Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

• ? .. ªPágina . a DIRETOR PAULO MARANHÃO -ABT_E I SUPLEMENTO l UTEBATUBA 1 ORIENTACAO ~ DE HAROLDO MARANHÃO COLABORADORES :- Alvaro I.ins. Alonso Ro– ctia, Almeida Fischer , Alplronsus de G-'l.imaraeos Fi– lho, Augusto Frederieo Sclunidt. Aarelío Buarque de l{olanda. Benedito Nnoés, Bruno de l\teneEeS, Carlos Urummond de Andrade, Cauby Cr uz, CeciUi Meireles, C'Pcll Mcll'a, Cleo Bernardo. Cyro dos Anjos, Carlos Fdu:irdo, Daniel Coêlho d e Sousa, F . Paulo &'.fendes, tlarlbaJdl Brasll, B.aroldo Maranhão, J oio Condé, Levy Hall de Moura, Lédo lvo, José Lina do Rêgo, Jllâ.o Meudl.<1, Marques Rebelo. Mario Faustino, Ma- 1.1uel Bandeira, M'ax Martins, Maria Julieta. Muri~o ;)fendes, Orl:indo BitaT, Otto Mar-ia Ca.rpeau.., , Paulo • Plinio Abreu, R. ele Sousa l\fonra. R.oger ~~• Ri• :,am_ar de l\loura, Ruy (::o'!ltinho, Ruy Guilh .Ba– rat:i, Sergio Mil.liei. S11ttana Levy e Wilson Ma.rtirlS. . B ·ACH (Ccnclusâo ºª últ. pág.) db1 .-uropeu exist:Qdo em pleno sé culo xvm. Sua pe.. dagogia é fruto d :? um espL r jto não só muito refinado con10 absolutamente simples. Bãch é sem dúvida o lllÚSiCO qlle melhor corresponde às necessida-des do atormentado homem do nosso tempo. N11m muod-0 que perdeu a clil!ci– plina e levou ao apogeu o cultivo dos "estados do alma" êle é o 'ordenador, o constru– tor por excelência. E' ebsw-– do negar.lhe sentlJnento; o que êle - graças a D ,us! - -não tem, é senümentalismo. Nunca poderei dizer o quan_ to Jbe devo. Têrcl testernu– nhndo tio n1eu !ervor s, afu- mar q-ue êle me é tão neces– s;í.rio como Moza.ré, ou ta1vez roais? Mozart - se levarmos em conta sua carreira íul_ min-5-ntc o seu incomparãvel dom d e improvisação é possivelmente mais genjal; roas Bach é mais importa?)te. Que o u niverso inteiro inclL ne u1n dia os ouvidos à sua múE-ica, já que Deus o criou para a educação de todos... -:- NOTA - Esta crônica (oi inspirada pela audição d3s "Trjnta variações Coldbexg", de J. S. Bnch, para cnivo, na interpretação de Waod3.. Lan– dowska. VERDI EM CONTlNüA PORFIA COM AfdORTE <Conclusão da 3.• pâg.) cantrei !" E notou que o terrível e temido homem vinha decididamente em sua direção. Entre os dois a1\'ligos m.e<Ieava.m agora uns três ou quatro pa.i;;so;;, q11ando um pedaço de fôr– ro se deataca. e cai p. pru– mo na dlr~ção de Verdi. O diretor de orquestra apa_ rou o golpe com O braço, recebendo um ierrivel cho– que. "Olhei en1 redor contou depois Verdi a Mo. naldl - e a coi.Sa que mrue m e surpreendeu foi a e.ic – pressão dêle. . . Estático e só, no meio dO palco, fecha.– do num circulo dentro do ~ual era o ponto de mira dos olhares ameaçadores de t pdos. "Causot1-n1e quase compaixão". bebido de água) mas en– controu uma barreira no barco emborcado, que fa– zia as vezes de verdadeira. pedra sepulcral. O compositor, com m:1is um imp ul':lo conseguiu afas– tar, por fim, o barco e er– guendo-se para fora da água, com o auxilio de seu amigo Corticelli, pôde t>al– var facilmente a mulher. .''EStava para perder os sen– tidos - comentou depois a. Btrepponi - quando ao abrir os olhos me vi ampa– ra.da. pelos braços de Verdi, que estava. de pé, com ãgua até a garganta.". O incL dente verificou.-se quando o musicista já contava ma.is de 56 anos. O vigor de seus braços e o sangue frio sal– varam.J.be a vida. Mas a compaixão desapa. r eceu quando o compasitor p recisw eomtatar que a Dian t-P. da morte o maes– sorte tão favorável n0- prl- tro nunca mostrou qual– meiro ato, também devido quer temor, mas pensava à forçada substltulc;ão do sempre nela, com a parti– dlretor de orquestra _ te.. cular insistência dos pessi. riqo no braço - transtor- mistas. Os su cessos, a glõ– moU-se num ú1suceaso.. A' ria, o bem estar ? "Sim, >Üin, prima donna, a Gazzaniga 1 tudo isto está bem. Ma.~ tr.a.– faltou de improviso a voz, balhar tanto e depois m -1r– o tenor esqueceu-se de si.ta :rer ?I". A tranquilidade e a saida e os demais a.rti 11 tas paz de Sant'Agata? "Sim! foram tomados de um jUS- Para fugir dos aPorrecimen– t Jficado panico. De&(ie a.. tos da cidade e ~ata estar quele dia Verdi a ~redit.ou bem ~ tanto, e pr~ ainda mais no mau olha- ref14,"l.llr..se nesta s 0 lldao, do. ou cometer ~cidio". • "o fato mais grave, entre- A morte veio enconfra-Jo tanto aconteceu em julho com 88 anos. Nem mesmo de 1869 em Sant'Agata.: um então t.emeu a. d~conheci- 1ncidente sério, no qual ai·- da vfsit.ante. Prlnc1palmen– r1Ecaram perder a. Vida te porque sua_ ali!)a sof re_ra tanto a Strepponi como o uma crise; nao e sem s1g_ compositor. Reevocou.o ntt- nificado 9ue _suas ul~ia~ ma cuta à Maffei a ptô- composfçoes sao de caratet p:da. senhora Gtuseppina. religi0$0. Perdendo o conhe– Verdi, num barco no peq11e- cbnento, só por um instan– no lago de sant'Agata, es- te, pareceu compreender o tendera a. mão pará ajudar seu e st a d o, justamente a embarcar também eua. quando monsenhor Catena mulher; mas tendo esta - o mesmo que cerrara os pôsto um pé em falso, fo_ olhos de Alessandro Ma._!1- ram ambos ácabar no .insi- zoni - lhe ofereceu a mao. dioso lodo do fundo. Verdl apertou..a, olhou o Verdi, que dificilmente sacerdote sorrindo, depois perdia. a. presença. d e e~pt. expirou. rito, conseguiu voltar logo _ :Mo:nsenhor Catena co. à t ona (sua mulher lutava. mentou: "Talvu terá bas– co,n maior obstáculo, pois tado aquele SOI'I'iso para ~ I~k! !f: ~ viiun ~le @alyar JQD& ~~ ajm.~ .l" .. • • FOLHA DO NORTE Dôiningo, 22 de fevereirõ de 1948 • PAULO RóNAI cala de possibilidad~ • Um bom tradutor Jrancês, · graças à l'Q.culdade de análi– se desenvolV"irla com tamu- 1 nho cuidado pelo ensino de seu país Cem particular pelo exceltnle método das "cxplí_ cações de texto"), reproduzi _ rá Iiehnente a m~nsagem 16- gica de uln te..,cto estrangeiro até em seus pormenores ma:s :finos, mas a. resistência de seu instrumento iropedi·lo.a, for.çosamente, em lra111;portar grande parte dos valor.es for_ 1nais, cxlra-Jógicos, atmosfé– riC!ls, dêsse le..'CtO. Trad llZÍll– do, por exem.plo, um auto-r italiano ou russo de- sabor algo popular - e nesse caso está a maioria dêles - ver_ s~-á na inlpossibilldade de verter os numerosos diminu– tivos, de tão fone ressonãn• cia afetiva. Neste csso, o "re_ tradutor" brasileiro. tmbor-a no seu idior.na disponha do mesmo recurso, só raramente o poderá utilizar. pois a trá• dução intermediária poucas vezes lhe deixará enlrêver a. existência de um dêsses di– minutivos no v e r d adeiro "orlginal". ICopylighl E .S . I ., com &Xeluslvhlade para a. FOLHA DO NORTE, neste Elll&do) a qu:il traduz, atém_se run.is do que um autor original às fórmu.lns e até aos clichés existentes, deixando o traba– lho de dasbravamenjo aos grandes <SCJ:ilores do idioma. Em outras llnguas que não o .íra.ncês o caso é diferente: sendo elas de estrulura e vo– cabulário menos ossifica~s. ndmile.m as novas formaçõr s como atos naturais, ao alcan_ ee de qualquer; o tradutor que as maneja tem maior es.. 00ft F P ,......_; T d ) - D - n.aa ,,________ _,.IIJ; Literaria PROXlMAS EDIÇõES "O 1'.canhn,nento e a tlmldcz", por L. E . Gratia, numa. trn.du . ~.ão de Nelson :Romero. Quarta ed.tçio desse màgnillco es tudo psioo-plld:igogico, que a.parece na SériÕ de Obras Educativas. "Rubnfya t u, setima c<t!çâo d O'll to.moso.s poemas de Omar Khl\y. yam, traduzidos pQr Otavio Tar. quhrlo de Sousa. "Vida de Ju. fio Vemo" - Biogra!ln d.e ttnui. Imaginação por George Waltz J unior. 'fi'ad11çã:o de J. C. 1le– gueira. CoB11a, pre!aclo d'o pi·ofcS• sor A ndré Slegrl!ied. "Rai.ze.s d e Br-ooil", segunda. edição re- 1und1da do n-otavel ensa,to de Ser,rlo Btlllrquc de Holanda, vo_ lwno inaugural da Coleção Do. ~nmentos Brasileiros, "Eurldi.. c:e" teroolra. edição do mais fa• mo~ l'()JJ'lance de José l,lll'3 do Relll> um su= realmente f6. n db oomum no mercado bra– tillelro de 1 i v r os. "Nijin.sky, p o r Romula NIJI nsky. se– gunde, edição da notavel blogra. fia. do maior genlo da dança que o mundo ;ã· conheceu, es– :rlta. p ela esposa. do artista, !'ra.duçlio de Gastão Crulll e prefacio d,e Paul CJ,audel. •os santos que ~alarnm o mundo.., por René Fullop.Muller. 'l'ra– cfuçáo de Oscar Mendes, p ara a Coleção wo' Bomn.nce <la Vida". "O ao1 dos mortos", mais um vo– lume doa Obra.it Complctns de .Agdppino Gr1eoo. (EdiÇÕNI da Livraria .ro~ OlyJnpio EdJto– w. Nenl1un1 cuidado poderá ser excessivo para. se verifi_ car O valor da tradu{;ao in– termediária. Até fins do se- · culo passado, sobretudo na Franca, as t.raduções não so_ mente eram dema!'iadamen!e UVTzs, como també.n1 realiza.. das, mais d~ uma vez de ma– neíra arbitrária. M1.1itos tra_ dotores, alegando exigências do gôsto francês. operavam ll')Odiiicações s u b s t anciais. principatm.nte g-t:andes cor– tes. O Visconde de Vogué. en\ seu famoso "Le Roman ,Rus– se" alude sev,ramenle às ·versões dos c.lássi~os russos feita;; em seu p~ís. Tiva oca.. sião de comprovar quanto as suas criticas são proced~ntes. Ao procurar resolver dúvidas– surgidas no curso de tentati– vas de tradução de Gog(>l e Turguenev, vi que _os !',r'a~u– tores franceses suprnruan;,. sistematicamente to d os os trechos em que havia dificul– dades não resolvidas pelo dl– cionâr:o; fenômelM> ta n to, mais curioso -quanto a v~rsão de Turgue11ev fõra f2!1a. du– rante...a permanência do nutor n!I. Franç.a e autorlzada por éle, de modo que 1,eu intér– prete podia íaciJme-nle con– sull:áJo. Mas naquela época não se pedia ao tradutor se– . não uma adaptação. ' Aurélió Buarque de HoL !anda e eu, ao ~cor-:e-r:nas 3 uma tradução :[rances.:i de Cervantes, da mesma êpoca. para ver como o tradutor se saia de uma beJ9. e con1pli– cada blas fêmia castelhana de algumas linhas, observamos com surprêsa qu~ envergo. nhado éle se r eslringira a essas p-0ucas palavras: ";\li: Cortadillo soltou uma praga muito fei.a". Já nos ultimos decênios. na França também. prevale– ce cad!l. vez. maís rigor nas traduções. Assim, qu!'m tr.:i– duzir algum grande autor anterior 1lO nosso século de.. verá, em p rincipio, escolhe~ uma tradução nova, d ~ prete. rência às do ti:mpo do ori• ginal. _ e Os piores casos sao aque_ les cm que o responsável pe.. la trad~o intermediáL'ia de– fonna o ~original, não por motivos "estéticos" . mas por, motivos partidários. Ao tra• du.zl .- um antigo conto italia. ' na. ocorreu-me examinar a, tradução brasileii-a já exis– tente. Estavam neln. omitiãos todos os trechos em que 0-• au.tor. como quase todos os escritores da Renascença. fustiga os costumes dos clé– rigos dn época. O tradutor. entre-tanto, era um intelec. tual totalmente isento de sec_ tarismo; apen~s em vez de verter do itaUano, recorreu a uma vel'são espanhola, a qual! já. !ôra expurgada por algu– ma inquisição. Incidentes dêsse gênerQ constituem o maior inconve– niente da tradução ind1reta.: Os editores e tradutores que,' à fal~ de solução melhor, recorrem a esta, deveria.ra talvez indicar no frootespL cio da tradução o .t exto .in. termedlário, a titulo de res-1 salva pclo menos parciaL 1 A solução i<ieal. evidente• mente, consistiria em fol'Jlla?'. , especialistas competentes pa. ra cada língua. Mas êste pro- 1 ble°Qla já está liga.do à profls- , sionaliução do ofício de tra. j dutor, o que poderá consti. 1 t11iT assunto de outra ~ô- . ~ mca, •

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