Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
--------------------. LITERATURA\ AR l E ., (' BEU:]d-PARA --:---------- ""..:;::•,~-~.,;;;;µ:;~;;;;,Dri°o:mm~•::g:;;:o-, Ú dt" set.embro 1le l:148 ....:..:..:..;._:_ _______ ---:------------ · .... .NUM.. 96 ele um ciclo 'de inexcedível Arrependo-me agora de :o:nd=~p:~ ªº1n::::~diem; feãio ht~~:;:,s;~!º ~;1't: :;:;, RE·T IFI e A ç A- o perscr,utador, lançava o olhar morte, Não por yaidade, •por sobr~ todos os desenvolvi• julgar necessário o meu de• , · · GOETHE MARQUES REBÊLO mentos possweis de s~a -éra, polmento acêrca <le uma ti• :_, -~ - LÚCIA MIGUEL PEREIRA - E se dentro daquele cenário gura tão justa e geralmente ~ 1.. . (Copyrlg-M E. s. I. com exclusividade para. ·a FOLIL\ '(Copyright E. S. L com exclusividade para a FOLHA DO , NORTE, neste Esta.do) agitadíssimo foi ator dos mais admirada; ao contrãrio, mui• 1 , - DO NORTE, neste Estado) ~ons,picuos, nunca houve na tos dos . artigos que se têm 1 °llatéia do mun·do espectador publicado convencem-me de ~'nais atilado nem mais jus• que nada poderia acrescentar · Por muitas vezes Goethe da revolução napoleônica ~ to. Do ambiente que morria, q~em, como eu, conheceu o teve oca:llao de referir-se uma prova disso. ele conservou o respeito à grande escritor nos últimos aos seus "demôn_ios", coisa !Plantado coono um solene ordem (tão incompreendido dias de vida, e teve, aliás, a fi!Ue não póde deixar de sur- rochedo no fim do século por Beethoven, seu contem• satisfâção de narrar, numa lido, a emoção desse encon– tro, Se lamento não haver públicamenté juntado a mi– nha voz às que o louvaram, é que um dever de consci– ência me impele hoje a rei- preender a todos aqueles que XVIII, via encerrár,-se com (Continua -na 3.ª pág). crônica que ele poderia ter rião conseguem lma.gúnâr a r ;E}1:~,rr;:E~::. ESTA· NOSSA CLASSE M·EDIA Sereno foi ele, na verda- · · 'lle. mas melhor seria dizer - ' • • "conseguiu sê-lo". E, para · Numa página excelente, ~ - CARLOS ·DRUMMOND DE ANDRADE - suidor e o desp'ossi;ido, que atingir a tal altura, foi pre• OswaMo Alves conta-nos marca o nosso tempo, torna- ciso ir pouco a pouco, com a sua angústia - diante da ci- se curioso observar que ne:n ""'roverbial tenac1·dade ger d d d (Especial para a FOLHA DO NORTE, neste Estado) , ,... · • a e gran e a que ele che• sempre é aquêle que mais tnãnica, vencendo os seus de- 'ga pela . prianeira vez., ou _cisamente por trazer -consigo tercompreensão, e o indivi- sofre às mãos dêste; é mui– mônios interiores. Se chegou pela segunda, ou todas as uma sina de explorador da duo sinta desvanecida a sua tas vezes o que está no meio, :a vencer é impossível apu• vezes que chega. Até que a d d M t é alma humana, sente mais do complexidade . Alguma coisa acusa o por. uns e se ven- rar. as O cer 0 que ª fa• .,omlne, como homem dom1·- 1 t 1n • r u que o comi.;m a complicação exceâe o econômico, e essa der ao ouro dos p u ocratas, osa impress..o de persona• na mulher, com força, mas · · •·d d 1· f l e o mistério da vida, e não coisa é a própria ·capacidade por outrós de se deixar m- 111 a e o 1mp ca que nos e- não sem ternura, 0 senti• .,o d · é d apenas da vida exterior, se• de organ,izar o econômico, timidar ante a cólera dos ., ~. na a mais o que a mento é de frag1·11·dade em · ... ê · d · não também da anterior? tanto como a de suplantá.lo . proletários... Inculpam-no doe "'onsequ nc1a as sucess1~s face da 'hostil e rt11·dosa con- ~tó · obt·d dT il Nem pretendo mesmo que es- Mais bem servido de coisas vacilação, timidez, frustra- . • nêasd I asê . na 1 ic f.usão. Oswaldo é V!flJeiro, sa angústia liminar seJ·a pri- materiais do que o adoles- ção e não sei que outros pe- psiqu e um g mo que sem- conhece um bocado da Amé- ""re a · u · vilégio do homem "artísti- cente Oswaldo, outro minei• cados: mas, se esta vacilação ., spiro ao umverso . rica· do Sul, porf,_,. o mu1·to · N · · t 1 '" 111 co", numa con3·untura des• ro adolescente sentiu como reflete antes um escrúpulo o 1mpress1onap. e para e- peregrinar ~::Q O livra de· ~o ent N. t b G th '"ª sas; ela visitará por igual as ele o niesmo susto medroso moral, um estado de consci- Speng~:r, ~::in:o e os oedof~ tais inquietações. "· · • falta- naturezas delicadas. os tem• diante da primeira cidade ência vigilante, que não quer «l.eclaradan;iente como mes• de apoio moral, angústia, perament~s \~ibráteis, os U• importante que seus pés pi- se deixar conduzir pela pai• isolamento e mêdo - diz ele ld • d ·ct d • d t itres exclusivos, . ressalta a m os em geral - e nao me saram, e ca a c1 a e nova xao os ou ros e nem sequer 1 • ·d · - para ti.;do isto havia uma velham dizer que todo timi- ainda hoJ·e é para ele o mis- pela sua própria - como re- tios çao 0 segundo muito raiz profunda·. s·1tuaça-o eco-. :ma· ~ • 1 1 - do é necessáriamente produ- tério e a ameaça. criminá-lo? Louvada seja. -ao 1s ,.avorave em re açao nômica". "Era toda uma so- 110 tempo em que na c u to da nossa absurda ordem )l'. contrário, porque não se s e · cledade que se erguia de mo• ~ Goethe, com efeito,- veio . ·econômica. ~h. os medos da peqt;ena confunde com a decisã·o ime- d do desesperadamente erra- )( _ guesia ! _ dirã talvez al- diata e irràcional, nem com ao mun o numa ·das épocas do ... ., mais decisivas da História, Nião. Como você, querido gum iluminado, portador d~ a resolução fria dos que agem tendo, segundo 0 conceito do Esta sociedade não mere• Oswaldo, quero ver extirpa- alguma certeza . Essa melan- con ra os seus pendores mais autor de "Decadência do Oci- ce mesmo que a gente a de• da a iniquidade, e sou dos cólica e indecisa classe mé- . pro~undos . De resto, costu– êente", a oportunidade única fenda, Oswaldo, mas você es- que todos os dias se sentem dia ! Pois já ~e vai· tornando ma-se ·denunciar a vacilação, e maravilhosa de presenciar tá!certo de que só o econômico um pot:co envergonhados moda acusar a classe média em nome da firmeza política, () acaso de uma cultt:ra e O plantou . assim ..o ,!qrasteiro com os relativos privilégios de todas as fraqu.ezas e va- • e êste é · afinal t:m ledo en– nascimento da civilização re- perj;urbado e .triste, dí;i.nte de aue desfrutam no meio de cilações em frente da vida ..:... gano, se considerarmos que ISUltante . E 0 mais curioso é· da grand~ cidade? Não entra- tanta · gente que vive abaixo até mesmo em face - da his- ainda estão para nascer ho– cjue 0 criador do Fausto i- ria nêsse tem.ôr inicial um do n!vel canino. Mas, não tória . "Vacilante" é o qua- mens mais vacilantes. mais !lha absoluta consciência d'es- elemento próprio,à sua condi- posso acreditar que, trans- lifícativo, que se pregou . ao hesitantes. mais contraditó– lSa sftuação, e a sua atitude çã.o ·sensibilissíma de escri- -formada a ordem social e paletó do modesto pequeno rios do que os chamados li– diante do fatídicq fenômeno tor, isto é, de desajustado ecônômica. a vida assuma . as- burguês. corno um rabo gro- deres políticos dos povos, natural, . de homem que, pre- nectos idílicos, de fácil in- têsco 1\Ta luta entre o pos- (Contínua na ult. pá"5 . l - -----· --------- ----- vindicar para outro morto para mim aind.i mais caro, uma precedência que lhe foi atribuída por um critico ilus– tre . Não o faço sem cons– trangimento, e talvez só por ter a certeza de que, se vivo fôsse, concordaria comigo Monteiro Lobato, em qr.em foram traços dominantes a franqueza e a retidão. Coro a rrupla - autoridade que todos lh e reconhecemos de homem de boa fé e de minucioso e , lúcido analista da evolução intelectual do I\rasil. o sr. Alceu Amoroso Lima afirma que a ação do antor de TJrupês se deve à r.onvicção de que "o serta– n ejo era acima de tudo um forte . Era um injusticado, um esqt:-ecido, uma vitima sem dúvida, mas uma vítima que merecia o seu opróbrio, pela moleza. pelo desl'.!lazêlo. pela incúria. pela verminose biológica e moral. que ele cultivava · com a sua imore– vidência que reduzia o Bra– sil a um "imenso • hospital", na frase célebre desse tempc de realismo sf'rtanista. que Monteiro Lobato iniciou. •e qu·e homem como Miguel Pe• reira ou Belisário Pena con• firmaram com si:a autorida· de de cientistas . Este tre– cho. constante do esplêndido perfil de Monteiro Lobato, aparecido dominl!'o último nc Diário de Nof.ícias, contém um evidente anacronismo. Miguel Pereira. fot de fa– to entusiasta de Urupês; ou– ço ainda as risadas . com que contava às filhas. às quai! o volume - como já vãc n ão julgara prudente confiai longe '!s~es cuidados con (Continua na 3.ª pág) . º Póeta Santa ·Helena Magno Carlos Hipolito de Santa . Helena Magno, segi:ndo os dados biograficos encontra– los no livro de Raimundo Ciriaco Alves da Cunha (Pa– :raenses Ilustres), nasceu a !13 de agosto de 1848. no en– genho Santa · Maria, situ• iado à margem do rio Tauarí, no Município de Muaná, Com os seus pais estudou as pl'i– rneiras letras, entrando depois il'lO seminário desta . C.ipital e, -mais tarde, no Colégio Pa– .rae;nse, onde completou · os seus preparatórios. Em 1867 tdnsferiu-se para Recife e êm oi.:tubro de 1871 graduou– ge em !>acharel em cin,cias jurídicas e sociais. Retornan– do · à sua terra, militou na :advogacia e, por ato de 23 ,je outubro de 1878. foi n0< meado catedratico de geogra• fia deste Colégio,...ent!io deno– minado Liceu, depois de um brilhante e disputado con– curso, como atesta seu bio– cato. Já havia,· porém, via– jado por varios paises da Europa, inclusive a Itália, on– 'de se demorou alguns meses e escreveu à maior tiarte das l)Oesias r2ubidas no livro - "Ondas Sonoras", obra q~e, Infelizmente, fie-ou inédita . Faleceu a 20 de outubro ,,'!! 1882, casado e sem filhos, co– mo singelamente ficou re– gishad0: . O livro "Arpejos Poéticos" foi publicado em Recife, em 186íl, e compreende as poe~ sias escritas quando tinha ALOYSIO DA COSTA ·CHAVES '· gil, senão ingenua, e por mida, possuindo o encanto dt - - , elas: em · verdade, escritas em sir.o.plicidade e expressões ele· menos de 18 ano~ . na cidade do Miaho, no Ja- A prodm;ão literária de pão. no século XVI, sendo Santa Helena pode ser clivi- protagonistas os três irmãos :Hda em 2 fases distintas: Jassimo, Ximio e Josu, Am– antes e depois de Recife . brosio, irmão de Jassimo, o Grande parte. porém, de médico Siggberto, o magis– sua obra ficou · inedita, ig- trado Nimbau e outros . Em norada· pelos seus admirado- síntese, versa o téma sobre res e conterrâneos . Entre as as misérias que as lutas -in– suas criações do primeiro ternas, fratricidas, proyocam período, quas~ nenhum~ re- em um pais. desorganizando ferência se há feito a duas a vida econômica e social; peças de teatro escritas pe- além do cortejo infindavel dl! lo notavel aedo, e intitula- males que acarreta. Jassi_mo, das: "A Vitima do Amor Fi- -Ximio e Josu são filhos de lial" e "Governo de Sancho um general que está à tren– Pança", ambas de novembro t.e de uma das frações revo-· de 1865, qi.:ando tinha apenas lucionárias, e cuja esposa é 17 anos. vítima de subita e ·pertinaz A curiosidade bibliografica enfermidade, que lhe conso– e ·o acendrado carinho ·de ree as energias físicas e os Eidorfe Moreira, pelas coisas r-,arcos recúrsos q1:e possui. amazônicas, permitiram-me Após uma série de vicissitu– comptJlsar êsses âois traba- · des. morre o _general. ficando lhos, no original, escrito por a família. Afinal Josu, de• Santa Helena. pois de procurar em vão o A peça_ "A ', !íti.ma do amor auxilio de um médico egoísta fili2!", como o titulo indica, e argentário, para tratar sua obedece regidamente aos pa- genitora, lembrando-se · de drões da tragédia romftnti'ca, um edito do Imperador, que que encontrou no Brasil, promete 20 moedas a quem principalmente . na primeira prender um ladrão, sugere mel.ade do _século XIX. am- aos irmãos que o api:csen– biente acolhedor, clima pro- , tem como tal, a fim de ob• picio ao seu desenvolvimen- terem o prêmio e salvar a to·. na: alma sentimental e re- mãe. O velho magistrado ligiosa do povo brasileiro. A condena Josu . à _pena capital, cena de-ssa tragédia passa-se mas à última hora ' .Ambro- plena juventude. não se pode vadas . Nos seus li.vrns niic sio revela ao juiz o sacrifício avaliar O grande mérito de se enc'ontram poemas croti• dos irmãos e consegue salvar ca rlos Hi po1ito de Santà He- cos· 011 viulentos, mesmo na• Josu da execução, recebendo lena Magno, cuja capacidade queles que fornm escritos n~ este, ainda, como J"ecompen- como poeta iria pouco depois plenitúde de sua mocidade. sa à sua abnegação, uma · ri- revelar-se com a pt:blicação ·Em tudo transparece •a sua ca herdade, em ct:ia · facha- dos "Arpejos Poetícos", livro formacão cristã, a sua cren-– da o magistrado mandou gra- que obteve notavel êxito nos ça religiosa. que_ transforma var estas palavras: "Prêmio círculos culturais do país, :ité O amor em um sentime11• de um rasgo sublime de de- principalmente entre os to 'intangivel e estranho à pró• diéaçao filial". ádeptos da chamada esnola pria críatur::i. Tt:do isso, cer• O "Governo de Sancho de Recife. Nesse livro reu• t.aménte. fruto da · quietude Pança" é uma coinécl.ia em niu as criações poeticas de do ambiente onde viveu seus um ato, répleta de pequenos sua Jtiventude, escritas qm:se . .· . . • senões, em estilo simples -O . túdas ·em Mu:iná e BeHm A pn.m1;.ir?s anos, ?ª sohdao que não possui, na realic_la- o!ira tstá dl·.iciida em triis . amazomca, que deixou traço9 de. qualquer requisito_essen- - p;rt_,i,: "Harr,a. Re~ i~.to~a·•, prof~ndos no, seu carater da cial da técnica teatral. A -ação "F!~os da S .!l-!a" e· "L:~a Ju- · placidez do rio Tauarl, aue, passa-se em Madrid, no sé• venil'i com seus inúmeros meandros culo XV, sendo Sancho in- A poesia de Sinta Hele11a percorre e fertiliza sw vestido no governo de uma é suave, maviosa, quase . ti- tei:ra natal. ilha. D . Quixote ministra – lhe conselhos de como admi- nistrar a provinda, recomen- Na poesia -- "A minha m sa" ele confessa: da:Jhe o maximo asseio cor- Minha musa é qual virgem singela poral e discreção na língua- Que entre as sombras da selva nasceu, gem. Afinal, Sancho, contrâ- Que não finge nos gestos e nas galas ríado pelas limitações feitas . O primor que a natura não deu . pelo · médico Pedro Rezie em sua alimentação, rem;ncia áo ~overno e aos seus sonhÕs de transformar a filha em con- . dessa ou Duquesa, para: re– tornar, como simples morfal, liberto de aualquer re&tri - . ção, às suculentas sopas -ce . alho a que estava acostuma- do . . • - A tecitura das peças é fra- -- Tem nos lábros celeste sorriso, Tem no rosto pintado o candor; Mas às vezes um quê de tristeza Lhe '.sombrêa da face o palor. - _ ---Das osquestras não ama o ruido Que domina em festivos salões Ônde a danca doÜdeja fo;!osa E palpitam dé amor corações. (Continua na 2.• .Pt,.).
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