Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
2.ª Pági~a - · -------------- DIRETOR PAULO MARANHÃO _AR_n: _1 SUPLEri[r~TQ 1 LlTEaATURA ' ORIENTAÇÃO Df HAROLDO A1ARAt-./HÃ0 &----- ----- CC)LABORAl)ORF.S :- Al var11 t.iJls Alomu llo– Jtla, Almcidn Fl~el1er, Alphonsus de C.olmnr:it'ns Fi– lho. Au&'usto Fret.lerle10 Sehmldt. l\urelTo llunrque df Uolancla. Benedito N11nc11. Bruno dP Mt'net:í'-"• C'nrlos Orummond de Andriule, Cauby Cru'I, CeciU11 Meirclrs t "Cll !\leira. Uleo Bernardo Cyro dos AnJos (l11.rloc f'cJnnr~o. Daniel Coêlho de Sou.~ li' Paulo :t.'lendes fia r lbaldl Brasil , llnrold11 l\fnrnnhão João Condé l..,v,. nau de Mouro. Lido Ivo. .José LIIUI d1> Rêto João l\1en1les, l\f!Lrquet Rt'hrlo. l\tarto Fau11in11. llfn• 111,el 8 :u11teir11, l\fa" l\t artins. l\larl:1 Jalíc l:i. l\1urllo \fendes, Orlando Rifar. Oito I\Jarln Carpenu:!I. l'11olo Plinlo A bre.11. R. dt' S011'11\ l\, r ura. Ro1rer n nsttde. RI· l!amtlr de- M1111rn. ltav Coatinho. Ruv f:•1ilhn-me Bn• ·11 ta. Scrl(in Mlll ltt. Sult1'n.'I , ,.•.,, " .,..,•~n ., 1n-,-fln!'l - Gascoyne E A Poética Arte Conolussão da 1". pag. J c po!'mas como "Mi.ssrere" "Pietà" ~ "Tenebrae" que !icam no entant-o envolvidos em trevas noturnas como se o próprio po la não acredi– tasse oa realidade da fé gue lJ1e fornece as imagens. Não f:i ltam argumenloi; par-a se ,nterptetar o silêncio obsti– nado do poeta como in; biçâo. Steph~n Spl' nder, basean• do--so apesar do S!U credo ra. , ci11l na plenitude da trndição poética inglesa. reconheceu os germes daq1..1ela · inibição num "vício poético" qu ! sem– pre se censurou àsperrunente quo.ndo apar ecendo em poe– laff ingleses: na "self. p1ty". na. compaixão consigo mes. mo. Com e'( ito. expressões de "selt-pi-ty" são !requentes em Gascoyne nenhuma mais !orle do que aquela imagem (em Noctambules") do jo. vem artistll. escrevendo na Pã.ris õõtltrn~ a úJtimn pá.. gina de um li'Vl'o itUe nin. guém compreenderá. O pró· prio Spender acentuou po• rém o sentido d ~ aprendiza– gem da Case francesa. de Gas. eoyno: até os versos france– ses do poeta teriam sido exercícios, índividualment? irnportant.-s. pal'a. ll lfrar-se <ln complicada "imagecy" berméUco-metatl.sica. Só as.. sim o poeta chegaria à cla– reza. craitalin-a, dos seus som– brios versos do gu,1·ra, da_ quele "Miserere" em que compara as tortun.s da hu– marudad~ contemporânea com os sofrimentos do Cruciíi-ca· do sendo todos llÓ-S "onloo– kers at the crime". mudos cúmplli!es do crime. O her– me.tismo da. primeira poesia de Goscoyne correspond.,: ao lncUvidualismo fechado do Jovem artista, su!ocado p ela ••selt -pity". A experíência da guerra dàrâ à sua poesia uma sigbj!icàção geral - um sen– t ido. Em gualguer outra llt::ra.. tura, wna. evolução assim cortsidera.r-so-ia como per– feitllfrlenle natural: a crltica iI\gl'~sa é, Qeste ponto tan1. bénl, majs exigente. Dispert• ~tn a slntaxo poética da. CO!?– r êr,cia iógica da prosa; mas exigem a. co: rência da lógi– ca poética. Sob êsse aspectQ St:mtord analisou um dos poe,mas mais imgortan1.es de Gascoyne, "Pietà. . em. que outra vez ~e idrntlficam os _sofrimentos de Cristo e o da hu.sianid.nde, contemporâneos sempre "liJ1 the catharsis of the rn.ce sha1l b e complete": então, pelo silêncio subsc. quente.\, cqnfessa o poeta a contr;;iolção, que não sabe r esolver, entre a il'lterpreta.– çiio da guerra como crime (em M!serere) e c-on10 catar– se (t-m "Pietà"l. É um pro– bleina qu~ técnico da trans. flgtll'ação do pensamento ló· gico em emoção poética; mas atrás dêsse problema levan– ta-ie a interrogação ameaça. dora pel1> sentido do mundo: ''a, longa viagem do gênoro humano pela noite não terá slM em vão?". Ou então, "a côr preta, in:v11dindo o pris• ma Jntelro, iornar-se.á ab- 11olul.a.?" . Citando uma !rase de Ber· geon - "C'cst Lo réel qUl .i;e fa.i t p0$slble, et D,()13 pas )e tc»sible qw ~vient :éel" - o filósofo espanhel Garcia Baca e!:boçou recentem , ntu um sistema de correspondên– cia que eu tentari:i aq uJ ap)ic-ar da maneira s.-guinie: ao N.ces;.ário correspondem o Passado e a lingnagem. da Ciê.ncia: à Realid:ide corres. {)Ondem o Presenlft e .a.. lin– guagem d~ vida quohd1ana: mas a Jjn~gem da Poesia corr: l!Ponde ao Futuro e à Posteridade. Pode!'• IJE!-1:tm lancaT. d~ta maneira. os (undan1entos de uma nova Arte Poética.; aquelas equa– cões restab lecem a dlgn!da– de da poesia ao lado das re– alidades já cristalizadas ou alnda em movimento. L!ber– d;1de s6 há na l}Oesia na qual ''le réel se fai t pdssible", ai de nós se o posiível se tor. n3SS;3 real . &te último caso é o assunto poético do ~ur– realismo: e Gascoyne tam– bm conhec.. "the nether– world' s deaci suns''. os •"sole mortos d e- um mundo inte. rior" - nunca se definiu 1ne– lhor o mundo poét!co do sUrrl'ailsmo. Dai a anirústia que. s~m teoria alguma, lhê invade a p~sia e lbe penni– te - porque se t rala de poe• sia autêntlca. "du p~ible q\Ú se f ait réel" - de sair dos abismos surrealistas: é o moinonto em qu ? os "sois m-0rlos" se transformam em trevas de un1a outr:i es.Pécie. do p o e m a "Tenebrae" ("Ther.. is no more - Re.. genoraúon in the stricken su.n•.. "> as trevas que en– volvem ' 0 Crucificado e a humanidade a os seus pés: "And may we into Hell d •s– cend with Thee" . E!!se des– canso "ad inferos" já não vai ao encontro da alienação e sim da redenção: é conlL nuai;ã.o do movim, nto que transformou o re:il em possl• vel, tra.qsformando-se o poe• slvel em certo. :t o "salto" klerkegaardlano, partindo...se da passibilidade da fase es– t é ti c a em chegando~,ic à ceth,za da fé. Netise cami– nho G1lscoy!l2 parou, publi. cnndo o seu volume e nada mais. E náo s , sabe se o seu silêncio sJgnilica "a consci– ência do própr.io fim, inarti– culada, solitárla e cega". ou o encontro definitivo com a Cé que já não precisa d~ poe– sia. Contudo, a dignidade da. poesia de Gn.scoyne ficou certa, no stntido ~ que não se trat;..1. de expressões de mera ''self.plty" individual, 15cm consequências, mas sim de símbolos da tragédia uni– xersal. O c.aminho de Gas– C9yne, sua viagem pela noi– te, também é nosso caminho pela realidade. ''May we into H-0ll desoend with Thee" - mas "the ca.tharsis of the ra. ce sbaU be complt te": eis a ce1·teza. da redcllçâo coletiva, revolucionária e religiosa. A exis tência do individuo con– tinua no entnnto perigosa– meoto suspensa Em cima do abismo da possibilidade en– quanito aquele salto não se co'Q.Sumou iia certeza da re.. denção ou tla ce.rteza da morte. ''Christ of Iwvolutioo. alld Qf Po~" - quem sabe se o silêncio do Poeta signili– ca a revolução da sua fé ou a morte da sua p oc.sil? FOLHA DO NORTE Domingo. 7 de Março de 1948 Um Momento Com André Gide Em La usenne, a primeira cok-a que faço é ir ao telefo– ne. o comunicar.me com ,'\n– dré Gid ?. cm N\?uc.halel. Chamo e, seu número, con– r:ado que me IoL em Paris, por uma ainigo intim'l do es– critor. Do outro lado do !lo, 1uB re&ponde uma voz femi– nina . Dig 0 quem sou. - no. me. pronome. jornal. naci~ nalid.ldo e o padrinho que m ~ indicou n = inho. A voz temininn desaparece parn dar lu_;ar a uma voz grave de ho1ncm. cheia de Tl'~náncia . Adivinho que é êle, Pmborn não declare quem é Tort10 a t'Xpti,car tudo. Noto que a partíd1 está ga.. nhe: seus amlgos mt> 1,ssegu– raram que /He atualmente niio recebe visitas de est.m. nhos. e esp cialmenle -,·íta os jornalistas Anda doen– te. e excc-s,.ivamente fatiga– do. Por isso mesmo se foi r<? • fufiar na pequena cidade su1ço, em c:isa do genro. Ter o seu número pnrticu. lar de tel,,fone em Neuo.ha• t.1 , e sabei- da hora certa do teJetoll!l r , equi vale já a um passe. Di,ro-lhe, de longe, a adm' 111ção que temos por l!te no B rasil. o que o faz excla– mar. sorrindo: - C'est gen_ tille! Em s: ~ldn. inquire; Mas ond':! está o senhor ago• :ra? Quando eslâ livreY Po– nho-lhe à vontade para de_ cidir da ho1·a do encontro. Sei já de eeus húbltos e seu regim! . Queixa-se de ex.tre– ma fadiga.. E previne que n5o poderá receber.me lon– g:i:mente. "Je vous previens". repet?. Replico no m~mo lom. dizendo que lhp deL'Ulrei o cuirlado de nie a v isar quan. do lerei de partir . Do outro lado do !io. riu com a minha saldn.. • • • ÀS três horas: dc-EQO do trom em Neuchat 1. O eu– contro estava marcado para as quatro. Ptircebo, entã-0, com desprazfr, gue não lho teo.ho o en<'lerêço. Vou ao ca tálogo dQ telefone ria e3. tação. Verifico quo. '1 seu 11u.. m'll'O não consta da li.s:ta. Não hã outro jeito senão t , Jefonar de novo. para êle. na espe. ranç11 de ser atendido pela voz t~mlnina. Mas é a mes– n1a voz grave e quen te gye atende. A pres: nça de sua Vll'Z me vexou. pois sei que essa é a sua hora de repouso. lV[as sem ouvir minhas expli– cações, dá o nome e número da. casa. Sabendo qu1 iá es– tou - em Neuchatel. decide receber-me imediatamente, apesar d.e meus prote.st- 0a, as– s , gurândo-lhe que t>speruia. traqüilarneute. pela hora marcada, seja sentado num café ou perambulando pelas ruas d1a1 v elha e pitoresca cL dadazlnba. · Num recanto sos..<:egado de uma linda rua.. diante de um. muro Enorme coberto de musgo, com um castelo no alto, se acha um ca sarão an– tigo, de três andares, com pequena esca_daria, em meio a um jardim: é aU onde, fu. gindo de Paris. se instalou a maior figura literária de seu tempo. Encimando a porta d,~ entrada lê-se. em grandes letras romanas doura das, es. ta data: MCCCLXXIV. Ao entrar. dou com duas senho– ras idosas e um garoto que descem uma escada. Coono não há nome nenhum nem na vorla de entrada nem nas dos andares, subo ~ ca:ndar em andar à cat.a dwna indicação que me sugira a sua moradia. E ®8SB forma chego até o terceiro andar por uma es– cada de pedra desnu<ia , sem tapete. Felizmente o garoto das velhas voltou à casa por qualquer moti 110 e deu comi– go pelas escadas. 'file é. final . mente, quem me mostra a porta de Gide . Era precisa– mente no andar té1Teo. Uma senhora. me abre a porta, e exclame. quando di– go o fun de minha visita: Ah! O senhor é o jornalista. bra – llileiro por quem o sT. Gide está esp~randol Através de um corredor es. curo e depois de passar po1· duas saletas, d◊'1 num salão vasto e claro, de teto alto, três amplas janelas de vidro, ras~adas de alto a bawco, e abrmdo para o jardim e dês– te. para o lago. Do salã() se vêem, 11-0 fundo, pedaços de Alpes crisro.lizados. Tudo é alvo. se'l'~o e luminoso. O dia doce de leve1-ell·o é an– tes de prim-av.era que de in. vemo. O céu cinzento e bai– xo deixa. contudo, passar um sol amarelo, cuja. luz che- 8ª até nós, nté as coil;as co– mo um cordlal . MARIO PEDROSA I Indicam.me uma cad~ir:i. de braços. ao ladn duma P"· quená mesa com ílores e aJ. guns maçoe d ., cigarros. es– palhados. e de rliferenles marcas. Pela precisão com qtl(o a s11nhl)ra mP conduziu a êsse luijar. me pareceu que havia s ido recom, ndado por êle para recebE-r .me. A se– nhora m e P<'d,. uns d"7 mi– nutos de loler:'incta. e (linda estou a dfzet·· lh, 0110 pofso e s per :i r tranqi.ill atl'IPn(e quando, di~nte da J)"lrtil. aó fundo do corredor. êl,, pa•so. Ao ver-nos Pm explicações. muda dP rumo e se dlrig, a mim. apertando-me a miiQ na.s ~uas. pedindo dt>~ruJpas por fazl'r-s'! demorar . E tor– n11 n sa'r Fico a olhar a sala. tõdn branca. do t\!.to às paredes. As portas de vl<lro. sem cor– tinas, deixam passar a luz. Castiçais de prata com abat– jours alvos. Pela11 par•des. pendenlP..s de cordões bran– cos, rnu Itos quadros. todos modernos. De relance r oc.o– nbeço Roualt. Braque. vârios Dufyi._ Marie L-i.ur, nc1n, Utrlllo e um Picasso. Pouco depois êle chega. Torna. a aper tar.me as mãos. Sento- me. mas êle pede que me 1°. vant& f' \'á me c,,locar na cn– ôeira d1) <lUtro lado da mesa. d11 encontro à luz. QU" vem das grandes j:ui las . me d~: ''Mettez-vous là pour que je vous vole". Assin1 era êle que me nuerla observar e não eu quo o la procurar n,o sPu l', ces&o. tom1tdo de cur1. c.i;ldadc Olha a seguir os ci– g1rros espnlhados ebbre a mesa. 11 li'! levanta outra vez. para lr apanh:tr ou~ra marca: 11 fereço os m1>us. examina-os. mas não cqnvencido. vai lá dentro e volta com um ,nac;o do s\.la l)re!erência. Estn. nliós não tinha nada de t>X· lrocrdlnflrlo. pois era sim. pléSnv,nto um dêsses eigarros americanos c»nt\Pcidos. Só donois d e todos êssf'<! pr . pa– ra t 'vo.s. é que,' S!ntado de um lado da mesa e eu do outro, êle arremat.1: - Bem iutora.. • vamos. Q11,. é que você QUC'r? Vim ~ Suiça para vê-lo. PxpUco. Troux!' mesmo do riireto-r liti>rArlo de trteu jor– nal 9. mii;sã<,. especi:il de t'D. h·evieu\.lo. Conto da admira– CÃO qne a. rua pessoa " a i:ua obra despertam Pm n6s. in– t leclun.i~ brasileiros. Em rem,osla aflrl'Y' q oun conhece o Correio ela Manhã rle non1e e sab 0 de !!'U!l importância. do 1.)4 pel oue , ..pres-mta no Brssil. Confes<;a qu , sempre teve mu 1 to lntcrêsse pP1o nosso pais, e a conversa em– bO<'a nas viageM. Noto que até hoj<1 nãt1 saiu êle pràti– e&mPnt? da Eu.rá9a. "Jã esti– v'! no Congou r eplit:s.. Mas SÔBRE WAGNER (Conclu.'!âQ da ult. pág:) Existe. de h.to, na. música de Wagner, um elemento de feitiçaria. (Há muilos anos atrás já observavarnor, !si.o • o tocador de fagote Eva ndro Pequeno. e o autor destas li• nhas). Tais eleme.nt.cs obti– dos sobretuào por u~ co– nbed:menio quase incrível dos recw:sos da orquestra.. seriam ufillzados depois p~lo seu disofpuJo Ricardo SLrauss ' mas, evidentemente, sem o gênio do inestre. Wagner se. ,·ia uma técnica modernn a. serviço de um p~mento n1edievalesco. J;: impos,rivel delxar de vê-lo no gabinete do Dr. Fausto. sem alusão, de resto, ao Wagner com– parsa do drama goethen.no. .. roe mesmo declarou que suas obr.as sã.,o ''!aios musi– cais tornados visive:s". Para êle os sons t,ornam..se ato– re5; a harmoni~ é uma ação que se representa.; ao contrá. r :o o cantor vh,ivel é wn som que se tornaria verbo e a ação cinica é u:ma ilustra• c;ão do acontecimenlo harmô- • lllC-0. Ainda segundo Paul Bek. ker, a atual posição de Verdi a Wagner (que não e~a'flha– mo.s em mUltos, mos sim em Stravinsky) provém menos do contraste de concepções mu.sicais. do que dos meios ~pregados, que por sua vez d ependem do carãier nacio– nal de cada com1>ositor. Wagner coloca na. orquestra o centro de gravidade do aoontecim()nto muslca\. ao pnsso que Verdi faz d,\ voz humana o refletor dês.se acontecimento. ,r X X Na t1om1ravei carta que dirigiu a Berlioz, Wagner revela como encontrou no élrama da iliécia antiga o principio do ~u ideal artís– tico. ll'l interessante notar que Mallarmé se inspirou na mesma ~oncepção, a.o escre. ver o eDS&io sôbr.e o Ceremo– nial, a que aludi em outra ocasião, De r~to. M.alla.rmé • celebrou Wagner em prosa e ~rso. Não esqueçamos tam– bém êste detalhe importante: na mesma carta Wagner as– slihiaJ.a que se preocupa em ~evar o n.l.vel arttstico d.o público - o que não será um pequeno motivo de glór ía. Imaglne...se agora, com o re– c110 do tei}lpo, o gue não te– rá sido sua 1utn. sobretudo no Par'.s de 1860. em que pre-domlnam a c3nção l igei– ra. a OJ.)Pret.n, o espírito do' "n:l'Wllc-hall''. S:.llX Mas . . . não ae p0de dis!ar. <;ar o lado Wltipá.Uco de Wagne:-: -, st•U ideal de uni– versalidade "b11seado na grand~za do mito" chocou. se com o seu nacron:i.J ismo ,.xalts do Como perdoar ao homem que escreveu no fron– tal da. sua casa, em Bey. reulb: j,Eu !a<'() música para. o povo alemão" .? Qu... o artista queira se inspirar em motivos nacio– nals. está certo; mas fazer arte só l )a.ra . se.u povo ... conduz à neg~ão do espírito :internnciona.l e atenta. contra o próprio principio indiscutl– vel da unidade do gênero hu– mano. Que diferença do Mo. zart, que aos 22 nno,i, escre– via a seu pai: "Creio estar em condições do honrar qualq_uer pais que sej:i. Se a Alemanha, minha eaia pá.1ria, de que me orgulho, não me quer acolher, será. pr«iso, por DetlS, que a Frn.nça ou a Inglaterra se enriqueçam com mais um hãbll alemão - e isto, paN. vergonha da nação alemã". O fato é que, princll)&}– mente dnrante e. guerra, quando ouviam.os Wng– llfll' p e 1 o rAdio, nos enorv â va.m o e, "Exc~i.– • amente al~o e belir.oso'', era n069a reação imediata. O músico predileto de Hi– tler, De qualquer forma, WM discoteca., mesmo modesta, não pode dispensar Os Pre– lúdios das óperas - o não só os P.relúdios do 1. 0 a.to, E'a?"a eatea maravilho.soa tre– cho, da músiea Wagnetlan& é que vão as minMs }ll'edile. çõea. Se bem que páginas ~ mo o "Idfiio" de Siegfried, a "Viagem de Siegfried ao Reno'', o "Encantamento da SID <ta-fei.ra Santa", os "Có– ros de Parsf:.fal", além de ou– tros, 1ejam tente peraie de de.alumbr.,.mento. o próprio Co11go. a própria ÁJ'rica é un1 apêndice da Europa . E 1l propósito de vi– agens ao Novo ?.fundo, de vi_ agcns mar1tim8$, pe-rgunto se havia lido o nosso Camões. Sorriu. e di sse: "J'al Calt =n Camoens <ians I<> tem-os e j'ai. même écrit 1a:'dessus": Eram às imagens novas. ma. ri.J'lh!ls colhidas cos Lusiada1J que fazia. eu rúer ência nó intuito de lncità-lo a atraves– sar o oc: ano e redescobrir as A.mér:c:as. ~le con!essa que gostaria muito de {nze r essa travessia, mas era já ta;rde demais. sua idadt> e seu eslado de saúde Ih.~ COl'tnvam as asas para mi i: t'1l çõ 0 s t.'io longínquas. Ainda a. respeito do mes– mo assunto, já quando a conversa havia ton1ado outro rumo. êle diz, fi tand-0-me, com a maior espontaneidade: - A América do Su.J o-,e i ~ teress~ majs gu, a do Norte. Gitle está sen:ipto devorado de curiosidade. Nu1\13 e:-a de descobrimentos. talvez tive8- s•• sido um dêssrs e.ronut a11 e viajantes famosos que 1-eve– laram aos europeus deslum– brados as maravilhas de mundos novos. da Asia das especiari-as e as Américas de 11ma raça nova e nua: .seria. t;ilyez uma espé.c~ d., Ma.rco Polo. do F roS!a!'!- d~ Pero Vaz . E:l c tem alma de na.uraJis_ ta, e a precisão esqui!ita de sua arte se deve a êsse fl mor, a ,t.i:a. curlosidade da,, co' sas n,turrus, planta.s. :írvor~ b1ch?s, hon,en.s. homens na~ tura.1s. Poderia eer um outro Bllllon. É um insaciável lei– tor de livro... de viagens e n!sse sentido. me recom ndoÚ como extraordinário l'l obra, -Oe T~mlinson - Tltc sea. llDlf the JUD~le. O livro do escri– ~or inglês sôbr e O Am:nzonas o enc?n,tou. 1:, aliás. o mundo ama7.0n.c? o Que. ç.m no.."f!a t, rra. mais o !aseina. :f evidente (JU!! Gfd! ,e poupa. embora n.ão re alheie ao que se pll.\:sa tora dlt sua roda. Reage semcpre com p ~sle.za e propriedRde . Seu 1.õsto das coisas conerctru não desarmt1. n'llnca . O en.. contro com êle não ê nm.a e n– trevista nem \lm debate. E • • s:a<> as pequenas coi.t1Ss que despertam nêle maior aten– ção. 1: um J:: trado t.f.Pico, quase 11.Ól doutor chinês, com o amor dos detalhes cori,e– tos; diante dêJe se cornpreen.. de como. durnnte as boraa trágicas da guerr-a. se com– pram. no seu jornal. em dP..t, nder contra oo si,nplifi– cadores q.a lingua os direiws e a nobreza do subjuntivo. a.n1eaçado de desap9 recer. Quando falávamos na eua viagem ao Congo, velo à to. na a expiessão nortu.guêsa - "mata.r o bicho 1 ' - que êle r~g:istra no livro. Interessa. se P<l'l' saber da significação e~ata, pois a toma como si– nônimo de gorgeta, "pourboi– r~". Explico quf) significá mais do que simpJ,es gori.eta; em muitos casos é ~onv1to ai um par~eiro para beber um goJe juntos. O episódio acaba com êle me explicando que no Congo se dit: "matar biche" e oão "ma'tar u bi– chu ''; conforme a. correta prooodia portuguesa. Seu ouvido aguçado cl'e músi0-0 não deixa :passar sons impertinentes. Em tudo, á o homem da exprcsslio exata. Em. outro momento, diante dM pãlav.ras - Corr~io da. Manhã - manda que as pro_ nuneie outra vez. Pois que dividiu incorretamêllte a úl– tima pahvra. Faço.o tendo o cuida.do de deletrea? limpi– damente o vocábul() final. E êle repete: "Manhãn. Aliás, já pelo telefone, perguntou pelo meu .nome. e quando. em Nsposta, o pronunc~ à tr;ancesa, carregando sôbre • última silaba, ouço_o, eom irurprêsa, repet.i-lo, mas setn o alongamento .final tran.cfs e lhe <'!ando, ao contrário, a acentuação vernácula justai. Também quando citou O' livr-o de Tomllnson, :pronunci– ando o titulo em ingJêe, puda notar o cuidado com gltel procurava evitar e faital acentuação final do seU3 com.-. patriotas. Ao ver que eu anotava o titulo e o 11ome d<t escritor, quer ver como °– grafei. Olha, e, com sua pró... prit\ ~ta-tinteiro, risca e, natne CJUe eu havia anota~ com. o "Tom" separad,o do "Linson.., e, por clmn, escrevo "Tamli.nson" bem legível. (A concluir lllO próxml'I> munerol
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