeza ·só para ele talvez. "Entra ! A mãe está no ~n- Só para ele aquelas coi- do. no quarto da Maria.. ." aas famíliare$ e distantes Tinham mudado a casi ? coisas· familiares e distantes Não era ali,-na saleta, que ela pareciam ter um _olhar- me- estava? -No "quarto da Ma– lancólico, soturno. O vento · ria". Ainda era o "quarto da 1oprava da barra. Lá -vinha Maria". t> cheiro da maresia. A .ch-i.va "Aí, entra". cala. ôs ·candeeiros tinham Jaime entrou. Ao fundo, Revista do Brasil. · Pa.blicou: Elói ou Romance numa Cabeça, 1Jma Bistoria de Província, Pântano, Amicos Sinceros (romaneu); A Unha Quebrada (novela e. centos); TêmH, Novos Têmas, O Mistério tla Peesia, CademH .ie 1tm Raianeista (ensaios); Crítica - 1 ; Eça .ie Qaciri■ - o HOJMm e • Arlk&a, ete. O MllM aepiate é iranserito ele A tJnJiã Quebrada (Ediçiee Cua .. Liwo, u.11.., 1K1). - A. B. .te B. * mãe ? A dos cabelos negros &J)llrtados? Não. Uma velhi– nha, ·toda enrt:gada, com uma grande madeixa branca na testa: Jaime correu, para ela: "Mãe ! Querida mãe !" - "Meu filho". Abraçaram-se~ · Jaime caiu- he aos JJ,&i. Solul:ava, com a ea·beça no ombro daquela que– rida velhinha. . • Não a que• ria ver. Não a podia ver 1 ~ão queria ver mais nada 11este mundo. Por que havia de ~er assim ? Por que haVI!· tia o tempo!? Por que have- ----------------'--------·- POEMA. As paredes imóveis como pôrtô Guardam seu corpo de pedra cautelosa. Dm horizonte de nuvens o desposa, 1'fas ele, l~Jmo e tên•.:~. não desliza .. Numa dança continua as coisas .voam Ao tribunal marinho do receio . Voam meni~os do quarto· e ó vôo alh~i'l Deixa eJn seu peito um pássaro ofegante., - Junto. à aurora do cope .tira a face., Peixe esguio mergulha na garganta, ,, Inventa um oceano,de onde nascem Permanências de água tumultuosa, Quando o íntimo duelo nele instala Sua esfera, noturna aparição, O blue terrivel rastejá pela sala, Morde-lhe o coração de sangue e' ventô. JOSE" PAULO PAES em- volta um háli~o _pooado. entre a :tanela e a máquina De longe em longe, cruzava de costura, na velha cadeira com um vulto . embuçado. de bunho, estava ela . . Ela, a Guarda-chuvas' wssavam . e&- ~--------..:_----..--'---------------------- "Ninguém te foi esperar, fi– lho. Era muito tarde. A Ju– dite não podia i1" assim so• zinba .,ara a rua... E' · uma casa sem homens.,. l!'' "Uma casa_ sem homens",. pensou ele, sem levantar a ca– beça. Antigamente, quando faltava o chefe das familias, onde não havia maridos nem filhos, se dizia, com .uma pie– dade _orgulhosa na voz: "E' uma casa sem homens...• "Deves estar fraco, filho ... E' melhor ceares. Há lâ uma .torta para ti••.,. . Jaime soerguei::: a cabeça. A ~e limpava as 14grimas. Ju• dite sorria, - "Mas não ceamos t-Odos. • .. ? E' noite de Natal, mãej!" - "Jf oite de Na.Üll, filho !" Ficaram a olhar-se nos 4>lhos com uma compreensão l!Elln palavras. Mas Judite 4.1uis sacudir aquela tristeza~ "Claro que sim. Ceamos tq- '1-0.s .. ." ' Pôs-se a tirar o qi:.e estava em cima da me.s.a. · "Ceal!l,OS aqui mesmo, Jião achas, Jaime ?'! "Pois, sim. Está aqui mais quente". Jaime sentou-se em frente da mãe. Ela olhava-o todo, f!Om uma melancolia enterne– cida. . "Não te.i:ás Ofl · J)éa molha– dos?" · Talvez. Mas não trazia na– da para calçar. Não tinha importancia. Estava habitua• tio. Ela, porém., teimou~ - "Há all um.as pantufas de te~ pai. . . Não as chegou a calçar''. Judite. trouxe as pantufas. J)epois começou a pôr a :mesa. Eram as mesnias chávenas, aquel&s de florzinhas azuis. :Era o mesmo bule. Era a mesmà too.lha. As coisas não !inham mudado: seriam eter– namente as 7mesm11s. Eles, Jaime estava ainqa a_ ouvi~ essa voz. Uma coisa tão siMft ples. Dir-se-ia eterna. NUJtt ca pensara que aqllela voz ~ calaria para sempre. POJ' ~uê? Porque ha.vi~ de ser a~ sim ? Por que teriamos nM todos de morrer ? · - "Olha, Jaime, ainda O ~ tão quentes ... " Judite entrara com um açtl-1 fate cheio de tortas. · - "São da Marta. . . Le?Dt bras-te da Marta?" , Se se lembra~ !. . . Gord:r. · reboluda, com dois grand~ olhos pretos numa grande ta,, ce rubicunda. Cortou um• fatia de torta. De fato, aill4J da estava quente . Judite sen/11 tara-se diante . dele. A m19"' tolhida de reumatismo, • se mexia da sua cadeira. An tigamente, era ela quem fazi• tudo: ela punha a mesa, ela fritava. as filhós... - · - "Já não tenho gosto para nada, filho", dizia ela . Aquel~ fatia de torta quente era o passado que revinha para Jaime. Via tudo, estava ali diante dos seus olhos. Lá fora a chuva caia sem,,o pre. Ao longe o mar brami& O pêndulo doirado ia con~ tando os i:.eg'llndos. Na cozi• nha a c1·iada polia os metais do fogão . - ,:·Era tão alegre esta c&-o sa... . - "Que havemos de fazer, mãe ? Deus assim o quis ... "' - "Ainda bem que t>ieste, filho. Há tanto tempo sem te ver!" eorrerulo água. Desconhecidos, ~J A. S C I MEN' T O tudo desconhecido. · . Atravessot:1 o ·Jardim Públl- · · · · c-0. As árvores ·ramalhavam · · _,. . , ., DE VEN-.U·S Jaime queria fingir alei– g-ria. Era preciso esquecer,. _ Mas debalde. A volta daque• la mesa - sentavam-se todos,. Todos os anos vinha o NataL Todos os anos comiam as suas filhós... Dir-se-ia que· se– pre havia de ser assim, ,em,à pre. Ao dar da meia-noite, bebiam um cálice de Porto. O pai pedia a Deus qi.;e pará o ano ali estivessem todos ..• Lia-se nos olhos de cada um a. certeza de que haveiiam de es~r. Tinham confiança na vlda, A vida era uma ·coisa que não acabava mais. Não acabava mais... Ele partiu . para longe, o pai Um dia ~ finou a Maria desapa:receu · de repente. Restava aquilo: aqc.ela velhinha sem força11 0 aquela rapariga cheia de ·ca• ao vento. Grandes poças -de A1,,ua alastravam no chão. Os canteiros sem flores pareciam pie.ados; os arbustos, devasta– des, encolhiam-se na · sua :mi– eéria. Ser.ia do temporal? Se– ria do inverno? Outrora tudo •~llo era vic-oso e ·r.ecenden- ,RAJNER:MAlllA B.ll.KE Ttod"'ão de .PJ.ULO QUINTELA 1-e, Outrora... . . A esqui~a da Rua do Cir– co pareceu, conhecer· um vul– to qúe ãfrontava a chuva de eabeça descoberta. Era êle,. de tato. Mais velho? Sim:- mais velho, más• a mesma joviali– dade interior •DOS olhos. Era o Jordão. Continuaria sem 1alar 1 Hávia bem dez anos l}ue decidira emudecer. Cer– lo dia se · levantou sem fala. N'Unca mais falou. :Não hou– \le ninguém que o fize.c;se fa– lar. Emudecera de téuio; ~ii– &Jam. Chegava enfim. Lã estava a "suá" rua. Ali viviam os seus há mais de vinte anos; Tudo no mesmo sitio. ·1,. ca– sinha da esquina ainda tinha Nesta manhã .tepois da noite ailgustiado Passada áos gritos, tumultos e levantes, ....:. . Abriu-se todo o mar mais uma vêz e 9rito11 E quando o grito, devagar, de novo se fechou E caiu do dia pálido e. principio dos céus Para o abismo dos peixes•111udos - Pariu o mar. Do primeiro 101 brilhava o cabelo de esp11ina Do largo pudo~ deis onda,, a cuja orla · · A donzela 1e ergueu, 1,ranca, confusa e úmido. Assim como se agita uma nova folha ver!fe. · Se estende e desenrola_devagar, Abriu-se o corpo dela na- frescurc E no impoluto ven~ d.a manhã. · a empena . derrubada por um . Como luas surgiram seus joelhos . raio que ª fl.➔minara havia E me_rgulharam nas orlas _de nuvens das coxast · quinze anos. o pequenino J>rédio dos seus, com o seu te• A sombra esbelta das pernas .foi ceden~ lhado e:rn bico, era o mesmo Os pés abriram-se e resplandeceram também. Bateu à porta. Como ele conhecia bem aque- E os tornozelos vivos quais gargantG1 la aldraba! Dlr-s&-ia uma De home~s que bebem. - mão a :mi.ga aquela mão , de f e r r o toda molhada. As pancadas ressoaram lá iJentro co:m o mesmo som de sempre. Não. Ali a vida não tinha mudado. Era ele que voltava da acia noturna, cri– ança. . • A janela ia abrir-se. Uma cabeça ia espreitar. A mãe esperava-o · com o bule do chá debaixo de um cober– tor de papa, para não arrefe- - cer. Sim: era ela que lhe ia abrir a porta também agora. Já estava a ver aos seus lin– dos cabelos pretos al)ftrtados ao meio e aqueles olhos mei- No cálix da bacia estava o .ventre Com~ fruto novo em mão de menin-, •. Na taça estreita do umbigo estava_ A treva toda desta vida clara. · Abaixo, r~splandente, a onda breve , Ergui.a-se e corria constante para os lc>mbos. Onde de vez em quando palpitGYt!. Luminoso porém e inda sem sombra, · Como um bosque de bétulas em abril, Quente, vazio e patente estava o pudor.) ., . go_.s e ~aves._ Vinh!l ta rd e· · Agora a balan'"CJ vlvfl de seus ombros Jlll'ao I Nao, mae l Viera log9 • • • :r . Gireito para _ç.isa. Ela ralha- Em equ1hbrao s~re o corpo re,o~ · Q11e da baciá salta-.a .COMO fonte E hesitante caia pelos braços longC11_ Mais rápido ainda. na queda clieia ~os c1thelet _.,, Passava então devagarinho o rosto:; Dà sombra abreviada cio ioixa,-se . i Para um erguer-se clarO, horizontal E atrás dele fechava-se _abrupto o queixo.: Depois, o pescoço estendido como um jacto ·E como um pé de flor onde-a seiva sobe, Estendiam-se também 01 bra~os .como colo, De cisnes que vão buscando a praia.' Na madrugada escura deste corpo E11tra, então,·. comó brisa da manhã, o 1. 0 hausto, Mos mais tenros ramos do á"ore das veia, Levanta-se um sussurro, e o sangue ·co111~a A cachoar. nas 1ua1 profundezas. E este vento cresce: agora. lança-se •m 'Pleno hálito nestes peitos novos E enche-os e penetra-os E eles, como velas cheias de lonjura,. Leve a donzela impelem para a praia • ·'Assim a deusa aporta. Atrás dela, Qúé caminha célere pelas margens novas Levantam-se-, toda aquela manhã As flores e as ervas, quentes e confusat. Como dum abraço. E ela va.i e corre. · Mas ao meio-dià, na hora mais pésadb · Ergue-se o mar mais uma vez e arroj,a' Um delfim àquele mesmo lugar Morto. roxo e aberto .1 .:::= ':,..- ....... - . :-- -- - - ·-- - llelos brancos e ele um ho-. ln~m .sem esperança, desilu-. dido. .. - .· l - "Que· tens feHo, filho? Por onde tens andado ? Els• ~ves tiio pouco!" Jaime -queria contar. Dizer J)or onde andara. Falar de sua vida. Para ·quê? ó mun-, do e1·a o mesmo em toda • pa,rte. Em toda a parte se tr&.. · balhava, em toda a ·parte se : envelhecia, em toda a parte li morte vinha quando ningi.:é-JQ a es~rava••• _. · - E Porca , .,? Como têm: »a,ssado ?" -HMal, .Talme, muito mal• .' Aqui estamos as duas à espe,;, ra da nossa vez". · - "Por que não te càs.a9,, Judite?" · - ..E's doido, Jaime. Jà ' ninguém me quere •••" ! Judite dizia isto sem ressen.. timento, sem mágoa, com umai resignação natural. Se a vida era aqui.lo, nãó tinha mais· que aceitá-la. Mas os sewi olhos mortiços pareceram ani• mar-se. O .seu rosto cavado J)areceu rejuvenescer. ,,,_ "E -tu, Jaime, por que Jlão casas?" Jaime não sabia. Nunca ac-hara ninguém que o qui• l!lesse. E, depois, com uma vi• da tão errante ..• - "E quando tu dizias que ainda havias de ser mais ve– lho do que eu... Lembras-te, , Jaime?" .:._ "E' verdade, Judite. Se me .lembro .•." Eram pequenos. Estavam ambos diante do filtro . da sa– la de jantar. Ambos queriam beber primeiro. Mas ela dis– se: "Primeiro eu, que sou - ,mais velha !" Tirou-lhe o co– J)O das mãos. Então ·ele tor– nou-lhe, ameaçador: "Deixa estar... Quando eu fôr solda– do, hei de ser mais velho do que tu... " · (Continua na 2.ª pag.)_

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0