Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
SUPLEME ' TO UIERAIURA. ~- --·--- ----·------- ARTE 13EL1:M-PARA --------------- ... madordom damd B madom od NUM. 95 RO-MANCES DAÓUÍ E DALHURES A · ú L 11 MA PE.CA DE .> SARTR - ROGER BASTIDE -- maravilhoso ou de estranho, no amor ou na morte, e tem a força de impor-nos a sua visão do mundo. As suas pri– meiras histórias, por exem-· Várias leituras, entre as quais, a da peça de Jean Paul Sartre, "Les mains sàles", tra– zem novamente a debate o prob1ema psicológi.co e so– cial da posição dos intelec• tuais na luta politica, de sua - Sergio MU.LIET - (Copyright E. 8. L com exclusividade para a FOLB.4 DO NORTE, neste Estado) . (Copyright E. s. 1. ~om exelasiviilade para a FOLHA DO Tem-se a impressão de que enquanto o número de En– saios se multiplica no Brasil, dimim:e a prod-ução romanes– ca . Por certo, continuam a aparecer romances de êxito, aqui, mas não apresentam grande novidade e não nos ;prendem. Q1,;anto ao romance verdadeiramente literário, ve– jo pouca coisa publicada no decorrer destes . últimos me- 11es. Novelli Júnior opõe em "NãQ era . a estrada de Da– masco" (José Olímpio) a vida artificial da cidade à vida sadia do campo; so):>re este tema. pinta uma agradãvel histól'ia de amor puro e con– zervando todo o perfume da velha fazenda na quàl se de– senrola. Porém, mais talvez ; alo ·que este romante, e que · impressiona o leitor é a evo– êação dã fazenda transforma– ela em pensão familiar, com «>s seus diversos habitantes, todos bem caracterizados . E' interessante notar de passa- . %em como a pensão familiar «upa lugar -importante no romance brasileiro, e haveria n1esmo aí uma tese a desen• volver pelos nossos estudan– tes . Os contos reunidos por Mu– rilo Rubião sob o título de "0 ex-mágico são, por certo, de• ISiguais, mas alguns, espera• , mos, constituem verdadeiras , promessas de obras de valor ' -1e mais alento . •o surrealis– ' mo marcou a jovem gera,ção · e Murilo Rubião sabe unir o fantástico ao ·cotidiano, em uma deliciosa mistura. Se, :às vezes, ó feérico é demasi– ado gratuito, como em . "Q Homem do boné cinzento", «mde o conto tende para o artificial, transcende à fór- mula. Murilo Rublão em ge– ràl sente sinceramente tudo quanto o mi:ndo com_po!ta de (Cont . na 3a. pag '. ) . NOR"'fl, oeste Estado, participação, dos déve'res e limites· em que deve ser ma sacrifícios que essa participa- tida a disciplina partidári de modo a não destruir a pr ção acarreta e também dos pria personalidade do . tante. A peça de Sartre é PESS-IM·ISMO ·E LUCIDEZ g;f~~t~~!;~f: Os autores que mais nos ensinam, creio eut.. não serão os que mais n·os instruem, po– rém os q.ue mais.nos seduzem. Os livros que ministram noções úteis, tê~o seu púb1ico as• segurado:, estuqantes, apren– dizes, pessoas · interessadas, que n~cessitam prestar um exame, adquirir uma técnlca. Prescindem fácilmente da es– tima do leitor. $ão _necessá– rios, e basta. Mas os outros, os desnecessários, que só po– dem.. contar com o leitor se o conquistarem pela graça ou pela. força do pensamento, ês· ses são os melhores livros. Educam-nos, pela . convivên• cia que se . estabelece entre autor e leitor, quase diria, pela cumplicidade. São como dois sujeitos qi:e precisam de estar juntos à tarde, um vai ao escritório do outro, arran– ca-o do trabalha, . leva-o ao café (no tempo em que havia cafés) . Para tratar de negó– cios? Não. Para· precisão hu– mana, conforto de ,impressões e · experiências, individuais, de que ambos os amigos saem enriquecidos. No ., caso do li– vro e do leitor,- suponho que também o livro se enriqueça com a leitura: tantas suges– tões •. ele · suscitou, tantos ca– minhos sugeriu, que ficou sendo um livro diferente pa– ra cada leitor que teve como o bom professor deixa de si CARLo·s DRUMMOND DE ANDRADE l (Especial para a FOLHA DO NORTF,;, nes~ Estado). 4 colaboracionista. Pensa. q não é n ;im nem bôa, ruim entrando em contacto com ou bom é o escritor que a correntes anti-nazistas e a maneja. com os reacionários interess uma imagem cada aluno. diferente em- básta-me grafar-lhe o nome". • Muitas coisas me ensinou dos em estabelecer boas r ou então: "A' nota deve di- Jules Renard, sobretudo nes- lações com o vizinho russo, t zer fuals do que a pagina; sa_ confldênçia. .cri:;pad..a, _de rará vantagem para os c Jules Renard é para mim um desses autores preciosos. Nunca me serviu para nada, e devo-lhe muito . Se quises• se aprender com ele a fazer um romance ou uma peça de teatro, jamais o conseguiria.. Porque Renard ensina sobre– tudo a não escrever, a . ser econômico, rápido, sêco. "Che– ~arei à sêcura ideal, diz ele. Não tenho mais necessidade .de · descrever uma ãrvore; . do contrário, é inútil". Mas, trinta anos, ~ue é o seu for- munistas na hora da libe precisamente sob a preocupa• ,nal. ~j)UCO 1~~orta que An• tação. 1 Com essa linha n ção anti-analítica é que se dré G1de se irrite com o seu concorda Umil facção intra esconde n • 1 t . 1 d excesso de sinceridade,. que sigente à quàl pertence o j e e o ernve po er h r1 • • ... 'b' - · de anál' há b ,. . c. ega a con'tuz1r a. 1111 1çao - vem . Hugo, .intelectual des 1se, que na a.,e O t· t • do · d - de todo escrito:- autêntico; os sen im~?1 os _e mesm? . . . Joso e esquecer na açao A image · , - t'l pensamen.to . Ha . no propno sua origem burguesa e a s m e, no es I o. um r d d d · à f míJ;i En d d l germe de corrupção". En ti'e- es orço e: ser . ver a e1ro a . . a.. . carrega o . e tanto J l R . custa . de s1 mesmo, e na fal- q1.;idar Haederer, hesita- H , u es onard incorpo- if' - t d 1 · rou ao texto fl'a ê . s 1caçao consequel'l e e a • go, entretanto, .tomado imp . t . nc s as. ma.is guns tênues esti;dos de espi- simp,atia pela vitória. M tran~e;is 11 ~ imagens, 1 mos- rito, dilacerados pela intros- . acontece-lhe encontrar a pr • ass m que a magem pecção demasiado aguda,. uma · pria mulher nos -braços lição para o escritor: a licão chefe. Hugo executa a -miss de que ele deve parar .na e é condenado pol' "cri :fronteira• da . sinceridade ar- passional". A vitória o -libe tística, nem . sempre coinci- ta, porém, qual não é seu e - dente com, a da sinceridade panto ao saber que o par individual., embora seja es• do adotara, nesse interi plêndido que as duas se idei1- e:,u,tamente aquela Unha !)r tifiquem, e nessa Wp.ótese posta por. Raederer. -Não teremos a obra mais susccti- conforma o herói com o opo vel de duração e circulação. tunismo de seus companhe "Há os bons . escritores e os ros e é -liquidado por sua ve grandes .•.Sejamos os bons": 1) Eis ' o drama. E o ,int autor de ·. "Poil de Carotte" lectual que entra para u DESENHO DE ·sIGAUD • foge assim ao •ideal de glória partido proletário e n evidente,, que enche o cam- campo mais "'3sto, do indiv po litei'ário, e é responsá- duo. em luta contra o mtere vel pelos maiores · !raca~sos. se imediato de uma coletiv 1:Iorr,or à vaidade? Não. Ins- dade paradoxalmente heter tintivamente, sua -vaidade i:e- gênea na sua composição s lj.Onta e co.n!essa-se. "Meu cial. inconsistente , em se nome impresso. no jornal me princ.ípios . morais, mas ter (Continúa na 2.ª pág . ) {Conclusão da ultima pa,: ---------- 1 INTENCÃO . EARTE DE GRAHAM· 6REEN .:, ; C.omentiando um verso ele "'Shakespeare "Desiring this man's scope and that man's art'' - um romancis– ta -i Jl g 1 ê s contemporâneo achou · que "é o verso mais assustador da literatura in– .glesa". Como?, o maior po– eta de todos os tempos teda sentido inveja "da intenção ~~te e da arte daquêle ?" Na verdade, as palavras de uma :personagem no palco não po– dem ser. consideradas como expressá.o _subjetiva do dra– maturgo. Mas aquela citação, tirada do contexto dramáti– co, equivale a uma confis~ão de quem a c~tou. Quem de– seja "this man's scope and that man's art" é o roman- . clsta Grahám Gt;eene . Já famoso há tempos na !Inglaterra e América, Gre– ene está · alcançando agora mesmo fama mundial pelo sei:, último romance, "T,he Heatt of the Ma.tter", essa história as:mstadora de um funcionário ,de ._polícia numa colônia inglesa, que · cai- por todos os degraus da deprava– ~ão moral abaixo, até o sui– cídio. Aqui no Rio, meu ex- • celente amigo Valdemar Ca– valcanti já deu noticia sufi– ciente da obra. A crítica in– glesa já celebrou o romance como "síntese da arte de Graham GÍ-!?l!~". ~as "sín~ tese" quet dizer-, no C?SO, "u.nião de elementos que nem -::-- OTTO MARIA- CARPEAUX __ !:l,Uer dizer, ·de um católico sempre estavam reunidos". .herético. senão de um calvi- E quais são os elementos da (Cepyright E. 8. 1. com exclusividade para a•FOLllA !\ista. Não seria preciso sub- arte de Graham Greene? DO NORTE, neste Estado) .:neter-lhe a fé a muitas ".me- . E' i:m grande romancista. • tamorfoses" para eh gar ao A visão infernal dum subúr- Ao mesmo tempo êsse ar- baseada em "standards" mo- anti pelagianismo sem Deus bio. degenerado, em "Brigh- tista sente inveja de "anothe rais (e não moralista) assim de 11m Kafka. ton Rock", tem a força de man's art"; escreveu e con- comõ constituiram sempre • Com e!~i'o, certos críticos Hardy. Dêste ·pessimista p~o- tinua a escrever romances fundamento da verdadeira jâ :,e i ~11.b~· de Kafka a fundo, distingue-se Greene - policiais, autênticos "thril· tragédia. Convém· lembrar, pr(l~q!f,•; ,t,~. Crat.1am Greene; que é católico - pela fé nos lers". "It's a Battlefield" ·nesta altura, que a tragédia as semalnanças liter;,•ias - valores morais. Mas essa sua. pj!ssa-se . nos "bas-fonds" de da Antiguidade grega é re- o poder de _....,,wer l'11nl fé é um fenômeno complexo. Londres . "A Gun for Sale" presentação de verdades x:ell- realismo .xnte v~ 1t11;;r– Parecem ter · errado os cri- é história" de ·"gangsters". giosas; o homem em face da nais - t11m;-é.m do !ncan– ticos que consi!leraram o ti- uii·1 título como "Stamboul "fôrça" e "glória" divinas. l: testáveis. Outros, porfm, •· tulo de "The Power and the Train" chéÍra Hollywood. São é isso m~smo a "intenção" firmam que Greene não co– Glory" dêsse rom·ance de um excelentes romances policiais, de Graham GreeHe. nhece (ou não conhecia) Kn– padre mexicano, sujeito mãu, sem intenção artística algu- Explorando uir.a idéia . âe fica. sendo influênciado por bêbedo, devasso, ignorante, ma. Mal se adivinha. neles, o Nicholson, o critico Walter Dosteievski. Seria Kafka um perseguidQ até a morte ptlos artista preoci:pado dos supre• . Allen caracterizou Greene Dostoievski do século XX? revolucionários ateus - co-- mos problemas morais, o au- como "anti-pelagiano", •Todo Em vez dê um ci'lstão, um mo antitese. das forças do tor âe "Brighton Rock" _ e o mundo moderno teria caido descrente ..,usti=.Jo pela Estado pagão .("The · Power") "The Power and the Glory". na heresia de Pelágio, já visão de • • ,.toõcs abando– e a fôrça da fé ("The Glo- Esse Graham Greene um Mr. combatida por Santo Agosti- nadas e ~• _uec1uas, de deuses ry") . Não. Gree:ie tonrou seu -Jekyll e Mr. Hyde do ro- nho, conforme a qual o ho~ t:ans!,~r.mados _.. monstros títi:lo de uma fórmula doxo- manee, parece caso de disso- . mem, fundamentalmente bom, infr,nais ? Af r.lo parece po~– lógica da liturgia inglesa ciação psicológica da perso- nascido sem pecado original, síve!' a equação. Kafka já ("For tbine is the ki)lgdQm, nalidade. seria capaz de pt:.rificar-se a foi compar.i,lo a um Pascal and 1he power, and thé gi_o• Greene ocupa lugar especi- si mesmo sem ajuda da rraço que teria recaid,i no judais– ry, for ever, amen !), co11:tor- al na história do romance in• divina; Greene, porém, toma n:o, ou então.· a um .judeu na me a doutrina católica. que glês. Não tem nada com o a sério o pecado, não como escuridão antes d•> advento distingue estritamente o otí- moralismo do romance vito- aberração temporál'ia e sim do crlrtlanlsm.:> ("Pensées", cio e a pessoa, é mesmo . o riano nem com o amoralis- como consequência fatal do Art. XV> ~ O iw:"•l~ de um padre indigno que represen- mo· dos posteriores, baseado càráter huma1 IO. Mas o. ro- Kafka cristão serfa aper,lls i:m ta dignamente "a força e a no 'relativismo psicológico. mancista assin I caracterizado . inferno de manàaml!r.lüfS éti– glória" do reino dos céus . John Lehm,ann e Norman Ni- não poderia ,creditar 111em cc,~ espécie de judai:;mo "mo– Green.e • não escreve litei-atu- cholson descobrem nos ro- nos fazer acre \itar na salva- dernizado" em que os ins– ra ediíicante. Justamente ig- mances de Greene a supera· cão final (la àl ia daquele .pa• trumentos mais triviais da norando o moralismo .barato ção daquele relativismo; uma dre mexicano. Não será ca- Providência .- a polícia e os (e no fqndo arejigioso) re- :1ova psicologia, de caracte- tóllc·o. O seu anti-pelagianis- tribunais, os padres, os pais vela-se . como grande artista. · res de · çp,erência dramática, mo séria o de um jansenista, de familia e as m-oças - re- presentariam "the power a the gfory". O pessimis diabólico de Kafka s i.cans1or m?do em otim.is ético, em meralismo. Na teratu,1a novelistica. ingl exi'!!te um grande exem dessa "intenção": Dickens. Releiam-se "Bleak Hov.s " Li t tl e Dorrit". "Oli Twist", "Martin Chuzzlewi é instrutiva' a · compara entre as cenas e p.ersonag de Dickens e as de Gree O!'I mesmos suburbios mi rãveis, as mesmas trevas nistras. O!J mesmos cri misteriosos, as mesmas vações. O que nos par antiquado em Dickens é sua técnica; os seus terro já ·11ão nos assustam, enqu to Kafka assusta hoje a t mt:'ndo. _Efs- a -fôrça ·ao " surdo". kafkaiano que nu foi melhor caracteriEado que numa frase que oco num romance de Gree "There lay the horror the fascination" . Os rom ces de Greene também ''.horrorosos e !ascinant Mas o fundamento do mu dêsse católico crente não de ser o Absurdo; antes, lógica mor,al . que vefo mundo pela incarnação. "lógica moral" pela qual kolnikov é . implacà-,.e1-q!e corrompido e implacà·;el,.. (Continúa na %.ª 11á-c,)
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