Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
• • , • Oi,inta-feira, 1. 0 de janeiro de._l:_:9:_:4::8:_.:;__:,;_____ F:.....=O..::.J..::..H__:A:..__D_O_N_O_ R_TE _ _ · -----------=~--:::-:-·S_._ª _P __ ag_)_ _ _A_S_ lVI _O_S_ C_A_._S Conceito E SentidQ • {Continuação da 1 °. página) (Contlnua~ão da sabilldade do cad.11. Indivíduo para com a sociedade''. E conclúe: - '1:tstas considera- 41ões são razão parn supõr que o sistema s oviético contém latu:rosos e criadores Jngredi– entes, que eshio destinados a vJve.r D3 historia. das grandes expeiiências sôcio-politicas dos homeD!. Assim, vemos, claramente, uêst-e campo, u.m ,,.traordinário desenvolvi– mento das forças criadoras da R ússia, durante o p erlo– do considerado. A maior inovação politico-social do séoulo XX pertence. Inques– tionavelmente. à Rússia". Cl) tia sua. pa.1'11 a da ,•i:dnha, pa– r a a qu_al costunmva. canta r. Depois, no banheiro, quan– do já sorria 11ara os reflexos elo c;ol nos mosaicos úntldos, olhc)n para. a água. De novo elas vêem tm pro– f usão, voando como uma nu– vem de gafanhotos pelos campos verde-oores do pija– ma. ..:, Entre o anjo e a rosa pura está meu corpo iranscedental ! Tenho raizes no espaço e caminham os séculos • C>.ne nojo! T urv:1., escura, com lama. b arrenta no funtlo du. bacia. b r:u,ca. Jo:ío, de cõcorn.s, nú, desl– Judhlo. tmçou com um d edo a s inloiais ele seu nome n o b a.rro debaixo da água. No aTntoço fo1 pior. Vieram as perituntns. Os conselhos. Por gne chegara. tarde? Nio, Jlâo chegara tarde. Nem fo– n ao calé. P assa.ria nos exa– ,n,c,, de segunda época? Nio passaria. Quem niío estudou o ano i!1leiro. como poderia aneter na ~beça, em duas se- • manas. os compridos progra- mas? Por q ue não dobrara. cli– rolo as C'.alças? J>or que o fundilho jti estava suJo, se hoje que era quarta-feira ? Por que não se corrigia? Por que era tão relaxado? E por QUP. não respondia.? T.r:i.near a-sc no quarto. ' Agora, a mãe ra.bujcnta res– ,jllnu:bga. do lado de fóra. P a – rece que ern cadà uma. das JJortas há. uma p essoa esprei– t ando, fa lando. p ergunt.ando, daTido conselhos. .João chega. a ter visões, angustiado. De– zenas, m ilhares, bilhões de pessoas em cada poria, muJ– tas trepadas em catleiras, fa.– :zencJo.lhe disoUl'SOS. Tapa. os olhos com o lenço) amarel:t– do. Horrível. E a.s mosca$. Grandes, a ter– r-ori2adoras moscz.s de asas :riistadas. n um tnA>vimento ir– ritante de antenas, coçando– lhe a. planta. dos pés como no BU olioio chinês. Jo:io começa a rir. De fóra, sempre :\ porta, a mãe cha– m a-o idiota. Não estará mes– m o amarrado a um tronco, . com sal espaJhado na pJanlll. dos pés, morrendo de rir àll ga,i'gaJfiadas, c.om a cabra gi– gantesca à. frente, lam.l1endo ., sal, torturando-o, matan– do-o?· Talvez nem haja tantas moscas. João, por ém, v ê mi– lhões delas e até os que par– Uclparam dos comícios atrás das portas, atravessam-nas palmando no gelo, os braços tr~formando-se em a.._-.as de moscas. A rêde está como um ocea– no de á guas tépidas. O len– ç_oJ, molhado como se todos os homens a.í tivessem derr a– mado i;uas lágrimas e seu suor . :-.o t.et -0, outros milba– r rs d e moscas, cumprimen– t ando-se, esperam n. vez, ali– nhando-se em forma. .João tenta gritar. E' preci– so que alguém venha liber– tá.-lo. Se possível, m ilitas pes– soas. Devem telefonar pa.ra o Quartel G;en.eral, tomar pro– vidências contra aquel es bi– chos Imundos. O coverno niío comprou aviões para dar combate aos gafanhotos? Por– que não manda a viir.inha e,.-;– p ulsá.-las, a cabeça coberta como nos sábados ele limpem, de espanador em punho. Bas– tariam, talvez, os raios ele seus olhos para queimá-las todas. (Conclue na pógift~ fuiuros (dos pelas meus Só os mares guardam o segredo de (origem no Meus cabelos eram algas as conchas os meus ouvidos e minha voz foi notada cantando na Vi o principio da Terra e quando da espada do Arcanjo a Estrêla Neva nasceu! pontas dedos. minha Mundo: tempes• (tade. Agora me encarceraram na carne fadada (ao pó! Mas na gaze do crepúsculo, no incenso branco das missas, no vento que apaga os astros no riso das criancinhas. retorno transfigurado. a minha origem primária - ao Corpo Trans– (cedental ! Alouso ROCHA Uma observ~âo curiosa de– ve. todavia. ser relia, a titu– to preliminar. - acarretan– do, embora-, a maiB profun– da e ampla subversão da or– dem social, a revolução so– viética foi uma. revol11çáo de n1ln0Tias. A quem l ê, hoje, as J.)áginas de hi-1>-tó:rla ilessa r evolução, surpreende a. sua. clebiTidade, a quase insusten– tabilidade do regime e de seus dirigentes, nos primei– tos ãnos que seguiram à vi• tó:ria. Esta. observa.çào focaliza 11m elos primeiros problemas bistõrie~ do nosso tempo: - ho11ve al&'o de a rllflciaJ, de • USUTJlado.r, na r evolução rus– u? - ou foi ela, apenas, uma revolução à mOderna, eis que História Do Navio Que ODragão Come _Sempre ' Conto de RUY COUTINHO Havia um navio que andava por mares desconhec!- só]. Poucos falavam com. a gente de terra. Os que de– dos, sosinho, sempre. Alguns dias depois de ter deixado sembarca'lam , porque muitos passavam O tempo vaaando o :porto, ninguém mais dava noticias dele. e nenhum navio ~.elo convés como fantasmas. Mas alguns desenlbarca- o encontr-ava mais, e por isso se dizia que ele andava so• vam. zinho sempre. O capitão alto P. seco que falava com a srente corno se Muitos mêses passava ao largo, e de uma vez passou f osse seus escra\'os, e dizia que não havia um ruivio como cinco allos. E q'\J.ando voltava, aquele navio, encontrav::i o seu. Pergunta1·am-Ihe uma vez, por onde andava O seu muita gente .no porto à sua espera, porque trazia estra• navio. Ele franziu a te!c'ta e respondeu: "Anrl~ .,,:, ~ mpre''. nhas coisas de suas viagens, i;empre. DaquE!.la viagem de Hàvia também um mal'inheí'ro que fumava Jon"os cinco anos, trouxe o casco cheio de uma estranha espu- cigarros, e conversava sósinho co1110 se estivesse bebadl). mã. ]} õ pôVõ q;õ wis -ârzlã: 11 é úm â1'êõ - Í-fis que êlt! h'-112! 1 , •tF l!l1a com os anjos", cbziam aiguns. "Fala êõnf O demonJo.,' e depois: "não, é um enorme <iian1ante." Quand.o !}le diziam outros. _ , · atracou por~m, d i$seram.: "é .a espu1n.a, mas que esftanha Havia outro que bebia muito até se embriagar. Pas• espun1a". E muitos .quiseram tocá-la, n1as a esÍ)un1a se s,ava então a insultar t odo o munde. 1ª. págino} • os n ossos tempos não com• portam mais revol uções à moda tle Frn~a'? Aí es.tá o problema da legitimidade do poder soviético. · A r esposta ao que indairn– .mos deve nos ser dai114 i' - los Ca los, mnls do que peta argumentação. Nêsse pressu– pos LO, o que é I.Ilclisculivcl ó qae a vítorja foi alcaTI<'ada por uma. minorijl, organizada, com um programa ítleológico claramente definido e uma lática política 11revi3mente asstntada. ~fns, q11an1lo o mundo inteiro s upunh.a. que o r egime peYeceria de inaniçã o, ii,olrula a U. R. S. ~. de to– do o uni verso clvifuado, a enfrentar tremendas crises tle miséria, tome e morlan1Jade, eis que o povo russo foi rea– llzo.ndo, com r a.pidc:i, a sua reorganJzaç:io social, coru uma surpreentlente reslaura– çiio de grantl eza. econnn1ica. Ainêfa assim, porén1, era li– cito pôr e.m dúvida a eslabi– lldade e a leg-1timidade do Estado soviético, prcsumi'Jldo t osse êle, também, basrado, como o fascista, numa sln1- j1les organização policial 0- rânlca. Todavia, quando • AJeman.lla blUerista ill'°adh1 o território russo, viu-i;e, ao– mesmo tempo, um duplo mi– lac re ele p.iderto mllitilr e elo exlrMnada abnegação e soli• daríedade. O Invasor chegou às margens do Vol ga - co– ração da Rússia - e regres– sou de lá, para aqutin1 dP. suas próprias íronteJras na - cionab, deixando para trá'l de si o melhor de !>eu poten– cial bélico e, o que é ma.is ~rgnificativo, grandes blllSSti jubUo!!as de retornarem à eo– munidadcde pr.liUea de que lla.vlam sido mon1euWnea– mente divoroiadas. J,i;ssa imprevista d emonstra– ~º de pnja.nça militn.r r 1)11 unidade polili.ca desp rtou. por toda Jl-'tte, a. mesma !.UT· prêsa, pois que jJl.lllais se ad– mitifa pü.cl! sse a. fJ, 1t §. s. ,. .. .. . _, .., opo.r-se a mvasao ir,ermanica.,t.. B espalltou-se- a toílo o mun- f . d . - ,1 _ - o, a co11v1.cça:o ...., , que o r e- · Esconcle-se das mosca;s ,le– baixo do lençol. l\'las aterro– riza.se porque, •estirado ·ae– ;ba~o dos pés unidó's- é ' sob a caheç à. retesada, o len~~) to– ma a forma de um caixão de criança, branco, crescido ·pa– ra a mãe caber dentro. desfazia. 'E um outro que insultav a 't'9da , a equipagem quando É _bem ver,d,a,d E:, q~e então não hav(a próxi~o nerrn,u- ~a1tava, e ruzia que i a se matar par a se vingar: -Mas n1a criança, e a pr1rn!:!1r a que se aprOXi,ffiOU i o..i urr:,:a me- quando o navio voltava pa.rá os n1ares desconhecidos·, ce}e nin_a e levaram-na pa_ra ver a espuma. _Más ,e!st f ugisu h,01·· · apanhava a sua ·roupa e o seu tab-a-c.o e seln qu·e •ningu em rorrsa<l~ dizep,q.o: "Nao, {e1n sangue. suJa. Nao,· t em ,san- o •houvesse c_ônvida<lo s ub'ra pa1'a bordo'. .. Disse ele que o gue, suJa." mar pof onde. andava o n avío não t inh·a náda, e que não Não, as crianças n ão gQstavam daquele navio, nem existia. gime comunista. na Iiássia, · nãõ e1a transit'ório ,a,,:ranjo, P<!H-tico, <te duvi<losa sobre• .. ...... • ' + ' .·, - v1v,e~cJca, mas uma. fórmula •-: na•ci-ona,l definitiva, na ·retati- · vidade hjstórica desta ex.p.res– são. das coisas, nem d os homens daquele navio. Os homen.; Pois bem, faz <l,ez anos ,que o navio não. ap1;1,'l·ece. ' Procura. libel'tar-se do len– col. l\'Iais um motivo de de- ~ ,.. ' <lizia1;1. q.ue gostav~m das, ~ri_anças e se d~smanchavam Mas seman,<1, pas~,qa .aco~teceu Umfl coi!la ·m1,1ito estra– em lagrimas quan-00 algue.m falava em cria11ça, porque nha. .A:pa:receu nu•ma praia u1n g.i::ande e <iesconl1ecido eles desejavam ve.r as ci:Yan~ág,. l\>Ias .eles não viam .as peixe. Foram os pescadoves que o encontraram de ma– crianças, nunca. .n"há . Pensav~n1 que ele estivesse ·morto e se aproxima- se.$per-0. O pa.no prende-se-lhe ; nos dedos, nas mã,os, enros– : ca-se~U1e pelos braços inde- . penden!es do cerebro, prende- • se nos- ca,belos, esconde-se. debaixo das costá.s. · De um .safanão, engulindo em ·seco, Yoão livra.se do teto pl'ote– \lol". Quando o navio deixava o por'to, os homens respii:a- ra·m. Qu:a1ido estavam bem perto, o peixé.. aQrü:1 a boc~ ~ vam novo ar e diziam:- Foi um sonho? Sem duvi<la um soltou um fogo. Mas os pescaaores que eram bcons-e1·\5-, sonho máu. Qúe :i:ião venh~ el'\venenar a nossa vida. t ãos, fizeram o sinal d,a e,ruz. O pelxe então deu um sal- . Sem duví<i'a , a lguma ·coisa que se opõe à Vida. w e gTitou: • • ~,.__.,.À OIS Muito estranho a quele navio. e estra.nha t amJ:>én:i, éra - Eu não sou peixe,· e.u sou o dragao que c;pme o na- a sua equipagem. Todos os seus homens tinham a p.ele v:io, sempre. , pálida con10 se n os n1a.res en1 que Yiaj avani. não houv_ess.e E desapareceu no mar. ~-~~ l r...,.,·oemos ' ouo POEMA-: - ' ,. -· -·· . .--- ~- "2uando a lua nascer cantarei uma cançiio para os ladrões; :mendigos e ciganos ~ Cheia de terra e sono. Nenhum só animal erguerá as palpebras cansadas •• • t 1n10 . i 'tu descerás ó grande anjo e virá3 cantar comigo koje que sou i,,não de ladrões, mendigos ' 1 ,, e c19anoJ. •.__ . Ao longe vejo as fogueiras se acenderem · - E um gesto de veneno amargo na boca sem palavras. Quero dizer-te, p uro anjo, a he_leza que vejo nos teus olhos ., E confessar-te esse desejo duro que se mistura ao tedio ., E nasce como papoulas am_arelas. ELEGIA EM 1941 -:-------- Ouço o teu canto, estranha amada , das regiões perdidas ) ,. Teus cabelos desleitQs têm o encanto dos sonhos Eu um dia te vi brilhar como as. estrelas do fundo da i nlancia ; Hoje eu te sigo os olhos pelos m ares e vejo os arco-iris. Estranha amada que um dia c;ant:ou no tempo desaparecido As estrelas nasciam e doente eu bebiq a agua Iria d,as gruta$ Um dia eu te ouvi. t T e!I canto é puro e se mistura com o ,umor cio mar_ e nos ~nvida . , Teu canto é triste como os navios ela morte. · l Tua voz é grande como as boias que nos habitaram ' . Teus olhos suo como ps estrelas 'Estranha amada. Ouço o .teu canto e sinto-me perdido~ 1• Para onde me levarás '!ª grande noite triste quando _,, · Depois dos grandes sonhos a lua aparecer no ~éu ?. >' Decorl'eú daí a sitbita e ra– dj cal transformação openada · na. P?lítica internacio~al, que c1tlm111ou com a surp.rcenden– te al(ança. a.nglo-rossa·ameri– can_a,. fato 4ue ~ bem se ·oocle de!1n1r como âcqnteetmento maximo de nossó .tem)jp, e ujo !l~n_(ido e . cujas conseguên– c1as devemos nos esforçai'. .. (Co·n,cl~e nc;, • •
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