Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

Domhigo. 1 é!e Janelrõ é!e 1948 . ... FOLHA DO NORTE ' Conceito E Sentido Da Democracia (Contlusão do 1ª. página) nem legenda eleitoral: - é condição necessária e natura1 d a nossa psioologia como po• vo. condição que é a mesma :de todos os povos que, como 116.s, se desenvolver,am sob a i nfluência das doutrinas de– mocráticas clássicas, impreg- 11adas de liberal.ismo. Esse amor à liberdade, na q ual nos acostumamos a vi• ver, que é para n6s como um •mblente v ital, cuja ausência r epresentaria a falta. de tudo q uan to mais presamos, é uma conquista definitiva do nos– so espí rito e constitui uma condição essencial de no..sso ~erte·çoamento. Poderiamas todos ter nos l!bios a confissão angustiada d e lYLA..X SCHEL.ER: - "Não • e nconl~o outras palavars pa- ra expressar-me: um verda– d eiro pavor se apodei,a de mim. ante o crescente aban– dono das liberdades e a per– da de sensibilidade, crespús– culo sombrio e inlorme em q ue, não soment~ este ou a quele pais, mas quase todo o mundo civilizad~. se acha "em grave perigo de in.fundlr– se, de a!ogair-se lentamente, quase sem dar-se conta. E, sem embargo, a liberdade, allva e pessoal espontaneida– d e do cenlro espiritual do homem - do homem no ho– mem - é a primeira e fun– klamental condição que faz p oss·(vel a cultur,a., o esclare• c1rp_enlo da humanidade". ( 10). Verdade é que não têm fal– tado demagogos mal inten– cionados que procuram ocul– tar: deliberadamente esse fa– to, tendo sido tão bem suce– didos na sua campanha de descrédito e Cl~ .:orrupçã 0 po- 11.Itíca, inspi"d"a em motivos menos dignos, que tempo llouve em que se tor nou ri– dícula, smião perigosa, toda alusão simpática à Revolu· ç ão Francesa, evento - sím- menlos da evolução histórica. dos povos. Bôa parte da celêuma que se tem levantado, a pro,pósl– to dos regunes democráticos, decorre da falsa noção de que a democracia é alguma coisa que haja existido ou que presentemente exista, Is– so para não aludir ao tre– mendo equivoco dos que a supuseram definitivamente extinta. Ao contrário, é evi– d ente que a democracia é uma idéia em marcha, de cu– ja evolu~ão o passado não nos dá mais do que vagos linea– mentos incompletos. Hoje, numa época de !m– portâne!,a. ímpar para os des– tinos do munp.o, póde-se afir– mar já que a democracia não está, nem ex-clusivam.ente na liberdade (liberalls.mo ), ne.m e,:clusLva.mente na lg,ial dade (socialismo) . Ambas são con– quistas de uma penosa evo• lução, ambas traduzem vitó– rias parciais da luta pela de– mDcracia. E não haverá, a ri– gor, verdadeiro regime de• mocrálie-0, onde não coexis– tam a liberdade e a i,gu.alda– de. Como a·firma PONTES DE MJiRANDA, "em vez de ha· ver antagonismo ou ineom– pa-ti.bilidade, enlre as liber– dades, a democraci& e as re– gras de fundo sôbre maior igualdade, o que existe é mútua sustenta~ão das três, ne<:essárie solidariedadle- en– tre elas, sempre que se trate de conservá-las e melhO!J"á• l as". (12). Esta síntese da democracia, a qual concilia– rá dois crilé.rios que têm sido tratados como recLprocamen– te excludentes, serã função do critério superior da dig– nidade do homem, que há de fazer da liberdade o li· mite e da. igualdade o con– teúdo da democracia. O prin– c ipio da dignidade é, por as· sim dizer, o elemento ideal constante, imutavel, da de· mocracia. b olo da luta do homem pela. iliberdade. BERTRAND RUS– SELL jã advert~a que "em nossos dias é costume despre– iiar-se a Declar ação dos Di– reitos do Homem, como sen– o.o uma vazia peça retórica do gosto do século XVllI". E comentava: - ":é verdade q ue a doulrina, filosofica– mente, é lndefensavel, mas historicamente foi útil, e, e.inda hoje, gozamos de mui- 1 tas liberdades que ela ajudou , 11 conquistar". (11). Co.mo quer que seja, se a garantia da liberdade iodivi– d lli!l é crilérlo radicad-o na. f ormação polltica dos povos ociden~ais e se lhes apresenta c omo exigência indeclinavel d a condição pessoal do ho– ,n-em, dai resulta que, por maior que seja a importàneia da revolução soviética no que diz respeito ao elemento no– vo que trouxe à definiçã-o do segime democrático, não é 11- ~ito afirma,r que nos tenha õado integral essa definição. '.Admitamos que, em virtude ~ ela, pertença doravante à p rática da democracia e pos– tulado essencial da igualda– 'de: ainda, assim ser-ia errado p resumir que essa idéia fosse t -0d-a a democracia, prevenin– tlo-se. assim, a vã ten1at1va S) - G. Radbruch - ''FJ· LOSOFIA DO DI– REITO" - págs. 93 j4. 4) -EdoaTd B enes - " DEMOCRACIA D11 HOJE E DE AMA– N HA" - Trad. J. Reizman - Ecl Cal– vino Ltda. - Rio, 1945 - pág. 209. 6) - Pontes de Miranda - 'IDEMOORACIA" - pág. 104. 1\ie universalizá-la sob essa e ,cclu.siva feiOão. A j usla e cientifica. obser– v ação dos fatos, longe de to– do dogmatismo partidário, e stá a nos mostrar que tanto ll r evolução liberal como a socialista marcaram passos lfeti-ni.ti: vos na evolução pol f– lica da, humanidade. Foi tão i es-astrado o liberalismo, fru– to da oompreensão unilateral la democracia, como seria o Igualitarismo, resull.anie do mesmo equivoco, embora tnals moderno e, por isso mesmo, mais atraente. Se vi,– ilam.os a democracia como ,.,. ' to e nos cingimos a inter– &>retá-la como tall, devemos ter men-os apegados às nossas Idéias do aue aos acon,teci- W- Nicol as Becdiaeff - "LAS FUENTES Y EL SENTIDO DEL COJ\lUNJSl\10 RUS– SO" -Trad. V. Men– divil - Ed. Losada, S I A. - B. Aires, 1939 - págs. 19213. 'l) - \Vendei W i I k I e - "UM MUNDO Sõ " - Trad. M. Lobato - Cia. Ed. Nac. - S. Paulo. 1944 - págs. 88j9. 8) -N. B erdiaeft - ' 'LAS FUEl'/TES" - pág. 147. 9 ) - J'ontes de Miranda - " DF..MOCRACIA " pág, 83. 10) - 1\la,r Sch eler - "EL SABER Y LA CUL– TURA" - Trad. J . G . S. Favre - E. Calipe Arg. SI A. - B . Aires, 1944 - pág, 9 . ~ - Be.rtraocl Russell - ' "0 PODER" - Trad. R. G . Sousa - Liv. Martins S. Paulo - pág. 83. 11) - Pontes de Miranda - "DEMOCRACIA" - pág. 115, ~ ~~~-u - .:1 • .a - 0 •1 0-o ■•II -Q W'J- U l& I _D_r VIDA LITERARIA BALANÇO · DE1947 -- JOSE' CONDE' -- RIO - Vi& aérea - Apresenta.mos o balanço das atividades literárias de 1947. É difícil afirmar se 1947 superou em qualidade 1946. De qualquer forma, foi assinalado por bons lançam.entos e por acontecimen– tos de bastante significa~o na. vida cultural do país. Outra observação nos sugere esse comronto: se em 1946 tivemos maior númer-o de estréias (bõas estréias, diga-se de passagem), 1947 marcou o reaparecimento em livro de vários escritores já consagJ"ados cuja a.ti · vidade intelectual pa.recia ~em-pora,riamente parali– sada. Os leitores terão a seguir - de forma resumida e dentro do que n.os fol possível realiuir - o balanço Literário de 1947, feito independentemente de aualquér política de grupo. NA OP~ O DE 13 ESCRITORES Quais os quatr-o melh.ores livros do ã.no 1' Essa per.gunta foi feita a treze escritores. Não foi obedecido o cr~rio de um livro para cada gênero li• terário. Nem todos os escritores interrogados pude• ram ler todas as obras aparecidas em 1947 e nesse sen– tido a.presentaram justificatLvas (Ciro dos Anjos, Di– nah Silveira de Queiroz, Anibal Machado e alguns , out.rC\s) . Alguns escritores votaram apenas num só livro. Os melhores livros do Ano na opinião dos escrl- to.res - foram os seguintes: FI.CÇAO: Euridice , romance de José Lins d-o Rego (escolhido por Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade Ciro dos -Anjos, Dinah Oliveira de Quei- ' . . r-0z, MaT,ia Julieta e Manuel Cavalcanti); A TúJüca e os Dad os, romance de José Geraldo Vieira (escolhido por Adonias Filho e Maria Julieta); O Ex-Mág-ico, con.toc de Murilo Rubiã.o (,escolhido por José Lios do Rêgo, Marques Rebelo e Maria Julieta.); Marajó, ro– mance de Dalcidio Jw andir (escolhido por José Lins do Rêgo); As Al lanl)lls, romance de Lêdo Ivo. (~sco– lbido por Ciro dos Anjos); Oontos Novos, de Mar10 de A.ndrade, (escolhido por Carlos Drummond de An– :lradc). POESIA : "Menino de Luto", de Mareos Konder Reis (escolhido por Jorge de I,lma e Lucio Cardoso); "Poesia Liberdade", de Murilo Mendes (escolhido por Anibal Machado, Manuel Cavalcanti e Jorge de Lima); "Poemas, sonetos e baladas", de Vin icius de Morais (~colhido por Carlos Drummond de Andrade. Mar– ques Rebelo e Maria Juli~ta); "A Veste do Tempo", él2 Manuel Cavalcanti (escolhido _por Adonias Ftlho e Vieira Coêlho); "Um dia depois do outro", de Cassia– no Ricardo (escoth:ido por Marques Rebelo e Adonias Jt'ilho); "Lira Paulist .a.na" , de Mário de Andrade (es– colhido por Carlos Drummond de Andrade) ; "Dia e Noit e'; de J'. Etienne F ilho. (escolhido por Ciro dos Anjos); "O Morlo debruçado", de Rangel Moreira. (es– colh:do por José Lins do Rego) . OUTROS G1!:NEROS LITERARIOS : "Jornal de Cr!Uca", de Alvaro Lins (escolhido por Ciro dos An– jos e Manuel Cavalcanti); "lnter,prelação do Brasil", de Gilberto Freyre (escolhido por José Lins do Rego e J orgE; de Lima.) ; Introdução de Machado de Assis (es– colhido por Vieirã Cofilho); "Tempo dos Flamengos", de JClsé Antonio Gonçalves de Melo Neto Cescolhlci-o por Manuel Cavalcanti e Vieira Coêlho) ; "Forma e i E::h--p~essão do Romance Brasileiro", de Bezerra de • Freitas, (escolhido por Adonias 'Filho); "Geografia dos 1 Mitcs Brasileiros", de Luís da Câmara Cascudo (es· co!hido por Marques Rebelo); "Problema do Trabalho'', àe AJceu Amoroso Lin1a, (escolhido por Vieira Coêlho). NA OPINIAO DOS LEITORES - Qual o melhor livro brasileiro de 1947? Qual a melhor tradução? EscoJhemos ao aeaso d-ez pessôas de diferentes ' . profissões. Obtivemos at1 seguintes respostas: do sr. AI·yaman Viç-OSO Jardim (advogado): ''Euridice", ro– mance de José Lins do Rego e ''O ovo e eu", de Betty Maccionald; de José Queiroz de Andrade (engenheiro): "Arruar'', de Ma.rio Sette e "Escolhi a Liberdade", de 1 Vlctor.Kravche.nko; de Paulo P-ereira de Faria (acadê· ' m:co): "Introdução à Antropologia Brasileira", de Ar– lhur Ramos; e "A Rua", romance americano de Ann Petry; de El7.a Ribeiro (domésllca): "Quando os ca– Ceu..is florescem", ro.mance de Stella Leon;irdos e "Arco do Triunfo", romance de Erich Maria Remarque; de Nelson Baptista de Faria (estudante de odontolo– !rla>: "Como foi perdida a paz" , de Carlos Lacerda e "Escolhi a Liberdade" , de Victor Kravchenko; de Ma– ria Elisa de Castro (empregada numa loja de moda): "O Oitavo Pecado" , romance 'de Emi Buibões de Car– valho e "Todas as mulheres são lobos", de Abner Sil– ver; de José Irineu Cab1·al (jornalista e redator ra– diofônico) : "Euridice", de José Lins do Rego e "O Ge– neral do Rei", romance de Daphne du Maurler; de Maria Helena <le Far-la (funcionária do I.A.P.I.): "Olhai os lirios do campo". (8.ª edição), de ltrleo Ve– clssimo e "Ca,minho da Liber<lade", romance de Ho– ward Fast; de Léllo Vieira de Paiva (funcionário d-o LA.IP.B. e estudante de Direito): "A Veste do Tem– po·•, poesias de Manuel Cavalcanti e "Escolhi a Liber• dadE". de Victor Kravcllenko; de Silvio Cunha Ferrei– ra (médico): "Pare. Dutra le:r na cama", de David Nasser e "E o globo desaparecerá", de William Bullitt. __O_ Q_ G_ ll _ l _ O_~Ct - 0 1 ■ o~~-11-0 - a...a. • MADAME PAUL VALÉRY ' l\!ARCELLE AUCLAIR (Copyright S. F. l .. com exclusividade para a FOLHA DO NORTE , neste Estado) Da mulher de Paul Valé– ry pouco, muito pouco, se fa– lou. E' que voluntariamente perman-eceu na sombra e de– la não quis sair desde que o grande poeta faleceu. Respeitando tão admirável ostracismo, muito tem:Po he– sitei em pedir-lhe que me reoebesse. Mas julgo ser ne– cessárlo demonstrar até que ponto a vida de familia con– tinua, na França, como a con– textura básica de qualquer existência. E fol invocando esla razão que.obtive de Mme. Baul Valéry a tão desejada entrevista.. Queria que me falasse de si mesma. Ela, porém, não fala de si mesma , senão. em função do autor de "Obarmes". Uma e:xipressão sua me comove particularmente. E' quando fala de seu casamento. Não diz, como a. maiorla das mu– lheres: "Quando me casei. .." ou "Quando nos casaJnos...", e sim: "Quando ele se ca– sou..." Essas simples pala– vras nos mostram Mme. Paul Valéry multo melhor que va– rias páginas . .. Mora ela. na rua. Paul Va– léry: a Rua de Villejust to– mou o noll')e do poeta que nela morou durante anos, num imóvel construi do, ou– tróra, por Berthe Morisot, pintora ilustre e tia de Mme. Paul Va.J.éry. Esta rua se acha. num quarteirão da Pra– ça Victor Hugo, próximo da "J!lloile''. Quarteirão burguês, algo frio em sua pesada so– lenidade. Mme. Paul Va.!êry fala-me do que sentiu quan– do o poeta leve que aban– donar seu querido "Qua r líer Latin", para vlr morar nesla casa de familia: -Tudo fiz para que ele não sofresse, ele que linha necessi-dade imperiosa de sentir a v id a em tomo de si. Falta a este quarteirão qual – quer caracteristica e quando. à tarde, via meu marido, à busca de um movímento hu– m.a.no , mergulhar o olhar nos sub-so-los onde se localizam as cozinhas dessas grandes ca– sas burguesas, eu sentia re– morsos... Mme. P a ul Valéry não é alta. Vestida de negro, o semblante pálido, olhar de grande serenidade. de gran– de brilho. A timidez que ex• perimenlo, no princí.plo da conversação, cede lugar a uma espécie de espectativa. Emana dessa mulher tan ta r etidão. per cebe-se n-ela tão requin tada sensibilidade, q ue somos levados a ser tão sim– ples e sinceros quanto ela mesma. Recordo uma frase de Jean Gir-audoux: "Não nos sentimos em segurança sobre uma nota justa. como s e>bre um navio". Sempre Mme. Paul Valéry estâ na nota justa . O salão em que nos acha– mos é a própriil imagem des– ta harmonia: move.is belos, discretos e quadros admirá– veis. Este Degas, é o relra– to da mãe de Mme. Paul Va– léry execula-0.0 pelo grande pintor que era seu amigo. Dois retratos da própria Mme. Paul Valéry por Ber· the Morisof: num. ela é um bebé cheio de sa,úde, noutro - uma menina de três ou quatro anos, com grande chapéu. Renoir, Degas, Mo– net eram amigos da :fa-mflia Morisot. M-allarmé era igual– mente um de seus amigos ín– timos e consagrou à Mme. Paul V-aléry e à sua irmã uma, de suas mais lindas compooições. Paul Yaléty era um d-os mais ar<iorosos di.scipulos de Mallarmé. Não -foi, e.ntretsn– to, em sua casa, que Paul Va- léry e aquela que devia ser– lhe -., esposa, se enconLrar am. Melte. Gobi)lard viu, pela primeira vez, P-aul Valéry, a profunda tristeza que se lia ,em seu semblante. Foram a.presentados um ao oulro dias mais tarde e esta amiza– de m6.tua por Mallarmé, o pesar qu~ sentiam por seu desaparecimento, constilui– ram o primeiro laço entr-e eles. Além disso, Mme. Paul Va– Iéry é uma excelente musi– cista e Paul Valéry adorava a música. Ouví falar do la• lento de pianista de Mme. Paul· Valéry. Quando lhe fa– lei a respei-to, rogando-lhe que tocasse algo, ela se re• cusou: -Desde nosso casamento, nunca mais fiz exercicios ... Não o podia fazer quando ele ao lado tra.balluiva. AJém disso, eu me sentia tentada pela pintura. Mas já havia dois pintores em casa: minha prima, filha de Berlhe Mo– risot e minha irmã. Foi, pois, decidido, em familia, que eu me consagraria à música. E pensei nesta fam!Ua bem francesa em que as moças seguiam as exigências de uma arte qualquer com a mesma doçura q_u.e se se– guissem suas próprias ten– dências . .. A vida se organiza em tor– no do novo casal. Paul Va1é– r:y não se aborrecia em sua nova resi dência . Próximo morava um amigo: André Lobey. Ma is tarde ele se tor– nou um d os familiares do sa– lão de Mme. Mublfeld. An– dré Gide, Paul Léau ta ud, bem como os grandes pinto res já citados, vinham f't'e– quentemente à rua de Ville– jusl. P ierre Louys era iiual– menle um dos amigos !oi.imos de P a ul Valé ry . mas os dois qua.se não se viam: este úl– timo. muito madrugador, le– van lava·se à hora em que o aulor de "AphrodiLe" se deiLava. Mme. Paul Valêry não era. a secretária do marido; nunca se consegue ser secretária de um poeta, Ela lhe e vitava q11alquer trabalho inúti l. qualquer d isper são. Foi, so– bretudo. uma mãe ln!aHgá– vel , junlo de seus três :filhos e, particularmente. "répéti– trice" do ma.is velho: Claude, Agathe <Mme. RQuarl) mo'ra na rua Paul Valéry. Tem três filhos. E', em colaboração com seus filhos, que Mme Paul Valé ry d irige a e.;l•• ·,. das obras do mtr ldo. Jâ apare– ceram nos úllimos anos: "F t" aus , representado em Bruxelas e Gcnova. e o ad– mirável poema "L'Ange", E$iou p~tsuadida qpe Mme. Paul Valéry não d esejará ver terminadas estas linhas que · lhe são COll$agradas. sem al– tumas palavras expressivas do grande poeta, homem d-e espírito. Foi durante a Libertação de Paris, em agosto de 1944. Paul Valéry se achava na "Avi>nue Víclor Hugo" com Joseph e Jean Baruzl, en– quanto, por toda 8 parte. fa– lavam os fuzis e as ntetralha– doras. Os Barusi ofereceram a Paul Valéry de subir a seu apartamento até que cessas– se .ª fuzilaria: mas ele pre– fe!1u voltar para a J:lue Vil– leJus-t. Eles o viram aflaslar– se ao longo da calçada. Aa balas assobiavam a seu der– redor. Paul Valéry vollou-sa e lhes disse com nm sorriso malicioso: "Decididamenle não g-OSto d.a História". Mas nossa história lilerA– ri-a gosta de --Paul Valéry, D lhe pertence.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0