Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• Domingo, 22 de junho de 1947 FOLHA DO NORTE 7. 8 Página -- -- , --====----""'!',!'"'!'!!e====="""'"""'_____....,,.....,"""=============~•""-""""== !!!==:-=====-!====:.::::-~=!!!li MUSICA O .granoe liaydn me rece todo o carinho e atenção -ao :tl'atar• mos da escolha de seus díscoo. Pela sua mara• vilhosa inteligência ordena– i!ora, pela sábia elaboração de seus qua11tetos e sinfo- 1'1.ias, pela rara generosidade cie sua natureza. pela in• 'fluência poderosa que exer• eeu na formação de músicos como Mozart e Beethoven: - ormaçao , e .._... . . . :........,..~ isc0teca , por ter fixadd de acôrdo eom. o Ideal m<1de.rno an• \figas formas musicjUS, de• · terminando mesmo, segundo .ipensam el'iticos autorlzados, 11 franF>sição entre a época elás.1ica e a romantica, con• 'forme atestam seus quarte• tos de 1773, denunciadores cie uma verdadeira crise de iromantismo - por tudo isto, e por mais outros mo• !ivos - Hay-dn ocupa um l11ga-r de relêvo en.tre os rnai.s importantes criadores 2nusicai-s. E' preciso insis– tir neste aspe.eio d.a fôrça ·orden adora e reguladora de su a intéligência,, pois and!l por ai, bastante espalhada. a lenda da "bobiceª de Haydn. f:le fev-e: muito tem– JPO para trabR.lhar: sua pr~– ldução, enorme, se ei;tende ~urante uns sess-e~la anos: :mas sua primeha ·su_ifonia conhecida foi escrità já a~ '!Vinte e sete anos. :Er,sa fa– bulosa produção c:araeieri- ·• n-se por uma ans1a cons- tante de aprimê.tame.nto dos meios técnicos. Alfredo, E instein, o ·eminente musi– ic6logo, as.'$bn se - refe.re a respeito dos métodos hayd– nianos: "Havia nêle fôrça e gravidade; suas criações sl,ll'gem da experiência. d.e acontecimentos vividos, são figuras de um programa 6ecTeiOn, O lado vienense, o lado ;.humí!>ur" da natuveza & Haydn oculta aos ó~s (e aos ouvidos. . } de ,:nuii os sua grandeza e profundida• de. O mesmo acont eceu ao seu amigo Mozart. > . ?"\urilo c;essores no quarteto, ,;oh o p onto de vista da dignidade da lin~gem musical e da amplüudê das for m as, Hà:ydn abre as portas a Mozart e Beeihcwen. que atingiram' o máximo na rea– lização do quarteió. • . se. bem que um enriquecimen• to dessa forma musical Ge tenha ainda verificado com o único exemplar do gêne– ro, saido muitos anOA de– pois da peria genial de Debussy f "Suas criações surgem ~a experiência": na verdade He..ydn acumulou experiên– 'cla sôbre ex~iência no va,~to laboratório do Palá• cio Esterha:zy. D<" su~ faça• nhas, não foi a menos ilus• Gostaria de deGpertar no tre a aue conduziu ao de- espirito de ·alguns que ain– s~v.oivúnento d'o tnbalho da não a conhecem o. inte– femátir:o para maJor êXlen• resse pela mítsica_de Hay– são da$ paril?S da forma• dn. que nunca ~ d~primen– sonata. E quanto ao ~ar- .te;. ao contrário, ê exaltan– teto, Havdn inventa uma fe e emprega diversas vezes no'Vá apiicação do contra• a lin,guagem do fogo._ Seu ponto. produz um desdo- "humourn, repilo, nao -<> bramento temático que con- impede de. ser grave e se• fere m-aior riquen e inde- vero em muiiaa ocasiões. pendência dos rae.mbroo da Quanto aos diseos, no composição, ao mesmo tem- momento, não .é- muito. fácil po qw,, lhe confel'e maiQl' encontrá-los por aqúi;- ·s~– unidade. Tendo se elevado . vo no que dh respeito a muito acima de seus ante- sinfomas. Das eento e vinte, mais ou meneil reconhecidas como autên:liC<lli!, é com re– novado prazer- que sempre ouviremos qualquer destas, que . 11e acham gravadas: "~agre" - n. 96 - em ré maior; •Salomão• no I: n. 9B, em si bemol: n. 0 100 ("Milit ar"), em sol maior: n, 101 ("Re16gioª); n. 102 e~ si bemol: n. 104 (ºLon• dres"). . Dos quartetos, ~nciono cpialquer das sér ie6 op. 20 e op. 33i e também o úUimo, n. 83, op. 103. Qualquer dos "quartetos russos" poderá igualmente ser adquirido sem medo. Indico ainda a admiravel sonata para piano n. 1, em mi bemol - na bela ini~– pretação de Horowilz - e o Concerto de .Cravo, o;p. 21, m.agnüiceymente e.,ce– cutado na parte de solo. por Wanda Landowska. O que aí está apontado, basta para dar wr.a idéia bem nitida da grandeza de Haydn. Beethoven é hoje, depois • de Chopin.. o músico mais conhecido e difundido no mundo inteiro, Talvez, por isso, fôsse aupérflua fazer aqui a indicação de discos do grande mestre. Mas, de # • qualq-.ier maneira, nao se pode deixar de mencioná– los, mesmo po.rque, se Be– eihoven é. d-efinitivame~te um dos · maiores. o crit~rio de preferências está longe de ser fixo. O amad<>T co– mum atira-se vorazme:nte às SinfÓnias: não o crüica– rei per isto. As Sinfonias já passaram em julgado e já se sabe que são obras das mais impo;nantes da música uni:versal. Enfretanto, _ no. plano de uma discoteca de 300 ou 400 discos, eu não aoonselharia a compra da Terceira c:11 Nona. po.r exemplo:- além de terem proporções muito vru;las, o que dificulta. .&ue audição continua. são obras que pela suil natute)lla próprie exi– gem contágio coletivo, aléqt disto são confínuameMe transmitidas pelo rádio. ln• · dicaria antes a Quarta, em si bemoi. op. 60, ou a Olia– va em lá, op. 93, Das sonatas de piano, o e ON'I'INUANDO com o nosso .inquérilto sôbr-e a.s diTet,ri.zes ruturas do ro– mance em geral e do ro– manice bras,ileiiro em pa:rttóu– m, hoje oferecemoo aos nos– sos lei!t:ores o d~innento va– ~ô · & ·esctitor Guilihermie :Figueiredo. DO ROMA E :..-01• a ■11a 1•0•0-a-o•ro-t;• oWiQ-t& o-M O auitor de "Ron, dim.el& " á .uma das figu,ras :moa•reairutes d.la 1!11-l'a gera~ão. Contista e croms– .Je. de grande mérito, enitretan– ilto, Guilhermie Figue4-edo 'tor– JlOU-<9e mais coohecido oomo ~c riltiíoo lwte.rárilo, tendo f,eiJbo, cbl,ran,te, longo tempo, .o l'Oda– pé de -crítica do "Diáil'i:o -dé Noticias". SOB O SIG~.;() DA DECADENCIA - O IJ:ll>OR':l'ANT.E E' MESMO O HOMEM . ' - DF~PnIMENTO DO E~CRlTOR GUILHERME FIGOEIR'IDDO Nu.in .mqué'rtto em crue as o~iu.iões se ellltrecl:locam Liw.,e– rnente, como no que ootailOOS . rea,lizando, - ooosist'iald'<> .seu . p r.i.nci,pail. v.aiboir j ustaanMte ~ ' sua maior ditversid'1Nl~. -o d'e– . poomento do coll1hecildro -eecn– ltq-r ~a bastante. _Iniciatndo s,eu depoime:n,to, o •u.tôr Q:e "Ron:dlnel.a" -<U&se: · -"O inquérito q,ue ,com ,t;an. # lucidez Almeida F,ischer -está cond--uziooo J)l!ra "Letras ~ -.Airte.s", me deixa ·.eDJh,e duas ~ções i,g\!a,lmente grandies:· :ai de respond)er sobre 811 .di– '.~izes futuras d~ romaoce ·iBln g.eral, q.u a de ~ ,.•ne as -<Jw~ titmlS .ao 1.'0m, ain.ce brasi'l$1ro. En~– -¾ .as tendenci~ -~ do ~an<ie brasiJ.éro se • subor– !~'lll. é cl!l1'G, por faitores <fie ~ culturail., hlstó:dca,, 90- ~aJ.. às óo romaa:nce ~. Por -outoos pa,lavxas, o n-OQ'IIO ~~ ~ criando, pcmsoilentemen,te -0.u não., .o ro-– -ç.anóe dia$ mesmas angust,iaa ):iohomem-.em <JiUitras pa;r,tes· à \lierra; e .ó l'Oman.ce die ootlXIS pises, por sua vez. con~ ,:ie,cessál'iamente; ,as n<>ssa6 ;&n• irtJs,tias. As pecúliandadtes · ,d'e ,.,egiã-0, de povo, a ,pmmi!inci$ ,il}(:id,en~ de um. ou outro ,p~b.I:~ e o ta!e-n.1o pessoal ide cada romancista é 11\le ~itui!fão as <lif«"ell1'as. ·-- , ' )f ~"?' )Jsso. prefiro ,optar pela ~– Jl)OOta -ae quais as tendências :tdo romance d-o futua-o. ••_.•..,·•-.a--••-..•,..--• ••to•••"'•"--ó~....• .. •-••••-H•.. -1■41 • a,ntievia .mugu- &Is d0'l'!e$ da ~ não wri ~ ·4ão: fQ,. cialmíente com.o .era prom,etidJG nos ammcios-do ~obél:ieo. V.lri oom sokimentoe, com uma 1u1:a maior oontt-a a i,ea. ção burguesa. desesperada, e 11.gonizame; nos filitinn>OS -ester– tores para sobrevive,. --A.JJ.neida FtSCHER ~ctal ,para a FOLHA DO lfORTK) O r.omanoe de um futuro 'l)rÕ~o &erâ o ron:lía.n.cê des– sas wta& JJJ.e ,corre -sim, o ris~ co de toda,i arte que sé sedm :Pela 1iéaruca, p,e;l.a cllncia, pela :fÕrmtila.. 0 eDS811$ta Wladimi::r W.eidlê já chamou a a~'ção pa.ra essa Crise do ~nce; que oonsfste em d,ebca.r .êle de IJeF t.?1&_ pr,é,-c~, .isl;o ,é, uma fi~ao feita com os .dados d:Q conhecimento inltud-tivo, pa– l'a se 'brainsfol"Dlatt.' lllUma; c~– tt,ução eri,g,ldla com ~os do conheciini.:enlto ci~co. E' es– slm que o heroi ni !Jlle "meca– niNDdio"' P!_r& usar a. expres– são. d~ Wéfd!lé, vai -co!inqii'll® com.a t)Slcol-ogla que-o roman- cima. <;02;1,-nece, tanto q.ua! llto a na-:tm.tiv,a se .aifast:a da esfera. penwnalissima da imaginação oµ da exper-iencla na· tese ,po.. littca soci:aà q,ue ~-a conv~ão ~!sta. ~ão quero dizer com • isto que o roroa-nclsta • dceve ";participar". 'Lic>ng,e disto: êle "dev:e ter pr,eset1tes 0$ !d.iram~ 4e seu tempo, mis- tu.rair-ee a -eles com vfgor, e I O' :amadas qe to-da$ :a:s noites, sei .que vos esq,uecerei toda$. Vossos ,o,lhos., w-oss$s pelt~s. O' ,amadas .ne~ras ,e b,rancas, r • " • · · -~ .2, 1 , me0gni.l;c;I.), :u-as .ruas :.,ollígi1nquas 1 ,amadas ftanz.inas, 1 de liri-cos portões, S€reis e§,quecidas. ~die1JesO$Wll,QQueva.i n.-uíüt1n- o -seu talento miventi– vo. N"1flCa, :porém, &ubstituia: o romance por um lon-go e fas– tldi~o teorell!Q social que o l~tor já conhece logo' ao sa– ber das ~vieções ,pessoais do a\l>t-Or. Se o 90pro. ,da inttid– são ooincldiir 09m a posição ~ia\ •® romaincista; muidJo b&m:. Goirki não 1lez ou– tm co~ e f<>i admirai'iel. Mi!1S o exemplo de ~ não anula os .oo~ um Bal– .za,,c coo 1lilll Dqstoiewski( 1~ ,..,__..,- d . ·d,.... ""'ow.Ç8i0 · O l'OlnPClSi... . .._.. muito ,mais~. muito · A vitória, doo aI\!Ilas demo– cráticas ,sobre as tota1iita,riâs t,tão desm-enti:u a tese de q.ue .esta.mos oob o s-tgno da .dle– nadênci&. D&utirii:nadk>res da ~ordem doo fortes••, d-e elite, tu do 'SQCiali.smo, constatam Amadas dos qttarlo:s ,cheirando a agua '<Íe Coionia~ • ~a .d:eC31(lêncla. Neste :P(ll'.n.t0, o -cmitico da diJ.11eita e ,o da )CS• iqueroa es<tio de .acordo. Mas, en..q_uan:to para Spenglié:r, PG:J:' .e.'\éem1p1o , a d:ooadência é :a •da ,c,ü!tum ocidenitial, para o ·Sl>– ci>alista, ê'le é a da ~esia, · · a do cilií>italisroo. Por ~. ao pr.imetro era pesslmi:sta e pr,é·. ga,va a salva.ção de sua classe pela força; ,o segun® é ,ot~– ta, e dooejá ,. a re:tiarnfà q1l'e tr.ans,fur,;ne a decadência, cul~ tu;ral n'Llllll .surto ntaúl v;q5tó de esclarecim-ell)to., e4P gue a arte ·dieixe de ser um privilégíio !;>a- ra tornalf-se uun direito co– . um. En<tretoa.n•oo. o m-wnido d~ - • . -1. . ue . . ' vos esquecerei,, vossos ·olhos, vossós peitosA • Ii · Não entender.ás o mea ,dia.léto nem -compreenderás os.meus 'Costume-s. Macs ou.virei sempre as tuas canções .e todas as noites p,rocurarás.meu CQrpo. 'rerei as caricias dos teus seios brancos. Ir-emos a miude v,e:r ,o mar. Muito te beijarei - , . e nao me amaras como estrange1ro. • MA.X_ MARXINS ainao:~ comum voa logo para a •r~pas ;iona.ta " a dita ''Ao luay" ou a dita ...Aurora", e ainda aqui lhe dou razão, pois se trata. é claro. de ollras-prlmas. Más, ;,, aos que nao as conhecem, aponto algumas sona:tas ma i ._ "escondidas"; por exemple, em fá, op,· 54: e outra fam.bém em fá, op. 78, esta injusfamente taxada de insip;~;,, nor Vincent d'lndy Ao de 91"ande classe • ci so lembrar as últimz.1 op, 109, 110 e 111, ou e sse pr.odigic.so poe– ma de solidão e despoja– mento que é a sonata em si bemol maior, op. 106? ... (Ccnfesso minhas pref e.tê' ll– c:as por esta "Hammerkla– vi er sonatau}. E , erá preciso relembrar também as extra– ordinárias "33 variações sô– bre a valsa de Dtabe1!i, op. l.20?; . 1". Dos cil)co concêrto5 de pian0. apesar da rner-eci~a fama, do majestoso e ~ ati– do ... Imperador" , minhas p:r-e– ferências voltam-se para o n. 4, em sol maior op. 58. O terceiro coneêrto é também soberbo. · Não se e-squeça o incr;:m– parável trio em si bemol, o.p. S7 "ao arquiduque", uma das obras mais reR~e– sentativa.s do gênio de Be• ethóven. Propositadamente deixei -. " A ~ para s proxi:ma cronica a~ referências às produções mai.s ele-vadas e sublimes de Beelhov:en, as menos p.o– ~ular-es: . OS QUARTETOS.

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