Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
'l 8 Págm:,, • l"OLHA DO NORTE Dom~g~. 23. de maio de•1948 \- - ,- --- --- ----------- ----:-:::-- -=:-:---:-.-:--::--- R10 - Talvez. .intimamente • e 1 »►-► .. ORJi<~i rAÇÃO (Jf. HAROLOO MARAt-tHA(.; • .. C!►EiNJ h t susjJiÍ:asse por algum enco11_ tro, algun1a comunicação: m '1,s tão · cautelóso,. o meu suspiro, . - - que eu mesma nao º' queria ~scutar. Acostume1~n1e. a crr-r . . '. . 'que a pais~gem .zn.e atraia: stt 1qui10 se · p,odia . chamar p.ai– _sa·gem - - aquele }joràor:nho hu'F.nano:. aqliel a aglomeração de veículos aqttele · an1ontoa. ·do dt> :Cuj:;os de cim,n to ... Pois só muito 1-onge o céu rori,sen4s. _ afina\, em ter nu– '(ens cólQrações, e, ·e.m certas hDras de sel ou 'd'.'! lua. sabia- ee que o rio c.ontínua-va 110 seu p,;;rpétuo e:x• rcicio• rít1ni. C() ... Ali ! mn ito doce e)-a ficai: a j,anela, tã-0 alto sobre a 'cida– de, 001no eaqaecida. desneces– sári:l. Jil>~rtada . Pens1va na vastid5o do mundo. Não· nh1- 00Li\.lSO!t.~.UURF.:S :•- Alvar·o t,lns. "'ºns" Ko ,n., l\hneida · f' isel1c1 Atphvnsus Je l';ni mar.aeru- Fi • í lln /iugustl• Frellerrc 0 ·S<lhmld~ A ·ure'rift ttuarQUl' d• ~, ,,:.nila Çencdito -.;unes. ttruno 1h ~lt:.?:l'>-<'ÍI' . ~'arte, ·, t.· ••IJH?Í<rll(I dr An-drad-e ('aut>:v <Yruz. (, ecilf, Me,relet gué-rr. m e , "ncon !rar:a. C(ln10 um e;dlio voJun t ár 'o. ,<\ Há,. ·cru~m p: ocitraria per n1i :11? a Qu~m? i A's-·vezes poi,. rrã,:-- ?:r a •'fl,o d,oc1 fJ-çar à j a n~J ã . Mai; di'>– tra ía. Ali c.stão os r apa4es do e·~critórto. curvados sobre as suas nran!'heta.s O dia in tei– ro n1an<'jam Psquadr os . enr c_ l.im e dese11rdlam grossos pa– p~is. Vejo-os fios pés à ca.b:-r,a . Cla r(l~. }ouros c0:1n suas ca ,ni- '"~il'a Cltc,, t~ert\at!lu, l ;vr,, oos AnJo:n, ( ·ado> , t! uardo t)anle'l C1>êlho d• ::,ousa t -~~ulo Me.n1te~ · :aril'i<,ldt Brasil llaroJd., Marannáo J'.oã, Conde , ""} f làN de l\'l o t1ra Lí>do Ivo Jost Lln, ..rto 'Re~u '''ª" ."teo ites ~l arqae~ Rcll'elcr Mari 11 f 'aul!tinll i\ta· t\~r.d c·!t~ ~,a.:,1 ~•a rUns Marta .Jur.!2·1a :1,fudlt · ••• · ites. Orlnnrt q U-itar ( H.to 1\'!-a r Ja ' {'arp<'lHI"<. C!a11tcJ " , • ;n ,A. ll rt'n. R ite ~0•1\lll Jl.1oiira, ltog'Pr Basttde. Ili Ja : ;.u· d~ l\'lnnrn. R\J,'<' {"n11tirrno. R·o:v (h1llh-crmt Ba 'l ia '-Pr(ri, '\'f i,) llPI ~ult.<> n:> 1,,.,,n1 • W i l <:n n '\-1,i -1,in~ 1 NOTAS LITER.LL \.RIAS "O DESTINO V! A J A l>:B ONJBUS " - Outra novel!! de un1 d.os n1elh0Tes escritores a:rneri,:'.l'nos gne vem de .ser trad" zi~a: " O Dr,;+i»o Viaja de ó nJ>,•,1:-". d t> .T:ih n Stl.'ín– beck. ti: a h~stó:·ia do que acontece e· dos Probler,,a,s cnre preóc11pi<n1 nove l)a~sageiros nn.m vi:igem cie f\r!fuu.s. em P1ena n" 1 maver:t. J1<>1ós caY}1- p orf e ~i -l::ide-;; (l :, Califórni a. A. n;;Jr.r::t;" iva s-e i ni:~i~ ao }l.ma ... nhe,...r.r e tem o i;~• l desfec"'i () f.l,(l ('", Í!' da Dflí te. D e$S;t$ do– ze<> \. orai; e rtoi; í:i. t eis rie.5en-, r ol " -ios dnra-ntP e«r-e p<:naco de • ~1"1 TlO. eY~raíu .Jorn <::t ,e.in – ·bf"1' n,n '¼ t.JP s11~s rn.f'lfi.Ol'M J'l()·-~le ~ "0 De.qfno Via-ia d ~ Õ » .;r ,1 ~,:. r oi fT~ '" 1 H" irtn P-0.:" G<'~,,· ·l n EJ, r 'l½a,'!t S iJ-,t ni; ... ,., a cor,ter ilnent.os. S' l!'l , agi 'l,i~ vida de todos o; ctia~. "Go– pher Pralrie" - obse~va o " A t ! anl'jc l\1on!ly" - e tod·• c,i,i,;i ,.,eijnb a da Amé:'lca do Norte. e a sua " Maín Sircet" é u:m prolonz-a rnen to dcs r11as 01·inc-i1ai1, de tofia a p a_r!e . Coni::iderado o p rimeiro ro– .. .. an"'e ÕP ~nce:c:.~-, de Si11r.J~ir Le,\'Í.S. " R\la Princ1p:1.l " f oi escri'.o na l'nesma técr.ic, J cr•1e tel'n r'atacteri-za-do as n.istó"i~s d.o .-êJeh:·e n ove1i.'>.!'a amer icl! – no: i r onía. c:·ít i,a i<oci;il-, ;i vcr– ,l;icl ei.ra vi~., dos Est,ilê O!i, lJn i– õos servhirl''l de cenário · pà'.ra un, Pllnbarl o de f)PT$ 0 TI!l~e "lS " "!l ri•r atur~ Jn1e".l 1 e típi ca!l., do S!>'f r 1í~. ~ trarlü,.i'io é tl:> .r,:. vf'~-,J .T;,r;,to para z " Crilc• cão l-.Jobel" . ~,.s· -Hió broncas Devem ter ol~ol"· Ji n,ni(los como por·cel a– n .l, P r"lnr'l>etas, rnesas,_harrc:ós. t nqo cfaro turfo . louro. Ni.i,o r "tec:e . unia r-àla. mas o inte– •ior de uma ft rvore Conve,.sa r. cnnuma ·Entenc'l'n1-~c. de– ce-rl!o_. por sinais. poT algarrs- mos, _pel'l nostcão dos com– l>"S§ºS7 En tenciem-sc? A certa ·nor<1. c'orre1h as vfdracas. De– s~u:i.,e7~m Qut>m sã.o? Qu,e fi• zeri'n'l? Co.,nstr oem casas? pon– !F s'! ·na vios? Os Ja l'.)is t'.'sper.a rll por , ~les a_tP. o dia ~.e~uiµ t ~. como t>S({Uelet os dl" uá.;saros, cr,m esqu-emas de silêncio nos bi~"s r-ontntlos. Do outro Ja<;lf.>, vejo a sal .. de esper;, do e;;:wsttltório. Obliquamen te A ~fermeira 1 ~ , • entra e sai. Tem um3. pequ~- na cojfa. engomada. Desde a vcne.zia·na, por causa do s.oL 4v1sto apenas ·os sapatos dos clientes. Os sapatos. lado a lado. Entendem-se? Oh. nãó! Parecem tristes. Mas com-0 podem ser tristes? I1nagi1,1a– çãó fui11ha. Avisto as mãos no regaço, esp erando. Falarão umas com as outl·a.s? Nada. .. - , 'll"l- s~~U.'f" F.!4 roJt~ TTrf;.i"f~ - F.m '•U ◄-ta Pri1}c! - ,, l\ F?tc P"rti tda' ' é O tH.n.- _Espeif'ai;i:'L ql)rt~nas_ ,lf>r,~n~as, - •v-mró's. metàrs. Raüto~i-a'f1~·s. - ps.J ra·~~.._.Jn ~t :'ect ·~, . i 1 oh-1 an– ce -'l•n S1n clan· L~•,n!( =1gora ve•·º' ~o Ol!TA o i'ln'»'1Q lf i.Qm-a. t,~q .. 'J,T'(ft ,, r pt r a t ('} rt~ rn'l nrtn·. , c i r,... tJ ~ ll C"(Q!'."l-\P r ·1? t ~i r -i e. 1lr"1•:. il)1;r~1~- ,;,.;., ~i r1"' ,..,.~ (l o. i ~~rro– {.fo;; E ' ' - ..t;>,!: 1Tn i?l"«. C0 ':;1 . º" se'\1$ tt,"'""~ 'M '-1-~a'!'°'-•~ ~"'"e: To tl(I n ov~ 1iv-'l '1P. 11()C""l'~s " ~ · - · .,. t· Que sabemos nós de nós d e C?.$$i :1ll<) Flcard-0 . ,-,s a. "CJ;.<lo rro..,.:i.m ,,.,10-- n"ra -t,Teve. ~:~t~is1.s ;ê~~~:1ªp:nº!s. po,· J\ 'lta i« , """ ~nt"' ,l)Ul":l «f."'1~ n 9 c.ta na!:'l'"'"' "l'hn ilia flf'- E ali a bela moça· que ~ re– nnis dll "'·t-"" foi j,·-•""''l'll·- pente ~e , desp,e, sem se l'e;m– ,.,_ r&J1F' (l'l-:i!'"-· '"" do.. r•e- brar da janela aberta. Oh, j •-.-~('."' 1 ., ..,,,.,.. - ~...,.• ,,; f'-~ l!' --, . a descúiàana . P.!u:ece Urna oes- t:i de 1·osas. com tantas ren - C ilRJ.,0S DRUM- INTEBPRF.?.~CÃO ·DE 14.0ND DE A !JDR.A.DE --- .... -I,ar-ga "onà,~ cabe a poeira, o al!lor e a I ,ight", é preci,o. E no "Óoniresso internaciopa! de Poe.s,ia" observ0-,;e· a pal;ivra inter nacional, e- todo o título, ' tão sintomático <ia ur.i,·iH·sa!i_zaçâe do' poeta q'l;fa!, ver1Jcn-:;nclo antr s a :11 sà do versej:.dor de fracj'1e ,.H)Ya a Eur úpa. .assuinia de ,:1.'!.t·to :n o– õo urr.11' íácita atituJ) "1i n<l'.l- 1 : Ji r tn" , en1bora .-J~ ,s,tlutar' naciona1ismo, con10 a gor a. a cie unive1·sal isn10 sa lutar, .a rnbçis com raízes•sinceras, popul ares ta procur a '1e caminhos de que1n a irtd;i 1}ÍÍ0 se ac11ou a si tne~i;no, e tacte-m. · e e:~pe– rlnrentn um naco de ca da ceisa. • <\ reveiação d.o verda– dejro c~roi nhç d,ar-s.c-á com ~ integração do poet11 na ci– viliµç ão ur}:)an~. Com a sua tdenti!ir'lção com a vida co– ,letivá. Com a· sua descôberta dos ·oui,.rôs através a aventw.:a de c.tdem part~cular. 'SI.e paJt1a1·á a séntir; a pensar ·e a :fa,ar cole'tivamente. sem por isso abdicar da sua condição de indiv íduo.· De esp ectador ~Qrndé-qte o,a eutl'iêdia huma– na, ' v~rou petsonagem - personagem amar ga do dra– rila hu.tnano. Sób êsse · aspecto po_d•é:ría dizer.,se que os dois p-P:i1t1eiros livi'os - ALGUM.A POESIA e BREJO DAS AI.,– ~ - fo:ram -escritos nzy' :rriáior parte p elo í.tabira.µ"o ~nquant o a _partir de SJ!lN– TIMENTe- DO MUNDO pTe– domina o :fuh.cionário ) públi– co res iden.te na ~ (\ade. As i,uas copcep<;ões :poq,ucas ga– nham Tr)a'.ii;. ple~9e no meio â:ct e-0ro de espera-ytas e ansei– os l!ole t.iv( ')s, im.»rimem à sua poesia un, si_gníficado mais .àutêntieamentt1 social e u ni– versal. A Sitíl ctlti:ca Humin-a– se pela i.").fet1~0 e.sclarecida t'íe q11etn com preendeu o mecanrr<r,no da vi.da e o cara– ter fu17'61·ico õa sua época, e sabe ~ , ue àspixa. q 9. .1.ie de– ve l.l!>f ' •·ar. Fe1·e.-o ó senti– :men!o do rnu.néf9: 'l'ej)..,,o ~pe,1as dow; m.ã~ e o q•r>i:mení:o ,10. mundo. per 1r.:-o temi>o. clo o se11tin1ento do ten1p o histór ico; ' Nã.o i;~t t:í o ean.to :r c'le uma J)llllhq d e 11ma, Jiistória,. não diréi oll misplros ao Q.llo1- tecer, !' paisagem vista da Janch.. P eoir a :::-os poetns aue -,é misturnssef\1 ao :t,um1ü~o. co– p aiano: .agor a poae n1a1S.,:. 1?e– de ati t1,1E1e . d i{il!\,te do ..<ro ,'dJa;– n'o. N"ão b~s ta int egrar-se. E precis9 .defj r.i.ir -se. ,c? tnpreen– 'del·, inte rpr<!tar poet.10?.:0'l f•nte. Diante d'!,J c~da poeta ele co– loca .o gr ave probletQa da op,– çãÔ- a opção perante o~ _gr~-. ves pr oblem&s el a human1oad.e. Qu.e distância do ten;ipo em gue -os . dojs cinem;1s do ' bairro - "A.mbos com a melhor ar– tista e a bilheteira mais bela" _:_ ér.iavam o problen1a da op!)'i:tO par a os suburbanos. Ou do t empo em que ''.havia j ar– di ns, havia manhãs". • f;:ste é o tem110 de 1tartido, tenllpO de 1lom2ns pariidõs, dirá ~m A ROSÁ J?O POVO. Que. o poeta' se e:inpen'he, que considere o ta,manho do -pre– sent e. a wgéncia do presen– te. Não adianta fugir, descon– versar, suicjdar-se. Chegou nro tempo .em. que não adia;n'ta morrer. Jhegou um tempo em que a vida ~ uma. ordem. Depressa "poetas de caml– s~ll'o, cheg~u vó~a; h ora": de– pr essa "p oetas j amais acadê– rlli c:os. último ouro do BrasU". cnegou vossa hora. 'A ta tefa é imensa. ' É .prelli® casar João. é pr,eeiso wportar António é preew-o odiar Melqmàtles é p.,eclso ml>~ ituir · ni!s todQs. i precll!o. ~ wecisó "t:om– ~en4er o OJ!el'~ º"i b/ -à r11a - e~clama: • F1•u,•i.•uriamente ·não c:intare- ' n1.os o an1or., que se ll'efng'iou ,nais em bai– xo tlos sublerrâ.neos. Cantaremos ,o medo, g1,e es– teriliza, os ,.abraços, Ó- -n't~d~· 1l~s ·l';old~cio's, ·~' ~ie(lo das mãc.s, o me,10 · das . ' 1greJaS. Eis o 1Joeta iâ ent ificadó com a sorte do mundo. En1 AL· GtJMA: POESIA vi;;ija, co– loria-se, deleitava-se com a sinJetria dos j ai:dh1s ensolai;a– das; inebriava-se com a m ul– tifária significação . do amor no BREJO ·DAS ALNlA~í...:m o SEN·rrl\>1'ENTO DO lVlU N.• DO cant.Í o med,o - o m,~do dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas . Gs · dois primeiros livros são ilu– mir.ados por un1a luz clara e transparente; o terceiro livro é óe atmosfera quase noturna, sombrio, atravessado por cris– pações de angústia. No tercei- , . ro Uv;ro o poeta diz-nos com freqi.lencia da noite: é o '"Me– nü:io clio1·ando na no,it e"; é o último ver so do "Sentimento do Mundo" :falando "no ama– nheoér m ais n oite qlie a noi– te"· 'é a 1 'Noite dissolve o~ •• • homens": é o ''Noturno à Ja- nela do apar tamento"; e qua– se todos os outros iP<>emas são 9 ss,im d ê atm(!sfera ou éom va~às _indicações_ not u:rn;as. Essa noite é a no1te que des– ceta i;oJ:>re o mundo ~ ~niro , - ---- -- -- - ----------- .. ------~----------·-- CON FIDÊNCIA CECJLiA MEIRELES ' ' ' (Copyrig·Jít E. S. 1. eóm exclusividade- para. a FOLHA DO NQRTE, neste Es tadp ) das, tantas musselinas. Levan– ta os braços para soltar os caBelos. Asas. de m.µ-fi'1J. Chafarizes de Ouro. E; sempre um pou,co tarde, quando se lembi·a de apagar a luz ou gh:ár as botinas l¼a persiana Usa sandálias dou– radas. que v,ão e vên1 pel9 ta· pete como uns estranhes cole– ópteros. -Para O!' l.de? Muito de cima, vê-se o pe– queno bar intimo. Habitantes sem cara: só do peito para bafxo De modo que as gar– g-alhadas não têm bôca. Não tlim bôca as ruidosas con- , . versas. E qua11do os copos ~e levnntam é como brindando ;;nisências. inexistências. E • • t em u.m ar macabro, essas re- uni õe~ de ~ego}aãos. J\,1ais para cima, só a clari– ctade nos t e tos. ou a súbita roinbra A'!r4um braço estendi– do. sem don o, apDntando da sâ cada al.gum descobriment.,) ·1011 1lnnuo.-, ou de repente. al– gum fós-foro ca,indo. alguma t;:,mpa de ga rrafa" raramente a!g1Jn1 •peda ço · de l?ª~el pla – nando. a dejando. cabeceando contra ó éimento. resvatando, tein1a ndo em f icar nos aras. sozinho.. sem socõrro e sem vitoria. _ Essas eran, as coisas diárias. casuais, de Q't1e .os olhos P.s.. pontar,ieamente se de~víavam. rliscr~tos. fatigados. indi(eren– tes. Mas, ·no labirinto das ruas, na confusão dos anda– res. no êrro d'as perspectív:ai;, ai de mim!, os olhos. d.esco- -brii:am uma janela onde ·vo– lurrtariamente pousar. Con10 um retrato. na sua moldur.a. ;ili es.tav.a o hom.em nensandl) · Na minha direção. Tão quie.- to! Tanto tempo! Olhei para baixo. para cima. para os qua-• tro pon t os cardiais: mil ve– zes repet i con1ígo mes1na . qu,, era irnpossível. No dia se– guinte, àquela hôra. vinha pa– r a o meu lugar e esperava. ,\. cen:;i reproduzia-se _com a excftidão da lua O'l do .sol. chetas. ~Ias, pelo chão, muito diferente. Tudo se tornava desconforme, cadíl edifício esbelto, assim l'IOS ares, pare• •cia uma cidade, quando se passava perto. Misturavam-se as . ga~erias. Em que ca.sa fi– cava. aquela janela? Se levan– tava os ·t!lhós, não via nada senão o ·cimento, subindo, es• calónaélo em saca.das, saca– das . .. Tristeinente. voltava pãra o meu posto. E logo êle apare- _ eia. Que moêio, o ~eu, de le– vantar a testá! Tão calma, a sua face! Passei a frequentar o . esnêlho mais constante-men– te. Ocupei•.me com penteados. Um fio de cabelo tera do lu– gar aborrecia-•me. Escolhi os broches mais adequados a ca– dà vestido · Comprei outxos b'i:incos. Imaginei aquela sala vista da outra janela. Pús flo– res na jarra. Mudei a poltro– na de lugar. Acostumei-me a le~ noutra posição. Levantava os olhos sem es– .forco, e... encontrava-o, sério, imó:vel , sozinho. Talvez fôs– se apenas coi ncidência. Em terrà estran.i:reira, os hâbitos são outros Quem oode saber o que estâ pensando um ros– to de homem. às mesmas ho– ras. em certa janela? Mas o resto do mundo deixou de existir para mim, . Ia pelas ruas procurando eriéõntrã-Io. cansada ·de tanta ~e nte que· não tinha importã·ncia ne– nhtrn1a. Esses, sim, passa~m próximos; os de óculos. os de charuto, os de embrulhos, 0s de guarda-chuva. Ele, nunca. Ah! cpm certeza o reconh<!– ceria. se o encontrasse. T,jnha o rosto de- nácar, um pertl. de recorte vigoroso, e. pela e?!:· pressão da fronte, os olhos deviam _ser de a_ço, de jade, - deviam ser uns olhos f1r~ mes de pássaro, com muitos horizonte.s, á~uas, desertos, vend.avais. Olhava-me. Qu~ pensat·ia dêste riosso encon– tro, tão alto, qí,lase no último a:ndar? - .,·Enfim em teria· es– trangeit•a, em ··l'fr-:gua~ estran– gei ~a. tndo é tão diferente! P<:?nsei. pensei. Compreendi que é assi m que se fazem os poetas. Quantas coisas quería dizer, que me- sufecava~ Mas, se o encontrasse, que d i• ri-a? Certamente, nada. Tal– vez, enfi-m, tudo fôsse obra da · ·minha ·solidão. A solidão engendra tanto, sonho! Mas a janela âb11ia-se . E~tou ve.ndo seu roisto. Olha para 1nim. Po.r que nâo me .acena.? . Eu lhe responderiá. Por qú~ !')ão se encontra? Tão perto esta– mos. Eú não sei o éaminhp; mas, ê-le deve saber. Preferirá talvez um amor ,em silêncio. . . . , Um amor. Foi amer. que eu disse? Ai de m•im! .c\S palavras · querem dizer coisas tão d i • versas. . . E' por isso que nã( lhe aceno. Um gesto. assim nos ares, .um .gesto ape ~'l s po– de quebra:r êste - longo• ~onhO: Pode fechar esta janela. es-' CQnder para sempre est'<l ima– gém·. . . Se . fôsse· ma i$ per– to!. . . - lvlais :perto. qur-:.se :io alcance âa mipha . mão. os moços ão escritór.io t r3cam perpendiculares. os doentes esperam o resultado de seu, exames melancólicos: a vizi– nha lour·a passa cotn os tor– npzelos côr de rosa ein san– ãálias cintilantes. Isso durou muito tempo. S6, mais tar<le descobri que, alta n oite, tocava violino, sem que, a sua janela ·se acendes~~. apenas com alguma claridade'. ela rua, do céu, "em diagonal . :pela sala. l\!luito estr~nhó Se- ' ria êle mesmo? Era. Um a ou. outra vez. chegava a cli , tin– guir um leve som· riscanC:o o– espaço, no zigue zague do arco. Enterr,eci-me. Achei be 1 a a, insônia. oomo essas flores no– turnas, alucinadas de escuri– dão. ~cen.dí a minha janf:la. Para que soubesse. que 0 c-s01f• tava. Apenas para que s,01ü}e·s– se que o escutava. Realn;en– te, o meu amor - afin:il. era amor? - tinh a ficado t ão hu– milde, na sua in1possib ilidade, .na sua isenção, que já me. bastavâ a alegria de lho po– der mostrar. :Isso, porém, .não sucedeu. PoFqUe o meu vizinho era. cego, Cego, sim. Não f igúra- · damente como somos cniase– todos, não cego de ámbás as· vistas, cego dos · olhos, e nu.n– ca soube eia minha janela. de· mim, dos meus broches. da· minha alma. Bem sei -que foi trii;te. E até agora sou capa,z: de, eho.rar as Jl:ffS.mas lágri• _mas daquele dia. Jytas n ão fo• ram as mais dlll·as. as mair a1'1'.lentes... - Há semp1·e no•• vas 'lágrimas. • P'ela •wíme•ira " v.ez, ·i i-it'ei:es• . soQ-tn.e a toi:!ografia da cida– de. Iroagin~ o caminho lá em baixo. no e11trec,r:uzament'l das ruas formi:gantes. De u,tna janela a outra, uma simp-le.s linb.a, como a que riscava1n çuidªdos~mell,te os ràpaz.cl :' do escritório ecm suas p1'an• UMA BIOGRAFIA PE EVCLIDE.S DA CUNH'.A rconclusâ-0 na 3.a. pagina) - - , de cada hómem. Há roais: á mediclà que Çar:I:os Drum– mon d de A,.n(lrade vaicse uni– versaHial}do, fiça simult.i– neamentê rl\ ais B.uriiano, mais t'OllôlOVido. .menos senhor da ,lia· s'ei e!}i'dade. É - fácil notar– se <,tes:dé O primeirQ ,li Vl'O . .iitê: A ROS:o\ DO POV'O um. len– t o ' dé soojamento da •sua se– curâ , d:i sua ás. vezes ex.ces– siva concisão. ela sua 'tin1i;. dez, df um . certo mane ir ismo. fnrmal .decorr'entc de concêp• cões literârisis, Do S;EN'II– MF.NTO DO MUNDO em df– ante a . e1noção extra.vaza ca– da vez com libetãade maior, e as pa'1avras sur;gem mais plenas. e os. v.er$ OS torn;:1n1-se mais ,ongos e rítmicos. Como exe.m;plo, ,•ejc\-se a admit·á– vel "Ode no cinquentenàrio do poeta bxasÜeb·o" . ou "A noi– te d.issolve os homens". A partir d.o SENTIMENTO DO MUJ\"DO a sua ;i>oesia poderia s~r tr:aduzidi'I se a f9rn1a poé– tica se pr.estasse a tr,adução - para as 1nais dis tantes línguas do universo, guardan do pa1·a t od·os os homens a mesma si~ gnificaçã.o humana d.e dor e esperança. É ,que Drummond galgou um cume e dele abar– ea um só mundo. conv1,1lsio– J; )a.do . sem p á trias nem fron~ teiras,: o faz de um ponto d.e vista 13,dncipál!nente 'literário e ar– tístico. Os • defeitos do estilo e1Jc!ídiar,,o, ou o que há nêle ?S vezes de desagradável, já tem sido .~evidamen,te acen– tuado: a enfase oratória, o "fa,la,r difícil", a te.ndência para o arcaisri:Jo. o g ôsto dp adje tivo gritante, .a constru– ção às vezes por demais pom– posa óu escul tural. Caracte– i:isticas dêle -pr .óprio .com~ d.o seu mestre Carly.le, Contudo, a análise ·do est ilo euclídian·o que sugji·o ap si·. .,Silvio Ra– belo •s eria no sentído de e:;,c– pJicar, que a m;;ineira ce ex– .,pressão de .Eucl ides ·e1:a a-- única em acôrdo con1 o mu11- . do semi-bárbaro e n1eio sel– vagem de qu~ êl~ h:at ou e..m ~s Sertões O estilo de Ma– cha.do de A.ssis. por .eJ! !emp.lo , não dat ia nacla com aquele material rústico e pr imi tivo, enquanto. o estilb de Euclides seria mons truosD para (i tra, t ame11 t_ô da$ .c·omplexidades psieológicas e sutilt!'zas de moralisn10 da f icrão m.acha– deaná. Que se t e nha pesi:oal– n1ente mi'lior pr eferência )>elo .estilo d.e Machado ou pelo de ·Eucli,des - isto. lá é uma oit– tra · questão. incfusive de gôs– to.' Alias, o pr~prio Euc1ides nos ofer ece uma chave _par-a A noite desceu. Que nóite! 'essa compreensão e0Ti1 aquela J.á. não en~ergo meJJS irmãos. cit ação de T-aine que encon– E nem tão poncó os rum9res tramos n a "Nota preliminar "• que outrora me pertut"bava.m. ae Os Sertões: ''il veut $entir A noite desçeu. Nas cas.'IS, en b a.rbare, parmi ·1es bal'Qa- nas ruas onde se comb, a.te. .:rés. et, parmi les in cien.s, en nos campos desfaTecidos,. ancien." É ver!làde. n ão obs- a noite esp ~lb.ón o meíJ,o tante, que Euclides ulti;apas• e a total mé)ompréensã9. ~ às v ezes tod'os os limites, Mas o poeta conservá uma como assinal a o sr. S ílvio Ra- fé tenaz: b elo, no sentido de ampJiar, Aurora, engr andecer, r omant~Zal', dra- enireta11to, en te .diviso, aútd'a matizar os Seires e coisas que tímida, toca com a suà penii. 1:le fez lne:xperiente das Jnzes que- grandes qu adros de paisagens vais ~~ender que só tinham . f ôrça e origi– e <lós homeJJs 11,u e :tepart.iii:ãs · n.al tdade ná sua visão; êle com t9do.s· os Itomenl!. tr;msfor,Q1ou en'l h erois cria- .Q \u.:ras qtie só adquitirani -gran• 1 deza em contacto com o seu .santi~e:l,!to tra11~igUl 'ad.ol ', Isto qu;into ~os obtetps e seF·~s:, paziicúlarizados, p'orqU'e nà's general~:tações - quando tra– :tava de objetos típicos ou êfec tipos hUJn'anos - Euclides da Cui)ha se sentia de todo à vo~íade, êomo se o gera1 1 e· nã.o _ó particular !ôsse a, sua própria atmosfera de pensa– dor e escritor. P.ois co1no ob– sel·va agudamenJe o sr. Silvi o– ~a_belo :_ utilizando um traço– f1s~co para ~ce nt-uar UJ.J)_a n1a– ne1~a psicológica - ''tudo adquiria a seus olhos: p~rma– nente-mente arregalados, a proporção de acontecimento:;;:: exh:aórdinários". Aliás, em ce_rt9 sentido, isto t-ambêm acori 'te.ce com Sarmiento em Fac:undo. ttle teve táinbém qu.e exagerar e dramatizar Tat"a transmit ir n~ sua. ·obra a e.x – pressão da realidade argen– tina no a ritagonismo e11 tue a cidade e • 0 cam-uo. coino Eu– i;llides o fez en1 ·relacão à rea - - Jiclade brasileira: r ,á. o cau- d .lh' . · f ' 1 ,o; aq1u. o _Jag \1nt o: e~o- :menos sen1P.l hantes. A b10- . grâfia de Facú l'ldo Qui,·oga cresce de proporção e s igni- ficaçãp nàs n1ãos de Sarmien– to. a fim de que o· fenômeno social. que êle r eprcsenta-va, a-pa ~'é~esse, em t 9cla a sua dra– m.at1é1dade. Nes te ponto. coino em tantos ontros. se assem·e– h am ês tes dois Ji v1,os ge n,ui– ·1an1eut-e ai:ní'ricaoos e n uc io- 1ais, o brcisil.eir.o e o argen– tino, embora não seia patrio• tismo nenhüm proclamar -se. 1tnna CO'mpara r;.âo, a inçon - tes ta-.el superioridade de 0;:1 Sertões sôbre o Fa.cun!lo, (1) Sílvio Rabelo - Eucli – des da c i1nha - I,iyi·ar i:a Editora da Casa de E!;tun$11- te do Brasil - R io - 1948. Ba:ra r emessa de l ivr os: P.taia de Bót a'f.ogo, 48.
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