Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

• - . • • ...... - ----- _________________ ......; ____________________ ..... ---------------------------------------- MARCOS KONDER REIS ~~ MURll.0 MENDES (Ce_pr t lght E .S . I ., com exc:lusl.•ida4• para a FOLHA Pô :NORTE; ne•1• i:.tado l repulsão. Pat·a e..xpllcnr n1e1hor furas, sem nenll11-1n "parti.p rls" certas colSl\'jl preciso ú1.er um lntelectu•a.1, p rocurnndo a b r l r depollnenlo d<? caraicr pusoal. meu ei!J>irilo a tod:1.S ali corren. :M.Joha iniciação llt.erarla í c,i. \Ji,; poasiveis. Isto strlbuo em além de precoce. multo eomple. pnrle ao meu forte t n.sUnto de xo. Desde ced o habituei-me vo_ cnrlosl<lllide, em parle à b.lla de l unt.t1r!a.mentc a mlsl u.rar as lei- (1111:r" c ont. .». 2ª pag , ) Traduzir o Introduzível PAULO RôNAJ (Copyright E . S . l,, com exclusividade para a "FOLHA DO NORTE , nesie Estado) R I O - N um con1&:1tá.rio inleli-genLe, (1) que 1em o mérilo de tocaliza,r a inipor– tância do assunto no Brasil, o crilieo paulisla Luis Washington resume uma curiosa pá.,na de Ortega y Gass•i sôbre os problemas da. tradução. O p e11sado.r es,pa.._ nhol chega e. negar a possib1• lidado~ em principio, da tra– dução. Salvo as obras c i.– e-nt.í.fi =, escrita;; nu1na es• péc-ie d e giria a rtificial, ne· nhum livi-o 'pod&i·ia ser ira.nisperLado para outro id1- oma. Não quer com isso dj :r.er RIO - Há três anoa atrâs cn• trava no meu quarto de d ot-nte \ to\ Joven1 multo jovem - não t er1~ mals de vtnte, ou vlnle e um nno3, con1 um llvro na m'oo, O Jovem ria, ria a todo instan. t e e ai>•ire,11tcmente sen1 motivo ou sem oportunldn«e. Pensei com ------ - .,, ...... =~----------- --·------ ----- .. -- Ot'tega y Gasset que não !:i! deve lraduzir, nem o seu co• mentador bras,ileiro tira eon• clusão semelhante d e sue.s explorações: pelo contrár io. p õe em de$taque o pap!l im– po1·ta11t~ das boas traduçõe, na. cultura nacional. ' l:>S meu$ botões: "Ou 4 1.1m boc6, Q ll ;; urn poeta. Não 1 â oulra al – t ei nat!vt'.\". De f ato, rir tanto dl. iantt- d" um doente crtendillo na. canta era o tipo da atitude a11tf_ con veo~ional; o rAtlll7. ach:Jva– ,;e poslli<•lltnente li \1ontade E' ,-11::dade que aqullo ped'arta tam.. b em ser um!. manlf~çiio ncr– vom. 'l!ltu em vls!Las ~-uccs,!lv11$ vert/1qul:'I que o jovem ria l!Cm- ./' p re. R verlfiq ul!i tamben-i que na.o era u,n b~ó. era, pelo con. t l'ârio. u_ma pes<>a multo sêrla: o p oeta. Marcos Konder r.et :<. Sai. dr, o \'liita.nte. peguei ans,08a_ menli; n1.o LIVTo e tl ate o fu•n. D esde a primelra plg1na, aS/ll\l• t o1L1ni. u1n certo receio: n epl– gr:úc,, era de Blmbaud . 'l'enl.1-0 medo, confesso, das ep!~ra.fes•.. Mu1t.oo p oetaa usam.nas lncons. C'len\ernentc, sem propósllo. ás , •ezes s6 pal'a rnost:ar e.rudição cratE:a, Já ~ ve.J.. o padroeiro. n~ cas<1. E>ra Rlmbaud. l>actroe-1- co perigoso ... O prtn1eiro poema n ,io ~cusnva Jfgaçõe.s de ordem .- .s p I r l t u a l netn ele ordem técnica, coro o autor de ''Les l lluminatioos". Nem os segiún– t pg o úlUmo 1ntll uJava.u. ~sc– nhnr1··,. 1nv~o que tem acr,. bertM!o ccn•e»,ag de poemas pcs,;Jmns, e terminava cnm a e ro-nde e Inesgotável p3lavra Amen. (lUe tanta gcute etnprPga 1;en1 de longe conbcçer o seu te– rnlv!-'l e espantoso 11igoi(ióado. Um do:;i p oen1a_s chamava.se ape– n e.." "Canlu d o vagabuodo na. cn– tradn de ConstaoUno,;>la", titulo ivldc11ten1cnte p retensh>so, d e 13bor excêntrico na atmosfera. d a poesia brai.1te;ra, mesmo mo– derna . TMto o poeta era amb,_ <·h•so qUe logo â enll·adn do 11- vro. do p oema l iminar, anu_ncla· v., guc tlnh:\ o hábito de cllu_ ~ r estrelas, :Cazendo uma trans– l)ó:llÇIÍo modl!rna d e metáfora ao ~o,; tc, dl' ViLor Hugo, que a :i.lu . iili,, CutcbolI;;hca niio consegu_ia encr•'brtr - ·----·---·---~---------------- ------------------·------- Pa.tece-me que Orleg::1 y Gasset. ao demonstrar a im– possibilidade teórica da tra– dutã-o l!teráTia, atirma impli– citamente que a tr11dução é arte. O obj~livo d e tôda ar• 'te não é algo in1,possível? O poet!I. exprime (ot1 quer ex– primir) o inf11t1l)rimivel, o pinto1· r3produz o irreptodu· z1ve1, o estatu.árJo íbca o in• f ix:i.v~1. Não é surpreenden• te, pois, que o tradutor se empenhe em lraduzi.r o in– t ra<! uzivel. An fjo1 <ta leHuta lle "Tempo ~ M ,Jagre" procedl ao b 310nço d 11>; n1!nhn.s Impressões, que n::. isultaron1 nwn misto de otraçáo e D<,ntiugo, 1 . 0 de fevereiro ele 1~4..lt Uiretor : . PAULO f\lARAN.HA.O O AFOGADO FERNANDO FERREIRA DE LOA.NDA )DE - -------- De goiYo$ a ser,ultura. oryalhada em morna afinidade com argas vestindo náufragos, no livor da névoa. Pardo mundo inconsútil a ilusão que pa·ira sob o extinto olvedri9 do retardado suicida, a ilibar esperanças . Sonhar, já não sonha : Mãos fincadas no abismo, • a bôea aberta a todo o mar, e encimando o labirinto, os olhos já não olhO! - dois espelhos . • ------ Acolitando nuvens bra.ncas não fô.sser Pastor do céu, anjos houvesse . E em rapto febril de vitrais, evadir-ma à luz, desvainecido sob gelosias d e fugas . • E ser o milhGfre que tomba exongue na travessia infinda de uma longinqua latitude, à derradeira . • Mensagens experimentasse e tudo esquecesse. após . Se nãe fôra eu., tu não serias . NUM. 65 A i déla da i1npossibllidad11 da tradução não i: nova. Harder - que era. êle 111es• mo. um grand~ tradutor - assinala que "uinguém pens!I além do iditiroa'' (2) isto {>, q ue o próprio pensai'nento é condicionado pelo idioma cm qu~ é concebido. En1 outras palavras~ há certas idéia~ q ue só podem nascer na ronsciênei.a. d~ p~!Soas QI•~ falanl determinada ling\lil, ou 1nesmo CJt'i? ~ó nascen1 por cerlt1o pessoa !alar deler– minada língua. As;;im po e.it, 01.plo a p r6p,ria opin ·o de que' o -tradutor trai necesi:àriamen– te a idéia do nutor talve7. seja devi.da . antes de tudo, il possi b~lidade, no italiano, do trocadilho "t.raduttori-tradi– t<>ri"; ~ qualquer ou.Ira língua, em que as duas pa– lavras não tên1 forma sen1e– Jhante, a idéia nasceria mai! dificilmente e não teria :; mesma "chance" de genera• l i.zação. A sin1ples existência d a pala,v,:n "Wcltanschauung" de tã1> di!Icil tradução uoi' id:omas românicos impõe ' ' mwt.a.s , ,eze.!I 1,1m rwno ac prlUlllmculo alemão. D~icll (..,... Ctlft.l. a. 2• pag .) - ----·--- --------------------------- ------------------------ Creio que estamos nova.ment.e em face de uin movjmenlo renovador m poes'ia bra• silc.ir- ... Os primeiros sínloma.11 dêsse fenô• m eno já es~o aparecendo, e é significativo, senão p.renunofador de sua autenticidade, que él1!s se manifesteD) no seio ~da ir?raçio majs nova tltl Brasil. Porque têm sido os moços, em lodo o curso da história_ .literã.. ria os UdeTes das novas escobf,s, Ja CJUC, te.lizmenle ou infelizmente, é da pr~pria. n!lioreza d os n ovos abandoDar os velhos dpgmas li procura de si-n sações e su'°estí,es oritinais. E nenhuma outra leg eJtcla melhor do que aquela inventada. por Murflo l\len– cl.es - a poesJ~ em pãnico - para exJ,Ui. mir. neste momento, o dilema e. a plurali– dade de caminhos que, mais no que e.m 22 ou 30 se está esboça11do em nossa v ida lite– ri~ia. O desencontro dessas prefe.fências r slétiC'as embora não par eça, é bem ma.is expressi~•o do que por ocasião dos famos os sucessos liderados J>Or )}fárlo d e Andnule e /"'º':> coml>ll,nheíros. Ai , abria.se UDJ 11bismo l'ntre duns ,er:lt(Íes: eram duas concc~es d e v i1ta duas t-islonoJDiaS, dois com_poria· mentos ·víg:orosamente marcados, Era a rutur:1 de dois r~ocessos d istintos em face da p oesia: um. encarando.a dentro de UJDII, atitude ' 'raffrnée'', estél'il e bi1olada, e o outro conlrariameu~. sob uma visão iló- Marcos Kondtr 'Reis, P,éricles Eug-énJo d1 Silva Ramos. B i-lio 'P~leg:rinu e out.-os. • g,ica., alóg-ica, direi melhor, atrn,•és de uma d eso1·dem, que se.ria fatal. porque de,/lcon• gestionanle. l\fl\S é preciso escla..ren~ e repisar sempre que a renovação se fez. me. nos num sentido formal do que num senti– do propriamente essencial: foi multo mais renovação d• ~pi.rito da poesia do que a simples libfft1lçâo .expl"tssional, um mero acidenlr, um elemento de circunstância d eJLtro (lo {rllnde m ovimento. Porqu.e é necessátio fuer ,una revisão ao conceito tt• tado que se cOIISl\f:.rOu em tõrno cb potslll modt:rna , situllfldo.a dlanle cb chamada po~sia tradicio~l mais como UJil abandono à orilem méitica, • quando a e)(perlência por n ov(IS c.amlnhas sut>stanclais foi muito ml\.is slpiflcatlva. ~uando se d i.lia, i,or e..,i;tmplo. A POESIA . - PANICO HAROLDO MARA..l'ffiÃO uo n1untl'o começavii nos seios de Jandfra Depoi>, su_rgt,·am out rns peças da crjação; Surgiram os cabCltos J)l\La cobrir o corpo, (As vezes o bruço esquerdo desapar!!cla no cáos, Floavtl somente o bra1;0 d1rcttoJ E s1.1t·glra1n os olhos pari. \•igial' o resto do c o rpo, E surgiram scrci.:ls da garganla lle .Ta.ndira· O ar lnleir!nno íleou elerno de- sona .P.1als pa~pávcl.s do que aves. E M antcnru. t?a'ii mãos de Jao,l lra C&plavl\m os objelc,s anltD3dos 1nanun:idos . ' Domloavom as rosas, os i>eixes, as máquinas. E o,: mortos 11cordava.m ntlir ca.minno::r vu,ivets (dt, al', Q ul\ll<l11 Jan.dirl\ pcntea va II cabelelJ•a..." • • • • • • • • • • • • • • .. . .. ......... .. . .. ♦ ••• 1 ....... . .a revdal,'áo do subslratum, da essincia era mais importante do que os versos bran~ cos e sem rjmJl. Nos nossos ilias, vinte e seis :m0s depois à-o modernisano, é bem diverso o tarátcr da revolução. que se ptessente, jâ, nas atuaill manifestações e tendências dos po«:tas mais novos do Bnsil. O problema, sendo ainda ae procuna de soluções essenciais pa~ a pot.sia, é , também, um. problema ile form-1. Receio vir falar dessa debatida quest.âo da ordem. métrica na p oesia, te.mendo co– lO(lar..me nu,ma atitude que _pudesse pattcer inatual. M.as me par ece que airora, m,ais do qu e. ounc.a, ésse aspecto da poesla as. BU!Bé uJna a.tualidad.e vuila.deira, susei. t;lndo uma qutstão aberta aos teótlcos da litentura. A noticia, já antes anunciada, é esta: os poetas modemos, os mais moder– nos, estio voltando ao soae&o •metrifica.do e dma!io. Diz Otto Maria Carpt:llL"< comeu• • taodo as diver,:ê'noias ~ jnt!"!',reta~áo dêsse aco.ntecimento, que ·'al_g-uns laQten– tam o pas~dismo de uma. nova gera1yáo sem naeitres, ~nqnanlo outros s:u1dam a volta à ordem m étrica como o prim?lro sintoma de uma :nova ordem soei.ai do mvndo'', E continuando: "A ordem restabe– lecida do futuro não poderá ser anarquista nem passa.disla. tampou e o futu– r.illta.. contlldo seri. DDlil o r cl e m . F. n t ã o baveri. uma poesia nov-.& tnem modernista neJll :mtt.mode:rnis– ta) ao lado d:i g-rand e poesia do p usad o q ue não seri combatida nem imitad:i". S~ ria, então, creio eu, aíndR, uma quesli& de essência poética. O regre-sso à ordt m mé– tric:,. estaria em plaTio secu:ndário. msis como instrumento do qne llm f.im Não cemo apoio d e tô•la uma arte poética, que Isso seria voltar 1111 requinte parnasiaoo mas talvrz como fr i-io ii liberdade que ~ mllitos pàr,r..ce dissolvente. '!\las não se • deve e8qllec.et os perigos dos p rocessos mé– tricos na poesi.), que, cedo ou tarde, potl r– riío reconduzir tôda. uma geração a um au. lomatismo vicioso e con lraproducenlr. De meu lado, :ich<> ainda m.ais importante 11 questão d3 est êncla na poesia que os novrs de vinte :mos estão fazendo. Vê-se que se acham emptnbad0$ cm descobrir soluções oricmais, desa.peg-a.ndo-se, f~to guanto {IOS. sível , ilesla situação realmente uuleseji-vel: que se esteja identificando a cada momento na s ua obra a marca dos lJOCtas- chave. que já realisaram a sua fisionomia prÓt)ri~ e inconfundível E eu c llatia.. como Nfe.rên– eia desse feoõmeno. Fernanilo Ferreira dti Lo2nda. Ru.y Guithrrm.e &rata, Yacqne, élo Prado Braniliio . Wilson d e Figueiredo Que ~ poesia, neste momento, tstá no. vamente n u1na encrn,,Hhada, à mercê dt taniii\S direções, niu,ruém nefà, nem se 11odt lamentar, antes saudar o aconteri. m.ento como slntoma de , •iiaJldadc, vend11 nesse- s urt~. talvr,., a coruribuição origlml elos novos a herança que DO$ tran.sm.iUram CarJos Drummond de A11ilrade, ~Ianuel Bandeira, l}{uriJo Meruies, Aupsto Frede– rico Scbm.itlt e outros trul.i.s. A(ora. até on• de nos l evarão essas exper1ências, nin– guém pode ainda prever s enão fai:er con. jetur,s. De quaJquer ma1c.ira, será o a\e11. tado da c.tpl\.Cidadc reali.zadora e c:riador:a da g-e.r~o mais nova. Di11 M.u.rllo l\Jendes que aos 20 anos deu um grito no Teau-o MUDiclpal do Ri.o: ..Morra Cbopln, vi1r-a Slra\\·lnky"! Que pior se.ria se tivesse ll(rjtado: ".1\-Iorr:\ Stra– ,,·insky, vi'la Cbopi.n' "! E que agora aos 45, pod,- ,ttzer: " V1va Chopin, viva Stra,orin3ky". Essa definição e!Jguemiàl iC!\ exprime bem o carã ter da gel'àç;io ne Murilo. Leva– va aos , •b1le anos o seu extrem!Uto C$J)Írilo dt" drsu-u.lçáo ao ponto de negar categoria aos valores tradicionais aotê.nttcos. o que. de eulo modo. não é para. se.r cens ui:ado. mas compreendido e aceitndo. Quer me parew:- que dessa impureza, dlg11mos assim, pôilt: escapar II g:er,ição a gur pN'lenço. E o cbam.,du con/(}"rmismo elos n11,·os de hoje não é majs do qu e uma aiitu.Je não. de$truidora. cerlos de u1,e pode-rcm"" "-..,-ir novas p erspcctiv11s ,stéiicaR sem ridicula.rl – zar n cm demolir. O respeito qut- deven1tlS, por exemplo. à <l ~idad.e imelecl ual ile uni Manuel Banile.ira. niio e,:prime ausenei!\ de ttapacidade cr"..a.dora, 11Dtt"S ê 1.1n, indicio d• ~ espirito rriUco, one pernaiLt !'ltu:>.r, ~la..,;silica l" e construir. f:~ nsptclo de de• sordt'm e llnsajuriame.uto :i, que ho:ft' "re• 5Cllriamos nlio lradu.s rris~. ma<; 5aiide frêmiio, voca~o. !'f'm n que· e impos,;ivel p isar caminbos difcrei:tes e puticlpar •• rnluslnsmo 11or uovns üescoberbs.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0