Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1948

- ...... . -------------~ 1 • • • CONTO AS MOSCAS • Mario Faustino ~-~ ~óa-lbc o saugne aos ou– 'llldos como as pancadas do éltJStino na Quinta Sintonia. Dando voltas pela testa de eéra, a mosca diverte-se es– J)oucando -granues bolhas de 1 suor. A, companheiras, nas eol una!! êhl!i _pernas eru.zadas, fa: r.em o meSUlo entre os ca– belos 11egros. , As mãos ele João estão eri<Jpadas. Tambem pelas mãos há moscas e outros pe- • qucnO!! insetOfl, lncomo,Jos, i errívels, fazendo cócegas por t odos os lados. , .João eonumpla o resto do mundo seu e elas moscAS. Lis- tras no pjjama, eabelos pelas pernas, sujo debaixo das GDllas llOS pés. longas corren– &fos do 11ano branco subindo d esesperatlas até a angústia. rígida do 11 s" ,10 arma.1or. E mOBCas i;-or todos os lados, eomo se João estivesse mor– to. l:!, quem sabe, não está 1 Neste momento de torpor, mão tem certeza nem de que está vivo. l\felhor seria, mes– mo, que estivesse morto. ..... .. .. HAVIA MEUS PÉS LUMINOSOS -.. POR SôBRE ESTATUAS DANÇANDO A BôCA DO PROFETA SEM VERSICULOS E AS ASAS DO ANJO SôBRE O TEMPO . PEDI O SINAL DA FUGA 1 • E APARECERAM OS TEUS CABELOS EM FOGO , MARIA, MARIA, Só TU :ME PODES PRESERVAR DO INICIO . LIGAR-ME-EI AO TEU LADO ESQUERDO PARA SEMPRE. " ENTAO TU TE LEVANTARÁS ENTRE O GENESIS E O DESEJO INCONTIDO. - BENEDITO NUNES - • • Qninta-feira. L O de Janei,:o de 19t8 Direklr: PAULO MAB-ANBAO • NUM. 60 ------------ • ROT~ OBSCURA} • Cécil Meira Se estes sonhos são meu!I, por q11e- não os cle$VCndO? DO q1Je são (o-,mados 'l Qual sua sutil ei;séncia, sua força im!· nente? J>or que sonl1os e nao r caliclades? 'Iod05 os bens wrestres pesam muito e & carga nos oprime e fatiga. O sonho é ptrfume que se al– teia, percorre caminhos não traçadO!I, nada nos cu5!-a. além de um pouco d e pie– dade em nosso eoraçio. De onde estou vejo, ao longe, por entT& 5 'llidrOII d,a ja; nela. o panorama brilhante da manhã ae verão. Bela!!I míniaturas. ]leqnenos qua– dros. 0 a vida que ali fora existe me Jemhra, u.ma por uma, a paisagem viva ele to– elas as f.enas tlo l\lnndo. Mui– to além disso, a nuvero bran– ea tixatla no horizonte a7.uJ. Um mundo inteiro de sonhos fluindo, aos poucos. le.vemen– ~ ele um todo material . Sin– to o limite de ambos. As ae. ses]leranças caindo para a terra c1ul'll- e os anseios su• &>indo para o ceu. Porque, então, não &entlría 1 n •m SU0r ...0- 1 10 11 - ~ U- Q F n- n !J - •• - r.:wwwff _ D_ O 1■ •- ~0-.1' .. - 0-P1.-.-•o .. -- ••-Ho.-.-9,~0- 0_ 0_ Q_ ff F fl - CI ■ . U_t_G _U_J_O_ O_, m.l\s:.!a.~. nem ca or, \,ó , I E tú que buscas o céu per• des as delicias suaves da terra; e aquele ou1ro, que s& 11pega à terra, que a beija & a aUUl, esguece o caminho do Céu. Não proeures desvendar isses segredos. ~lni furam feitos para te atormentar. Sô bastante forte e libcrla-te. 11em ouvirfa palavras rabo. ~entas elo lado de fora do f quarto feebado nem sl'Ontiria 1 ftUUl?"Dllllcia de- si próprio, Felizmeo1e, c.ra -ncara-se à ehnve. l Cbej!ara do trab:ilbo ()an- ~ 1111-do, nervoso. es olhos mor– ,C,cu, os -•nbros fraquejao– ào debai1i tle toneladas tle 110I e de aunosferas poelren– w. ' No escritorlo Unham repa– rado. Sentara-se, trabalhara, não falara. Só com o patrão. 11obre um se-rviço de c1a1ilo– g-rafia. N5.o acompanhara os ,col"'(M mais velh!)B e viera d ireito para casa,. ,,- 1'1 - •- a• o- c--o • rt-o -a 1 ■ 0 -.,_.,,._,~ .. . SOU AQUELE QUE VIAJOU :r{AS AGUAS DO DILUVIO E SE HOJE VES APENAS UM NO:ME ENTRE O SER E O N~~O SER JA FUI A NESGA DE CÉU QUE NÃO SAI DA TUA MEMÓRIA E SEREI A ROCHA QUE DENUNCIARÁ A TUA PRESENÇA. PARA QUE ME ESCUTES NÃO E, PRECISO QUE EU CANTE, RIA OU DIGA OBCENIDADES. EU SOU A TUA VOZ SOLITÁRIA E IRREPARTIVEL A ESTRANHA PAZ QUE TE DEIXA INTRANQUILO \ O SEGREDO - QUE NÃO PARTILHAS COM O TEU PRÓPRIO AMIGO . (Ili) Vinba doido por 11m ba– Jlho, como se necessitasse .ima purit~cação. 'l'inJ1a cer– &eza 1le gue aquele banho EIS PORQUE EU JÁ ESTAVA EM TI ANTES QUE A TUA MÃE TE CONCEBESS.b; O verda~ciro homem e aquele que tlepois de C'ons. irllir o se11 tito dá a stu vi• :ainho para que alí êle fa<a tJUa monila. O ,-ertlàllt-Jro homem é aquele que depois de ganhar seu dinheiro, mes– mo u mola.ndo, clistrjboi J:Hl– los que têm menos do qoe êle. O verdade.iro homem é aquele que nada procura pa– ra si, que se aespoja ao mui– to e do pouco, e não se Ia– m~l.a. O verdaOelro homem é aquele que na.da mais quer do que o ohão em que pio:.a,, o ar que respira, e esl.a- aten– to apenas para o nascer elo &oi, para os sussurros da flo– resta, os gemidos do Oceano e o declinar da tarde. O ver– dadeiro homem é aquele que aoeiia as somb.-as da noite, que n:io as teme, e ne-las suavemente adorme<'e. O verdadeiro· homem é aquele que S.1oCU.dii10 pelas tempes– tades, pela fome, pe-la misé– ria., pelo mal sem cura, não os sente e murmura patavras serenas, abençoando a s ciÔl. sas boas e más. O vt'rdaõei- & r a r - J h e - i a de volta a .tranquilidade t1esapari:ci1la. ! E,c.puJsaria a angústia aos 11eus poros, das suas narinas, ANTES MESMO QUE O OLHAR FOSSE MEMÓRIA · - - dos seus olhos. A água es– eorrer. Jhe-ia pel:is extremi– dades do corpo e da alma, penetrar-lhe-ia os ossos e ele, 1 eomo sem11re, cantaria para • • h a VlZID a. 1., .Mas ºªº· Nio haVia água. P aS6ou meia hora, morto ele • ergonlla, de cal~ão, p.-rcoir– r endo com o balde minúsculo '(não en contrara a lata de ga.– llOlina) o pequeno espaço en– lre as duas portas de porão, E A MEMÓRIA SILENCIO. "' ..--, POR ACASO NÃO OUVISTE FALAR DE MIM NAS ESCRITURAS? ANDA, ENQUADRA-ME NOS TEUS ESQUEMAS, DESNUDA-ME AOS OLHOS DO TEU POVO, FAZ CALAR TUA FOME DE EVIDENCIAS! VEM, ARRANCA O VÉU QUE OCULTA O CORAÇÃO INTACTO . APRESENTA-ME NOS CIRCOS, EXIBE-ME NOS PALCOS MAS QUE; TODOS TRAGAM O OLHAR QUE FICOU NAS BONECAS PARTIDAS SENÃO, AI DE VÓS, PARA SEMPRE ACENDEREI A PAIXÃO SUICIDA -· - ROY GUil..HERME BARATA - ' fCo_ntínuo no 3°. pógino) ..,.o . , - ~ 11 o- a ■• o - o - a 111 0_ 11 _ o_ t1 _ ,-.,; a ■ ta o-o • ■ o_ o_ a: _ o_ o_ o ■ u-• -o-o - a - a - • e 01 10 •• • - • -•• ei_ o_a_1t_o ■11 0-. (Coati-nua na 2º . p ógifto) • ---------------------------·------------------------------------ ------------ Se queremos penetrar no sentltlo his– tórico atual do regime demouátieo e , em eonseqnêneia, apreender as suas ea.,actcrís– ti<lll'! ideais, temos. como anieriormente afi.rJml,mos, que acompanhar a evolução das Ideias JJOlitica.s nos úUim()s d«ênios. Do que atê agora expuzemos resulta bem claro q-ue a chamada erise <la demo– er acla, vuJganncnte situada no período re– volucionãr-io que segui11 à primeira Guerra Mundial, foi uma crise de desene-anto do UberalffJmo, levaCJa ao paroxi1;mo pela situa– ,gli.o de in:,uportavel angústia generalizacla a todas !\!I coleUvida.des nacionais. Mas vi– mos. ta-mbêm, que a reação anti-clemocri-tica f.asci.$- a.penas levou ao exh:eroo kse de– sencanto e t-ómou mais a,:-uda a crise uni• ~ersal, eloquente jnclicjo da, impossibilida– tlo c1e se encontra.r, nêsse chamado periQdo r evolucionário, um rumo seguro, ca11az ele f undamentar qualquer conolu,são criteriosa relativa ao d estino da d emocrada. Mas o faSl'ismo nã.o fol o úniC<I acon– ~imento politico dessa- época. Jnstaurado. lambém, em seguimento à primeira Guerra- 11:lundial foi o regitne soviético. Ao analisá-lo, fecuJ;Jdas oonsequê.ncia.s advirão para a melhor oompreensão das di– l'e..-b:es peeuliares ao nosso tempo, desde '.tUe tenhamos sempre em vista: J) - a escassez e a Jnexatidão das pu– J>lleações descritivas da situa~ soeial na CONCEITO· E SENTIDO - DA DEMOCRAC IA --· --=----.. (Fragmento cl'o e,nsoio INTERPRETAÇÃO t DEMOCR.ACIA) --- Daniel Coêlho de Sousa Rússia e aspel'.tos mais frisantes Oo seu re– vnie, oi-a corueccionadas com exclusiva preocupação de proseUUsmo, ora servindo à pro~gancJa fascista e bnrguêsa, ora con– dicionadas às restrições legais decorrc;n les elo isolamento a ·que ki a U. R. S. S; rele– gada, durant~ largo tempo, _pela l:Daior par– te das naçôeli oeidentals; n ) - a f.eme-ritlade c1e qualquer jui!ZO definiUvo a. respeito do regime so-viétieo, pela im.possibili<lade ae se prevér. ao me– nos aproximad:unen~. as transfonwu;ões por que terá de paS8ar, resu.Jtantes de sua alian9a com a Gri-Bretanha. e os Esta4os• UnfcJos. .No e~~. a par IJa prudeac;la gue de- ve nortear qualquer atitude ae ju)g'amento ('ritico imparcial, há f atos que podem ser admititlos e cujo reconhecimento, portanto, se impõe, assim como .há. 1.am ])ém, previsões perfeil.amente licitas, embora suscetiveis t'le retificaç.ão . E ' a ês5e mínimo de certe'iia que nos manteremos J'iéis, nas linhas que seguem. A fisionomia da r evolução soviética aind• Ntâ. por ser 1raçatla., com absoluta nJtjde~. E' pos&lvel mismo seja prematura qualquer twt,;&liv.a nêsse senUéloi dado que os acontecimentos sociais, para serem bem compreencl idos, rf!clamaro dilaiacJas pen1- pectivas, o que aü o preseute nio e po.$1ií– vel obkr. - Mas, o que nã.o é licito, desde já. omi– tiT, o que, destle l ogo, n:io é possível r e– cusar i a htiensa imporlãnciã do regime Instaurado pc.r ela, para. a. compreensão dos rumos politicos d11 futuro. SOROKJN afir– ma, eom a sobriedade caracter-isüca ele suas opiniões, que o ttgime so,·iêtico, " despoja.– ao dos métodos sanguinários que levaram ao seu es tabelecimento, e ton iado em seu valor i"otrinseco, é uma dàs inovações poJi– tico-sociais mais radicais e singularts. O regime deseja cria r, não somente uma dé– moezat'.ia pqliileJt , mas também econômlea e socjo-cul1ural. ~le pretende eliminar m,Ji– to mais•ratlic~cntc a expJoraçjlo e a in– justiça , do que os rei;-imes de democracia puramente poütica. Experimenta combinar as v~nlagens ela -moderna ccnlralizaçlio tec-– nolôgica, produtão em larga escala e a.11- ministra.ção, com auton omia dos ,:ru1>05 lo– cais; envolve-r os benefícios da coletividade com os de liberdade, a uto-ex-pressão e iní– cJaliva individual ; reconciliar as mai s cJes• p6Ucas burocracias governamentais com a liberda•lc_; i.nieg-rar planos sociais com es- 1,ontaneidat1e e mudança eriad()ra; consti– tuir radial jgualclade eom «1eslgualdadp de tnérlio e. talento; e, lina)mente, haru>onizar a responsabilidade da sociedade para e0s--. cada um de seus elementos com a rei!J>ÕU.- (Continuo no 3°. pó9i110) •

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