Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
.... 2." ~ ág ------- OIRETOR ., AULO MARANHAO _un _ _ SUPI fM.~I\ITO LITERATUD ORI E TACÃO º' Ji'. PAULO MENDES VOLABORADORES : - Alvaro Llru, AJons. Rocha, &Jmef a Fischer. Alphonsus de Guima– rães Filho Augusto Frederico Schmid&. Aureliu Buarqu• de Holanda Benedito Nunes. Bruno d• Meneses. Carl Drummond de Andrade. Uanby Cruv. Cecllia Meireles. Cécll Melra. Cléo Bernardo. Cyro dos Anjos. Carlo11 Eduardo. Daniel Coêlho de Souza. F Paulo Mendes. Fernando Ferreira de Loanda., Ga.. libaldl Brasn. Baroldo Maranhão. João Conde. Levy OalJ de Moura. Lêdo Ivo José Uns do Rê1to. João Mendc11 Marques Rehêlo. Mãrfo Faustino. Manuel Bandeira Mas Martins. Maria Julieta Onunmond Murilo Mendes. Orlando Bitar. Otto Marta Carpeans Paulo PIioto. Abreu R. de Souza Moura. Roger Bas– tide. Rlbamar de Moura. Ruy Coutinho. Roy Gul• lherme Barata, Serglo Mlllet. Sultana Levy e WII• •no Martins RETI ' (Conclusão !!!fslativa, vinha; de longa dat,a, assistindo impass.f,vel, do palanque oficial ao grar.• de drama de miséria e dôr e!Jt que o pais agonizava . Muito menos pelo que 'l{alho ou possa valer. que é muito pouco, do que pela transcen– dental importância do assun– to, teve o meu pobre discur– ., a virtude de alvoroçar a opinião e inter essar a lnJ· prensa" Sem falsa modéstia nem receio da responsàbilidade - qi:e nem uma nem outra eram do seu :feitio - Miguel 'Pereira assumiu assim a e o m p 1e t a paternidade da campanha primazia reconhe– cida pelo presidente Vences– lau Braz, na carta que lhe . escreveu ao assinar o ato criando o ser viço do sanea– mento rural, éêrca de ano e meio mais tarde . Certo, n ão sendo higenienista, mas mé– dico clinico e professor, lou– vou-se ele em grande parte das opiniões de especialistas, de Osv;,1-:!o Cruz. Carlos Cha– t:!as. Beüsárlo Pena, Artur Neiva e outros, já aue, como exr.>ressamente s ali e n to ~. sempre haviam os médicos procurando lutar contra as doenças do nosso povo. P or seus pi,6orios estudos, lá chegara Miguel Pereira à convicção - hoje por todos aceita. mas no momento ou– sada - de que não provi– nham do clima nem da raça os males que _nos afligiam tendo provado num trabalho de mocidade a inexistência da chamada anemia tropical. Mas toda essa atividade se n"º ""'"-~"v~ ,,,.__~,.,,ramente. era da 3." pág.) como que um dos segrêdos que unem o médico e o do• ente. Fora dos l aboratorios, dos consultórios ou das casas onde a malarla ou a anqui– losfori.tlase entravam junta– mente com a miséria, e reci– procamente se alimentaviam, nnma liramática simbiose, o otimismo rein ava. o sertane• jo continuava a ser ante de tuc'lo um forte . Quem despertou a consci– ência do pais. quem obrigou os detentores do poder pú– blico a tomar providências. foi Miguel Pereira, movido tão somente oela certeza aue o possuia pelo espfrito cívi• vo que o animava. Quando começou a ação prática~- po– r ém - e terá ela sido efi• ciente ? - a. outros. e de va• lor, incumbiu a tarefa. pois pouco sobreviveu ele à cam– panha a que todo se entre– gara . E' porque sei o esfor ço que desnendeu, o entusiasmo qt:.e o dominava, que n ão posso deixar sem retificação. as alav as de Tristão de Atai• de . Se ho 1 :ve influência, foi antes de MiE(uel Pereira em Monteiro Lobato; ao menos assim poderá ser interpreta• da a explic~ão que vem na primeira página de Ur pês, pu})licado, re,pito. âepois da carnoanha do saneamento. E aquí aproveito o lance para imolorar perdão ao pobre J éca . Eu ir norava que eras 11ssim meu Tatú, por motivo de doen~a. Hoje é com pie– dade infinita que te encara quem. naquele tempo. só via em ti um mamparreiro . P er– dAas '? ESQUÊMA DA EVOLUCÃO Conclusão rissimo tiraram pro'7eito da Colonia de Benevides. A Provincia e o povo é que, como selllJPre, nada lucraram. A massa agricultora sacrüi– cada dispersou-se, afundan– do na miséria das cidades, no artezanato, na mendican– cia, ou · se foram, <iesarvora– dos e confusos, para a .fas– cinante escravidão dos se• ringa.is , colaborar no ciclo extrativo da nova e grande • especiária" - a borracha. Para retê-los na servidão da Colcmia de Benevides. u saram da velha sugestão re– ligiosa, jogaram mais urna vez a poeira dourada do mis– ticismo religioso nos olhos das massas exploradas e opri– irnidas (como são trem-enda– mente insufladores do senti– mento religioso no povo os exploradores d~~~>-. Mudaram o ·uome da Colo- :J da ultima pagina · nia de Benevides para Colo– nia Nossa Senhora de Bene– vides. Essas Nossas Senhoras so• frem muito. Q.uantos homens tem vindo sistematicamente em nome delas senão explorando dire• tamente outros ho_mens, ti– rando proveifo indireto da exploração deles ? PINTURA E . .".' . (Conclusão da -01t . pãg.l , t ranquilizaram-se. Adivinha• se, pelo menos, a harmonia das esferas. Agora, "belo . é o rio" e "bela é a t:idade" que, na memória, quase se pa ece com a cldaâe eterna das nuvens, indestrutível co• mo são indestrutíveis as obras do espírito . Não onvi– ram o ór.gão- 7 "0 Espírito– ajuda ... " '.> FOLHA DO NORTE - Domingo, 12 de setembro é:!e 1948 O POETA SANTA HELENA MAGNO Mais adtante diz ainda: <Conclua~ da t.• pãg.) - Minha musa é qual virgem singela, Qual a flõr qt:e o deserto educou. • Embalada por brandos :tavonios, E que o raio do sol não crestou, E', enfim, senhores, a mu– sa que não esquece a dor que aflige o próximo, o de• sespero que_fere os corações ou a pobreza que oprime os miseravels. Mas, acima de tudo, é a musa que se inspi• ra no misticismo de sua in:ex• cedivel fé: -- Divaaa. às vezes na mansidão :tunerea Onde a soberba quis deixar ves_tigios Num mausuléo; do nosso insigne poeta. Na .Religião ele encontrou, em todos os. momentos de sua vida, o conforto e a fé in– quebrantavel, que o conser• vou, através das vicissitudes, sempre :fiel a sl mesmo e ao seu destino. Sob a inspira• 'ção religiosa publicou varios poemas entre os quais so- bressaem: "A S.S. Virgem.", ., H os an a", "Surrexit'' ~ "'Cristo na Cruz" . A exegese, porém, da obra literária de Santa Helena Magno tem se ressentido · de um grande defeito: não de- E deixa as 11ombras e ilusões terrenas, E bt:sca insplra<:ão na luz sublime Quem vêm do céu 1 • ram o necessário relêvo ao A grande ser.sibilidade de Santa Helena revela-se ainda na- poesia - "Rosa desfolha– da", que escreveu quando contava apenas 13 anos de idade, como pocl.tffels verifi– car nestas q~dras: Rosa tão linda para que morreste E assim pendeste para o' chão o rosto, Qual serva ht:tnilde sua dor chorando, Patenteando seu lethal desgosto. -- Então despida dir.J antigas galas, Hão-de · chorã-las colibris por tf, E a fresca brisa cantará saudosa Nenias ; rosa que finou-se aqui! - Oh! Quanto, quanto ·co'essa tua beleza A natureza - similhou também Naqt:ela humana que sorri n'aurora Murcha e descera quando a tarde vem ! -- Morta te vejo, mas t e amo ainda <;em seres linda, sem nenhum verdor, Porque és imagem dum viver passado Todo enluta'do - de pungente dôr ! • sentido social de iua poesia. Ranta · Helena colaborou ln• tensgmente em todos os no– bres movimentos qt:.e empol• garam a opinião nacional, co– mo a libertação dos escravos, o amparo às populações fia• geladas pelas sêcas do Nor• deste e a abertura do Rio Amazonas ao comércio inter• nacional. Daf, em parte o cunho indianista de sua poe– sia. na qual, a cada momen• to, procurou pôr em evidên• cia as belezas de nossa ter• ra, as nossas riauezas e o va• lor dos elementos que con– correram par a a :formacão da etnla brasileira . Anibal Bruno ·co Romãn– tismo - Recife - 1932 - pag. 143), slntetisou muito bem a origem desse movi– mento literár io: "0 indianis– mo foi a atitude necessaria• mente efemera e-m que o -- Tu me récordas que falaz ventura Nem sempre dura - neste mundo vão: • nacionalismo, sequioso de Que esses momentos- de apraziveis sonhos Dias medonhos - me roubar virão T -- E embora o vento com furor demente . Curve essa :frente - qt:e viçosa vi, Uma lembrança guardarei saudosa Da meiga rosa que morreu aqui 1 O dialogo entre o belja– flôr e a rosa é também uma. poesia que emociona pela sensibilidade do poeta e pela delicadeza dos sentimentos . Poucas •vezes se há escrito versos tão maviosos e lindos na língua 'POrtu;t,uesa . Es– creveu-os Santa Helena aos 15 anos de idade. 'Parece mesmo qt:.e o destino, reser• vando-lhe tão curta existên• eia, :tez vibrar muito cedo as cordas de sua lira. PermitL portanto, senhores, que em homenai;!em ao mestre desta Casa recorde novamente os seus versos: originalidade buscaria sua expr essão. "Foi um movimento d·e au– t êntico romantismo. Não se– ria preciso a influl!ncia de Chateaubr iand pa.ra a deter· minar. Um dos motivos cen– trais do romantismo era a volta às origens, à tradição. Na Europa a tradição é a idadi: média, os cavalheiros, os trovadores. as catedrais e os castelos . No Brasil não havia tradição. A tradição era a lembrança recentissi-• ma da colonia, era Portugal, e Portugal estava banido da nqva literatura brasileira. Foi-se buscar no aborígene li tradição mais remota e Slt afirmou, esquecidas as reall• dades historlcas, que dele provinha a estirpe da raça". O indianismo na poesia de Santa Helena aproxima a sua obra dos .trabalhos de José de Alencar e de Gonçalves Dias, a quem devotou gran• de admira~ão. Quanto às lnfit:.ências ex– ternas, nota-se o fascinio que exerceram sobre seu estro as poesias de Byron e Lama.r• tine, princlpalmente nos ver• sos reunidos nos ªArpejos Poetices" . Filiação um pou• co obsol~ta, porque, jã na se– gunda 'metade do século XIX, a grande influência na poesia universal parte de Vitor Hugo, q_ue fo~ sem dú• vida, o guia incontestavel do romantismo nos set:s últimos a.nos. Somente as derradPir s poesias de Santa Helena de• · notam certa mfluência de V\· tor Hul(o a quem. como f· isa Silvio R~mero (Hist. da T ,it. Br a. - tomo 4.0, pág. (133), "estava reservada a. missão de fechar o romantismo no mundo atual" . Todavia. co• mo acentúa o mesmo critico, ' "a influência de Vitor Hu• go foi mais externa e or><si• onal, do que organica e · fu n• damental; . simples ouestão de forma de morfol ogia poe• tica" . Entre as poesias de Santa Helena que revelam aquilo que Silvio Romero chamou impiedosamente de "senti• . mentalismo exagerado e in• dianismo decre.pito". proC1l• r ando, então, lancar a idéia: do criticismo cont emoc,r;,nP.o, merecem especial dPS• . taqt:.e "O .canto do Salva• gero", "0 sonho do Tupi" e "0 Lobi$_,-Homem" . Publicou, ainda, em 1877, em Belém, a poesia - "A sêca do Ceará", para aD!!'lriar :iuxilio às populações fla""e• ladas . Nesse poema Santa. Hel~na :i:essalta o contraste entre a natureza a.mazonica e a nordestina: -- Se me dás, 6 linda. rosa Teu perfume .e teu amor, -- "0 Sol, que benfazejo a festa do trabalhe1 Aqui preside e anima e à noite o doce orvalho Eu dou-te em paga mil beijos, Serei teu firme amador. Como b enção goteja; ' -- D e teus beijos não preciso Nem quero ser tua amante; Além, como um flagelo, assola a terra ardente, E , não já doce luz, mas lava incandescente, Sobre os campos dar·deja ! T eu amor nunca é segt:.ro. Sempre és vario e incol)stante. - - Se hoje por aqui Rdejas Em outro passo descreve ra, tangjdos pela inclemlen• a retira.da dos cearenses do eia das sêcas e pela miséria:: sertão para o litoral e a ser- A pedir os meus amores, Amanhã vãs mais distante Vás beijar as outras flores . -- Ciúme ! não tenhas, bela T Há muitas flores assim ? Nem todas têm teu perfume E nenhuma teu setim. -- E se deixas que eu aspire Teu perfume encantador, Dar-te-ei em paga mil b eijos E os meus carinhos de amor. -- Se em mim amas a beleza E perfume e gra.ça e cõr, Será amor dcm só dia Inconstante beija-flõr. E o di~~ogo pross_eg-ue até o poeta fransforma o dialo[o" que o be1Ja-flor, , deixando a em severa ad\ll~tencia à!; rosa desfolhada e a findar- ' moças q11e amam cegamen– se em pranto amargo, :foi te: amar outra bonina. No fina~ -- ·Assim, donzelas encantas, Tomei a sorte da flor, Não creias como essa louca Nas doces vozes do amor, "Da montanha nas quebradas Caminha. uma turba inteira; Basta ·nuvem de poeira Nas asas leva o suão: "São todos rostos queimados, Labios de sede grotados, Semi-nús, esfomeados Fugindo ao quente sertão . -- Sucessivas caravanas Já nas estradas transbordâ-. Do vale os écos acordão Dos tropeiros ao rumor; Na marcha desordenada, Na presença esgazeada '~melham horda acossada: Do inimigo vencedor". Escreveu ainda sobre o abolicionismo, participanldo dos prodromos dessa memora– vel campanha, que empolgou a opinião pública nacional e teve a seu servi.ço as me– lhores e mais nobres inteli– gências do País. A campa– nha abolicionista foi feita em ~ntido vertical, atingindo Podem almas pervfàl'tidas todas as camadas, ao con• Prometer \Iluita paixão, hã-rio dos <lemais movimen• Dizer - amor - s6 nos lábios tos sociais e Jjbertári~ ocor- . Sem sent\r no coração. ridos no Brasil, inclusive a -- Flores sois e se um mau vento República. E foi o sentido soprar-vos n'alma algum dia • social da obra. de Castro Al• Vereis mw:-char-se a beleza ws que lhe dsu mereci- A graça e a louçania . mento o primeiro lt:.gar en • ...- Ponde pois muito cuidad~ 'tre os. poetas nacionais. N'a sedução dos amores; Em lugar da poesia di\Ta• Vós sois as rosas sinlelas gante, subjetiva, lamurienta E os homens os beija-floreit. e, de certo modo, esteril dos -'°'- , nossos vates do século XIX, Examinado-se, ainda, a que concorreram r;,ara wa aa primeira fase romantica, vida e obra de Santa Hele• formação intelect~,al, não se havia necessidade de criar na Magno, principaimente os. pode. deixar de ressaltar a qualquer coisa que -auxilias– valores de oroem psiquica grande e sincera fé religiosa se a resolver os grandes e f undamenlais problemas da nacionalidade, que propricias• se apoio popular para o im• pulso do nosso progresso. Precisavamos de_ uma poesia que fosse . expressão fiel dos nossos anseios, das nossas ne• cessidaiies e esperanças. Po• esia que encontrasse resso– nância na alma nacional e com ela se identificasse. Carlos Hipolito de Santa Helena Magno não ficou, por• tanto, estranho a essa ten• dência ·e coloco~ a sua lira a serviço das gra.ndes caus1s nacionais. Pertencendo à es• cola dó -Recife ou condorei• :ra, que encerra, no Brasil, a: sexta e última :fase do ro• mantismo indígena, o insig– ne poeta ocupa lugar de des-– taque- entre os granflés vul• tos da nossa literatura . (Ti-echo de. uma. conferên• cla).
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