Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

• • , • ' U1Jlien Sendo Dun1· Clérigo H 'appartenlr â auaune parol/lSGl 1 A1phonse :Oaudet . j PARts, dezembro. ONDE OS INTELECTUAIS CO:tnINUAM A TRAm SUA FO'NÇÃO - CARACTERI· ZAÇÃO DA LITERATURA ERANCESA DE APÓS-GUERRA - BENDA E O COMÚNISMO · que ponto :i de{esa de convtcc-õu democráldcas não é , e.m 11 mes. ma. WJ\Jl "tra.lcâo", no sentld• que Jullen Benda. otribul a eGS;,\ ' Desço lentamehte o Boulevard R3spall, respiL'llndo o ar fino e sulll de um inverno que começa. .Tul1en Senda me eapera às q ua. tro horcas no }fotel Ca:yré, onde a tualmente habita: somos, pQr. tanto, vizinhos. por<iue do Ho_ t el LuteL1n, onde ine encontro. ao Hotel Cayré, a distancia serã, talvez, duns trezentos melros. Até o momento,• ainda não 11et que dizer ao nul:or famoso ele ~ Trahloon d es Clercc;": hA V1Jntageos e cresv11ntagens ent ilel.x.ar e.'!sas coisas ao sabor clt111 improvisações de momento mas, em lodo caso, .nada se pode fa. zer contra o que me acontece ngora com urna obstinação exls. t.-enclallsla. Olho as vitrlnes, nes o Brasll. O que talrez slgnillque uma espécie de vitoria t1e seu sangue judeu contra as .constde_ YAQ<iell puramente Intelectuais do escritor <iue quer üíicar" . WILSON MARTINS -De cicordo com o ponto.éle_ vl/3ta de!en<lide) em "La TrahL &on cl!es Ctercs", como Julga o senhpir a p06lção atual dos late• lectut\1.$, principalmente dos ln_ telectunls fra.n~ses? a. de Mpensar··, isto é, Ouma. ma• neira "dsnteresaada", sem cu.L d'ar das col)Se((uenctas p ráticas do aeu pensamento. ctemoa e d<!6lntere-dos. como a justiça e a razão, e que eu chamo c!e "clérigos", traira.m essa função em bet1eiic1o de tnteres. ses práticos-parece.me, como a niultas d&B pessoas que me pe_ dem esta relmpres&áo, nada ter perdido de sua verdade, bem no contrârlo... palavra. De resto, contn\dlçõcs deese Upo são mals numero~,. do que seria pll.1'4 deseJa.r nllo oura de ~nda - ou contradl_ ções em ai me0mn.s, ou cont.ra . d i<:ões, con\ a realidade (que e~ tant.o defende em "Lt\ Frs.nce By,:anUne"J, como no ca110 de sua pretend[da e desmentid.1 adesão ao Parttcro Comunista, coníorme veremos daqut a pou– co). t a Paris onde de duas em dua; p nrtas um l\ntlqutirlo nos ofere c e suas rellquia,s embolorodas e passo diante da Livraria. Ga~ U1nard com llma ser ret:i promes. sa,. <!.i entrar logo depois. \Logo que o elevador pãra no q u11,rto andar, abre.se a porta. de u m d<1s apartamenlos: é o pró µrio JuUen Brenda que, avlB3dÔ pelo porteíro, niio esperc.11 que eu bate,s9e, A prlmt!irn vlsta um velhlnho ãgU e nervoso, esperto e impaciente, o que !\ào é poc.i co para ctuem já fez oitenta anos~ F a1.-me entrar, pergw1tando duas ou três vezes e sem que eu te– n ha tempo de responder: "De quot s'aglLU? de _q1101 s'agt_U?" ,t J?:u m.esmo não- sei multo clara mente do que se trata. e t eria~ por lssn. grande él1ficuld'ade em expllcâ-1-o a Jullen Benda. Mas. enfim, consigo ve~r a d upla resistência de um pensa– mento que rulo quer íunclona.r e de uma. llngua que ainda, não d omiuo à vont3de - e esclue_ ço a Julien Bencta. que deseJr. va c onhecô!'.lo e, se po3Slvel obter - ' nlgumas declo.raçoe5 para os jor~ n ab do Brasil. Os hortzoutea se ru:~ara.m, e êsse homem jmpaci– ent,e qtie, segliliélo.-suas -pr?ipr!as c?nf~i;lõeii (11;,.\'.erci'l;e ~•t'.1n eutir– re v,tn - Gal\ir~lard, 1946), qel,_ preza . profundame!).té os &e19 7_ Itb:antes, , j á- çoncõrda em sordr , Fàlat~os de S1,l:i!,.- -0n<tinciada co'.1a: lloraçao em )~rn;~l•s b,i;a:iilei;os, cujas· negoclaço~s alnd~ prosse– ,guem (ou melhor-: tinham sido a, ntei:rom.plê: las. pela greve · dos Con'elo.s), e Julien Bei:Y.ta ;mant– :fesla seu désg!'isto ~;r ess.a ~o.rtna. de trabalho ilitelect4al: n.ada ;fica d'os ar-ttgo,<J de jo,rnal. Em 'tºi!º ca$~. ele co,iltinua. colai;>,o_ ii:a•nd? ~'m ,11lguns jorr)aii; · e revis; .:tas ~hmc.eS?@ t nj~ deixa de mau'lfe:Sl:ú' Interesse 'pe1o b"cm :iuce:Ss,;> d,>é _suas- n~ociaçô~s com 1 ' f" 1 ' 1 11 I" :t lo • ' ' 1· \ ~~~ A TRAIÇÃO CONTINUA Entramos, porém, no terreno j omaltsUco das pergunt3Q e res– po.slas, que, a me.11 pedido, o p toprlo .Tullen Renda reduz, de– pois, por oscrlw, para que eu possa. manter a m.:ilo.r ftdeUda_ de ao seu pensamento. Vou, por_ t11-nto, traduzindo sua111 respos. tas e as minhas perguntas, e, ao mesmo tempo, comenta.ndo-as A luz dos seus livros. -Totlos e~ tntelecluais são uns traldores à sua f unção, por– que se empregam a. pensar p or um fl.n1 "prãtlco", um pela Fran. ça, outro pela c1·lstandode, este p,elo proietartado, aquele pela hu.rna.nid&de, enquMto que n funçlio do 1nteleclunl é sómente -Terá o senhor algum.a cotsa a l\crescentar ou a mod.líicar a.o "La T rahlson dei Cleros"? --Nem uma palavra. E ', aliás, o que digo no pre.tácio d3 nova ediçio: •vinte ano. depoia de ter aparecido o livro que hoje re– edito, n teS'e q ue eu sustentava - a. saber, que os h,omens cuja função é a deieaa dos va.lores Domingo, 11 de janeiro de 1948 Uirel.or : PAULO 1\IARA.NBAO (Esse prefácio me p3rece. do ponto-de_ vista d& tese defe.p"L <Pa, muito roais unitário e se~– ro que o proprlO livro. Nele, Jlillen Bend:i ldentl:fJea, pratI.. cammte, a traição dos clo:rlgos com a traição ao elll?lrlto da t1emoc~cla - e eu ,niio sel a té NUM. C! -De um ponto de vista, (liga_ n1~ mais prático (quero dizer, tora da.3 convicções teóricas que possa.mos poosu.lr sobre o oa. sunto), acredlla o senhor q ue os intelectuais ex:erça1n qualquer lnrtuenclll dccll,/.va. no rnarctl-1 d03 acontecimentos p olltlco.s? -Os lntelecluals não têm ne.. n'huma ação sobre os aconteci– mentos poUticoi; atuols. Eles os scguc,n ern lugar de cond uzf-10$. a.dmltlndo que essa condução ~osse o i.eu papel. (O que toma a ~lralçá,ow, além era tudo, inutll. Mas o caso é que nlio se pode compreender Q que aün~l deseja J ul1en Benda-, pois se a sua vtda. ULerárla Ctll_ radterlza.se í undan11:11le pela atttude ll'ilSIImÍda com "!.a Tra_ hison des Clercs", como oxpll- '- car, então, um livro como ''La Elegia Do Anjo - Desap_arecid o , Fra;nce Byzantlne.., no quill ele condi:ma, di!spl'e2;0. e zomb~ dl\ "literatura. pura", isto é, da ll– tera.tun que llllli4 se ld.elltUlca. com os i.uas eidg~n.cias d'-e nm ' ' pen&:1mento d~leressado? Enlg_ tllal. 1 ' 1 • l 1 ' . . 1' 1 • . . l 1 1 i 1 ! 1 1 • O' grande anjo azul das noites tenebrosas. Como poderei esquecer-te se tu eras numa só pessoa ãs sete maravilhas? P or que país estranho te perdeste Ou por que mares estranhos naulragaste, se conhecias todos os caminhos? Hoje onde estará a luz que iluminou singularmente as noite. longas Sem sono e sem brinquedos em que te conheci? ' Por onde se apagou a luz singular de teus olhos de prata E tqª pr~ença IlQ silêncio? ·~ . ~ -.. ., -, , .. Q'4e anunciavas ao mundo quando pressenti tua existêncii Como um coril~ta misterioso anunciador de inéditos acontecimentos?' .Creio q'4e estarás p~rdido num país qualqu er como um simples viajante Ou nl,lm quarto de hotel de. onde se enxerg.ue a lua que se .perde· il'.o mar. Creio que te perdeste no próprio mar como as estrêlas - · · . Ou te deixaste levar par-a o .desconhecido: Hoje em vão te buscaremos na música do tocador de concertinà À sombra d-1s igr.~j~s Ou nas mágicas de um saltimbanco o mistério da vida~ PAULO PLINIO ABREU PRIMEIRK BALAD·A . OURO • t,;ECILIA MEIRELES • Farei a uma porta a~crb. ei>ai:a mirar um ladrilho Veio d.é dentro o leprose> Como quem sai de wn jazig«f.t · Ca1ninhava ao meu encontro, Sinistramente sorrindo. Notei-lhe os braços de líquem, F. as dtta,S mãos dcsfolha<las Que eauteloso escondia Nos fund,os bols_os das calças. Notei o seeret(j inferno Que em seu sorriso oscílava., Fôra , menos triste a lepra , Do que a . chama. do sortí,so, ' m era. linU..'\ 0.~uela casa Com o vestíbulo vá.zio, E e>ra. al_e~ aqueLa por.ta De olaro azulejo antigo ! ó san~ da ld~tde-Média~ )}escei pol' esta ladeira, .. Vinde ~r à p1>rt.a suave Que de azul toda se ellfeita. , Toeal êstes btaços fluidÓ,s Que vã.o sendo rosa e are~ • Tomai-os fie-roes e ,1Pulcros· • • • ' • ......Q11aui s á o os pN>gn.6sticoa ' ' que o senhor pode Lazer 11, res.. peito da llteratw-.a fra.ncesa deslo apõs_guerra? • ' -Es:;ia llteratura não faz se- r 1 , não manter o ~rate.r que Jà as– slnalci no meu u.La France By_ za.ntinti". Em particular, ('la 1 , eqandona todo valor verdadelrs._ mente lnl'ClectnalisLa (ainda. que alguns pretendam o oontrãrlol parâ sé!< ex,cltrslvamen le etellv;a,-– exatainent~. «:vibrante", "patéti_ ., ' ca" (Mairau:i, 11/Iaurlac. , fi.re, gon, etc.). Veja., .por exetn'PlO, a ple– tor.a. de. "poétâsi••.- nenhum en• , 1 saio, nem ·grande obra critica - ~ 9 que é· uni sinal ttpico .das li , teraturas d'e decadencia. ~ (O que, de resto, deve ser en-~ ten4tdo dentro da observação lrrepltcável, que faz o· próprl~ , ' Juli-en Bfnda, no Hvro citàdo: que as literatur-as de decadên . - . . 1 j eia sao as mais brilhantes, rur , 1 q\l'e mais se a:i>r-0.ximà'm do ideã{ lifurárlo.. Não ijC pod~. ,POÍS, a: rigor, falar d'e uma ' 'oôi:ídena~ (Continuei .na i ' Com mãos lisàs, dedos nov.os . Pal'a. ~ue êsté home,m nãeo fite Nlngµêm toais com os ~es~ E seja o.utro o seu sorrisa ' ' r.ér '$àéiiííl~ . Si-.õcplonun"• .; , olho~ • t-0-.:0.-.0~--~ ~~~. ~ l :r R~~RfGl~R, ;::: .,~ ,.., ~ ~- :,i . , · , f' 1., ·1., ·. ,, . jf \.-': . , , ' \)·' --. - ·-~------f, ' , ,

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