Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

1 1 • DIBETOR tlAVLO MARANHÃO . :ORIENTAÇÃO ' Dl:. 'JfAROLDO M,ARANHÃO COt.ABOBAl)ORES: - Alvaro Ltns, Almeida Fischer, Aurelio Buarque de Hollanda, Benedito Nunes. Bruno de Meiezes. Csrlos Drumtnon,d de Andrade, Cécil Melra, Cléo Bemal'do, Cyro dos Anjos, Carlos Eduardo, F. Paulo Men– des, Haroido Maranibão, João Condé, Marques Rebelo, 1'4a· . nuel Bandeira, Max Martins, Murilo l\llendes, Otto Maria Carpeaux, Pallllo P,liruo Abreu, R . de Sousa Moura, Roger Bastide, Ruy Gu:lllierme Barata, Ser.gio Mllllet e Wilson Martins. - A POLÍTICA NO ROMANCE <Conclusiã.o da 1.ª pág.) oou, A convicção de Arthu,r Koestler -• ooa:no se vê atra– vés do pers0111a.gem Rouba– choff, qu;e J.'leiprleS-(mta lí<te-ra– riamente uma sintese das vi• ti.mas daque-les processos - é a da inocencia. deles quan– ~ aios crimes da preparação da guerra civil e entendi– mento com uma potencia es– traingeira, sendo responsaveis apenas por uma timida opo– sição da dixeita à linha do Parti-do. A opinião d-e 'Th-o– tszky, exposta longamenite no seu seguruio livro de me– mórias, é que os dirigentes dó Partido aproveitaram a opootunicliade paira dêSihOOTar a oposição, identifi;cando-a oom um· m'O'VÚJinento de trai– cão à Patria e de ação con– tr.a-revolucionaria. P a.ra isso, através d~ metodos in@isito– r.ia.ns de tortura., fisicos e p si– quices, conseguiram condu– m os acusaidoo ao estado de fraqueza mental e mora.!, em q ue estlwam. proDJtos a con – fessar tudo que lhes fosse di– ta.do . A siituação, q ue Arthiua– K'Oesti-er ap:rese'llltou em Dar– kness at Noon, é a mesma, em principio, apresentada poa,, Trotszky, em Da Noruega ao l\lé!dco. O embaixador Davies sustenta, no entanto, a convic– ção opoota, conforme ex:ipri– miu de maneira ma.is O!lt-ego– rloa em resposta ao inqueri– to de uma revista norte-am~ rlicana: "Como advogado ex– perienite, a,costumado a. aw,– liar os d epoimentos n<>s ca– sos p enais, observei a fisio– ill0m.i4 dos acusados, estudei suas atitudes e cheguei à con.– el w ã<o de que, sem nenhuma dwvi-da, o Estado tinha pro– Wldo a sua a,cusação". Piara a politiea e paira a história, é de fundamental b:nportância a questã-o da, ino– cen<:ia ou da cul,pabHidade dos condenad os no processo de Moscou. Para um r oman – ce, por~m, o prob1ema apre,. senta-se com um ca-rater se– cun,dário. O episódio real e docru11.e11tado é apenas este: que eles foram acusa.dos de certos crimes e oond•enados em consequência. Ar t h u r K~fler joga em cena o s~u p ersonagem no momento em que ele é con<luzido à prisão. Dai :por diante, o que vemos é o processo psicológico pelo quaJ. Roubachoff, antigo Co– missárLo do Povo, se vai en– fraquecendo e degra.da ndo ante o j uiz de instrução Glet• kiin ,:rté o ponto em que, de ' - - oonoessao em ooncessao, aca- ba por l ança1r no seu depoi– m ento tudJo aquilo que lhe sugeria o seu a,ntagonis~. Es– ta pa,rte, está claro. é um prodüt o d-a ima,ginação de K-0es,tler, que nun,ca ,podere– mos saber. de modo ex:ato, se cor1,esponde ou não à reali– d>ade. E ' n ela, porém. que a capa cidade artistica de J(oés– tler. a sua. criação de roman– cista, atinge a maior altitude. P enetrand'O no interior d os dois personagens. o au,tor de Da.tkness e.f Noon levanta m~ istralr;nfen~ a. psi-cologia de a,mbos. as SUJbstãnci:3$ e d tr eções d-os seus caracteres, a,o me.smo· tempo que n os· mostra as situa<;ões politicas e eticai que e-les represen– tam. que estão por trã.. deles. Nada se eneon-l't1a aqui dla– quela ca,raçterização primaria. e grosseira de personagens, lançatlos em blo.cos. tão 'X>· muns {>tn romanc.'(;S dei es.p!r t– to político. O Í\l'.lstrumenlo de visão de Koesf.ler na oirdem psicológica é fino , agudo, a.gil, apto a penetrar nos cantos mais íntimos ou escondidos. Provooa assim um interesse apaixon-an te todo o movimen– to psicológico de Roubachoff, com as suas nuanças em cada dia, com os seus pensamentos e reações de prisioneiro, com os desdobramentos terrivel– mente logic-0s, que o condu– Z€?Xl ao desfeoho da confissão. Neste sentido, Darkness a.t Noon faz lembrar algutrs dr a– mas psicológicos da obra. de Dostoi-ewsky. Isto não quer di– zer que ele sej,a, tecni'camen– te, um romance sem defeitos. Algumas das suas situações - não as dos personagens, mas as do enredo - estão realiza. dias com um esquematismo, que as pr.ejudLca. bastaal,te; além disso, aquel,as conv ersa– ções, por sinais, entre os pri– sioneiros, são apresentadas com a. objetividade de uma informação jornalis,tica. :Pequenas f alhas, no entan– to, p ua um livro tão cheio de dificuldadles e pr oblemas. E nada o q ualifica e valoriza mais no seu cara,ter de romQ,U• -ce, do que a consciencia. lite– rária e artistica oom qu,e Ko– estler coloca, em Igualdade de condições, o pe<rsonagem, que ele estima, e o personagem (Continua na s.• página) O Estranho Assovio (Conclusão da últ. página) pa, como se n ela própria eu adiv.i.nhasse o sentido do as– sovio m isterioso: -E por que seu J oã-o asso-– via,va. assim? - ~le está asroviando? O se– nhoir tem certe2a que ouviu o assovio ·dele? ' Quando, com a cabeça, con– fi:runej que h avia ouvido, ela ficou. branca, hirta, e seus olhos ganha.ram os espaços n u– ma. grand,e 1nt errogação pa!'a os céus,. Por fim, relaxando os músculos, exclamou: - Então êle vai matá-la ho– je, co~ta<la! A le-tra das minhas notas ainda é mais imperfeita a partir dai E' quase um rastro de 1nseto do qual mais se éon– clui do que se entende. E con– ta., trêmula, pulando pal,av,ras, omitinào vírgulas e pontos, o m eu eneontro a seguitr com o referido João : -Seu João, seu João, não faca isso! disse eu, segullldo a minh a p rópria escrita. E eu m'l!$mo narro que "João, de bôca aberta, mos– trando os res.tos de três den– tes oa,1x:omidos, · avançou, pro– fer indo: - Quand'O a-ssovio assim, doutor, é a minha época de lu-a-Qbeia. E' sinal de que a coisa de que S-Ofro está para chegar. E creia vosmecê que só me çuro dando uma surr a em minha mulher, a pobre da Ma,ria". Sei pelas notas que João sai,u, tri&te, em direção às margens do i:io. e ternpt)!, de– pois se ouviram gritos aluci– n an tes de gente que apanhava. E assim as n otas findas, sem– pre trêmulas, semp:re ilegi– veis: "Um assovio melodi-oso, tris– te, fino, ca,ntou no esipaço e tern1inou quando o sino co– meçou a narrar pa~a o mundo o toque de finados". . E é curioso que n ada mais eu pr6ptio ac,rescentasse a essas estrallha.s notas. FOLR.~ DO NORTE O PALHAÇO DO OCIDENTE (Conclusão da últ pãg, se lembra do mmoso poema em que Yeats falou de "tha,t enqutrfng man John Synge". "Enqui:ring", dJz o dicionário, é uma pessoo ourlosa de in– vestigar a, verdade. Então va– mos investigar a verdade a trás da farsa de Synge. E em vez de uma Jnvestlgàção serão três três interpretações em am~ talvez, conforme o título de uma famosa peça de Calde– r~n. ''T-rês .J usticias en Una". Por enquanto, é o próprio autor que pretende desencora– jar a tentativa. Synge foi poe– ta, etnhora em prosa, e só quis ser poeta. Naquele p refá– cio do "Playboy" p ronun cia– se energicamente contra " o pálido teatro de fcléias" , · de problemas d a gen te sofistica– da das gt"andes cidades; só en– tre os camponeses, menos ci• V;illzad'OS, ainda se en contra• na a- verdadeira poesia. tudo o que é "superb and wild in rea.lity". O "Playboy" seria uma e,i:plosão da n atureza ir– landesa., violent'3, mentirosa e poética - "o último valbaço do mundo ocidental". Nada de "~iiias", e tendência alguma.. Nao o entendeu, poréín. as– sim o público ele Abbey 'l'l1ea.– tre em Dublin que viu ·pela primeira, v~. em janeiro de 1907, o "PL<i.yboy of the Wes– tern World". Fizeram um es– cândalo tremendo pretende– ram linclfar o dr~turgo. Um dia depois, as autoridad~ ci– vis. tnilitares e eclesiásticas declararam-se profundanu,nte reridas, em nome df honra do povo irlandês. Devia.. pois, rui– ver qualquer relação ín tima entre a Irlanda e a idéia. es– condida na peça "pura.mente poética.". Eis a, p rimeira pista e quase já é a. p rimeira. inter– pretação. Contam que um frlaridês, Passando perto d e um bar, ou– vindo gritos e barulhos, en– trou, perguntarulo ao proprie– tário: "0 ~nhor desculpe, pode-me informar, é isso ·uma briga particular ou pode.qual– quer pessoa parlictpa.r dela?" A pergunta é auto-definição do irlandês. Dlrio que essa inclinação à violência sem oonsideraç!í.o da finaHdade é consequência. da opressão mul– tfss.ecu,Ia.r pelos ingleses: à re– sistência. Inútil contra o opre.'i– sor ma.is poderoso ter~se-ia tra11Bformado em culto da vio– lência pela violênc~ em anarquismo. Outros dirão que a raça célti~ é mesmo assim. O- dra.m&turgo não tem, po– rém, a obri~ção de resolver problemas hi,stórioos. Bast&– Ihe repr esentar .as consequên– cias psicológicas: a tendência. para glorificar a fanfarrona.da , e depois, em face da realida– de, o medo da: policia.. O por– ta-voz do poe-ta é Pe,geen. E' ela, <llesiludida., que pronun– cia a moral da peça: ''Há um abismo entre uma história ro– mântica. e um crime feio". Por isso, ela adorava. o Christy do parricídio inventa.do e repu– diou-o quando êle pru-eceu parricida na, realidade. Ela. po– rém, assim como o poeta,. não pôde d eixar de lamentar a perda da. b ela h istória,: fol mentira, d e um palha.ço , sim, til.as sem a. mentira não h ave– rá mais n ada de novo, mais de interessante na al deia "Per– di o úl timo p alhaço dêste mundo ocidental". Com ela, o farsista também ficou melan– cólico. O p úblico, porém, fi– cou f 11rioso. En tre os teóricos d o teatro, ·alguns acham que o público te.m sempre r azão; outl'OS acham que o público não tem nunca razã,o. No caso, o pú– blico dei,mentlu-se a si mes– mo, aceitando, enfim, a pe9a que hoje é preferida justa– mente pelos espectadores ir– landeses de• Dublin · e Nova York. Aprenderam a respeitar a opinião do poeta que não quis oferecer nada mais con– forme o prefácio. do que uma comédia. de alegria. fant.'ÍStiça.; e não foi injusto para com a Irlanda. !\'las para nós outros que não temos nada com a lrla,nda, a farsa seria. r eal– mente a,penas fantástica, "su– perb and wild". mas sem ''rea,lity" alguma. Resta no enta.nto ~~llcar o fa.to esqui– sito de que o "Pla.yboy" foi tão admirado por Wil1ia1n Ar– cher, amigo intimo de Sha.\v e propagandista de lbsen, gran– de. adversário de "teatro poé– tico", que lhe, •parecia absurdo. Archer só se interessav:a pelo "teatro ele Idéias", peJa discus– são dramática dos problemas da socieda de moderna. Será que existe um problema as– sim atrás da farsa alegre, atrá.s dll sá.tira irland esa de ':ihat enquiring :rnan J ohn Synge"? Seria uma segunda interpretação dentro da pr:.– meira. Explica-se a violência anar• quis,ta do caráter irlandês pe– los reeaJques de um povo oprimido. '!\las essas reações não são privilegio dos campo– neses da ( Irlanda &elvagem. Não estava. muito certa a opl• nião de Synge quanto à "pali– dez" e ''sofisticação" da vida nas grandes cidades. A civili– zação que se oferece às mas– sas urbanas não é sofistieada e si<10 mwa.nizada; o resultado 6 a satisfação ilusória dos ins– tintos (pelo sensacionalismo, pelo cinema, pelos esportes) ao preço da uniformização dos sentimentos e da d-espersona– lização dos cérebros. Aí está o perigo: , na; capacidade das massas de se d eixar em im– p,ression aJ' pela mentira. publi– citá ria., pm.• mais grosseira que seja; na p0$Sibilidade p er– pétua da e,qilosão a.os instin– tos de violên cia em gente a.pa– rentemente pacifica. Qualquer tumulto na rua fornece exem– plos desse periito: e bá os muit-0s chineses que Já foram barbaramente m,'\ltrata.dos nas ruas das nossas gran,,fl!ll ci– dades porque a multidã.o oa tom.0~1 por japoneses. nem querendo ouvir a voz da ra– zão. Pertencem à mesma ca– tegoria de fatos o anti-semi• tismo. a "justiça" d os lincha– dotes e todos os eXCPSSOS do fascismo. Foi esta a "idéia" 1;ocill.l que Arcber descobri11 na farsa de Synge. o perigo j1mto co.m o remédio: "Há um abismo". diz Pe~een, entre uma história romântica e lltn crime feio". As forças emo– cionais. invadindo a vida pro– saica. da a.Ideia. tinham criarlo um mi to pseudopoético. No f im da. farsa cruel, o "mito" de Christy está porém des– mascara<lo; e estão s imbolica– mente desmascar ados todos os "mitos" de v iolência dêste sé– culo. Na peça , não houve cri– me; mas fez-se justiça. "The Playboy of tbe W és t e rn World" é mesmo peça para a época dos fascismos derrota.– doo. Mas esta conolusão ainda não ex p1ica o êxito duradou– ro da comédia, que se reve– lMI independente dl38 vira– voltas políticas. "The PJa.y– boy of the Western World" a.pela para sentimentos mais profundos na alma do espec– tador, além da esfera das emoções políticas. Até 'onde avançou ~ "enquiry" de "tha.t enquirlng man .John Synge?" Mas será difícil descobrir na sua farsa os elementos do complexo d,e Edipo. l\'bs Syn. ge, grande poeta, escapou ao pedantism<1 da psicanálise aplicada. que aponta. oom o ' dtmo os desejos ocultos, l"m qualquer Fulano na platéia, de ma tar o pai. Sem ifiivida, na mentira fantastica dé Christy há algo de . atavismo d ()S sinistros t empos pré-his– tóricos em que, conforme Freud, os filhos se teriam re– voltado ·contra o "pai da hor– da" , dai o ''frisson" da peça - mas o "Playboy" não é tr agédia psicológica e sin1 co– média fantástica. A men tira p erigosa de Christy n ão leva a uma solução trágica; t udo se endirei ta a tempo. li-Ias t am– pouco ês;te ''ha-ppy end" res– tabelece a dignidade moral e a verdade. O crime de °Chris– ty foi mentira mas es ta f oi ma.is verdadeira do qne a r ea– lidad e: · o pai, S11,jeito sem im– portância alguma, nunca ti– nha e!dstên cia verdadeira, mas agor a existe rea.lment e porque sobrev:iveu à quela m en tira que, desmentindo-se, lhe estabeleceu a existência. Foi esta confusão d·e ficção e realidade que a.traiu o poeta que Synge era: no fim,da "en– quiry" , r econheceu no fundo da irrealidade a verdade e no fundo da realfdade a irreali– dade. Talvez essa confusão contribua para manter o equi– librio do mundo? Els a últi– ma das três interpretações em uma, dos "três justiciàs en una" do poeta: o "Playboy" é a comédia da injustiça do mundo para com a poesia. "Há um abismo entre uma história romântica. e um cri– me feio", isso quer dizer: quando a mentira triunfa sô– br.e a realidade. então acaba tudo em crime, senão em lou– cura. Mas quando a realida– de triunfa sôbre a mentira, quando tudo se resolve em fatos palpáveis, então a pró– pria realidade e a vida e o mundo perderam o s entido: aba ndon ou-os aquela fomna superior da. ment.ira que é a poesia; e esta passa a ser con– siderada co1n(I mentira de pa– lh.aço, do ultimo palhaeo n o munrlo da prosa oohte;ntal. "Você, aparece para ser mor- Domingo. 15 de ,unho de 1947 oEscoTEcAs E sÜA FORMÁ"':'õç~Ã=o=;;:;=:::a (Notas A Margem) Anselmo AUGUSTO -- A publicação que o · &r. Murllo Mell.liell', através do Suplem&n- ajuat.. ao temp&ramemo de cada to •Lüerário d.a FOLHA, vem fa,. peaslla? A afirmação do n. Mil• zendo em tôrno da formação de rll? Mendes é, portanio, pezso– discoieca., noa eugere uma aé- naliata, e não d.o quem orienta. rie de apreciações. Bem razão Vejamos agora ó frecho prometi,. t do, em que se veriticará a abso- em ~ autor desses G&tudoa quan- húa contradii;áo do autor . Dúr do afirma a lmp 088il>ilidade que, na realidade, temos para ouvã êle: ,, 0 bom com,p~orea. asSim como . . problema da .tuerar- pianlst.as e-pctonaia. Se no qula, de uma prioridade de Rio, de onde escreve, êlo sente -;ralorea ·e d.e preferência, co- essa dificuldade, 0 que não di- loca-se lnevUavelmente di an- rl _.._ te de toda a peaoa que tn!- e.moa ....a do norte, onde as ela a formação do uma dis- ocaaiões são r arª 8 e quando coteca com 200 ou 300 d is• 'exiJ<tewes, pa.ssai,eiras? A mo• lho.r solução para O caso é então coa. O critério maia cerie procurar or ganizar uma disco- Cónsfste e m começu pelos teca particular . Surge ent ão O m ú s i c o s essencial$, funda. p:roblema fundalnental da esco- mentais: Palestrina, B a c h. lha dos composUores. partindo H andel, MoZIU'i, Baetho1ten. d o pr essuposto de qua há no aos quau se vem juntar. en• apreciador d a música dlficulda - tu os modernos, Debussy". des financeiras. ,.., 8 0 bnpedl- Agora, é o caso de pergunta,r .,.- ao ar. Murilo Mendes: - Onrie riam de comprar tudo quanto êlo mete t1 Monteverdi. 0 ..,. l\.'I. quisesse. Aparece, asGirn, a gu- do, o problema d a seleção, para que serve para batizar os in,,,i– evl.tar aquisição de trabalhos in· an10a? Pois não é 1!le quem ,.fir◄ feriores, ou de trabalhos que níio ma - e com muita razão - '1U8 representem O verdadeiro eiipírito os eotnpositores fundament5i~ e m,ujcal. ~ exatamente na esco- p ot isco essenciais pa:re o co– lha, que reside a dificuldade e é nhecimento e percepção d a ..,,,a exatamente a essa escolha que música, &ão Palesuhia. ,,., __ h. rnaüaa ve,:es O er, Murilo Men- Handol, ~ozart, 'Beethoven n --..,_ des não bem aconselha, com su- bussy? Diante dessa conclu~ã.o t õ é facll notar que n&o hé U"1lil g e 6 e 8 pretensiosas, pe!ISoaia, unidade dese1· avel em seus c:on– critério que a nosso ver nê.o d tr aelltOli r>ara fortnação de u"lta evo en ar em conta. Explique- discoteca. O sr. Muilo M~""el mo-nos . T~moa a oportunidade de ma• aconselha compra de disco• ,>a• nliestar O nosso apreço, a nos:1a queles autc~es. e se o coleei.-".la• admiração, a nossa crítica, de dor algum dla tiver a ven •u,.a duas maneiras: _ A primeira é de trocar idéias com o sr. Mu•l– na livre discussão do assunto, lo, pas~ará pela decepi;ão d~ 'e– entre duas peseoas, quando ca- V!ll' um grande QUINAU, pc,• •ef da uma expõe com Inteira liber. cometido o crime de nuncn '>a– dado seu ponto de vista e nole ver ouvido a nI.egrim&", de 11•-,n. se aferra. I&so acontece na con- t evel'di. A opinião do sr. ll/h1~·10 ver!faÇão trivial, em que não há Mendes ;p6de ser verdadeira ...~,.a tezuí,ativa de Influenciar tercei- êle. para sw;:t(!nfá-le em U""la conversação, mas· nunca para ros, mas somente oa proprlos dia- loga.dores entre si. A S&!JUnda é quem assume o compromisso do dp homem que toma atliude de orientar para a formação de u""a ensinar, de orientar. enfim, da- boa discotéca . Pa11to que a "''ª" quele que d á o tom conselhel- reza do argumento convence o ral. É O caso doa trabalhos do que o s:r. Murllo é contrP.ditó- 6'. Murllo Mendes . Diante dia- rio· ao, é p reciso t omar a posic;.ão de Ainda h:á outro ponto a ol-,;er. absolut a imparchllidade, s, e m VIU. Diz o sr. Murllo Men-'~•· ..,Há cer:tas peças mu~,,..."'!il querer que os go st o a pessoais _ e das maiores _ cuia "'u- preyaleçam. De outra f orma, a dição per<ie mui.to a meu •·<>r, Idéia originaria de orientar per - de iodo o seu valor. Os estud os dentro d e um p equeno ~.-.o- M sento. p ara uma, duas, ou do sr . u.rilo sôbre a formação três pessôas . A "Paixão s e- do discotecas é absolutamente gundo São Mateus", de Bach, personalista. Ele não fala em formar discotecas, com plena u- o "Messias",, de Handel, a b erdade, mas fala em formar afl- "Nona Sinfonia", de Beefh o- n al SUA DISCOTECA. E fatal- ven , por e xemplo. Sã o obras m ente aparece a contradição . de e xpressão coletivis.ta e HA uma p assagem interessan - monumental, obras des:u.na - to . em seu artigo, em que o es- , das a pl'oduzlr contágio de critor declara O aeguinte: "De idéias e sentimentos elevados, Monteverdi, a1ém de outros, são em re os homens;~er om dignos de men,.ão 05 discos do a atmosfera d e unfà:.t1_greJa.."""- ~ do um teatro''. célebre madrigal "Lagrima d'a- Eis outra afirmação· absurda ~ante al sepolcro d<;ll"amata",_ do , a:r. Murilo Mendes, em per– com.J)osto em mamona ~e 8 '!ª . feito desacôrdo com a sua afir– amiga, a cantora Caiei;nu~ia mativa no inicio de seu trao a- 1'!~inelll - um dos mms pro- lho. So se observa o caso palo dig,~os cantos de amor ! me>!'- fato de a música PERDER MUI– t~ ~ue a hist6!1a da música re• TO por falta d.e Bimos.fera 011 g1sta. Q~em 11!'º ?uviu êsse ma- ambiente, então 118 dirá de illi• drlgill ~ao é musicalmente bail- elo que muüo ma1II perde qual~ zad?. · · . quer música em discos, Se de E1s o carat er person_allsta. O inicio O sr. Murilo Mendes afir• ff. MurUo Me~des ass_,m falan- ma que há dificuldades de ou– do, dá lmJl!'essao de duer o s&- "ir os bons compositores e b ons gulnte: "Leitor, tenho e Já ouvi pianistas mesmo e trabalhos a "La!l'l'lma d'ama.nte ai aepol- . . • m cro dell'amata" 'É preciso que musicais menoa compl9xos, qu ,. · . dlrexnos nós da "Missa em Ré". o tenha~. como eu, a fim de ~e de Beethoven: da "Nona Sinío– te consideres batizado n~ musl- :Dia", deste mesmo compositor, ca. ?ºr enqu3:1to és pag.ao mu- e do "A Paixão Segundo São sical . 01;a. neo á pelo fato do Maieus" de Bach? s form s- u.m colecionador ter detormlna- ' . e os e d o disco,' desconhecido por 0 u- peraz pelas i!l'l'eJas, p el~ tea– tro, que possa gabar-se dêsse tros: pelo ambiente propicio, pre. f ato . Disso conclúi-se que a l• c~ado pelo i.;r. ~urlloMen?es. guem que tenha ouvido as sifo- entao é.melhor deslsil:r ~ o uvu a nias d e Beethoven, os con cerlos boa musica, pois isso nao Pª;óSª" de Chopin, que tenha .ouvido Pa- rá de um sonho. Ba~ta r efenr o Iestrina, Bach, Mozart, Debussy, seguiJ;lte fato. Há d o1s anos atrás Tchai kovsld, Shubert e out r os, um ilustre membro d o clero iião aluda pagãos em musica por para&liso t eve vonla<,le de ,::i:ue e. não terem ouvido Monteverdl, um n ossa •?,c!egado ouvisse a M is~a compositor secundá:rio. P ara mos. em Ré , de Beeth oven. Facil1• J:rar que o sr. Murilo Mendes não t adas as co~. aabam o que fem razão, procuramos citu êlo aconteceu. O ilustrado ~!mbr o Õ:º mesino. N o trecho a cila:r, fa- cléro preparou a audiçao mu,n– cilmente se observar à que o sr . cal, mas mutJlou. multas parte• Mttrllo Mendes não considera da ~bra, po~ Julga-la PROFAN~ Monloverdt um composUor de e nao -,r6pr1a de uma Sexta-~e~– p rimelro plano, e sim um mú- r a Santa. Quer dizer que .'! Ulll• aico sec1:1J1dário . Aflrmar, como ca vez qu! se teve ocas1ao d e ele afirma. importa em cair n um ouv!I' a Missa em Ré ~- e l!ISo absurdo e em consentir que aqui acontece de cem, em cem ca,da co1)ecion ador se jul gue O anos - ouviu-se a musica mu– TAL em matér i a de e scolha de t ilada. De que valerão oa \:onse• DISCOS E!ATISMAIS. Um po- lhos ~o sr . MU:_.ilo diante d isso? derá dizer que a pessôa que nun- Ele d~á que nao tem culpa do ca ouviu a "Oulnia Sinf'onian sectar ismo da igreja. Está cer• não está batizado. Outro dirá to, mas não propugne que "A que o batismo 16 é ~eito com o !'aixão ~egun~o São Mateusw, a "Concerto numero Dou" de cho- Nona S1fonia e outras compo-– pln Catule Mendes p~r exem- aições só devem ser ouvidas em pio: o grande escritor francês, certo ambiente. Dirá certo _que teria sua preferência por "Tris- é MELH!JR ~uvi-laa no recinto tão e Isolda", dfl Wagner, qua.n- ":a.:i lgreJ~ ou dos teatro~. a do afirma que ali o composUor fim de_ ~ao tuar ao. coleciona– alemão ultra-passou 05 llmttes da dor in1c1ante o _dese,o de pos– própria arte . Um outro dirá que sulr o qu4: do ma,s ~elo e monu• 0 batismo está na audição de mental e~ste em 1;1uslca. Por ou– "F ·, Ellse", de Beethoven. Al- tro lado, a- questao de tempo é guem já nos disse que nada mais rel9.liva . Tanto se levam. três o impressiona, em materia mu- horas ouvindo em residência as sical, do que O "Clair de Luna", longas composições, com~ si,, leva d Debussy.. . Mas, no meio dis- o mesmo tempo a 0Q.v1.,.,as n,?JI so tudo quem está com a verda- ! gral.as ou teatros . Quem nao de? Como batizar alguem na dispo";_á de uma t__arde, ...._uma música 00 0 tema da música manha, de uma noue, em doih.111- classic~ é Vllliado e éle bem 88 go e feriado, para ouvir boa mú• to pela terceira vez?", grita Chri1;1ty ao pai sempre ressus– citado; êsse choque do indivi– duo com a. realidade indestru– tível provoca o riso da farsa. Mas a última palavra fica com Pegeen e com o poeta, lamentando me1ancóli-0amente a perda da poesia: "Perdi o ítltimo p a lha ço do mund.o ocf– d~nt-a.J" DPnf>i ~ :t}l• ....,,,""" lll'I luzel! d-0 palco. E o mundo oo escuro. slca, desde que aprecie isse gê• nero de arte? Pensamos que a um verdadeiro apreciado~ da música melhor faz ficando e,n casa ouvindo-as, do que ir e?O busca de o,utros divertimentos, às vezes grosseiros . Prometemos continuar no livre exame dos estudos que o sr . Mur ílo Mendes for publicando no "Suplemento Literário" . Faça– mos votos para que os outro■ - ,-\wos sej am men os -pessoais, .. \ "'""" 11'1138 l)errue-na m.3yqie-ft'\ d e liberdade ao bisonho coleciona• dor. Estamos no meio deles. •'•

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