Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
Domingo, 7 de Março de 1948 R I O - Eu não teria o j nte rês.se de "fazer p intura" se es,;a tendência não fôsse à J \Utilicação e o arremate de uma série de reflexos, de si- 1au1~ões e de sistemas. En– tendo que o homem que pas– llOtt a mctnde de seu tempo diante de um cavalete a pro::urar mirar-se numa te– l a e a outra metade a pre– parar ê.;ses momentos, se dí:<SO não tirou uma grande e dolorosa líção do mundo e um sentido cósmico. perder a sua vida. da n1anPira maf_s prclemiosa, e, soeialo1ente t raiu a p·,rle viva do públi: co. A p,nlura é para mim a Cor-ma de l'Xprcssáo humana .mal, per!c-ita. porque co1·– re,,;,cntie mais amplamente pela .«Uu cst,rutura material e t>spirítua1. às questões me_ · tatisicJm,•nie angustlnd::is do hom<lm: '"Cc;mo conciliar m~u -,.r contraditório? Co- mo cheglU' a harmonia do Podrr e do Saper?" itr ,·etanto é digno de no– ta o !a 1 o de a pintura sl'r reprt-s.n~ada. em nossa épo– ca p9r cérC!bros que engc.n.. d ram no Jin1ite sublime e triste dn ccr1>bro um dingra– ni,~ cnda vez menos neces– eário; ou por d,i.l{estões cada vez m211os naturai.9 de um Jmenso tst.ômago vazio e p rnguiçoso que funciona não com alimentos. mas por uma ► rotino maquinal. • . Trechos Rímbnud !ala dn poesia como "long dêrégl.,ment de' tous le sons". É evidenl.{,, que não nos podemos dedicar a uma arte sem est9 nnos de acórdo com essa fórn1ula. É e1., .i.di -.nte quP a inspiração d.:1 jove1n que ainda não se oirprL mitt " que ao.-i 17 a nos d efc-.,br e a I lb~rdade da obra e :\ me– ga Jc,maní '1 dêsse cnnl.ro do mundo. sem decepcõe.'!, l;l!D1 experiências, é m9i.s e.5\:ci :.i.– cular, llrica e triurual. do qu~ a do poeta ( nvelhl,}cido • • que recrLa com esfôrço, por- que nla lhe é ind!spensável na nevrose dt' sua ~êdP de maior periei()âo Infelizmen_ te. pata a mocidade. na,a comparação de, 1ôrças. nã 1 se tr ata. do que s1>ntimo.;. mas do que podemos comunicar. Na-da. de arte l'!om &ilcetJs– mn. A dpi (icação da perso– nalidade do plnt,>r confun– de. se com o tu.to qu.- ,,u nCl· tava de inicio dp ser o ar – tista um dos últimos repre. -sentant.es possíveis d~ ho- 1ncm d11 nossa época. na t r a_ dieão dêste. ]\,las se para chegar a êss_e Utulo é preciso dislini;ttil" -~e do vulgo por um seguro in'l– linto da verdade do se:u pró• prio papel. será para perder . se, para dissolver-se no. obra: FOLHA DO NORTE Do Diário De Um Pintor VAN ROGGER (Copyright '"! , ;•. J., com exclusividade par a a FOLHA DO NORTE} Prometeu solúvel. 11,fuito~ exemptos rec~nk, most-rarnm.nos que a revo– lução Cque é a vida intP.nS'1- mcnte vivida), não consiste em ~e ror1narem cân,Jnes particulares, mas en1 dor um sl'ntido novo aos que resisti• .ram hii;tàricamen(e. Fazer o coniTádo é conferir a si mei;nto, um "brevet'' dP con– fo1·mis1110 . Pois. naturalmen– te. ludo sc con!orn1a na fR– cilidnde. Numa époea em que a:< dialélicali erigiram n. n1á 1l! como co11qul11ta do home1n é difíc;! encontrar b onesliàad'l na art~ Entretanto. a ''hon– ra do poeta" é que o racio– cínio ruio pode salvá.lo . Não bnsts mascarar a fnlla de talento com a criação dr, uma nova escola. Já nã., é mais de mau tom. como há alguns anos atrás , contentar_ s.- com o mínimo de e-xplica– c;ões li t.-rárias, quand1> se traia de pintura. Sentir na– d11 tem qua ver com o s1:,1- timen lrilismo. e a covardia já não pa~sa por Utna ! or1na de coragem. A. deturpação da pala"\."r.l devo seguir uma deturpação do espírito, e por éonsequéneia doit in,i,tin_ tos. Conta ccim o instinto hlslórico da vida unânim" pata dr1or a corcida antes do n.iufrágio no nada. A uma questão muitc., sim– plr-!i sôbr" a qual se tem feitc., muita. confusão: a do in Lelectuali.smo do pintor Penso que o pintor deve i-e– préscntar. tão completan1en– f,. quanto possível sua visãa âo mundo (!UI' para ler in– fluência, deve se:i· justiílcàJ vel, ti-ansçendental111entP. Que élP a '.sso cbegu~ pelo puro instinto. Oll pela acui– dad,~ da inteligência e da vont! l.de de 'potência, pouco importa. O que import11 é que não faça ê1e da suas ta– lhas. d as singularidad.. s " ia>'! rupturas do Sl'U "eu" uma característica do seu V'alor . Van Gogh o o "donanier" Rouseau - lutaram, sobr<>– tudo pela claridade. o equi_ brio. a perfeição. Por que julgá-los com relação ao-J ou tro-s? É n,;,J es mesmos :J.UO devemos encontrar su as pai- s::ii:ens. Erigh· a loucura e a ingenuid:td~. ,,m áHb·~ é fra. queza iufccunda. I-lá o hnpond,,rãvel que diferenc:a umn ma.nchn ama– rehl do sol. do qual não sa– beríamos suficienicrnent~ fa_ lar . •·rnspi1·arc e.m Theos' ' qi,.a lquer qu1> ,rj li o nom~ (tue !e lhe apllqlll', a inspira– Cão é um d,:im 111istm-ios, dos eleitos . Sem ela. a palavra cr:ação, torn:t-se sinôni.nlo d,· .,l,õr– to. Ê pr ciso p, nsar antes ou drpois, mas durante a cria_ <;-ão só existe o mr,rav'lhoso desprendimenlo elo den1iur• go, aquec 1 men!o da vontade d,-fiulda o de tod,, o lrajeto positivn até a orige,n d., pri. meira p:ncelada. O que 1or– na válida e jui,ti!:Ica uma obra de arte não é senão o mistério. Tudo o m11.~ gravi_ ta i,m tõroo dele e lhe msr– ca o grau . Mns o ato da crí– ação existe na fusão p!'rfei– ts. do homem com a sua te.. presentação, fusão que supõe uma perfeita correspondência d~ tempo o de Pspaço, na matui;idade do criador e da . ~ cr1a~ao. Tôdas essas verdades evi- »i,n unpos.•;ibilid 11d ,3 do r;:;><::::,,;;::,..,ç:::,..,ç::,.,:;:><::::.-:::::>-~.<::::><::>-<::::;,..<::::::,~:::,.<:::,-<::::>-<:::,..<~~-<::::,...c:::~:::,.~ s;;;:;,-:::::::y;::::::,,,c~~,.,:,..,,.::::,.,,;:::,,<:::,,<;::,-<;;.::,,~""~<:::...<::>-<::::,..<:::,..,<::.,..;.'I p inWlr ntual de eucon lrar, de sentir. de querer a. u ni - dade humnna, não é, a üâs, 1nais do que u rn fraco re_ :flexo da impossibilidado ge– r al do homem do integrar -se n q condição humana. Os que 8 50 aptos para o "serviço humano" pelos seus dons n :i.hlrals. se não Rão capazes de uma. d isci plina pessonl Oucldez, vontade) não po– dem, nesse ~riod,o feb rlJ_ "J'll.Mte hesitante, bau1·ir uma fôr çà suficien te no espir i– tlual. Tudo lhes é dado do empréstimo . Tudo passa, não sôn1.-nte pel os s.en h dos, ca– rmo pela vont;ide ão homem kioli:\dO. Tudo recomeça em zero. Tôdas 11,s vias são ·!gunlmen• llvrea. mas não 11' mais geografia. .-:ata nc1l) mnp~. Entramos na época ~ d n humanismo reinventado p essoalmen te. E se procur o situar a posição do ~ornem :no caso é porque a p1nlUI1\, que considero uma forma. do l inguagem altamente bun1a- 1111 n ão p ode e,cplicar..se. :;em r etor na r aos elementos oosenciais de nossas fôrças. •.•.~. ,.,_: •✓.,. ... ' . 9. 8 Págfz:a dente~ nlio •n1pedl'Dl qu~ •<'~ ja íalso acuStl.f 011 pintores (] <1 falto d'! per11plcácia. Nunca sou t 1·a balho interior ter;í ~ido láo con1plcxo. Tudo foi dito, d,,:;de o prlmi,lro J.\1.a– nct ,to úllirr.o P icasso, pls– sando pelos lmprPs<lonistaR. os néo-imp-, ssiOn!PÜIB os isimbolistas. ti$ néo re-aii.:,las, "nabis". ôs cupistas, 08 s\L p'l'a-reallsta,, os "f:l.nves". o. exprPss'.onl1;t.;ls, pn$tallndo pe– los dtzl'nas de rsc,,19.S e e),-, lcorirt;; curo ou s"m isn10~ 1: des..ott acumul ltíio d, cr n1i nh011 rcn1 ooosiçã" ;,,_ ,~,, "· tias, quai;e tôda11 válidas\ que deco1 re a nngúsU~ do r,:nror s.nc ~ro. o angustia n1a1P c1o– lorosa do que ll OU<" . lll produzido a fall~ de teoria. Tudo wrnou.~c di:;ponh·el e susceplível de p rov'l. Basta abai>·ar e apanhar o Psn10 as migalbal'I de alguém ou die alguyna cois..i, pora i.er um caminho e, o que é pior, un111 etiqueta. BasL1 tornar um;i rota pnra sofrer a sua. dúvida e o contágio das ou– tras. A personalidade ma1S íort,e rica en vPn• nada por essa e! ii;pon 11.>:J idade e todo trabalho construtivo n-úo se– rá m:ús concebível .sem uma t-eimosi11. \1m tanto limitada. PiC.'"lSS-0 - Protf'S é a ma IS poduo1ia couíi rmacão dê./1$B Pstado . Sua angústia. o húbl– tQ n1órbido dessa anf(úslla . fizeram-no prrder um tPn1po precioso em jogos inírte4'. E acabamos pot t eo1er que sua êvol~.ão n o eo11becin1l'nio sensível não lhe encontrasse Un) éco fiel na obra . Hã um ,acrificio, negllgên– cu de tôda i;alvaçáo nesse grande inteli~ente, que deve• ria servir de acivertênci·1.. P-0rque o sacrifício d-o p!ntor. se não for cm provei– to da obra 011 das obras. s,:,– rú cm proveito dê:,qe deus devoradt>r e terrivelmente temporal. guo destrói o r c_ 1ato dos rep6rteres e a toto– w-afia dos magazinP'! - o deus do te.inpo perdido. A moda S'? lmisc1Ji u all, onde nada tem qu e fazer. . -- • P enso que não é s"niio por meio de um conhecimento bast.ant -. {nlimo d;3s necessi – dades da ar le de hOjl', qu, o pintor pode chega r à verda... del ra noção da cul tura que é o esquecimento. a ~ubstitlti– ção da erudição multlform.i (' nl'utra por un1:a sint!!S~ pc-S- eoal, • Seri, vão pregar n lgno_ rânci"t aos rapre~enh1ntns de ''boje", mns é vão. igual. m•nte, opôr ésse hoj? â tra– d.icão do quotidiano. O artis41. não é dêste trm. P<> por pintar um aeroplano, mifs porque pinta "bem" N~sa percepção da b!l,.za é condic1onada pelo r ,l.em <,n. to atu2J. O anacronb!mo é inoperante. Quanto aos ver– dadeirnmenté gra.nd ~. que se distinguem p ?lo don1 pro. !ético estão altamente pre– i:entes. e s" a crfUca atual o~ classifica lnj ustament", não pode deixar de adm'..tir.lhe o valur.
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