Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

· 3.« página • FOLHA DO NORTE Domingo, 6 de julho de i- ~·; I NSISTI, na crônica anteri– or, sôbre a alta ca,tegoria dos Quartetos d-e Beetho– Yen. · p1•eferindo situá-los an- . ' > MUSICA • • • t.es de tudo, no plano da pu- ra ipuslcalidade, já que su.a inter,p retacão pooe ser marca– da "ad ltbitum". desde que ~ compteenda a atmosfera de gravide.de e transcendência em que te.dos el~ se situam; a tmosfera. repito, que é pró– p ria. mais do que a qualque,r oubra. à nossa geração. Por– que na vl'.rdade nós herdamos de nossos maiores a angús– t ia o dl!Sajustamento entire o armação e :iscoteto VII 11\. uri I o 1'\.end es i ntei-ior e o exterior, que se tem. O que êles qu_erem dt. a.cen<tuaram noo últi!llos três zer, cada um captará die acõr– (Exclu.sivid...S. ela FOLHA DO NORTE. nem Ed!ldo) &éculos. e que chegou à cul- da com os elementos proprios, pr6prl06 do Q~rleto, o som minãncia no mo:nP.'llto q ue vi. que recebeu, certo, entretanto, da hai-pa. Terá si.do mera v emos. Porisso particip:in,os a priori. de que eles se ln&- coincidência. Mais uma vez, viv.amente da consciência de e-revem sob o signo da gravi- devemos nos wecaver doo pe- Beethoven. embora êlP -noiw dade da condição humana. r lgos d,a arte ímitatiw. v ezes nos oprima com es.si at- Assinalemos, ta:,nbém, qu_e o Este Quarteto, embora afir - mo..«.tera especial de terro-r e 11,mador dlspo&to a ouvir e aa- ma.tlvo -e forte, não possui a c~consôlo pel" ?lle procura- similar todos os quat'tetos. es- violência dos d emais do se– n:,,s oo caminhos de liberta- ts.rá mais apto a a.bordar a gun.do e terceiro periodos. De– ç ão de Bach. Mozart, Handel música moderna, es.sa pobre senvolve-&e numa atmosfer& ou Debussy, menos duros a música moderna de •que se especial de lLri.srno, e em mui– P PSSOas já nalur&lmantc casti. fala ta.nto mal, e que no fim tas passagens a Sombra d& g adas pela ~-ida l'o)111u 1od:is das contas não é modema: é ~Mozart. se interpõe até che– n &:. agora. música. Se ronti,nu<arem a su- gam1,os às maravilhooo.s va- O .que não se deve é particu- jeitar a arte ao critério do r iações do último movimento. l ê.ri ~ar a .nterpretaç:io doo telll4'.)o, a confusão será ge- O quarteto em fá menor oP, Quartetos. O pr{r,)ri-> Beetho- rat ... 95, composto em 1810 - encer- aDltagonista. Mais uma das muitas explosões desse gran– d e Espanhol que é Beet.ho– ven!. .• • • • - -::::e.,.., teto op. 127 logo de início aba– la o ou\'inte, preparando-o pa– ra o subllipe "adagio ma non • troppo e molto oontabile" ora.– ção musical com o seu tema que é um éco do "BenMiictus da Missa Solene". Passamos ao Quar teto em si bemol maior op. 130, que Vincent d'Indy chama de mo– numen,tat - como se 06 ou– tros tamben1 não o tõssem. Chamo a atenção para. o an– dante deste ~ arteto, a.paten. t emente monótono, mas que contém expressões q ue é líci– to julgar das mais iotimá.s de Beethoven. • hesitação. o adagio i.nldal 6, segundo Wagner, a pàgina mais melancólica que jame.ia foi escrita. Mas a desforra vem no incomparavel !inal, ve-rda.deira dMça de furor, entusla.s:tno, terror sagl'lldo, sofrimento, sei lá ma.i.s o q ue... O Quarteto em lá menor, op. 132, tornou-se famoso na literatura, d-evido ao romance "Counterpoit" de Hll.1(.ley. E' no tercell'o movimento gue se encontra o "Canto de ação de graças a Deus, por u_m conva– le.scen,te" , onde o espírito re– ligioso de Beethoven atinge lalvez o seu momento máxi– mo. A Grande Fuga OI). 133 é o primitivo final do Q.tarteto op. 130. Todo o drama d a nos– sa época está .contido nessa página extraordinária, que às ve-zes nos produz um terrível mal-estar. v ~ j á advet'tia oo posleros a • • • ra o tel'Ce"iro petlooo. Qu.arte- :respeilo de sentido cli> ~info- Continuando a passar em to de menores proporções q ue r i'!\. Pastoral: que ninguén1 revista, embora muito sucin- os outro!;. mas, talvez por isto p rr.çurasse ali uma cópia dn tamente, os Quartetos, chega-- mesmo de uma trama cerra– :-a tµreza: ''deixo i:o ouvinte o moo a umà d as proouções da. apresentando uma visivel cuidado de achar a sit11ação..." m3is atraentes do segundo pe. oompressão da matéria sono– Se !)essa Siolonia, onde se po.. r lodo de Beethoven: o Q11ar- m , O famoso pr!men·o movi– deria descobrir sem dificulda - leto em mi bemol maior. op. mento "allegro coo brio" por de . uma intenção 1 pictórica, 74. também chamado "Quar- s i só coootitul um retrato es• '.Beebhove11 se recusa a fazer teto das harpas". Entretanto, pirilual de Beet.hoyen, enérgi– nní$ic.i imil-stiva ooin muito não se cuide que Beethoven co e violento; o homem ata– m epos razão encontl'!lremos teve em mira imitar, pelos cando seu pr6prio 4est1no, M 1nt,ençôes didáticas nos Quar- "pi.micati" dos inslrumenlo!: consciência do torça do seu Durant~ quatorze anos o mestre não produzira Quarte– tos. Já o te.r,ceiro período vai adia.ntado... e aqui !àzemoo um p(Xtu~no parentesis. A· te– ori'B de W. de Lenz é hoje mais ou menos aceita em to– da a parte; entretanto, é p os- 1,ivel que sofra revisões; pois uma obra como o Quarteto "Rasumovski" n. 0 3, pelo seu espírito, pode.ri: a talvez figu– r,ar digna.mente na lista do terceiro período... M'.as não estamos aqui para discutir te– orias musicais. Segue a músi– ca. Dizíamos que já o tercei– r o periodo ia adiantado. quan– do Beethoven subita.mente re– torna aos Quartetos, com o extra.ordinário Quarteto em mi bemol maior, 03). 127. Meu r eln.o (ou um p ão !) por este Quarleto, ai meu Dew I se não existisse o 131 ... O Q11ar- O Quo.rt,eto em dó sustenido meno;r op. 31, é um3 das obras m-ai.s elevadas do espírito hu– mano, e representa uma sínte– se prodigiosa de toda a arte de Be_ethoven. sendo o mais r e\·olucionário de todos. pois - exceto nwn ú,nico n.ovi– men.to - foge à antiga for!ll,"l - sonata. . A um amador que d esejasse ter um só dos Quar– tetos. e a obra talvez mais re– presentativ-a do gênio de Bee– thoven. eu indica.ria este sem O último Quarteto. em fá menor, op. 135. não apresenta a mesma grandeza dos prece– d entes. E' v isivel a r-epetlção do processo, o cansaço do mes– tre. Mas isto não quer dizer que n,ão contenha passagens adm.iraveis, dígnas dos outr'oc quanto aos intérpretes d~ Quartetos. mencion.arem<>s. pe. 13 Ordem d e nossas pre-Ceren– cias pessoais: Quarlelo Bus~h Quarteto de Budapes,t, Qu.a.r~ teto Lener. (O cronista dirige-fie ii e-le◄ trota e faz pas.'la.t os discos do extra.ordinário _ QUARTETO EM FA' ~IAIOR. OP. 59 N .• 1 - "RASUMOVSKI" N. 0 1 - pelo Quarteto Buseh ). - ---------------------------- -------,~-------,---------------- - imoralidade. A acusação tem o s e u fundamento jurldlco etn u.ma lei de Junho de 1939, des– tinada e$J)eclailmente à repressão das publloações pornográfica,, clandestinos. que então pu~uJ•• \'Om em Franca . O legislador dei– ic:ou no teic:to d a pro\'1deni:i.:1 uma p orta que permite atingir tam– ben, os !iV?"os ven'didos em co– mêreio público, que fazem parte d'3 produção livreir:i normal, Q.uattdo forem iuJ.g:WSos ofensi– vos 1'.10S boos costumes. PARIS. junho - "O tempo faz lustiça aos poetas conôenad06". t o q u e escreve um critico tr11ncês. comentando a contem– poraneldttde de d-Ois a-contec1- ~otos Judlciarl06 que despef'l.l– ram j:Ian1or no mundo das le– tras. O primeiro ·S>é r efere 3 re– o.búltflc..1o. dionte da mngistrntu– r a de Baudelaire, cuja obr;i "Flcurs du mnl" ha\'Ía escan– d<alizodo a burguesia do Scguu• do Irtlpeng, tendo custado 30 au– tor um processo, 300 ~os {e m ulta- e o Interdito de pUbllca– ç ;io de seis dentre os melbo!'es pequet\-06 poemas do lrubt1U10: IÍl\te~lção lllnda vigente. O ~– ,rundo ~ O PTOCCl'SO que C3t:í. em andamento contra as firma,. De• moe,1, Editions du Chêne e G<ü– llnur:d, c,ditoras d os trl!s livros do e!ll !rll.or americano Henry MU– ler, ).UJ.ga.dos de uma "monstruo– sa imornlldade" p elo Co(nlté de A ção· Soeiai e Moral, que ll!?re– r,entou _ d i,nunoia POr ultroge aos COGtumes, junto âs aut orlcilldes :i\Jdlciári36 compelentes. Se .: ª reabilltnção dc-Baw:k!Lal· re P?ret:e dar razão à sentença d o crlllco. multo mais di.f.icll pa– i,ece essa reconsideração ~om rei.– peito" a MJ.ller. Estâ, ante, de mais. nnda, para ser ~tat>e-ecl– do ae Millet" pode ter d ireito a ~ . c.l<>sslficação como poeta, a qual p a-reee su!iclenJt.e p ara equi– Ubra.r tlS responsabUld4d9s mo• IOO!s "dos e11erilores numa especle àe Uombo onde as distinções entre o vi~io e a virtude pen:lem os r;eus_ limltl!$. Em segundo J1,1.gar '- p recbo considerar q u;it a im– e;>ortân.cla que a lei !rancesa (que O()m,6 \'ere-"l'\Qdl é um tanto obs• C'Ul"3, na mat<lria) atribui às at<!– nua.utes d.i "poesia", E em úl– tfma.. analise haveria mu lto que escrever acerea da vetusta pote– Jt\1ca s o b T e " m.or ~JJdade ·• e • .a.mo raUdade", da oTte, sobre a t-elativ'adade das avallnções mo– r aJs opll.cad.as à poesia, sobre 0$ direitos de llbel'dnde di, artist3. s obre o conceito da arte como {ato pessoo.l e outros dfs('ussões que do.l:lm, pelo n1enos, dos tem– p os de Aristoteles e da aua "Poe– Uct1". Fique bem claro que não de– &ej.:íJ(nos declarar-nos, aqui. nem p ró n tmt contra M IUer, e que não ·é esta a sooe p ara julgar a llnM ·obra nem sob o ponto d e ~ i.r1oral. nem pe>etico, Fiéís o noss-a to reia de notlclar1stos l imita1110-nos n registar os !a<t~ ealtentes e a dar IM! lnlol'11'lações S1CC4lSSaria<1 p.,ra tomar cientes os leitore,3 de quanto foi julga– do érn Franca como o maior es– cãn,ch1l-o llterarlo do seculo, 11 p on.to de obscw,ecer aquele não tnen_os cel-ebre de D . R . Law– r f"nce e da sua Ladr Chatta rley. • Henry \\'[Wer tem SS anos. Nas– ceu •em Nova York. Contrana- 11~enie a quanto se disse dele, fti)O é em absoluto de orii:em 11:te-braLca. Escreveu. allâs, sôbre os jude\lS paglnas muito duros e foi acusado. .n'B America de on.U-semltts1no. Dele.ide-se ~flr– mwido que não quis atingir os h ebreus como lal, ma-s- 31>enas tCOlnO american os. Miller nega 'tet" f l'lto parle, j,o,m:iis. da Ku– lG)ux-K'!:on da maçonaTia, de or– Balll!oi-ao~ fascistas ou comunls– -.U. "Pennaneço com.o um in«ll• • lduatlet., . mo l s pr6xtmc. da tm :u,qula, 11uponho, do que qua.t– Qtrer ou.tro". !.tlller ln.iciou su.., ca1'1'Cl1°1\ de ll9Critor oos 4ll anos e atLngiu Jlo!fo a celebridade. Antes, vio– ' ª"ª 1nuit1> pela Europa. p3rticu– lianme1\te pela, França, onde re– llidl\t m.uranle anos. Mornu l on– camentie l?'ll1 Paris, no buirro de MAIS ESCANDALOSO DO UE II LADY C H AT ERLA·Y'' Montparn-e. CertQ ocasião i'ol taro.bem professor de in;glês num hci,u cL:l prov-incia. - . O. Hvro!i de MI.Iler, n.té hoje pu•bhc·-,dos, são tr~: MT ro-plco de Ôl.11cer". "Troplco de Caprl– comlo"' e "P r 1ma v et.a Ne– gn_... Sio proibidos na Ingl,a– term e nos 'Estados Unldos. e toram lcl-ciahrnei\te pubMca.dos no or!gltul inglês por um edllor pa– risiense, depois do que traduz.i– d os para o írancês pelos ed1lo– re5 citados. As três obras e..;pe-– lhM!l 06 tendeJtClas &Uto-blog:á– flcas d-O ,111,tor. Mais do que ro– m!lnces. sõo todas UlllJl especle de dlarlo. entre as memol'las e ns confissões, d a sua vida er– r,;,,rut.e_. de uro lado e de outro do AUántJco. O "Troplco de Ca– p rl.coml<>" descreve a vida de ~ b ;i 1 r r o de Imigrantes no Brooklyq e o pe,rl.pdo de odc>les• cencia que o nutor 31 passou. "Primaver3 Nei.ira" contem umt1 p d.me ,ra parte dedioada às recor, docões d1:1 juven.tu.de e um:t se– gunda par~e tnais propri3mente llt'lca (ou 41nlrica, como outroa ci\ll.seram delinf-lal. O "Tropico de Cancec"' refer-e-se à vi.d.a e às e1< pedenci.is de Miller cm Franca . !) pr.uu :lp10 que preside 05 tres vOIWf\es, tanto no conteu• d!> como no estilo, é a a.marga con\,fcçáo do autor de estar di– ante ae um.a to~al r u l n a <las C1;'.ert!:"6. dos costumes, das tra<ll– çoes que regeram até boje o tio das e.'<l()enencias e d-as convlcçõ.es morai.,, do inundo. Não há nada doe_ novo em ti.ado Isto. .É uma ah~ude comW}\ a la.ntos espirltoo. europeus e nao europeus, que llá wn quarto de secuJ.o e .mais de– nwnstrain su.a d esorie.nt.ac ;ão d1· onle da derrota d a cl vilização ocldentaL Poder-se-Ja dizer que o.s livros de Miller, embora es– critos no perlodo que medeia os d o l s contlitO<'l mundJats (a PrimeJra edição Inglesa do •·'Í'ro– p1co de CalloCer"' é de 1935) são um,p rod u to lipico do após– gue_rra, ou, peJ,o m=, d.nquele espírito do após-guerra, que não ceS$oU de ser a constante moral do Ocídenle nestes últimos trin– t3 an..s. AC!'escentaremos que t1 morblda curiosidade• com que centen~s de milba-t'eS de leitores se aprox,moram de suas obras, as quais representam sob o pon– to de vis-La ed..itorlal o m1 1or su– cesso ver,Clcado em F r4nça ~ pois de ~Hitler me disse"', de Rau9Chn.igg, e "Le zero et l 'I11- fin1••, de Koestler, contlrma ple– nannentoe esta opinláo e o a-cordo entre o ~ado d e Mimo do au• tor•e o de vastas Catn3das d·e leitores. ºEstou deslumbrado pé– Lo ruir grandioso do mundo'", es– creve l\>ll.Uer. O que d.lferen.cia Mlliler dos de– ln3ia aCirmadores do "pessinusrno oci~ntJ.l'º é :i v íolencla de Sl."1 l!ngua,gem, que o.Unge em certos trec'llos 'l11ll.3 fomna que se nã.o pode def1nJr de outro modo eenão VUJ,garldade. Um o vulg:iridade entellld3-se, J>t'eeonceblda. l!toe as; severa querer " tom.ar a enc-on– trar o Lel1\l)o peroi,do através d:a.s ffi!!"ls ba tx~s e.xperlenclas". "Se n ao se dt-sce ao n1vel mm bal- • • - Gianni GRANZOTTO - xo. se perrnanecefl\05 ligados à pureu do céu, arr\9Ca1no-n05 ã peroer para sempre, por um en• VISÃO GERAL DE • godo desgast.a.do . o tempo pre1;ente··. Ne,,te sentklo ele desej3. ÍllSll- UM FICCIONIS'f ~i\ (Conclusão da 1.a pág.) ~ bwca de uma nunca atin– gida ten-a da prom.iJSsão. o fi. n<al do livro é uma retirada como o p1-i.nclp lo fúra umá c~1egada, denl:ro d e uma ta.ta – lidade que o romancista su– gere ao dizer Que êles dali se afastavam rápidos, como se alguém o.s tangesse. Parece-me que Vldas sêcas r1 ;presen.ta ainda uma evol-u– .sao n.a obra do sr. Gracillano Ramos quanto ao estilo e à q_u.a.lidade estritamente Uterâ– r1a.. Em nenhllllTI outro dos seus livros encontramos tanta beleza e t,a,nta ha.m:ionia na co~Lrução verbal. E somen.te aqw e-3te a-utor, de espírito tão P?LllC2º p~tico, cons~ue a tin– gir as vezes um estado de _poe– sia. Foi tan1bé,n1 em Vidas sê– cas que o sr. Grac.iilano Ramoo pela p rin1eira vez se libertou inleiramenté de algu_mas q ue. das. no mau gosto ou na vu,1. garíd'ade die l!llCJ>l'essâo, com que nos sunpreende desagra– daveJmente em São Bernardo e ale em Angústia. Afinâl se Ang~tia é a sua ma.for ~ea– lizaça~ como !i,ccionista, Vidas ftCl\_:9 e a obra que nos ofere– ce tóda a s~a medida como es– c~lto.r, juntamén1.e com Jn– fàocia. dignas de q11a,lq uer esorLtor, ainda ma.is de um escritor da espécie do sr. Graci,liano Ra– m-06. Ao meu vêr, os ca.pitu– los de mais-significação e va– lor líterário d~te volume. são "Dois dedos" e "lVlln.sk" sen– do também aqueloes que' mais se aproximam do que há de particulo.r e especl.fico no con– to. Reparando bem, a verd9.– d-e é que_ umt\ peça como "Mi~k" saJva todo um volu– me, vivendo por si mesm;i de manei:ra difinitiva. Enbre os ca.p!lulos que são pequenas obra.s-prim-as, no serutido de per!ei tas e completas. dentro d.a obra geral d~ ficcionista do sr. G.rac~lti.:a,no Ramos., a h.isl6ria de "Minsk" bem me– rece ser incluíd a, ao lado dia "Baleia", de V.idas sêc..'ls. .Ali.ás, o ass\lnto de "Mi'OSkN é também um bicho, e quem sa.be se o sr. Gra<:ília,n-0 Ra– mos, a êsLe .respeito, não está sen.tlmental.m~e -próxin10 do seu pel"SOnagem Fabia,no. q ue "vivia longe dos homens" e "só se dava b em com ani– mais"? Com m"!!ia dúzia de livros, a obra do sr. Gra. cilia.no Ra– moo já avulta hoje como uma das mais expressivas e valio– sas da literaitura bnasi.leira a d~peito da d-esprop01rção que eX1Ste enitre a riqueza da sua vida inlerior e a insufi.ctênc-ia do seu materi a.I die observa– ção. E sôbre a mia significa– ção, aliás, o leitor encontrará na abertura desta nova edi– ção d-e Ca.etés um 1ongo e im– portante estudo d o sr. Floria– no Gonçalves. DiscordandQ embora de muitos dos se'l!IS pontos de visba, que são es– q uen1áticos e .si1n.plesment,e poUtlco:s, da sua tedência pa– ra col=.r uma obra de fic– ção den tro die determ.i.nadas teorias. além do que há nêle de d.iscutivel oomo matéria H– teráTia., não hesito em reco– men.dâ- lo ao leitor, po~~ nas suas páginas se etl,(lonti:-aan al– ~ interpretações die pri– meu·a ordem, sendo êste o mais sério, document ado e amplo esbudo já esarHo sôbre o sr. Graclliru!o Ram-06 e a wa arte literá,rJa. fic:tt; as obscenidades que ntf" censuram ter es.."Tito. particular– mente em certas paq!nas onde fiiio reevocadas experiencl:1$ se– xu:iL«, oom um:a de.s.a,piedada rf– quez.i de ,IXITtlcuJ•,res, u.snndo os vocabul95 do calllo mais int1:to1,0 e da m3Js desenfreada llngua.gem. l\'tUltr a(ll'm':} (l'm ll!l"fl'l!>S ll~ ~emelhJntes àqueles us.-wtos por D . H . Lnwrence no wa - 0e!esa de LJdy Ohatterley··i que •aque– le que niío quer gritar a verd:ida. 9uanoo a conhece. torna-se eum– pli.cc da menli.r.1". E que •·a ver– dadclm n:i.wrez, da obscenkla<te l'l?Síde no desejo dae eóll!lel'tc_r". Soore a obscenldnde como argu– mento m 9 r a 1, Miller escreveu. mesmo, tnn pequeno trai.Ado. A tese f, vea ,a e não nos c.-be d1$· cuti-1:i. MILier decl'll':1 ser •o ultln10 hl)lllem" sobre .a terra corron\ – pida. "Um bqme-n\ sem i;ra-s.;1uto e .sem !.ut1rro . Eu sou. eis tudo". ~ tas coisas e-socreve-u-as em 1936: os extstenct:illstas encontraram um antecessor qut comp:ira os aeus Uvrós a umQ "úHtn,3 dança de agonia". "Mas que sej~ u.ma d.nnçn !", grit3. • ,Ant~r~ntico por ex~elencl:i, cc>mo parecem ser ou ter-se tor– nado os homens da l!l.l.3 g_erJç!\O e d{IS seguintes (05 jovens Ptl ~11- e1e·m. ao c-ontrário, querer de.;(~– chaT a o!ensi va de um no·,o r.P• monntiamo) M iller não é e-stl :.nho àqueltl irulUerença clne.matog,-á– fica pela rea·Hlad-e, que os amarl– c.anos, em um cel'l,o s.enUdo, trou– xeram para a Eurona. de '::>os P n9SOS em d1onte. Em "Cao~l– cornlo" n.anro um du~o entl'1 grllllos rlvnis. no reino d!)<.l dll• sopdeiros de calcas c,.l'rtas de Brooklyn . O rombo te se desen– roln v a a pedrada$ e Miller, junlo– m(!Ote c o m um p.d.ll 'IO. con.sie:-– i.l\uu obater o chc(e d o baodo Inimigo. Duas pedt-8/1 atlnglran1- no nM tem-por.as e no estonHUto mnt~ -n.do -o quase inslantanea.nten~ te "'Era o Que nos caberia se nos tf.vessem atinllldo. comenta M:il– ler. Tinha então nove 11110s, cn– m!' o m·enlno m OT to. Quando \'Oltou pa-ra coqn com o primo a tt.1 C::irolina õeu-lhes um gran: de n~co de pão de cen leio, c01n mantehio e açucar Comeram-no COln'l)Ortndos_ "ent.srlnc ,.,,_,,,f~ ,•, mesa dn cozinha , ouvindo n con– versa ctoa tin e "sorrindo como d,ou; anj lnhos" . O Comit:é de Ação Soei.ai e M<)ra,1, que levou aos trlbunaiS o ·'caso :M.LIJ•er'' é con,:posto, em gr: in.de parte. de protestant~ En.tre el-es há tambem um pas: 1or, a.utor de llvro.s pubttcad0& por urna • das caS&!I ed1t<>-r.lS ln• crJ.mintldas. Até a.gor3 o Comi• tê desenv()lvera sua obro ll\Or-.,– llzndora no cal'llil)o da prod\lção c!inematograf!ca, j u l g ..i d II nt1 maioria dos caso~ "Inspiradora de maus costumes". O Comité to– mou pa.rte tnmbem na o!ens!va 001ntca as Kmalsorui çloses·•. que: levou à cltm1,0,09a. interdição ae wna a.Uvld~ consiid'erooa em Fr.anÇa C'OlnO "nacionai.''. A demll(I~ contt'a os edlt1>1·es dJe Miller é o primeiro caso ero A lei, por> outro ~. não 6 clara sobi-e este pont~onfia a av,:iJJaçéio de tais s as a uma comissão espeelal, q u.a,i ~QC em vi-a pr~llmlnir a t-a.<efi de decidir se se deve ou não <la-r cut"So judicia.rio à ~,nand;,, - nesse sentuio inleladas por en• tidades morais. assoclaçóe$ pú• b l1ca,s ou cidad ãos p rivados. A comissão foi con,,!1tluda t1on1e-nte em 1946, e o ~çaso MiU,er·• é o primeiro de q ue deve se ocu– p3.r. El3 te:m o' nome de "Co– missão éon$ultlv!l dn Fa-rtlllla e da N.1la1.(dade F rancesas''. t com– pOs'ta de sete membros, dos quais &els são maglstt' a.do, s, jurlst11s, ou deleRa<los do ass,oelaçõcs d efen90-- ra: da mornJldt>de públlea. lím únlco membro rç-pl'e$efl ta a sociie– dt>d-e "GeM de LeLtrcs", h1.te – l an<1-o os d ireitos dos eserltOre$, A e-omissão. reunindo-se recen– te,nenle. de11berou por unnn..iml– dade que as obrai; de Miller de– vem ser consl-deradas obscenas e redi!fidas num à llngua.ge -m de "baixo calão". D~o1s de t.1J 1u.l– p:amen•io, \'l.. dcmnndti dt> Com!J!é de Ação SocJad e Moral foi en– via.da ao t r ibunal c o~ etente . O mtl!l'.ldO d as le:trt111 Insurgiu-se q uase =níme-menle em .favor de Mil ler e n socleda<l-e "a.?ns de LeLtres'" !ol obrigada a desaerodi– br o Se\! n,,prescntante. Q.\Hl to– mu11 parte na ,-otacão. 03 cs– c:rUo,es Irance9es de!endein em. l'vtrUer u.ma 'que.st.ão de p rinci– p io: t> da ui,;,te.talliUdaee dos <11- 'tett«; dB arte. A crlltca com rc:l~ão a MlUer, 1nostro11-se sen– sivelmente dividida, d:i exattação no repudio . Tambem nos JU:lga– ~ntO<! mais estrltam-!lnt e morai! há quem o tenha deflntdo como "um porco·•. simplesmente e ou– tros como "t.m1 santo d o·sexo·· . Mas dlortte do caso ju,dlci.aTio, ~tratores e part>elarios wtlran1- ,oe ~n frente comum c:QnlTa a lntromLssJ.o da mot!"istral-ura, <Jie· elarada lnCOTfl4)et~nte nos col~•q ó., orte. Relembra-se o ext>rl'l!))lo de Bau.dclalre e do :it:ualidade da sua reablJlt:içâo. O volu-me de contos Insônia com exceção de duas ou ~ peças. represent-a a pa.rte tra,. ca da obra do sr. Gra.cillano R:_amos, somente não compa– ravé.l a Caetés pelas q ualida– des de estilo. Creio que quase todO<? êstes _contoo sijo páginas ~e ClJ?ClllliSt~ia, escritas p a'!'a JO~nazs e i-ev1stas sem grandes cmdados. Ri, gorosamen.te ne-– nht:"'!, dê!~ é_ wu con.to .' "ln• ~rua.. e_ O relógio do hos– pital . sao dois monólogos Il:8gnllicoo, IDQS como classi– ficá-loo na categoria de con– tos? Do mesmo gêne,ro é 0 c_apibulo "Paulo", mas de qua.. li,dade i.n!erjor. Estes tres ca– pitulos, allas, são vairiações sôbr~ .~m ml!6'mo tema. "Um l~drao , qu&provoca :i l)'rind– P10 um interêsse apaixonan– te, d>ecepciooo. em segllida ~– lo convencionalismo dlO des– fecho. Peças como "A p risão de J , Ca.tmo Gcnnes", "A te&– lle~unha", "Ci'Úmes" e "Uma vlsot.a", só d-esejarlamos que DU'l'l,ca hoovossem sido eecri– too; elas são lilterari-amen.l-e in- ,Para ~messa dle liV'l'OS· Pra1a d e Botafogo, olS. • - que o Comité persegue publi– ca.mente obra 5 literárias por "O tempo faz Justfca aos J>O'!• tas co_ndenados" . Mas a lei C::, 1939 nao perse-gue os poeta~. mas i1lm os editores. Cada quoJ tem a liberdarle de escrever o oue Quer e nlniruem lh'a net?.i . l!: !I hberd:ide de tomar -pu'blicas ,, C?bras COMdeN!das l)b,:crna., a"~ e atíngki'tl. Com os !!Qlúi,rl!'S e.;., PllSSi\·els de pen3<i de de-trr,. , e pe-cu.nlnr!as t..i.mbem os liyr.- - T<?S que ven.derom ll5 n11 1,,·•• çoea incrln,ir a.d;-s. ns b!'>ll"' · •• ca; que as ofureoeram paro 1"'· turtl, os compradore-r c,ue ~,i d - :fllft'ldlram na socteda.de Se M editores de Miller r,ercleretn ., ~usn as prisões fr(lnr,.sas n-– ~beruo o 'Visita de muí t ns novag e inesper:idas 11"'-"'º"' Para ev·. tá-lo, a Kcaoo Mll,Jer·• terã t•"l. d.eFensor ex(!eoc!onal: o grl!nlie a< 1.vc, ,<'•tl-0 do,Jõro n•rlsler,sc 1Yt~11- rice Gor(on, ndmltido h6 al!rl.11''9 mf'o-e!I no .,..,.,pl~M 11õ« h'l\ort.a,-. !'oh B CIJ!Plil.3 GIi AcademJa de França. • •

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