Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• BELO BOJUZ(IJtlB - A lftfl,._ tm:u que orlenlOll Debuuy para a mlllllca, deve ter putldo de aeua l)lldrlnhos de Cannes, ricos a apreciadores da pln.tura da seu tempo, Viram no pequeno Clau– de, proyávebnonte, uma aenslbl• .Ilda.de que deveria exprePff-&e e c'4o acred!Juam que na mú• alca ela o levaria à g:randen. Principiou ..,.. eshldOI esc:ola– HI, mu 01 abandonava fugin– do para aa campos, nu claru manhlll fra11ceau, pel'segulndo borboletu para adorDU o quar– to com e na foaforesc:ente c0to– r nção. Eia ai, talves, uma lm• pressão a uma tendência que o acompaDharia aJà às pautas . AOI 11 11J101 !6 estava matriculado no CoDServatórlo de Peru a ex• pensaa da senhora Mantà da neu:tvflle, que fôra alu11a d• Cho– que nele M dosenvolvla. DeAo tava exprlmil' na música a lm– preuão d~ sentidos e de uma lú– cida percepção ..da lnieligêncill que la al6m da fonna e da res– sonãncla. oscllando ■nua o ,úm– bolo e a c6r, a 1ub1tâncla pc,6• tica e a znedlda. pin. Ela o ouvira certo dia e se eDtuslumua pelo menino, dh• pondo-se a mantê-lo em Parla. C,usou u aula• de solfejo de Lavignac: a em 1815 já ara alu• no do curso Nperlor de Mar• montel. Esta me1tra c:ontava na• quela ,poca 60 anos de Idade e ~ muUu vues 18 lmpaoleDtava c o m o e r t a I extravagãnclu Em 1879, vaJ à Rússia Integran– do um trio da rtquustma senho– ra Von Meck, recomandado por Marmontel . E- viagem fol da Imensa lmportAnda :n& forma• ção a.rtJtdJ,ea ,de Debu.llsy . Co– llheceu 16 oe •c1nco• da Rdula. A novidade de 1ua mâal.ca. oe ritmo, a u danças do povo rua– ao faeclnaram ·nu esplrUo. E.– tudou mais profundamente a m11- tlca de Muaorgllky. Do volta a Pari• recome<;a oa eatud011. Era corajoso a :nlio o pert,ubavam o ARTES PLASTICAS Geraldo PEREIRA • Cov,rlghl E .S . I., com exclusividade pua a FOLHA DO NORTE, neste Estado) sarcumo, a Incredulidade ou a Incompreensão. Maa não se 118.• tisfazia tacUmenJe; iodu u ex– pe1:lineiu eram para fia lncom. pletu. Seua sentldOII e 111.a ln– tellg6ncla do1perto., po« uma Walldade clllrivtdante. na luct– de:a da recepção, enriquedam-M mi bu.aca dos ftmbNI, tonallda– dea, matlres sut!1 e da 111gestiio lnexprlm.lvel, Já naqu•la 6poca JM!Dsava em renovuç~s t6c:nlcu: resolviam-se os acordas dls.ona:n– tff com acordff dlalonantea . .. O.ulntu e oitavaa prolbldu, por EM PARIS - que motivo? Por que .se conde- Tl&m os movbnantoa puale1os • se abençl)llm os aacro•aante1 mo– ,rlmentoa conlrirlos? Ainda em viagem com a 16- Dhora Von Meck, ccmheceu em Viena B!c:udo Wagner . En • sua grande admiração nuaa 6po. c:a, uma admlraçilo febril e ld6- Jatra, mu que posterlormenta ae Nbatltulrla '.JIOr crltJcu amar– gas e lrllnlc:aa à eloquência melo oatentatórla de 11ua música. Em 1882 'VOUa à Rl1s1la peta terceira ve:r. acolhendo-o como • anterio.rmente a sra. Von Meclr. a amiga e pro.teto:ra de Tcbal· kovsky. Po:- •- tempo anda– vam u rodas artúticaa e Werll.• r la • pa:rtdenses abalada, por dhc:uslÕe• e mútuos ataque• a que ff lançava violentamente a nova getaçiio, Influenciada p<tt Bauael&lre, Verlalne, Malla:rtnà. Val6ry, e a velha, que defendia u ucolu natura11atae, parJ11U1la– na e rornãntlc;,, • No setor da pintura proceoava-19 lgualmen• te uma renovação por as•lm dl· 1er eolai. Debuasy conteva por af poaco mal• de 20 anos e 181'1• tia plena confiança em ,ma vo– cação. Já não duvidava : com– poria m1Ulca . Unicamente nela poderia encontrar a llnguagem de sua nllliure.za emotiva e de aua unaglnaçllo refinada na sutilon 1 e de1obedl6ncla1 • o nora• do pequeno AqulllH, e que !6 o dltltlngulam no eomervató• rio . Euu exh'avagánclu, meio rebeldes, presaentlam T1ele uma l.nquletaçlio e uma busca desor– denada, mu tantas ••"" rave– ladu ettranhamente, sob novu formu, acorde• e rUmoa ao pia-• Uma Exposição De Arte Sac ro TIO de efelloe e matues de U11'I uhanho encanto de alusão e mgeatlio pc4tlca . Jà o pequeno Claude an,\ava por ,una Jlngua• ciem aonora capas de exprimir~ lhe a natureza lumlnotamente ae1uJvel . Se em eeu me1tre de harmont•. PARIS (Via aêrea) - A Asso– ciaç_ão de ~rensa Latina de Paris ac11b11 de organizar no Mu– seu Galliê'NI uma exposição sob et U'tulo: "Vinte e cinco anos de arte ucra fra.ncesa contemporâ– nea". Essa exposição é Interes– sante por mllls de um motivo, e não s6 poTque o tema ti<at.ido nlío :foi estudado até ego.Ta de fonna profunda, mas também porque a coleção reunida no Mu– seu GaHib' a p a T ti ré dentro de algumas sen,Jtnas para o Bra– sfl e outros paises da América Latina . Francisco AMUNATEGUI - Copyrl!Jhl E .S . I . , com exclu1lvldade para I FOLHA DO NORTE, • • neste Estado) para essa visita, dando-Toes al– gumas e:xrplicações de oroem ge– ral. Migu(!l Angelo, numa frase f amosa, dis&e que a boa pintura era naturnlmente religiosa, e, sob um ponto de vista !llosófico. êle tinha razão. Sua sent=ça já não é tão ve-rdade1ra s.e nos coloca.r– mos num ponto de vista artistlco, e é ,pre<:tso Teconhecer que não h.ã nada mais d ltlcil do q,Je en• centrar um autêntico pin tor ou e!IC'Ultor rellgloso. E de fato, se tnvertennos a ft.ase de Mlguel– Angello, uma pintura religiosa não é naturalmente boa. A Exposl~o que o público do Brasil poderá visltaT dentr o em breve, tem justamente a final\• da.de de demonstrar que existe na F r;mça, desde o cC>meço do século vinte, uma 11t<te sacra, qu e se libertou d11s trê., servi– dões que sempre a.rne açaram ani– quilá-la: copiar a arte Tellgiosa antiga, praticar o aca.demlsrno e proclll-7.h' obMIS mediOCTes (este til– timo defetto é comum a todas a6 artes e II todos os pel&es). A ~sses irês e6Colhos é prccl• to acrescentaT outro: a arte r e– li.glosa. nas mãos de maus a.rti– f lces, arrí9Ca-se, na malorta d05 oo.-. a serv!T a fl.ne comerelala. :t tão 1'ádJ e tentll(lor e-nganar o cura de uma paróquia, ofere– cendo-lhe uma obra que é ape– nas uma Imitação e qUe não o chocará nem pela novidoo<? nem pelll audécia. . . Foi contra tantos J)erlgoo que dois excelentes ar– tistas franceses, de gTande tJlen• to e vast9 cultura. tiv.cra m a Idéia de fund-ar, em 1900, os (Continúa na 2. 8 pág.) 4u Mduç&.!1. Sua &11.tellgbela era profunda e Júelda . Pouula certem.enJa uma 1ecrele conivm– cla com a magia . Sempre tne e■pantou a ealra– :nla • e,ccepcioDal orgmüzação cerebral deasaa c:rlatiuaa prodi– giosa.mente dotadaa de calculo lóc:ido e extrema precuão men– tlll a pu de agudo senso emotl-vo do IM,lo, 11118 lmprelri.o, expres– sa, . ~ ••se sentimento emotivo, certamente 1n•olunt6rio como G susto, que os mantt.m 11corcladot1 em sua■ menore• ma:nlfedacéles. daspertando-lhea u mal• p:ro– fundes flbru. Possuem a sen• sunlldade bem premente d 0 ...., beleza lnartleulada que iUes d► ee)am po1sulr tnlctalmente :no• sentldoe e ordeui-la d&ooll em sua lnJellg1ncl11. Há neto, uma tranquUa lnJellqAncla snnsorlaJ que em 11611 nobres alra s sen- . irual1 e anltado1', 6 puhl.rbadora e dl.Apenlva. Parece-me dP&co,/ brlr em tBII 16ru uma na1ure– sa su:aerlormente dotada oMa no• comover em nosso endra• Jo exhtancial; I e&tranbo como t1se1 itenweu sabem r e t er da exc:Itacão dos M1ntldo1 o deseio e o golfo do b&lo. da forma, c611 e re1sonâl'lcla, • dar-lhes 11am. for– ma e percruuão. Criu sem... lh1>.nte llnquRgem. e,n:,rimlr U• lado• emollvos. e■tar &émor• leiuo na recepcão de lmoress&t• e su~ediio. eiqota:r da■ l.maoe9a ou das mal• lmDOnderáv&ls f of– ma■ essendau, absol'ver do mun– do "'"ª bele:ra sup6r flua e na– ee&rla 1!118 aumenta o etem&. • colllégulr ainda. 11.través dd J:)llulu e •btlf• qrál)cos criar– lhe uma linguagem eonora. uma 1>eJ'manA:ncla e uma expre••iíol Nada se perderia TIO ln~t1n•t• d6sse ex.,l"Clclo mêlo arltm4tl• eo? Contudo, 6 dele que evol• a má!rfcl!I 'e manvllbou Unlf\la• ª"m mu•lelll que "'" extendtt do• hatrumentoe p&!o ellJ>a('o. vibra au1t1 moléculas a M lnllinua not1 she• vlvoii. llbrBJSda a asoere.– za da• coi1u e ffJ)lrltu"II"'" a lnPl'tlcrulado, comove a hUJl'lanl• dade creata611 1>or uma ••"•'"lll– di,de exca.-JvtÜnente c:tl>',.br;,1 o prof . Dura.nd, encontrou um ffnlient• conae:rvador que o hos– tllllt&fll, de Gulraud, por6m. mes– tre de comoos!çlo. obteve: \Ull8 •allo•a l\ffl)s:ade • Interesse coftl. tanle . O que 11ão o IJnpedla, no ~anto, de ~reender-•a - eretamente, obaerV11ndo o · alu– no d<'•envolve:r-M nos estudoa e À e9J>Orn de que o$ latlno-ame– r!canos p os s a m examinã-la à , rontade, não é tnfltil prepnri -los ----------------------------· Debulll7' como/la a músi ca "'ala lntensamentA po6Uca quo lá Y • e!IC1'eveu . Há UJlla •hl•e l con– fusão de t ermos na acu■acão e na• restrlci>es cnie alaun• t,,sem à ,rua rbra genl~: niio t\ iile o autor de uma obra mualc>1l ex– ce~'llvamente llleráda , Claude Debuuy. com o elemento sono• '"º• " x o r I m I u axcessivamente raceltemoa o advórblo) a po"tjª . Há aJtTU.Sm, porém. que a sinta excesstv10 no mundo? AlMn d!s– lO. n.o serul<f-, de música pur11 d ed'á a su11 obra. uma maravil"o– •• e "9ni&l construclio técnica que ren,..,,ou e amollou seu" re– c:úrso1. Uberton-11 -para o futut'o. plll'a Stranv'flslcy. pera Schoon, bet'o. Pro1cofleff_ Ff1.,d.,..,lth VU– Ja -J.ot, 01, Bllrlo'lc, Plttetl, etc . •X1'41r16ncla1 . "Ouvindo-o tocar uma at\rS. da acorde- ■em tundamenJal e som. grande expllcaçlo teórica, relata Sousa Bodrlgue1, - pe~ cruntou-1.be Guhaud: - o uel 6 sua j. a g r a pua toou llfflm?• - uc •m mon 'Plalslr", - rupondeu Debu"Y. Cul.raud então dhse: - "Sl vo11.1 a,,.,. du 116.nle. ça "ª blen• . Po■tetio:tmenfe o pro– fe•tor ao-odllula 11ele. A familia, o dbaJor do Con– trerv,úório, abmoa e med.res, ex– cebUU1do o l6cldo Gulraud, es· 'Dêra,ram torni-to, provávelmen• te. um de1M1t •vtrtuo.i• erac:toa e 10lene,. N ão eram ca1>■ :t.es de conheeer em sua complexa rl– uu•"" aquela nalineu d--■-uoe'<'""da • cuia subllfiínc:Ja mala í,úJ,.,. -..!brava à mllh le,ra ln• Oexio eensUln. Nale lodolt oa nel!Ot e lmpreH6<1s proce-diam "" uma "'""" a delicada 1ensl• bUidade, CBna& d'e 111>r111,du o ás– pero e autllhu u c:oh&s. Sabia "ª' no• obfetos, nu 'DObraa col• ,u 1em &nfase, ast:ra:nht1s essfin– clasi, pres,enlla nela• uma ocul– ' " e nitJ,ta bele:ra, me1mo quan– do 11uu1chadu em aua pura:r• . 'Retinha pela aenalbllldade 11ub11- t Anclas e :reflexoa bnerao1 no d– !htcdo • na ,ugestão, mu (!Ue 1eu■ olhos e 11&u• 1entldo• pu• rlfleavam e cerca= de ,una vibradio sem.ore lmp:rec:lsa e re– UcP.me, 1im.ple• e evOCJttiVB - Alphonsus de Guimaraens Filho BELO HOlUZON'l'E - D!ur que o mal conteml!)oràneo esté no 11ensecionallsmil, é 1.mprovisar uma stmpl~ frase. E estamos can– sados de /rases. por mais signlt!– catlvas. Talvez o mais justo es– tej.a em dizer que o mal con• temporãneo é a f&Je\flco.ção do sensacionalismo, Tem-se dele uma concepção falsa e, em tôr– no dessa con,cepção, tecem-se considerações de vária orde-m. Para explicar semelhante fal• stfJcação, nlio há como não -re– CoJ)Trlght E . S , I ., com exclu•lTldade J>8%8 a FOLHA DO neste t:ltado) NORTE, col'Ter a Che&terton. Em ~A Es- Inerente ao p1asma: parllalpa de fera e a Cruz.", êsse que foi dos substância dos bipedes pen5,antes mais sensatos e equilibrados dos e lhes dá o sabor lode!inlvel do homens. exemplificou. de manei• novo, do renovado, mesl'l'lo gue "' n:ltldamente chesterlonlona, transitem entre ruinas. O povo para caracterl~ar o problen\8 • se aglomera em frente aos car– Rêferlu-se ao Jornalismo, gue é • taze, e, ctuando não hà Mnhu– onde o si !n11aelonall.8.mo camr;iela. ma tragédia habitual a comentar pervertendo o là pervert!dlsslrno positivamente &e d~pctooa. t:. gõsto populaT. 0.s jornais fai-em a Juta contra a monotonia. Es– grand~ 11latde quando um cl- tam,os saJlCpre à eS'J)era do aeros– d a d a o oal d,e um t erQei• tato fabuloso que nos traga no• ro andar, &t>m c o g 1 ta r se tlcla de Marte Já \'Ião nos con- não teria sido muito me,lbor · para O :lnfell:t cair das nuverui, tentamos com a Terra, embora como na mãxtma macbadlana. haja nela problemas que jnm:.is, A.parecem "manohettes'.'. em 1e- solver.emos. Olhamos o distante , tras garrafais, par a !nlonnar o v~go, o utópJco. Mau gr:«lo apenas gue um homem. obede- t.inta Investigação no que está cendo A gra~-idad>e. projetoo-se l'cima de nosso entendimento, de um terceiro and:rr ao chão. PE>TSevel':lmos e_m não &.iber on– Sensaclonal seria (comenta Ches- de está a ponta do nosos nariz. terlcm) se êsse hom<?m. centrar!- (Seria ta.Jiva ju<io mencionar ar,ôo a gravidade, subisse do aqut o c~.pltul.o XLIX de "Dom chão 3 um terceiro and-0r. <:a!<murro , a que m.estre Macha– do denominou "A ponta do na– -ria"). De uma f,elta, num.a cldad,e do Interior mineiro, me Io1 dado ver o que os residentes considera– vam sensacional. Conhecemos a necessldad'e (aflTavada pela mo– notonia) que bâ no lnierior, de &C'Ontccimentos novos, mesmo que sejam triste_s. Aliás, não es– tâ na alegria ou na tristeza a derrota da monotonia. O triunio é o mesmo, seja qual for o ele• men10 Qµe o proporclona. Dt>ntro do remall$0. 9e1,i.pre seré bem acollhido um redemoinho, súbito para pe-rm:J.tlr hoTas e dias de lenta e minuciosa conversa. Mos– tl'aram-(De nessn cidade um ho– m,em que comia paredes. Efetiva, mente - amnrelo e llnfãtlco - r.e <l,a,va a tão desa,gi,adâvel ocu– pa~áo. Chegava a uma oasa, melo de~nnllado, ou enilio numa tran– qullida'<ie qu:ise afetacla, dlsfar– ce que lhe ficava bem. Daf a ])OUCO, com os dentes sólidos, ia arrancando a C?allça, que t.alvez já llhe parecesse o mais saboroso dos manjares. (Aqui entrarll! necessnrlame~ em con.sldeTa– ções sôbre as dilerentes maneiras de encarar o que é apeteclvcl ou não. e o pobre homem ta1- ve:i; rosse rele~do ao _pl!.mo dos u1lop~tas e vislcmãrlos. A cali- ça lihe saberia o mamvilhoso néctar, com a mesma :faclllda<le com q'Ui? /IS coisas se encantavam e se transfiguravam aos olhos de Dom Quixote. Entre cqmer pa– :redes e enfre'fltar exércitos ima– glni\rios não deverá hnver dl1e– :rença muito definida. Deixemos o -reino do fanUstlco. pois Tà oonw,çam~s a flutuar). Como eu obietasse que se tratava de um enfêrmo ou d-e llm manlaco, de• tendo-me na primeira h lp6tese, alguém houve que se Indignou e acudju com pa\l!I e com pe– à:ra.s : -Que doenca nue nada! Nln• guem fa:t como êle. Via o sensacional, e queria lmpó-lo aos cf=stantes. Para &tes (pelo menos - para mlm) ern lnaceitáYel o areumento. Multo mais sensacional i1erJa, J)ll· ra nos utillz.armos da lógica <'hestertonJana, se houvesse nn ddnde uma pareõe que de-voras– se h1>mens. Pois TE$U1tn d•af a certeza de que o sensacionallsrno está sem– pre bel:mndo o embuste. Há Qui– xotes ll\lténticos e h á os p restf• d.lgl.tad'Ores. Tudo estã em clk• cemf-los e dosá-los. O mais s:e– rá ua !3ls!fTcação da.s palavras J>ingando nos jom::1is'', como se l ê no verso drumm.ond!ano. O eensaclon:il!smo. e.m geral. é "po– bre e o mo u.m gramofone de 1900'', para c1tar mais um l)Oeta, o_ nosso Mu.rilo Mendes. O que nao impede o sensaclonallstno nos grnmofones. se alguns deles ainda Insistem em SC>breviver. Mesm" nRttUales anoa de lnten. •• .,xallllçiio. frequentando as reunlé5ea "ª pWJIII e ese,ltores, • 1n1em ae llrrari · Jlflr lde,.,tldade • afeição. temla 11-1nmficlinc:111 i't auu forcu. MaJs ial'de, :,,ela bOCJt de ""ª '!)ersonagem lmaqi• nhlo. "Moru<l&W' c-toehê", "~ erê•el'fa: • ~ão anbela :por aca• t:o (!'Ue u.ma •erdedelra lmpres– rão de belel!ll n iio pode pr~u– :rlr 00h01 e f1>lJos eenio o trillln• elo? Poli vejamos: miando R'l&ls– iis a oua mar119ltb11 au.o1ldlana 'tª" 6 o p6r e!" sol tivestes a ldAla de eplaudir?" N o entanto. Cla11de Debuss• soub" exptlmlr 11>1sa bele:ra qu.;.. tldtana a hoje, recordando cêr• tos b'ech os de sua música 1>are– ce,..-mo "ouvir• o pôr do 101, e,; IU't'nsiu du nuvens e do veruo, o rPílexo do luar noe terrac01r. as ohuvu nos lardbu, résteu · dco rnmacrens nas á1u&•. !'81!.0s sôbre a neve, sons e perfumes no lll':. M".eun.o auteUo à dL"l'!iollna ,-m:t,anu:osa da Academia. man• linha, contudo. o ...,{~o t.nso numa Inquieta !nlúlsfação, col\S– clente, !alves, do l:mprevls1o em d mesmo, baseando entender em aua senslbllldada a inar ilcutada e quase rude vontade criadora 't da natureza humana êõ5e gi• gantlsmo que agora, ao que pa– rece, tomou aspectos mais de– forunantes alnda. A sêde de Sél\• saclonallsmo é alguma colsa de - ·-~--------------- Coitado, era um infeliz. Nas– cera mesmo sem sorlie e nada lhe corria bem. Quando che– gou - presente do Uo avõ - , tinha. o jeitinho tris<te, penas de um ama.relo Queimado, mas nlnguêm podia supOr até on– de estaria êle :fatalmente di– rigido ao sofrimento. Os me– ninos fical'!lm do!tlos, e se dls– pulavam, diante da gaiola o privilégio de enfiar o dedo por entre as grades e tocar a pe– nuginba doce. O canarinho era esQ\llVO e desoonsolado, não apreêiou muiLo a exuberãn– Cia das criancas - garotos de e.idade, vivendo na eslufa, ha– blluados únicamente à natu– reza frustrada do asfalto, es– sas pobres amendoeiras em !ila indiana, lão &em viço: um b ichinho de verdade- era ma– ravilhoso. Mexia-se, piscando che1,o de mal1cia. e sobretudo - a este espetãculo admirável ate o pai, nos -prlmei<ros dias, compareceu, subrepticiammte - comia com o maior distin– ção. Endireitava-se, espiando em tórno e, se a assistência não lhe parecia Indiscreta, es– Licava o bico fininho e selecio– nava delicadamente um grão de mistura. Ligeiro, por meio de um esta.lo ~ãco. retirava– lhe a casca, que era posta de lado, e engulia o miolo: sem descanso recomeçnva. Os me– ninos querl11m saber quantos grãos Benl.inho ingeria por mtnuto, mas a operação era rápida, não pj!rmi1indo coo– ch1sões defin tivas O banho, também, cpnsti– tui;i outra cerunónia ~m.por– tonle. A banheira fõr a sub– traio.a no aparelho de café de todo o dia, branca e wn Iri- so azul-rei: quan<lo a máe de.scobriu já era tarde. e o 1>róprio pai tomou o par1ido d3s crianças,. protestando em nome do "bem-estar do coi– tadinho, tão sem libero.ade lá dentro da gaiola" <tod-OS se enterneciam, embora ninguém falasse em soltá-lo: b.-a.tava-se de um bringttedo engra-1;ado demais. 1mpossivel de perder– se, e nem a menina menor, de cor,.ção de anjo. cogitou dis– so). Pela manhã e à tarde, mudava-se a água~ {)Orque o pássaro Unha o mau costume de sujá-la sempre; os meninos a.chavam uma gra.clnha aque– JllS pequenas roscas. de ma– terial indeciso. dep05itadas no fundo da chícara. O canário vinha chegando, melo descon– fiado. com mêdo do frio e. de repente, numa resolução brus• ca, ent'!'ava na banheira. En- tão era \tm11 delicia: êle s-e c:V?rramava, satisfeito, .i51)er• gindo água por todo canto. rrama irresponsabilidade ... Eram êstes os únicO<S momen– tos em que a familia o via mais faceiro. Porque, quanto ao mais. unha o temperamen– to abeiio à melancolia, enca– i,ando com indiferença as pes– soas q~ o contemplavam an– siosas. à espe'l'a de algum si– nal- mínimo que fosse - de retxlbuição; o pássaro era im– penetrável, e não o comoviam as ternurinhas õas crianças ou os assobios que o pai ensaia– va, canhestra.mente, toda vez que se jUilgava sem testemu– nhas. Sempre os mesmos pu– loo diários. grão de alpiste descascados com elegância. sua pequena higiene particu– lar. O resto, as coisas do lado baciinha de barba do pai com algodão de,,-fiado e a1 depo– sitou o doente, para uma 16n– ga oon\·alescença. De !.rês em três horas, fazia escorrer-lhe pe1'a garganta um pingo de remédio, que o veterinário, Maria Julieta Drummond de Andrade _ consultado pe1o iele!one, re– oeitara. Os meninos chegavam da escola e corriam para a copa, onde agora reinava o (Espe<:ial para a FOLHA 00 NORTE) de !ora, talvez Ioosen1 muito esqWS1Las: qu,em poderá ja– maís penelTar o pensamento de um canário belga? Paxa a sua dlepurada fragil$l•adie, o mun.do 1õerja possivelmente monstruoso. Cantava pouco. Em i(eraJ depais do almôço, quando a menina maior ia para o pia– no, Bentinho g9sta.va de acom– panhá-la, em trínadoe ciuase desgracio.sos. mas bebidos pe– la familia com amor e muita perplexidade. A menina, que detestava es,tudar, tomott no– vo in1.erê.."'Se pe-la música, e re– peUa com entu,siasmo as esca– las, antes mecãni~ e sem be– leza e agora. envolitas num fei– ilco novo, tão meigo, que era o sôpro melodioso d11 ave. De– pois a mãe descobriu que a máquina de oomura também exl!'I'Cla sóbre êle o mesmo efeito revigor3'1lt-e, e costurou com desatenção, porque esta– va tôda volt.ada para a. gaio– la. Um dos gaTotos, o que fi– cava semrpre sentado no chão espiando as oorreites da mã– quina girarem, achou que o passarinho queria. a.postal' OOI• rldla oom o.s pés da mamãe e, a pa.rl: ir dai, ad'otou-se a ex– I>te&São pa,ra slgnllicar q,ie o canário ceta,va canumdo: "Pa– pal, vem ver Be111inho wos- tanáo corrida". Ou: "B~nti- E)nfermo, numa gaiola nova. nho anda desanjmado, hã tan- bra ,n.ca e vermelha, com aper– to tempo que não aposta ... " !elç-oamentos. A primeira desgraça ocor- Vagarosam-enie, porque o reu pel& manhã e deixou a doente não queria ajudà.r e an– familia. ti.o abala.dá, que o m,e- dava muito prostrado conse• nino menor teve febre à noite guiram curá-lo. Mas ficou in– e o pai voltou mais cedo do .tangível, de porcelana. Bastou trabalho, com dor de cabeça_ uma corrente de ar para res– Chovia; e ao entrar na sala friá-lo; diante de seu crescen– pa'l"a ! ecllar a janela, n mãe te desánimo e inapetência. o encontrou a gaiola m.eio pa:r- veterinãrio, desta vez devida– tidia, ao chão. Quebrou-se o mente convocado. diagnosti– bebedouro e os grãos espar- roo pnelUllonia. Nia hora do ramaram-se, só a banhelra fi. tra.i.B"mento, a famill.a discutia cou mtacia. sêoa, com as su- sempre: o pai e os gairotos jeirinhe.s Já no fundo. O ca- que p0r serem homens não ti• nárlo era um trapo morto, nha.m a mão lige1ra, observa– morno, 'bambo. Os meninos vvm a mãe e as duas meni– choravani, sem TUlllO, e o pai nas, enlermeiras oficiais. Pro– estava muito nervoso. Foi a ~t.avam l\O menor descuido e mãe que conseguiu ouvi,r, de- brigavam. que Bentinho mor– bilm,enie. o coraçãozinho ba- reria pelos mãus t.ra.tos reee• tendo. R,espirava ainda, po- bid-os. Afinal, para serenar a rém de modo tão precário, que si~ção, fieou estabelecido melhor !ôra para êle ter mor- que s6 a mãe cuidaria d'o rido então (pelo menos assim pâssaro, ajudada pelas meni– pe;nsou o pai mais tarde. à me- nas, que seguravam o pa,cote dida gue, cruel!lllente, viu des- de algodão e, quando "(>reciso, fol:har-se o absurdo d>estino da no mome,nto de pingar o re– eriaturinha). A mãe fez-lhe mé<Uo. abriam-lhe o bico. En– tricçóes no peito, cheia de cui-· gra,çado é que dia.nte d.e um dad<>S. levou-o pa-ra o ar li- período tão d~orad o quanto vre, abanando-o com uma ven- foi essa doença, ninguém se ta.rola. Cinco mi11utos àe an- entediou, como costuma acon. gúsila; q,ua.ndo voltou a si, a tecer: ao oon1 rário: er,a cada própria mãe já não tinha es- dia maior a ded ioacão da fa– pe;ra!ll~. :Então ~ 11 milia a.o pequeno enfenno - questão soJ.ene, de honra. Nem por isso Bentinho mostrou-se– m&is reconhecido aos adora– dores irremediáveis. Ficou bom, volrtou a pular a <'Omer de mansinho, tudo ~omo an– tes, apenas agora com uma porçii-0 maior de nostalgia_ 1 Como s:e viver, ou não, lhe foss-e ah.solutamente sem va– lor. Comovia aquêle despojo amarelo, meio sem penas e envelhecído, i..pagado. O pai começou a evitá-lo. Quando o menlno maior chamava. que era hora de pôr a alface e a rodela de ovo na gaiola fin– gia não escutar e contiriuava. c.:.lcuLando juros para a Con1.., panhia. Foi quando apareceu um periqulto nn cozinha. A prin– cipio ninguém lhe deu in1. portâncla. Pássaro só existia um. porém. pouoo a pouco foram reparando nele toda; as manhãs pousado na' janela,' e acabaram por guardâ-lo t::imbém (quem sabe não seria um bom compa~heko para Bentinho, solitário hâ tant<l temp<>?) f:le se deixou pegar, oomo se estivesse mesmo es– pewrando por is.so, e entrou sem timidez na gaiolll de B ~n– tinho; foi êsse quem se e-nc lh eu, mais abandonado ainda. O periqui,to então sOS1S>egou e os dois se ignoraram. Os me– ninos esperaram - nada; e foram-se embora, desaponta– dos. Q uando o cacula voltou. o periquit.o continuava no mes– mo luga,r impassível, mas Ben– tinho jazia no chão da gaiola, u.ma d·as per,nas diobra,dil e t''1cia de s"ngt1e <sangue anê- (Oontlnú.n na 2.a pág.)
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