Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• ' • • ' • ..0 1 ■ 0 1 0 0 1 •- •-•-••••11••-•u ••- • • .,, _. ■ • º1 l it .J fl _ ll _ ~ _ ,, _ ,._l'\..,.... _ IIJ _ft l ■ ll- •1 - =- r- &- •- •-•- n---••• •-•• ■ - li • 11-• r~_,....,,.,.... _4'!"~..<,"'__....~-:,.AV"A:r✓✓✓~~~ =-----~C"'".,.~...,..~1 • A Verdadeira Arte Da Pintura 1 r~..r...o--~..r~...cco~_. Dernocrótico . - Tomás BODKIN • -1 ~ • - O-ll ~ ~ -ri - 1l _ U_ <Exclu&ivida de da FOLHA DQ NORTE, no Pará) • R. de Sousa Moura LO!'IDRES - Janeiro - Ml~elangelo, ao pintar a fresco 'll. C à pela S l s t I n a;:c • Rembran?t, ao ~intar "O homem com o capacete dourado", estavam \fllbos Interessados, como artistas, nao em focalizar uma dctermi nada questão ou pessôa, mas em atinJiir a unia determ:lnada forma de beleza ou de verdade. de que esses fatos são apenas vél.1,,'; que de,·emos afastar para penetTar no s:eu sentido recóndito • Hà pouco tol solicitada minha partic!"pação num p rograma pela radio-emissora local, , q1,1r 'IIQ,ha por tema o regime democrático. Aceitei essa oportunidade de trazer m:'li~ uma vez. 1 m~ha contribuição ao debate publlco de objetivos inseparaveis do destino coi,num '"do brasileiros. Na verdade, nenhuma outra missão ma.b sedutora e necessária do qye a da Distinguimos as pinturas pe. pal 1vra talada ou l'i;Crita na atualidade da nossa pálria. Hã pouco tempo, o coraJoso j OI'• l os seus titules literários por mo:ivos de conveniência. Se– ria melhor se adquiríssemos o hábito de dJ~ttn~u!-las por nú– meros. porque snr·• ..tnuitas vezei; tentados a j u li,~ J"" h, se.rãvels de seus títulos. Diz– se 'que o "Angelus" de Millet. reptoduzido e1n litografia ba- • • • ratR na .1\mérlc!I teve pouca • - • s;,iôa, at,é q~_. um editor as– tuto teve•..a.,J&éla de mudar o tnuto pa~"Entf.'rrando o fi. Jh,nho"'. Esse novo líh.tlo im– 1.lomingo, 9 de fe,,ereird de 1947 Diretor: l 'A ULO " -utANilÃO pressionou tanto o pibl!oo que as vendas tor– nanim-se lm®sas., Um quadro at! ão pode manter-se sem um ti!ulo não é c.,uadro. Uma ver_dadeira obra d-e arre pode existir por si própria, sem p re-cisar de a-preséntát;ão ou descrição. Se ela, • par.a o seu efeito. depender do con.h~ilnento lit.erário ou histórico do espectador, do seu apreço por c1·enças religiosas ou aostumes so- - c1ais. podemo1:1 ter a certeza de que o seu mê– r1 to estético é deficiente. Quando apreciamos um quadro seria aconselhâvel que lmaginãs– semos que impretltão ele produziria se fosse apresentado sem comentário a uma pessõa in– il?ligéhte, criada em '..utro clhna e nuina cul• tu ra diferente. Que pensaria, por exemplo, Utamaro dos trabalhos do seu contemporâneo Hoga1·th 7 Não temos dúvida de que ter~a gostado do "~.-Ia-riage à la mode" de Rogartb. -assim conlo de que Hogatth teria apreciado as composi– tões de Utamaro, inspiradas na~ peqas do T eatro Morita. .z.-..,ge1' Fry lenta ridicular1::-:nr o pintor mo– de•·• o popular que escreveu um livro sôb,e a arte da pintura, desc1·evendo-a como "a a1-te de uuitar objetos sôlid1>s numa superfície pla, na por melo de pigmentos". Entretanto Mi– guelangelo disse: "A meu ver é excelente e divi~a a pintura q1Je mais se parece com qual– quer obra do Deus imortal e que a imita. quer se tr-ate de uma figura humana, ou um animal • 11elvagem e est:ranl;J6, ou um .peLxe simples e fácil. ou um pás, ài-o, ou qualquer outro ser". Aqui estã pois um iniludível pronunciamento em favor da imit.:igão como finalidade da pintura_ (Conclúe na 3.ª pãg.) l As duas novelas publicadas este ãno pelo h -~✓✓✓..O"'✓...O-✓J"✓...O--✓.h"Acr...o-~J.:l"°~..cr~~.,.~~✓✓✓~~~...o-..r;..r..r.e § . ·i 1 om - ,..,:; 1cao J s ~~~~.-0 E é sen1pre a chuva nos desertos sem guarda-eh algo que escorre peixe dúb e a cicatriz, percebe-se, no r: • E são dissolvidos iragn1ento e estuque e o pó das den101igt>es de tu , que atravanca o disfor ais f~ 1r~ · -- :8é15i1, 11a .,...,,,.,_ o7::to in1bu.. Pinga, no desarvorado campo mudo. Onde vivemos é água. O sono, wnido en1 urnas desoladas. Já se entornam fungidas, na corrente, as coisas caras que errun pura delicia, hoje .arvão. - \ O n1ais é barro sem esper de escult ura. CARLOS DR ND DE ANDRADE ~**"**..... **"*............ frl***tt**..... ********* t JORNAL DE CRÍTICA , Romances, Novelas E Contos Alvaro LlNS <Exclusividade da FOLHA DO NORTE, do Parã) . , r Lúcio CaroQso revelam anles de tudo a p resença de uma crise na e-i;trutura mais in– tima do seu esplrito de ficcionista (1). Por que d,esoou tão sensivelmente o nível da sua obra? Por que ficamoo frios e indJlerenles .mte est.as duas novelas, que não obstante, e ao que parec,e, !oram e,scrita-s a:paLxonadan1en– te 7 Como expliear esta sensação que nos t;a.nsmitem de eoi-sa ln!orrne e u·revelada ? Não se verlficou no caso uma mudança d e• orient;ição, algum equívoco explicável pela entrada num novo e des-conhecido cantinho, p ouco propício à ligura do autor. Ao con- formas de elaboração e realizações. O ro– irário;,êle cootjnúa perfeitamente fiel ao con- mance desdobra-se em muitos episódios, que ceito de arte, ao tipo de ficção, à espécie de circulam o dram-a principal, ou com êle se p roblemas espiri tuais com que apareceu pela cruzam em vârias direções, de modo que a primeira· vez em A Jnz no sub-solo, depois ação se processa em diversos planos. E por das experiências diferentes de Maleita e Sal- · lsso é q~. entte tantas definições do roo1ance. jue.lJ"f. E ainda agora, na oola em grifo com há esta Qe E. M. Foerster: uo;na obra de flcção <1t1 abre A professora Bllda, reafirma que a com mais de 50.000 palavras. Realmente, os sua realidade humana e literárla é o Mistério: verdadeiros romances, como as obras-p ~im.as "O que nêles (nos personagens) me interessa, do romsnce universal, são obras extensas, mi– nuciosas, com muM.os personagens e episódios, explorando zonas muito vastas na ordem so– sial e psi.cológi,ca. As obras p rimas da ri.cção em pequeno tamanho são nlai'I propriamente novelas ou recits. E a novela estã muito mais ligada ao conto do que ao romance. De r.l\rto modo. é um conto desenvolvido. Por efeito da pequena extensão, ela não pode dispersar os seus elementos, nem dividir o s,eu con te1ído emoci on~ em múltiplas situações. ,A sua for- nallsta qúe é Carlos de Lacer– d;t, declarava num dos scw. lon– gos artigos do 'Corr eio d a 1\1a. nhã". arllgol' cheios de f óJ? ,. de imaginação e no~ idade. r1ue a culpa de se alongti rUll os seus artig os não era de sn;. µa1- te. mas do silêncio de 1n 1, i los homens e mu1heres que 1 ~ta– van1 no dever qe íalar F 1 liz– menle, os acontecjmentos dos últimos meses deram. ao ,1 ,r ;ios em parte. un1 sa ndav~I 1 ô e.s– menlido ao pessimismo dfqUC• le concei to. Mas ê pr&i:o e 111 - du :t.ir a critica. o exan1e. a v1gilânwa. ~r hn, dn palavra [alada ou escrita, para au ne~ vitais na organLzação nac1ónal e n1e~1no na politü:a externa. Sob este último asp~~,:i p1 r exemplo, é conhecida a agúda sen$1lJ1 li~ de deste pais pelos problemas de o~(TOS J.Jv\"Cli.', e ao mesmo tempo a falt-0 de fírn1eza ~r.ru que fugimos de impôr ao respeito ~e e · a– nhos os nossos p róprios interesses. Nao le ,1os ninda o hábito de critérios ou p~anos _pe Ju– .ravcis na administração ou na politlç~ wt· rn_a ou externa. o q_ue só uma opinião públlc:a , gi– tada e desenvolvida pelos lideres da pai""··-~ª parlan1entar, jornalística. partidária ou h~.; ••a. . . . ri~ podera corr1g1r. _ Saunas desse limite iinedJato e pragn:ál1• co, e encontran1os no campo n1etaf~co , i_tra enorme· significação da palavra. N éla es t.i. o principio das cousas, a sabedor~a. a poei;i.. e> mistério. Néll> encontran,os mais íecuno1:iade do que na ação. No prineipJo das coas:•~ está 0 ~ ::011gnnd.a lodos ,prendem no (.le ~ese. o unlverso era um cáos, e Já a palavr.i "»' ,– t ia. Deus rez o mundo dizendo eslns p.'11.n– vraJS: "Faça-se o mundo" N'uma sociedadê politieamente org:m1z;1<la, é essencial que utilizemos esse instrumento ad• n1Jrável a bem da justiça e do progresso. Por isso Cicet·o chamou-lhe "preclara gube1·nah·i-x civltatum" A conquista da 1ibe1·dade de pen– samento !01 tão unportante para o bo1nem como a descoberta do fogo. A palavra" j o sopro vital das instituições fundadas na lih!>r– da<le, é a raiz do regime de1nocrãtico. Nos paises em que não bá o parlamentarismo cc,ns– titucional, como o nosso, temos de ins LH1.111· <Conclúe na 3." pâg.) ma deve ser concentrada, c<>m um seguro c•n– tro de convergência$, disposta em lodos os aspectoe, pa1·a a rev-elação de um só cll'; n1a ou episódio, de uma determinada situação p-,1- co1ógica. E dai decorre aquela outra disUnção observada por Ramon Fernandez, que 1tão sendo absoluta em lodos os casos, consel'v:-i, contudo, a sua vaüffi:!z em sentido geral; "1,e roma.o est la representaUon d'événement,; qul ont lieu dans lé lemps, repn!Selltation soumrse aux condí•tlons d'app atlti-on et de développe- menl de ces événement.s. Le récit est la p,é– sentalion d'événements qui ont eu lieu, e◄ dont la reprodution est réglé par le narrateu: conformén1ent aux !ois de l'ex-position ~ dt la persuacion. La diftérence est donc quE l'événement du roman a lieu tan<lis que celuJ du rêcit a eu líeu, que le réeit s'ordenne nu– tour d'um passé". Está claro que também o romance é co1no uma história ímaginada, formado com acon– tecimentos já supost.amente passados, recons– tituição de um drama já aoontecido e ence:i;– rado pelo m,enos na imaginação de seu criador. Da a rle do romancista porém, faz porte a ca– pacidade para atualizar êsse pas~do re:.iJ ou imaginário, apresentando-o com uma sensa– ção de matéria presente, transmitindo ao leitor a impressão de que 06 acontecimentos da fJc– ção, como ' os da própria vida, estão se desen– o que quis mostrar nos seus destinos ator– mentados, foi a fôl'ça selvagerµ com que f o– ram arrastados para l onge da vida comum, sem apoio na esperança, sem fé numa outra vida, cegos e obstinados contra a presença do Mistério. Pois o ?distério é a única realidade des~e mundo. E se dêle temos tão grande ne– cessidade, é para não morrer do conhecimento d os nossos limites, como as criaturas loucas e - i volvendo naquele n1esmo instante aos seus i olhos. Este é um dos seus meios para atingir ----- e transmitir o estado de vêrossimilhança, que m artirjzadas a que tentei dar vida". ..U l I O • I U - A - ➔- a .,_ n_ "- -, é o próprio estado da fioção. romance, nove1a Coloc.ados A professon ffilda e O anfi- teatro em face destas palavras, Que são como a profissão de fé de um escritor, observa-se. , então, que a insufíciência de ambas, a fragi– lidade d~las OO>Jno ob-raJ> l i terári.as, envolve um p'roblema antes de realização do que de concepção. A concepção é nitida e consciente, ~ o menos nos seus eleme,ntos de base e nos lfleus ))Ontos ffi:! partida. No instante de mo– v imentar-se, porém, ela gira sôb.re si mesma, infurme e inartí-culada, não avança junta.men– te com os vocábulos, recusa--se ao dinamismo da a_ção, permanece incorpórea na vacuidade. Assim, A professora Hllda e O anfiteatro re– p resentam idéias que não se concretizaram d evid1!Dlente em matéria de ficção, paixões hUman-as que não se revelaram em epis6di06 e não se e311>rimiram. em caro-cteres de per– s onagens, de acôrdo com a técnica e a f-0rrJW1 da nov-ela. Se é verdade, não sei, q~ a úniea diferença entre os gêneros romance e novela é gue um deve ser extenso.,_ e outro curlo - esta oircuais1ância d-0 tamanho de-te'Mllina sem dúvida consequências muilo nítidas na~ suas Marques REBÊLO (Especi.1! para a FOLHA DO NORTE, neste Estado) ou conto. Na nove la ou no conto, porém, a sensação de atualidade é geralmente subsiilui– da pela sensação do já acontecido. Mesmo quando o verbo é empregado e a ação lançada RIO - A arte poderia salvar os homens, por escrupuJos, mas para um caxgo mais nias como os artistas são t,ão mesiqu:i.nhos como doso e efetivo numa Delegacia Fiscal. · no presente. fjcamos ainda com actuela velha ren- os demais homens, salva apenas algumas me- Há elevadores, mas estão eternamente em mórias. conserto. Subimos a es<:ada ·do Instituto con- • tinuando a conversa sôbre romence. No topo N. deixou de ser poeta de beijos. E ' poeta do último lance, creio que E . L. compreendeu do Povo! Explora com lugal'es-comuns a poe• que envelhecia. sia social. Não que ela reru'la mais que o seu (Eu o subia por outra escada - a das refugado lirismo, também de insuportaveis idéias). • sensação do ''Era uma vez". Um êrr«, qtte n1uito concorreu para impedir o sr. Lúcio Cardoso de escrever coro êxito A professora Hilda. e O anfitea11'o Coi a ausência de um plano, a sua despreocupação quanto à técnica e à constru– ção. Ele poderia sem dúvida cootrariar e des– respeitar tôdas as r egras e conceitos est-nbe-– lecido!! para cdar obras-primas, pois este é um direito dos artistàs, e as fórmulas Jit~râ- rias, na verdade, parecem s6 exi5tir com e luga res--comuru,. Mas eetta o fl~ido autor dum halo de dignidade, que dá muito prestigio em certas rodas interessadas. N. é um cidadão curioso. Não gosta de Deus, mas casou-se com pom,pa e bispo na matriz do bairro. C ant or da liberoooe, du– rante três fecundos anos t oi figura ptoeml– nente da Censura P olítica, de onde saiu, não F eS<lreveu um grande livro. rém. um grantle escril-0,r. • Não é, po- fim especial de serem u!tM)passadas e ~11bs– tituidas... Não o f ez, p orém, nem e6'ta illÍPÓ· tese se aplica agora ao caso, que não é de Gastava-se mui tas sínteses como esta: "A vida ... loh!. .. " Era a moda da profundidade. Houv u-tras moda11. A da chyva, a da ne- (CCl'Dclue na 3.• p4gma) transboroamento revolucionário, mas de limi• taçãe. O primeiro equivoco do sr. Lúcio Car– doso fçi o de colocar situações de romance, incompletas e mutil:idas, no plano das nove- (Conclúe na 2.ª pág) •

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