Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

• J FOLHA 00 JIORTE ' • - 1 1 ÚLTIMOS LIVROS· • • - OIREJOR PAULO MARANHAé . ' _1 AJl-TE 1SUPLEIVIFNT0 1JJTERATOJlAl ro_ ema _x - ressoo ORIENTAÇÃO DE HAROLDO MARANHÃO COLABORADORES:- Alvaro· Llns. Alonso Ro– eba, Almeida F ischer, Alphonsns d e Guirnaraens Pi– lho, Augusto Frederieo Schmid\, Aureli o Buarque de Holanda;. Benedi to Nunes. Bruno de Menezes. Carlos D)'1tmm,:,nd de Andrade, Cauby Cruz, Cecilia Meittles, CecU Meira, Cleo Bernardo. Cyro dos Anjos, Carlos 'f:duardo, Daniel Coêlho de SouSâ, F. Paulo Mendes. Garibaldl Brasil, Baroldo Maranhão, João Condé. ~ Hall de Moura. Lido Ivo, .José LI.na do R«\go. J oao Mendes, Ma rques Rebelo, Mario F austlno, Ma– nuel Banilelra, l'tlax Martins, Maria .Julieta, Murllo l\Jend~ Orlando Ditar, Otto Maria Carpeaux, Paulo Plinio Abreu, R. de Sousa Moura, Roger Bastide, Ri· bama• de .Moura, Roy Coutiliho, B11y Guilherme Da• •ata. Serglo Milliet. Sultana Levy e Wilson Mariins. TEATRO PARA . ' . . NO~SO TEM~PO • • insegurança, então e h oje. 11ossos bisayõs, colocad<?s No rest o, o con1uso relaiivís- como por milagre i:ium ci– mo de todos os conceitos nema, não . teriam compre– ( " éônfounding klíowledgé en qido nada; n ós compr e- endemos imediat amente, ~i~ knowl~?ge") n~~ é ho- acostumados à sequência . Je menor do que entao. nu- 'dessultõria d a s imagens ma ép~ que já viú reali- móvejs que corresponde ª<? · zados todos os hÕrrores ~.ritmo da vida modern a. E a1 • • é p reeiso lemb rar-se do fa• unagmados por aqueles ve- to de que a Londres do sé-- lhos põetas. "O "maquíave- culo xvn era a primeira ll~mo" nos f: tão ·ramiliar "grande cidad~"_ moderna. como aos dramaturgos e ao em })lena ~rallSlçao- da épo– _púbUco «o século xvn ca feudal a époc~ P~.gu~, • . - • ~ntro de uma e1vilizaçao Certos er1t1cos modernos de amorfas massa;; úrba:. censuraram a franqueza ci- nas. O paralelismo não po– nica nos monólogos de I ago. deria ser mais exato, com ac]lando inverossímil a ex• a nossa civilização de mas– pressão t ão direta, quase sas urbanas em transição mgênua, d-Os intuitos cri·_ de um sistema social ·p ara . , , outro. O nosso mundo atual mmosos; o pubJico de e~ também parece "um mun– tâo compreendeu porém lo- do vazio, de d~ilusãô e go tratar-se de irin "ma - tristezas", " .• • avain w orld of weariness and sorrows" guiavelista". O "villain", o (John Ford). Hoje, a gen t e S. PAULO. - Ninguém nega que to(lo o problema literário e artisUco de nos– sa época é um problema. de expressão. Quando discuti– mos poesias ou pintura., dis.. cutimos na realidade a efi_ ciência da forma expressiva, As inovações estilísticas vi– sam antes de mais nada dar fôrça à expr-essão, tornã•la apta para a comunicação de emoções e sentimentos no_ vos, peculiares ao nosso tempo. A expressão é uma forma de conhecimento, é uma maneira de penetrar o homem no que tem de mais recôndito e de revelar a descoberta. Em "Etudes", de outubro dêste ano, o escritor católico P aniel P ezeril analisa com agudeza êsse problema com.. plexo. Como jâ escrevi mui– tas vezes sôbre o assunto, e encontro nesse autor um grande paralelismo de pen– samento, sinto prazer em debater aqui alg11mas de suas idéias, Afirma o autor dêsse arti. go que a l.lngua francesa (o mesmo se dirá, entretanto, da llngua. portuguesa ou de qualquer outra língua ."civi_ llzada") deixou de ser "uma tradução da reaJidad.e" -para tornar-se um "código de bem dizer" e estranha que , em sua maioria, os escritó– res· se conformem com rece. J>er da sociedade um sistema v ~b.il ''já , feito'!, preferindo a.. correção da palavra à sua verdade, --- SergioMTI,I ,IET --– (Copyright E. S. I . c<lm ex clusivjda<ie para a FOLHA DO NORTE, neste Estado) c:1tivo de funcional, de que tanto se tem abusado ulü. ;u.;men!e, é à llngua. E que !unção terá essa llngua se, t>a ânsia de ''mantê--l a" elás.. sica, e portanto estática, lhe impedirmos de ref1e,;ir com precisão os problemas e as atitudes sociais e psicol6gi. cas de nossa época, se a afastarmos da. vida verda– deira e cotidiana, pan en. cerrá-la. dentro de uma 1e. doma? . A língua é um "devenJr"• e sua .fôrça expressiva de• corre das transforinaçõu permanentes por que :passa. A manietá.la de todos os la. dos e jeitos, ganhamos cin elegância "surfaite" o que perdemos em naturalidade, eficiência e originalidade. Damos-lhe mais lógica e in· t eligência , mas tiramos:Jhe o que contém de criador, de seru;,ivel, de espontâneo e re. velador, E , no séçulo 'da efi– ciência, tornâmo·la. de uma ineficácia total . Estranho paradoxo! Da ordem surgir a desordem, da fixação ina_pelável do sentido dos -.,ocábuJos resul– ta.r a anemia perniciosa. da expressão! Do extremo re– quinte da erudição del:orrer a morte da poesia fecund!J-, É no entanto o que se veri– fica . Bastará para percebê.. lo comparar a llngua saboro• sa de un1 M-0nta-igne, a de um Rabelais, a língua "sol di– sant'' bárbara do século XVI com a prosa tllllaneira– da, de boa sociedad~, dos escritotes mais lidos e cita. dos do século XX. É que a ciência gramatical s6 se de– senvolve realmente a partir do século XVIl . A Idade Media, tão rica de express~o ' literária e arlfstica, sobretü• do no seu último período, ~oi no dizer do Larousse um momento p aupérrimo de es– tudos gramaticais. Enquanto s~ vive e se cria., não se co. difica. A llngua francesa do século XVJJ, o século clás. slco, é ainda uma llngua em "invel')ção", mas à propor• tão que se codifica começa EnqU11.nto uma civilização se desenvolve dinamieamen– te parece que o problema da -e..-.êpresão não apresenta ne. n)luma gravidade. Inteli– gêriciá e espírito criador ca– minham junt os, . cooperam, coníundem..sa mesmo_ como acontece entre os primitivos. Más quando soorevéin ã es.. Aludia de uma. feita ao tagnação é o retrocesso (não abuso que fazemos de con. será o caso de nosso m-0- c:eitos da nossa linguagem, mente histórico?). a inteli– ptrdendo assim contacto com gêntia conio que ~ diyQrcí~ o fato real que esquecemos do espírito de criação, aban. de "testar" a todo instante don.i o honwin de carne e -como fôra necessário faz.er osso, e alma, e prlncipia a para que a., palavras que girar esterilmente em tôrno usamos conservassem seu va. do conceito do homem. En. lor e.xpressivo iiltactó. É mui- tão a art.e e a literatura vi– to semelhante a tese de Da. vas com(çam a escapar ao níel Pézeril que vê• no con domínio da. inteligência. i/encion;tlismo de uma língua 'Esta atenta aos jogos das estratificada o caminho da fórmulas, dos -conceiios, das morte da. expressão, pois a metafísicas, e dÓ5 academis· Ungúa só nos serve com efJ· mos tenta.dores, perde de ciência e beleza na mt!lida vista a f unção precipua da em que espelha a vida, 01a, língua, põe.se a. codilicLia. para tanto não· pode ~la. pa- a moldar-lhe a :torma ao· rar, cercar..se de regrlls i:or sabor de preconceitos é de demais rígidas, prender•se a comodismos . :tsse o grande etinlologias rlgol'Osas, vis'll' -escândalo da. época e uma uma elegância de ordem pro. das causas da anarquia. em to,:.1'-lar que -t.a en-s~na n~s que vivemos. . a perder sua fôrça expressi· v.a :r,ara ganhar elegância. Os 'l)J!lo., ~spfritos" do sé.. culo xvm bem o compro. vam, sendo Voltaire a glo• riosa exceÇão que confirma a regra . Felizmente os r õ– mânilcos vão quebr1lr os moldes -estreitos e renovar a. llngua com a introdução de centenas de .neologismos ê lih&'dades- sintáxlcas. &es não "sabem esc~v-e~", o que lhes serà censurado pe_ la geração critica seg\ÜJlte. :mas com êles a expressão vai enriquecer..se de novo e as grandes obras literárias surgem. .Balzac, Vitor Hu– go. Chateaubriand renovam a e:iipressão, apesar e talvez em virtude de seu desprezo pela inteligência. Hã momento na história d2 arte em que é. preciso, sob pena de morte, abrir t.s !tonteiras aos bárbaros. Co_ mo bá momentos em que é necessário 1-ecbá..las e voltar à disciplina, pôr .em ordem as aquisições f eitas. .• i-Ja.ntes tudo a servi~o do11 gramáticos dos homens qua têm por dever transmjtír e defen der a lil)gua "já f eita,._ língua que, exatamente por êsse motivo não funciona. 1 Tudo o que o autor íran,• 1 cêl! a!ir n1a pode ser ob~ rva.• do no nosso m-eio igualmell' ..; te. Há também entre nós quem para. exprimir senti– mentos vivos use arcaJsmo., defuntos, conseguindo dêsse moo.o al)enas urna vaga, • p~ante aproximac;ão e sa-• melbante por vezes em seus trejeitos sintáxicos e seus sestros for-a de moda a essas princtsas de présti•.o carr:a- . valesco. E há que1n, com receio de ver "deg.:t;tcrs.~·• ar língua, a impede 1e cr•?sc~r à v-0ntade, e faz da expressao um pé de chinesa . _ Por c,erto as observ:ic;oes de Daniel Pézeril são proce– del).{es senão irrespo:isá"ei~ · A" .1 r sobretudo no que <>lZ -respea.. , to à !alfa de simpatia c:ta · inteligência, que no seu d?· ! sinterêsse pelo 4u~ esl.ál ••tora. ãe sua vitrina" con-:- ! :funde a expressão ,·iva c<>m um conceito ideal c!e b~lo?iá.: O irro vem dé longe e Hgà;. 1 se a um p1·ocesso ge'lt?raHza- · do de desintegra~ão cult,uril observãvel como em ; i,lcío desde o fim da Idade Médla.,l Quando a cult~Ta crist~: principia a sentir•.se aba \:ida :· em sei1s alicerces .pel3' a.nplí- 1 ação dos . eorihec!Jlle_ntoi! t~..'. nico_clentificos, o poder de criacão artística começ3, ·a1 1 perder contacto com a essên-'J' eia do homem. Pintw·a, es-\ cultura e arquifet\lr<t se tQr ... nam mais exteriores e, in~• paz.es de inven-far .o:,u . re'!e.; ! lêr, 'Y iÍij BY§Sí!r !f!.§l?i r!}~~~! numa antiguidade ul~t npns-1 sada. Todo o Renascimen to é obra da inteligência anal-ítt- t ca. Sua produção, logo após ' os ''primitivos" ai n1'l <>m..• buidos do espírito g-,tico, se estiola num jôgo habíl de: teoremas geomét ;fccs. o · ,r,Ealismo é a apenas áparen• '\, t~. fica. col)tornando o· pro• bleina humano, o problems' da expressão ma.reando ,.-o. · 1 lumes e erguendo c'lnstru- ' ções sutis mas, salvo uma oui ' Outra exceção, Dá,) chega ' nunca a "entrar" no assun,,.I to. a realizar uma péhetr:r ção· vertical realista. 1 Com tentativas, nlgumas "grande criminoso", aparé- também ten1 a impressão de cendo em todas as tragé- ser "joguete do d estino" - dlas, era uma convenção «we are · merely 1he st ar's teatral da época; õ ·drama• tennis.:balls" (J ohn Webs- .. , , tei·). E o que d1z da suâ pró- . turgo só precisava colocar- pria alma ã dÜqu~za de lhe na bôca certas palavras Malfi, de Webster, - · sintomáticas, e os espect a- "My souL like to a chip in dores já sabiam quêm era. a Jack storn ' > • A<!ontece o mesmo com Js driven I Jmow nol whi- respeito ao assunto "vin• gança". A . maioria das gran.- th .. . er. .. - aplica-se hoje à Humanida• de inteira: "Volpone". "The Duchess of M-alfy" e "Tis Pity She's a Whore" são teat ro para o nosso tempo, "semelhãnte a u1n navio numa tem-pestade negra, levado não sabemo~ p ara onde": T alvez respondam à pergunta angustiada as pe– ças · elisa betinas que ainda não reapareceram nos nos.. ln a n u a i s de · b o ·m Evidentemente, as inteli· tom (no çaso as gramáticas gências superiores, as int~li.: e dScionfirios cnvelbecidC\s gências integrais não come.: quo tiveram .1:uâ utlatJêlje tein êsse êrro de se aci-edi– em seu tem.io , mao;, hoj'.:, 1~- tarem capazes, por si sós, de o,.1em um momeT'to' wtr;i_ d~cobrir e governar o mun– rassa-do do inun:!o social e do. Elas são mais humildes Jfi não corre,po•ic'.t·rl'l a llf!. diante -da vida, menos arro_ nhuma realiàao:\e). A llngua gantes diante do irracional. t,,m que ser \.nl instrumento E:-,a3 sabem que vida e ex.. p, rleilo àe "::<pre.;sã'l e <'e,• pressão da vida :formam um municação, não um instru- ..c..;mplexç,. um todo indisso• n:tnto b onit.> ;mas um i!)s_ lijVl!l, que a fOl'l'(ll\ (pense– trumento ilel. Se n algurna se ''a. lfngua") estã 'intima. coisà pode da::.-.'>e o qual:fi~ mente ligadá à substância. A o iir. Dani,e l Pézeril "()a• rece estarmos ei;n uma des: sas conjunturas históricas em que o instrumento ··de· expi:essão dejxou de se-r funci,onal. É uma conjuntura de divórcio da inteligência e do espírito criador. Enq1,1an. to êste ~ estorça por desco. brir soluções novas e fecun; das, nquela classifica e -poU• eia . importantes, d~ retôrno ao ' homem, ao conhecimento do' homem, e à ·sua revelação, · a, l l i- nba de degenerescênci a: ' continua. até alcançar a an_' gústia moderna e a vi olenta,• negação da inteHgên '!ia, que 1>resãnciamos boje e . ~ nr.on .:: t,ra sua. filosofia no e;itiste'l:;~ cialismo. e sua psicologia r.Õ freudismo. - · r Como se vê o problen,a ca expressão, levado a suas úl-~ timas consequências, vgi da!'• no problema mais am-plo do !. próprio destino do homem•. , • d es tragédias d a época d o "Hamlet" até a "Reven'.. ger's Tragedy'', são "tragé;. dias de vingança". O dra- . ' . maturgo Jiem sempre preci- sava explicar com porme- • • · E policia, como a Policj:i. Especial, com "casse-tê;:L", :ídnga-ções e até gazes · a_ • nores os motivos 'p.s1cológi– cos nem répreserítar todas a::. l<i!>tS ua 1:voiu.çào o.os aconiecimenios: o público Jd cvu,.1,1< ç<:.ilU<:U, 'COJJLL.;;C.:n- 0.0 per1e1tamente a conven– çao, enquanto o leitor mo– 'derno só :,ente a incoerên– cia. Não se podia permitir sos palcos? O destino atual , das riquezas . incalculáveis ~<::::i-<::><::5<:,::::;-<:::'.:>"<:::::;~,<::::><::::..-~ > - • I "saltos" assim em Ibsen, criador de uma nova técni– <!a dramática, ainda não ía– m111ar ao público de 181l0. O p úblico moderno está po– rém novamente acostumado a compreender imediata– mente certos "saltos" e in.. coerências ''inverossímeis"; aprendeu isso. no cinema. E' surpreendente com efeito, a semelhánç.a êntre a arte cênica dos elisabetin0'3 e a dos cineastas. A mesma "incoerência" dos enrêdos, a mesma a-cumulação de horrores, o mesmo esque– m atisn10 de- convenções que se repetem em todas as p e– sa.s e em todas as fitas. Os acumuladas pelo passado da nossa civi1ização já não po– de ser n1elhor d efinido do que pelo verso de Middle– t"On. no Char,geling: " ..• b eauty changed to ugly wbo11edon-:.". Mas o "q ue adianta prot · star ? "Can you we- p Fate from its d e– termined purpose?" Contu– do, o múndo nãp ac;.ba por isso. Al)enas começa, depois <!e acabar "The Revonger's Tragedy", outra era da his– tória. E o Vingad or dos horro res acumulados nem precisa ser "grande ho– mem", só se chama Vendi– RIO - Aconteceu-me t er de comprar êste par dê sa– patos - :fáçanha inglória qúe a,coiitece todos os dias a qualquer filisteu. Acbava•me em êxta&< di– ante de uma vitrina, ·décom• pondo, ll;lenia!lmente, os es– pécimes apresentados, em seus cromOsômíos romanos, chineses, palacianos e orto– pédicos. Nesse momento, a doce criatura apareceu•me, e com uma bôca de cravo côr de rosa num rosto de m.a– dona flamenga, perguntou-m.e Ce sua pe:i;gunta era COlll_:.O um .raminho de coral): "Nao se lembra mais de mim?" ce, é un1 vingador quase N-.i. wrdade, lembra~-me, anônimo, énce!'nação da bu- lembrei-me logo. De onde? manidade ultrajada, aca- De quando? E taltava•me o ba:1do com L ussurioso, Am.. seu n-ome. (Por que sempre bitioso Su-pervacuo -e. Spu- custa a chegar o nome das rio e Íodos os duques e os pessoas que -nos fazem aque- la pergunta, em qualquer sinônimos modernos dos parte?) E O motivo por que duques. "We die aíter a me lembrava era somente a nest of dukcs. Adieul" sua 1>lanturosa figura, sua be- .._j .. . j , CECILIA MEIBEiiES (Copyright E .S .I. com exclusividade pua nesú? a FOLHA DO NORTE. Estado). te:za de lua cheia, plácida, Uin_pida e imensa. Seus translúcidos olhos cas– tanhos sorriam puros como os das crianças. O chapéu pre– to escondia-lhe um lado da cabcc;a; mas, do outro, cinti-" 1ava uma bela madeixa de t.ons dourados. Reparei num pequeno í io branco locaDdo• lhe a face• :redonda e :r:ósea. E ela me disse : -Como eu des.ejava en– contrá-la! Sempre penso na. senhora! A's vezes, pergunto a D. Júlia, a D. Leonor , .. - mas ninguém me sab~ dar noticia suas .•. (D. Júlia e D. Leonoy fica– ram. boiando sein ro.s~ na minha in1aginação). Eram 4 horas; ia e vinha muita gente pelas ruas, e as moças -se;nttam súbitas pai– xões por s apatos; par11tvlllll pe-rto de nós, e exclamavam: "Que beleza!" E já não po– diam mais an<iar, atraídas pelas camurças, pelos saltos. peios recortes daqueles amo• res que todas desejav-am cal• çar aos pés. Mas a meia voz n,urmura– va, em -pleno borborinho: -A senhora ainda se lem– bra daquela fot-ografia que tirámos 4 um dia, numa esca– da? Nao se lembrai? (Minha vista intro-retrospe,ctiva não atinava com o a,rquivo senti– mental). Hã tanlo tempo! Ve• ja só? Pois cu ainda a tenho, nwn albu.tn . . • - Depois, eu me casei. Alice se casou, Pll• 1>aí m-0n-eu, eu tenho tl'ês :fi. lhinhoa.•. Não f~ nada: ii• eo em casa. E' uma vida boa. Cuido de meu marido e das crianças. Agora vlm ao dPn– tista, Meu dentista t inglês. • • • • Estou muito triste, porque vai para a guerra ... E' n1ui– to bom õetitlsta. A senhorâ ~abe como são os ingleses . . • I (Não me explicou mais, con– fiante na minha c.:ência)~' ~pre tive dentes mui t.o bons; mas depois que nasei!◄ .ram as crianças... Ano pas- 1 sado tive uma crise de f iga• do. Papai também tinha. um.~ clrrooe. O médico sempr e 'brinca com o fígado lá de c11isa: chama-o "seu ·Figuei.i redo". 1 E eu, esquecida dos sapa• 1os, im;iginando retratos nn-! possíveis, escadas. um <liln◄ tista inglês Ce sabendo como são os ingleses!), as crianci• ilhas, a Cirrose, o "seu Fl-1 gueiredo". ºNo figuei.ral figueired<>. ai, no figueiral entrei.. ~ . E ~ minha amiga sorrindo– tão dooeh)ente, a, contar-m~ a sua história. Continuava: \ -Eu estou muito gorda. S&be gtie 1dade tenho ? Vin~ (Conünúa na 3." págJ_ . ,

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