Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

1 FOLHJ{ D"O NOBTE' 'Dom!ngo, 5 éle sefemlirõ 194lf DIRETOlt PAULO MARANM.l.O _u_n SUP _f~f~JO-unM_n~ ORIENTAÇÃO O! F. PAULO MENDEt> VOLABORADORES : - Alvaro Ltns. i\Jons, ttocha. Almeida Fischer Alphonsus de Guima– rães Fi 1 o Augusto F_rederico Scbmld\ Aurcliu Buarque d Holanda Benedito N1mes. Bruno d,– Vleno?>es. Carl~ P.rummond de- Andrade. t;aoby cru~ Cecilla Meireles. Ck fl Mf'lra Cléo Bernardo Cyrc dos AnJos. Carlos Éduarc'~ Oanlf'I Coelho de Souza ~- Paulo Meodell. Fernando Ferreira de Loanda. Ga.– rlbaldl RraRII. Raroldo Maranhão. João Conde Lev, Ran dl" Moura l,êdo Ivo fos~ Lins do Rê,:-o. JoâfJ \1endes Marnue~ Rehíllu Má.rio Faustlflo Manuc, f\andeira fl/la,i Martins M>irfa .htliPta Dr11mmon!i– \1ur!lo Mendes. Orlando Bit.ar Otto Maria Carp!!an1 Paulo Pllnlo Ahreu R. dP !-louz, Moura. Roe;er Bas• tide. Rfhamar de Moura. ftuy Coutinho. Ruy Gui• lherme Aarata. Sergio M llet, Sultana Levy e Wll• son Martins PES IMI MO E L' CIDEZ (Conclusão da i.a pãg.) Em vão procuramos os ca– jueiros do Rio. Talvez gran– des ventos os tenham arran– cado da terra; ou é posslvel que a terra se tenha aberto, engultnrio-os. Entretanto, ou– tra seria a cidade se suas praias estivessem chelas de cajueiros. Nos tempos heroi– cos da fundação da cidade, segundo rezam os hlsto ia– dores, houve as cham~as guerras de cajú, e poucos são os asst:.ntos sobre ..o Rio ao mesmo tempo pitorescos e dramáticos como este. Como ninguém ignora, o branco se apoderou do litoral, riscando na areia os primeiros traços da civilização . Ora. extensos cajuelrais cobriam as proxi~ midades do mar . No teml)o da frutificação os inctios acu– ados para o interior não aguentavam mais, dir-se-ia que uma aragem mexeri– queira levava para as pro– fundezas das matas o cheiro acre e vocabularmente intra– duzível do cajú. Os selvico– las então. armados e ferozes, avançavam para a praia, em urna sanha terrivel. Vinham atrás dos cajús, cujo cheiro cada vez mais próximo lhes excitava as narinas. Como os brancos dominavam as zonas da ambicionada colheita. eles eram obrigados a testemu– nhar os seus renhidos. dotes. Assim morre,:., muito branco; assim os índios chupavam os seus cajús. No norte, o cajú á fruta caseira, ' de se jogar fora nos temnos de safra. O poeta Joa– quim Cardoso fala da "chuva 11e c::ih"1" e em verdade ela -:1-•ó liJ -U:DOIVO (Copyright E. S. L com exel~lvidade para, a FOLHA DO NORTE, neste Estado) existe, caindo &1>bre os S1• recepção ao visitante confia• tios, tomando os frutos mais va na magia dos cajús para sabordsos, dando à polpa do fornecer ao chefe do gover– cajú, seja este vermelho ou no urna imagem duradolll'a amarelo, o seu travo esqui- da fertilidade da região. sito que lembra lábio de mo• No dia da chegada do dita• ça ou qualquer outro amo• dor, quando tudo já estava rável e raro elemento. Em preparado, descobriram qt.e o uma fruteira, faz as festas de . tradicional éajuaj.ro e~tava tana casa . sem frutos . O dono, 1nterro- Sabiarn disso alguns habl- gado, explicou que a ãrvore tantes de uma capital do era caprichosa, não sendo norte, hã muitos anos, quan- multo submissa às estações. do o ditador visitava as ter- Não era mais possivel at– ras mais afastadas de sua terar o programa da recep– querência . Havia precisamen- ção. e durante algumas horas te um cidadão maníaco, que os promotores da festa sofre– se dedicara ao cultivo do ram com a natureza ingrata . cajú em um sitio fabuloso, De tarde, alguém descobriu cheio de árvores frutiferas, a fórmula salvadora. Segun– pedaço de riacho serpeando do o plano estabelecido. o dl– ao sol, e espessuras que es• tador deveria, à noite, apa– peravam apenas o soar de recer no terraço e colhêr al– uma flauta para voltar aos guns cajús da frondosa ãrvo– tempos divinos de Li.crécio. re . A ocasional esterilidade No meio do sitio, erguia-se do cajueiro âeixo1< de ser um um sobrado, cujo alpendre, obstáculo ponderável, . pois no andar superior, recebia a em breve cortaram galhos sombra, os galhos e os fru- carregados de frutos de outras tos de um cajueiro secular. árvores e, com êmblras e ara– Este cidadão, nos tempos de rnes, os adaptaram àquela safra, c'olhia cajús do al-;ien- que deveria oferecer ao vi– dre, bastando-lhe apenas le- sitante urna imagem da pro• vantar a mão, para alcançar digalidade e da riqueza, da um galho. região. A noite, todos os ga- Flcou estabelecido que o tos são pardos, reza a sabe– .ditador se hospedaria no so- doria popular, e esse adágio brado do sitio; a comissão de se adequava perfeitamente à manobra com que queriam iludir o ditador. . Ao anoitecer, chegou o vl• sitante, que ouvii:.: discursos e foguetórios, sorriu para o seu exército de fotógrafos e apertou mãos humildes . Os festejos incluíam um banque• te, de modo que após êste cr visitante, não tinha mais olhos para a paisagem. Cha• maram-lhe a atenção para 01 cajueiros, que mereceram sua admiração, que se mantive– ram afastados do jt:lgll.mentcr de s~u paladar. O ditador devia partir na manhã do dia seguinte. Acor• dando um pouco tarde, nãc> poderia dedicar multo tempo à contemplação da natureza que, aos ·seus ouvidos, era -um concêrto de cantos de pássaros e arvoredos açula• dos pela brisa . Antes de deixar o sobra• do, esteve no terraço . Por um Instante os seus olhos pousaram nos cajús cujos ga• lhos tinham sido adaptados à famosa ãrvore, Os sei.s mo• mentaneos cortezãos não es– peravam por essa vingança da natureza: os cajús tinham emurchecldo, e ofereciam ao espectador um ar gaiato. sem a gravidade das frutas mor– tas, sem a dignidade das l'.fUe apodrecem em seus próprios talos. Virando-se para o seu ofi• cial de gabinete, o .ditador comentou: - Os cajús desta ter1·a _sã<> esquisitos .. . Disse al?enas isto. Em bre• ve, esqueceu-se dos ca~, s e partiu com a sua comitiv::i . queiras e bispos, médlcos e atrai como-Um cheiro". E seus l)rojetos são ambiciosos: "Co– mo literatura, escrever um "Padre Nosso" ou uma "Ave Mi-ria". Mas, sem ·confiar no julgamenlio da posteridade "Por que motivo as pesso<1s serão amanhã menos estúpi– das do que hoje?" E nõío quer amofinar-se: "Não fui feito para a luta . Fui feito para matar os outros a tiros de fuzil no traseiro". Ou en– tão: "Detesto o trabalho, mas adoro minha sala de traba– lho" . E é absolutamente cé– tico: "Experiência - presen– te útil que não serve para páginas mais acerbamente lúcidas. Tudo isso está na sua fórmula: "Minha alma é um velho ourinol onde dor– me um ô1bo''. Olho inexorá– vel, que dissioa todos os n e– voeiros e vai atingir, nurna cama-da ,profunda. o ridiculo, o egoísmo, a vaidade, a f..~,._ cidade, a miséria, e a 1~– minla dos atos, seus e alhei– os. A ú1t·ma Peça De Sartre n tencào••. (Conclusão da la. pag.) - missionãrios, todos lêem com o mesmo prazer os rom,inces de Edgar Wallace". -~coisa alguma". Isso não obsta a que r.ultive um senso mui– to a((udo da r.cafidade: "Des– confiar rla fantasia. Só apre- Na realidade, Jules Renard não acreditava em coisa al– gwna, salvo em seu oficio de escritor. Tinha pendores so– cialistas. admirava Jaurês. debrucava-se sobre a sorte dos camponeses mlserãveis de sua pequena propriedade, mas princioalmente o que ele via em tudo era o· material -de literatura a ser anrovei– tado peio· escritor Julês Re– nard. Sua incoml)atibilidade visceral com a mãe ficou sendo um tema, de anotações cru~is, de que o homem sai escalavrad9, mas de que a li– teratura $ sondagem psico– ló!?ica tira· algumas de suas Romances Esse pequeno burguês de– siludido de bi'.:rguesia dá-nos um curso prático 'de desen– cantamento: "A justiça é gratuita: Fe– lizmente, não é obrigatória" . "As crianças deviam ser a1nri~ões facultativas". "Diante da estul)idez dos pintores, sentimos vontade de desenhar antes de morrer". "Vivamente atacado, Deus se defende pelo desprêzo, não respondendo". "A ninguém é lícito igno– rar a lei. Há mais de auzen– tas mil leis". Como todo grande pessi– mista, é de uma sutileza en– ternecida e enternecedora no desvendar o cotidiano mis– tério dos animais. Refugia– se dos homens entre os bi– chos. E sua visão da nature– za é uma visão en((enhosa de poeta. Que admirável indica– ção, a sua, 'de descrever as coisas "com minuciosa inexa– tidão"! Daquí.. : (Conclusão da,..1a. pag .) ondl! a palavra· "tempo" é telúricas, de que falávamos tomada no sentido que tem no início dêste artigo . O em música, o arnpr· em luta amor, aqui, se alimenta de com a lei religiosa da indis- princípios, arde com as ca– solt:bilidade do casamento deias que ele próprio se cria cristão. Conhecemos os ver- voluntariamente, e acima de sos de Luc Estang; seu prl- tudo pelo desejo de castida– meiro romance, não é, porém, 'de, para atingir cimos v-izi– um romance de poeta, tem nhos da vida mistica. As todas as qualidades áe um mais belas veredas serão verdadeiro romance, com per- sempre as mais abruptas, e sonagens vivas e diferentes á porta ci;biçada será sem– umas das outras; a poesia, no pre a mais estreita de todas. entanto, aureol:1 a obra como Col)lo se compreende que o te salvo . O perigo nesse ca- (Conclusão da ulfima pag·} minho de Kafka e Dostoie- no mesmo,modo, "rural". S t.:.• bia, que "mais" comia e be• vski é aquela heresia pelagi– blinbo essas duai: palavras bia também, ·já os jornais eu- ana; a perda da seriedade do propositadamente, pois so- ropeus (sobretudo os france- pecado, a cai.da no otimismo mente unidas nos dão o exa- ses) se imprimiam em menor moral de um Dickens que, já to volume do pensamento de número de pãginas, atenden- não assustando ninguém, é Jean Richard Bloch e nos r e- do a exigências intelectuais, sem "horror e fascinação", velam a extensão do perigo diferentes das dos norte-ame- quer dizer, sem fôrça trági– que a Rússia constitul para ricanos. Outro exemplo te- ca. Eis a grande tentação à um mundo que não se dese- mos no sr. Jorge Amado, que qual já sucumbiram tantos ja viver dentro de um tal respondendo a ~ repórter roman1eistas católicos e que espírito, em que se 'prefere francês sustenta inocentemen- constitui 0 próprio problema morrer a abdicar da dignida- te que "todos os intelectuais de um romance cristão; da! de do homem, da liberdade de ~orne" estão pres~s, no a técnica novelística antiqua– "mesmo relativa", do direito Brasil, ou se acha,~ exilados. da dos romances edificantes. à crítica, e de outras lentas e que as t:opas norte-ame- Greene fugiu doêsse perigo conquistas alcançadas após ricanas" sa.1ram à rua para . para O "horror e fascinação" milênios de luta. Nesse mun- garantir ? nosso governo por da técnica moderna. A in– do, que é o nosso e que qi;e- ocasião do fec~amento do tenção de Greene não era remos • manter e melhorar, Partido Comunista. Jorge possível realizã-la senão pela os que se têm colocado cega- Ama~o com~le um ~to ~e técnica daquêle que introdu– mente a serviço do totalita- má fe, de baixo maq~iavehs- ziu inescri;pulosamente os rismo de esquerda pecam por mo, q_ue nenht:m escritor po- "horrores e fascinações" da um maquiavelismo primário, de deixar de combater e des- técnica mdderna no roman– o mais das vezes apenas irri- mentir. E ..au~ndo,,Pablo N.e- ce; daquele do qual o anún– tante para os que pensa<m, ruda em E-i..rope compara, cio do editor afirma que "es– mas extremamente sedutor em versos chorosos. o gover- tadistas- e datilógrafos, ban– para o rebanho sensível a no Dutra ao governo de Mo- certa demagogia barata. As- rinigo, lança mão de uma ca- sim êsse pobre Aragon, êsse lúnia. Matreiramente se elas- tunista que Hugo matou Hae– mau Rostand, que se benefi- sifica isso de tática. e diz- derer. Ao contrário foi por– ciou de um momento sent·- se que "o fim justifica os que Haederer encarnava a mental, respondendo a inqué- meios". ·seus olhos o mau espírito rito de u-m jornal norte-ame- E' do aue não se convence capaz de frutificar e de des– ricano, que indagava se os o jovem Hugo em "Les mains truir a pureza do ideal revo- 3ornais ianques eram· rnelho- sales". E' o que o leva a um lucionário. Se num dado mo– res ou piores do qt.:e os jor- verdadeiro suicídio, e é ta·m- mento ele não sabe se ma– nais da Europa, respondeu: bém o que Antígona não acei- tou em obediênci::: ao Parti– "São mais espêssos, feitos ta fazer para salvar a pró- do, ou a um impulso de ciú– para um povo que -come me- :pria vida como lhe propõe, me, ao ver triunfar a linha lhor". A frase imbecil dita em outros têrmos, o realista oportunista., ao ouvir dizer nas circunstâncias atuais pa- Créon. que o Partido "nunca erra" rece conter umá nesga de O · obscurantismo soviético nem mesmo quando opta pe– verdade. Não passa. porém, esvazia o indivíduo de qt:al- la linha ·contrária à da véspe· de \lma frase de efeito e di- quer conteúdo humano, dá- ra, ou vice-versa. Hugo com– ta de má fé, pois ninguêm, e lhe uma alma de "robot", preende que realmente matou muito menos Aragon, igno- transforma-o em uma · roda a sua vítima por convicção ra que, mesmo antes 'da guer• de engrenagem que gira sem política e se sente dispQsto· ra, quando a França era o sentido e tudo esmaga sem a recomeçar, a matar todos país que melhor comia e be• justificativa. As revoluções os outros- Haederers, que, em de um halo Juminoso, como romance francês, seduzido um ilha cercada · pelo mar que de uma suave claridade irra- momento belo behavorismo submergiu a Europa e a <ilando de velhos parques, de ou a psicologia do comporta- Asia. Vemos o têma: logo praias salgadas, d-!! estradas rnento, tem tudo a ganhar não restám mais do que o rodeadas 'de barcas. Este ro- voltando às suas tradições de homem e a mulher obriga– mance · ficará va prateleira análise. da a apreudrr de novo a vi- cometem graves injustiças verdade Haederer são os mas têm a seu favor um 1 companheiros todos, pelo me• ideal de felicidade humana. O nos todos os que ainda con– bolchevismo no seu estado servam um pensamento pró– atual nada mais traz em seu prio. bôjo que nos leve a com- A peça de Sartre precisa preender seqi;er a sua inu- ser lida, pois mostra em toda manidade. Nem o próprio a sua angústia esse dilema do marxismo que, com · tôdas as homem moderno. Saindo um suas falhas fôra urna justifi- 'pouco de suas preocuções cação, o norteia mais. O mar• existencialistas, não proci:ra .xismo agora é apanágio dos o autor sublinhar o valor de trotzkistas ... O que sobra de sua filosofia na explicação, 1917, já o disseram muitos, dos atos humanos; apresenta inclusive os comunistas mais apenas um quadro forte de um sinceros e mais inteligentes, caso •(são milhões) real. E o ~ um racionalismo imperia- faz com grande pericia, tanto lista russo a que se :filiam no modo 'de estabelecer a in– iludidos ou não, de boa ou triga, de construir técnica– de má fé,• os comunistas 'de mente o drama, corno na ex• todos os outros paises. Niio pressão sóbria· e ao mesmo foi para se tornar russo. na• tempo impressionante da nsi– cionalista, sectario • oi. opor- cologia de seus heróis, da biblioteca, ao lado do "Do- E ain'da com o amor que · da primitiva, a conquista do minique'' de Fromentin. nos entretem André Rigaud fogo, a primeira louça e o Charles Mauban nos leva a em "Adàm, Eve at Cie" CA. primeiro arpão de osso, e dar mais um passo em "Le Michel), mas um amor que t1:1mbém os primeiros gestos Chemin dQ Silence" (A. Mi- se inventa de novo. Roman- de amor, os de Adão e de Eva. chel) . Certamente o amor ce dos mais interessantes, por Mas a Arnéri~a foi poupada aquí também entra em luta certo, que imagina uma por- e no fim do romance oporá com a religião, mas a reli- ção de alpinistas perdidos· a vida ultra-civiliza·da do ano gião é menos um obstãculo nas montanhas, em meio à 2.000, talvez, à selvajaria do que .um meio de purifica- mais estranha das tempesta- ancestral. Uma história filo– ção. A chama dos corpos se .ies, e quan'do a loucura cós- sofica se qulserrnos, que não transforma, sob a dura opres• mica dos elementos cessa, as tem a beleza surrealist~ de são da vontade, e_m chama geleiras sobre as quais fica- "Nuit d'orage", aqt:ele livro f'spiritu-al, em busca ardente rem isolados ti:ês homens e que desenv(Jlvia um tema da santidada. Como estamos t::ma mulher são tudo o que anãlogo mas que é sempre llnge das moças instintivas, resta ao antigo mundo, u~a ~ atraente leitura. "Desiring this man's scé,pe and that man's art" - se Me pedissem uma definiçlio de Graham Greene eu diria: a intenção de Kafka reali1a"a pela arte de Wallace. Nos seus "thrillers", Greene .é o Kafka do romance policial; quando elimina o momento técnico, torna-se o Wallace 'do romance religioso - n,o mundo de Wallace também existe em cima do · infrrno dos criminosos o céu da Che– fatura de Polícia. Eis os dois elemen?os contraditórios que Green não conseguiu, duran– te tanto tempo. reconciliar: por isso escreveu "The Power and the Glory" e "Stamboul Train" ao mesmo tempo . A mera combinação dêsses dois elementos é impossível: daria o romance policial mo• ralizado, o mero melodrama. A verdadeira ordem moral do mundo, à4uela que se r eflP.• te na lógica novelistica de "Crime e Castigo" seria fal• sificada para uso edificante. Mas sob outro ponto de vis• ta é o melodrama o último resíduo nos tempos moder• nos, da gran'de tragédia. P ara transformar-se em tragédía só lhe falta "um pouco" de realidade, urna fé. Mas para tanto, não basta a fé do es– critor como indivíduo priva• do; precisa-se de uma fé, de uma "intenção", capaz de re• alizar-se em arte. Só então, não sairiam alegorias edifi• 'Cantes à maneira 'da "mora• lity play" - gênero bem in• glês - do sermão dramati– zado, mas sim "melodramas" de intensidade religiosa as• sim cdmo fQram as de Esqni• lo e Sófocles, nas quais tão pouco faltam o crime e a vingança f! o perdão divi no. Para tanto seria necessária: uma síntese perfeita daquê– les elementos, ligados por t:ma lógica "absoluta", além da pobre lógica humana de um romancista. Essa lógica, que Inspirou "Crime e Casti• go", é o fio dos acontecimen• tos · trágicos apresentados em "The Heart of the Matter". Ai, Greene conseguiu reunir ''lihis- rnan's scope and that man's art", as duas partes separadas da sua própria alma de romancista cristão. O pro– blema técnico estâ resolvido~ e "the horror and the fas• clnation" revelam-se como "terror e compaixão" cujo truto é, corno na tragédia an• tiga, a catarse.

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