Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948
RIO - Entre oe r0ml8n• astas !.ngleses contempori• neos, Chilrles Morgan é dos ma1li apreciados no estran· gelro. E' adp> !n.do como es– critor de prot~a visão fl.– losq(i-Oa. Alguni chegam a tlta;-lhea o nome ao lad<i de Proust e Katka. ~ grandes tlragens de "Spa,Tkenbrokel' conitltuem prove suficiente de ·que o públle<!, particular– meiite o pt'lbllco feminino, até prefere aqueles grandes romancistas. "et pour caqse". A filosofia platônica de Mor• ,:an, capaz de esplrltullll'lar as ~ela.ções dos sexos, encal'– na-ae noveI:lstiaamente em perSonagena vivos. até na fl· gura viva de um gênio de fll05ofl.a • do 11n:tor, enquan– to os Proust e Kafka só pa– Tecem apresentar espectroo, de signlftcac;ão profunda m~s ambígua. du~. Morgan cwripre o que aqueles ape– nas prometem; pelo menos. par~ os leitores fora da In– glaterra • 0$ Ingleses apreciam Mor– gan antes de tudo, oomo en• • a is ta. repi,e,ente.nte da grande tradição platônica de esplritualmno inglês. Mas acham j'1Stament.e que o flc– clon.ista Morgan nAo cumpre o que o ensaista prometeu. • .\s tiragens são bem meno– res. Em mais ou menos 50 volümes de estudoe críticos que tratam do romance COl'l• tem'porâneo, . não encontrei nenhum estudo sõbre Mor– gan. E quando, às vezes lhe cjtam o nome, não , 1)8?'8 elogiá-lo. A~ um No.rman Nicholson, adversário do neo– naturali8mo. é defensor do romance filosófico, fala em "misticismo vago sem filoso• fia \ilgum~,r A- forle dlscrepãnci-s. entre a. fama. de Morgan no estran– geiro e a atitude dos ingle– ses a ae-u respeito - e a que se poderia oharoe.r ao fen~ meno Charles Mor-gan - nao ~ um caso úolado, A proprla literatua'a. tneiesa a.presente. 0 exemplo--~ de uma discrepãneia assim: o caso de By-r-on. Já passou. hâ multo, 0 tempo em que a Europa ln· tel.ra estava fascln!da pelo esbr,mho Lord. ao passo q\le à litpocrlsla proverbial do! insulares lhe detest.ava os costumes. Mas ainda os M• trangeiros o colocariam. s~m hesitação, no segundo lugar entre os gt-andes poetas ffl• gleses. logo depois de ~1\– kespeare - enquanto os tn• gleses não o consider-am co– mo 1poeta autênt!co. Talvez o caso Byron conitribWI para ex:plicàr o caso Morg:rn? Quando o romancista resol– veu colocar no centro da sua obr1l principal um gênio au• têntico, saiu-Toe um nobre Lord de formação clássica e pésslmismo sublime, persona– gem excêntrico. deeerto. mas agi,adavélmente sereno, in– c;q,az de ultrajar as retk?ên– cias ínglesaJI: nesse Sparken– b~~. 011 estrangel.1"09 ~ nhecet'tlm logo outro Byron, lei<) da poesia e d<J amor. f ascinando o público femi– nino f'y(\Starlam de defender o romaoci!tta e o seú her6l •con.tra aqueles irrevettnt.es crílíooe ingleses; eau>llça• riam, as$im oomo o caso By– ron, a atitude inglesa pela hipocrisia. que não suporta a liberdade do eep{rlto e dos instintos. nem quando unidos pelo p!'ltonismo ma,is puro. Não pensa, p0rém, us1m, um dos Cl'.lttcos l~leses mai• compreensivos, aquele pseu– aanimo "Menander" que as • 1-iaou dW'ante. vãrlos anos os Jtigos de fundo do "Tlmes Lilera.ry Su,plement" O seu artigo ucontra• Byl'l)tl, foi. apesar de tudo, nobre e ae– reno. 1 Menander não admJtiu que a hipocrist11- f~les~ ofendida pel<>II costumes dQ LoT'd. te– llha falsificâdo o julgamento sôbre a sua poesia. A Irigla,.. terra jA não seria tão puri– tana assim. Menander aDtes ]) o I e,m lzoo indi.Tet11mm.te cont.re . certoe outros crltlcos Ingleses aos ql.ffrls By~on n ão parecia baslante a,c~co - leão de .sdão· q~ 1e tiJ>o ,iu fênio lo~ mas " a.em ras_gar õlllheiró" , belleando Stlll liberdade nos privllégio. eoon,&nicoa 4-um latifundiário • O FENÔMENO C RLES MORGAN • • aristocrãtiico. Nã-o, respon:• deu Men-anc:Ier, a vida de By– ron foi ,raaide e gener01Sa. A 1m.ol' ta11dade do poeta es• taria garantida pela sua grandeza tiuma.na, mas 11ão pela sua poesia. Qualquer .in– glês culto !me de precon– ceitos, ,'llrla; "Contorme o meu con ., de poesia, a U.– teratura <-~ ..dyr,on não é poe• sla. E' eloquente. brilhante, espirituosa, ma.s 1'l:UI)ca. apre– sent& aquela intensidade da vlsão pela ~ se ~– za naa obras de Shakespeare, Colerldge, Blake, She:Uey e I J. \ ' • • ,. j OTTO MARIA CARPEAU,C ~er enconlrarla d.lticuldad~ •m Nlt11tar esea afirmação do (Cop7right E, S. I., com exclusivid~de para a •FOLHA ~anci&ta Cb.4rl841 Morgan: DO NORTE, neste Estado) . P o r q 11 e "~enander" 6 o K~ Neste sentido, Byr<>n não é poeta". Mena11der está d-e a~do, Friamente acres– centa: a;Estã cer,to. O mundo do nobre Lord não é o de "Tempeat" do "Ancient Ma· rlner", dos "Songa ot Inno• eence", do "Prometheus Un• bound", do ~Hn,erlon". Es– ta, obra.a &ão como oa tem· pl<>o- duma região sagrada"_ t.he boly aground o! englisb • r I ~ .. ~ • ) poetey. t Byco,n não po6Sui passa-porte pare. penetrar ne– la. "Byron seria poéti~ ma.s não poeta espécie de leão ,de salão falsifieado, embora sin– cero. Então, terla sido pan. de pela vida. mas não teria si.do gênio na poesia. E o no– vo B~ron, Spark.enbroke, que não viveu vida rea.1 fora da ficção, teria. sido g!iú,o? Ape– sar d9 tudo, o critico Meoa.n. 1 • ))Seudõnimo do p r ó p r l o Çharles Morgan••• 1 Aos estrangeiros que , lêem Morgan em traduçêles não cau~ estranhEza a,au oestn1 solene, ornamentado, poético, inteiramente alheio às t.radl• ções do roma'DC8 lngl!.s. l'iel– dlng - razão láclda, estõma,, g.g cheio de bLfes, 018 dot. pés tincad0a na tetta - é o pal das tn.dições do romance i:eaUsta que tão _))em co~- ll'éJStracão de JOÃO MENDES • Furtivo imagem ,,,lante de auroro ,uai raio de lírio ou nervo de lua • 1 Pressinto: -rirás . Meus songues pejados ião rios Yiolentf» . Meus ded.os são ímpetos ~ Cruel o meu olho, - gelado e demente : Pressinto: Ylr6s • 1 Desejos escusos ,ebentam memória•~ l Rolados destinos me luram os ouvidos e em noites potente, aucumbem cristais.) Pressinto: Yirás . São sonhos gerados no yi1go de atritos Pressinto, São cortes deleveis f mp&rr0s de fn,tos .' São ,astros no tempo ) de Yentu tltons . · São tu,yos impulsos; 1 ~ P,e,sinto: Ylr6s) HAROLDO MARÃHHAO is~ J • - pondem ao empirismo prtt,,. co. ~. ap objetiv~o p.sicológl- co I d~s ipgl~, Não são , mul\o. flldsófieô.a. Quanto 1 ! gra~dlf Pesgraçi.' da vlda hu- m.ána ~am que ,~ remi- dJos ma.is enctenUs ' são u pequenas m.18'rtas desta m eit– ma vida. São humoristas. Chil'les Morgan não é, po-; rém, Mda ~umoi;jsttco; ela mafs uma qualidade neg~ tiva pela qua.I ~ a~.a$ta d~ romance f~l!à da grand• tradlçã<i. Ma! esta não é a {m!~ tradição inglesa. A.d lado do roma~ exist.e (1 P<>e1i~ , inglesa' ', Ao· l&dà I d~ en'rol,rlsmo l.nglêll eiri.ste nmli veUia : tradJçli.o apirl tualista_ pla~i<;!f,, gue f hoje, na Eu– ropa inteira. um dos pouco.t re:fo(!:l~ da beran,:a clássica e c~ã da nossa clvilfT.acão; n nobreza arfstoorát J,ca diel cert0s co.stumes e tipos t.n,. ,gleses, esnobi&tlcament.e ait– mirados no estrangeiro, ape– nas é o refiexo e-xterlor da• qu-ela tra.di ~o. Ao lado do iroman.ce realista e filos6!icct, do qual o "Ma'J'Iu.s, the Epi– curea.n", de Walte;r P11ter. se– da um gtallde exemplo, Ou-– tro exemplo, de indole dite- 2'ente, seria o roman~e á Emlly Bronte. E logo se r-e– conbece a condi~ão sob ai qual os tnglesea admilem • r oman-ce ~ilco! nele a psi– c ologia. não pode ser a mes– ma do romanee realista. B' preciso substituir o empiris– mo psicot6gico pela visão dd fntensidada poét)ca por ,sta mesma. visão que o crítico :t,.tenandet' não encontrou nd poeta Byron enquar;ito o fic– elonlsta Cbarl~ Morgan e.., colheu novo 'BYl'()ll para he,o. r<>I do seu romance poéUco. 1 O ensalsta platõni.co :Me-- 1 11ander é discípulo do gran.. de escritor Walier Pater me9o trce do estilo sublime e orna– mentado, esteticistJ, que fa• iara da "sacra intensificação d.os momentos fugiiivos da vfda, p-ossibilitada pela ar1e 11os seus eleitos". Um eleito a ssim. um gênfo, ê o herói do romancista Charles Mor~~ Mas Pat.er falava de gêni<>,i que vivla.m real.mente. int~ pretando-lhes as obras, en..Í quanto Margan se encarrego1t da tarefa diftclli,tna de in– ventar um personagem em cuja genialidade os le:to~ ~erlam e deveriam ser~ lar. Problema de tran.sto:r'l 1 nar em vida am pensamente»' 11bstrato. iPa,ter, .ao escreve-r o ro– mance filosóft1:o "M'.arlui th4 Epicurean", resolvera o I pro.. 1>1-ema, renooclando a qua.l-1 quer tentativa de #cçáo rea,,,c aista: ao mesmo tempO o es:-J tetl.cismo redon1stico fieou li~ mJta.do pelo ~tismo espi– rL~ual do grande "9Cholar,. In&lês vivendo na cela mo-, Dl1Cal de Oxtora. E ao mesm• tem,po Pa;ter retirou da cir– cula~ o ensaio em que o– eorre a frase citada te:mflld<JI e. trans:fonnaçáo 4a teoria es.,.. teticlsta em vida vivida: p~ e<> mala tarde outro disclpul<I, de Pater, Osca.r Wilde, viveulf mesmo a teoria d-a "in~- 1 dade artlstl.ca ". aot.é ae úln-1 mas consequências. Charie./ Motgan, como &nllalsta, en- 1 wredou· pelos caminhos ~ ascetismo esp1~1$ta; C>6 traços ".tterosi111[)·0S.. no MaJ platonismo. Mas colocaêo en ta.ee do ptobletna de viveq essa fil.OSGfia. na. pessoa def , eu ber6i genial Sparkenl:>roo– ke, não podia seguir o cam),( l\b.o de- Wilde; são fortes d~ ma.is u famosas reti~ia.Aí wgl~as. St>lll'keinbl'óke n ãd devia degenerar em esnobei Tklado. Devia ficar um no,, bre Loid. exe<rico, slfflil mas "sem rasgar dinheiro'"::: E', &te esteta aristocrátiecl culto exquisito e rJ.co. um tt,. po humano que ainda exist« 1ta Ingla.tarra, embora cadi11i ,i,,ez mais ruamente. Basta.VII r et.rtti•lo reallstioement., ~ os leitores estr;mgeiroa Sbe a.credita'rem na e~ • • ao preço de oe leitor• q lei,es ji niio lhe acredita.. Nm na genialidade ine,..,.,. lente. "Ce 1oot de11 ~ .-t ont be&oin qu•on lell crole pleueement". O., leitOffll - ingleses- come– f;H'a.m duvidando da genl.U- (Contiatuo 110 2ª . póg ino)
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