Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• F.,.,.,~.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,..,,...,.,.,.,..,,..__,, ~,..,...,.,.,..,,...,.,.,.,.,..,...,~_,...,.,.,.,.,.,.,.,.-.1"...qcs § .. i § ... ... s 1 § § § s s s s s§ §s· § . . ·§ -~ 'l § i s ,.. ~✓✓✓✓✓..r..r..r..r..r..r..r..r..r..r.r..r..r..r✓..r✓..r..r~. ~ o .,.,.,.,.,...,..,...,..,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.o,!l Não é essen cial saber-se o -------------------------------------~-------.::.::=::: ti,gos revolu cionários do Par• tido Comunista: o de Kame– n,ef-Zi•novief, em a.gosto de 1936, com 16 a.cusados; e de Radek, em principio de 1937, com 17 acusados, entre os quais figuravam algu ns emi• nentes chefes politicos; e, po:r fim, talvez o mais sensacio• nal, o de Boukarine-Rykov, em marÇ,O. de 1938. O que mais impressü>nou, por exemplo, o e!!J)írito de advogado do em• baix-ador Joseph Davies, se• gundo se vê no seu "Missão em Moscou", foi a espantosa con ceit o ou a teoria de um romancista arerca da arte da ficção. O essencial, no caso, é o romance que -ele escreve, e não o que jul-ga teoricament e q ue seja o romance. Contudo, s empre apresenta algum inte– r ess~ e cw-iosid•ade a leitura de q ualquer ensaio de um ro– mancista sobre a arte da fic– ção. Em New writing and day– light, de setembro de 1946. na p ar te The future of Fiction, Ar thur Koestler publica um p equeno artigo sôbre o seu conceito do romance. Deix::i.– mos transcrito aqui um trecho que é o dos mais representa– tivos e explicativos das suas jdéias a respeito: "Novels date more than drama and poetr-y. The reason for this is the no– vel's pseudo-objectivity. The eh aracters, on the stage speak for themselves; the poet, who– •se method is direct and fran– kly subj,ective, speaks fw- him– self; bu,t in the· novel the au– thor speaks for bis chairacter– sand preten,ds to give an objec– tive a,ccount of th.eir troughts, feelin.gs and actions. This pre– tencion is, of course, pu·re swindle. For the narrative re– flects not only the author's personal philooophy, idiosyn– crasies and styl-e (that, in is– self, wo1:1ld be all right); but also smuggles in, under the label of objectivity. the whole bagg-age of the pr.ejudices and conventions of bis time. As t he na,rrator, ex-hypothesi is omnisci,e,nt, ubiquitous and nou - existem as a person , it is the period itself which speakl through hiin. The novel's pe– riod-chaa:acter is impLicit and mainly unconscious. therefore all the more revealing" . Sente-se, mais do que se lê, nas palavras ele Arthur K~~– tler, quanto é vasto e ambi– ci-0so o seu objetivo como ro– mancisia, V,a.m-os' observá-lo, então, em operâçãõ prâtiéa, através de Darkness at Noón, que se conserva ainda como o seu principal e fundamental roma.nce. Nele, o ponto de partida de Koestler é um fato r eal, a serie dos pl"Q-cessos de Moscou con:trn. antigos revo– l'llcionários em divergência com a linha oficial do Partido Comunista. Mas, aproveitando o ta.to real, ele não ficou preso ao episodismo, não realizou apenas uma brilhante repor– tagem sô.bre acon-tecimentos, que já eram, aliás, em si mP-s– nío,,, poderosam-ente dra,mat,i– cos. Percebe-se ·que os fatos objetivos - · aquelas circuns– tâncias históricas, determina.n~ tes dos atos, e cuja autentici– d ade o próprio Koestler nos gara..nte em nota preliminar .:... só lhe interessam como peças de construção da obra la,nça– da, n o ·entanto. na zona mo,ral e .psicologicà~Apoiado ·em epi– sódios .r.é.ais,' o 'rõniancist..a vol– ta-se · todo, àtTa,vés da imagi• nacão (que,- neste caso, não exclui antes inclui. o seu co- • . . nhecimento da.·Russ1a, do pro- • ----------------::-::-:--=-:-::-::-::::-:-::-:::- . . - - ----- DOMINGO, _1_s_d_e ~~o~d=e:...:19:4::.:,'1_ __ ...:º=ir...:.et.:..:or:.::..:..: -=l':.:.A.::.U.::.L~O_M_:_AR~A __ N_B_A_o _______________ N_u_M_. ~ JORNAL DE CRÍTICA A POLÍTICA NO ROMANCE sentativos, não perdem os seus cara,cteres indi-viduais como personagens, não deix•am de existir psicologicam~nte com.o pessoas. O romancista movi• menta-se, com desenvoltura e segurança, nos circulas. do mundo real e do mundo 11na– gi11ário dando ao leitor a sen• sação de que não há lin1ites nem diferenças entre eles . Sta,Un dentro do Partid~; Gl,et– kin, é a síntese da nova gerá~ ção, que não só burocratiza fer:reamenite o Partiil.o, m,as leva-o a todas as consequên• cias do pl'incipio de supressão da liberdade do homem para maior grandeza da potencia d,o Estado. Arthur Koestier amplia a,inda para um novo circulo o terreno do seu ro– mance, apresentando no anta– gonismo dos dois pé:rsona.gens si-mbólicos, não apenas duas gerações enca,rnadas em duas 1 II (Exclu&ividade da FOLHA DO NORTE, neste &slado) Alvaro LINS a1as de wn Partido Comunis– ta, e sim tambem a síntese de um movimento histórico, o rit– mo de uma revolução, que se deforma e se desfigura para subsistir politioamen.te, que perde em grande parte o seu d~namismo para se conservar estatisticamente. Um dos as– pectos mais ad'mira,veis do ro– m·anoe é a maneira com que ele articula ,o geral e o parti– cular, com que funde tecnica– mente as duas esferas, de mo– do que Roupachoff é Çletkin, sendo tão simbolJ.cos e repre- - Marques REB1!:LO ' o que é real, obj'etivo, his– torico em " D a r k n e s s at Noon"? Entre diversos outros ~ _gnaindei, processos que se fi• zei_am em Moscou cont ra an• segurança com que quase to,. d-0s os acusados confessavam crimes abomina,veis contra o Estado, inclusivé os de traição através de entendimentos com uma potencia estrangeira, sa• bendo que, de acordo com a legislação soviética, a conse• quêru::ia seria inevitavelmente a · mOl'te. Mais ainda: mui:tos deles, principalmente os maio• res, os mais eminentes, pare• ciam empenhados em oferecet wn espetáculo de degradação pessoal, de humilhação. · de auto-flagelaçã~ em propc>r• ções inacreditáveis para um ocidental. O patetico daquelas cenas culminou com a d<ecla• ração feita por Boukarine de que "se ajoeJ.hava diante do Parhldo", rebaixando-se e hu• n,ilhand-o-se, assim, diante do mesmo Partido de que fôra outrora "o teorico mais que– rido", como o consagra Leni• ne no seu "Testamento". (Co,pyright E. S. I., co,m exclusividade para a FOLHA DO N·ORTE, neste Esl:.ado) O episodio real, que ArihUf Koestl•er a,proveitou nu•ma obra de ficção, já era em si extraordinariamente dramáti• co. Ele representa talvez o maior drama politiieo. da nossa epoca, podendo ser fixado eRl doos sentidos, coJl!fomne se te– nha convicção da inocencia ou da cu,hpabilidade dos condena• dǧ nos processos de Mos.co-u. Sit' eles eram cu1pados 'que si• tuaçã-0 dra,ma,tica a daql4eles antigos revolucionários, cabe.. ças e figuras. _dirl~!ltes . do P-artitlo na· sua fase mais he• roica, companheiros de Leni• ne na vi tória de 1917, que co– m·etiam agora o supremo cri• me politico de .traição à Pa• tria, que vinham além disso conf.essá-lo por entre retl',ata• ções e protestos de arrepeJldi• me:nto! Homens, · 9ue ha".iam sido antes dos mais poõerosos da Rússia e da Revolução so• viéti.ca , ali est.ava:m véncí<ios, esgotados, degrad,ados, ajoe. lha.dos diante ·do Pa.rtido. ELIZABETE . ~ RIO - Elizabete, .a inglesinha de tranças, · na idade da inocência, me iniciou nos capitosos mistérios doo _porões es– curos e d-OS quartos desertoo. A Inglaterra é longe. Nunca mais verei Elizabete. Era rosada, loura, olhos azues como duas águas marinhas, parecia uma pintura de Reynolds, e êsite álbum que eu folheio me enche de finas recordações. Não saia da sua casa, clara, limpa, cheia de cromos nas paredes e de livros de es,tampas, de brinqu,edos estrangeiros e onde vagava um cheiro· de aJfazema que -se impregnou e1n mim pa,ra tod'<l. a _vida. ' NATALINA N,a,talina, a dos laç06 de fita monumentais, na escola pú– blica, liga-se às pri~eiras agressões femininas. Estava muito certo da minha súpériori-dade masculina: "Burra!" Foi desá– foradíssima: "Burro és! de quatro pés, comendo capim de– baixo de meus pés!" E ba.tia furiosan1ente com os pés no dlão, CATARINA Catarina! Pálido perfil, mitlto Cintura de vespa.! DAGMAR de peixe e pássaro. ' Envre os pecad<J!; .de Da.gníar, }).ayia, especialm-ente, aquê– le hábito de falar tão , ji.lnt,o.,à miniha bôca, que cada palavra era um beijo, talvez mais do que ·um • beijo. DORALICE rádio, etc. Há três dias que não vinha em casa. E ela com dois 'fi lhos, sem dinheiro, sem emprêgo ... E como se e~pre– gar? éom quem â-eixár os filhos? E êles-~te's;-pobres-dêlest H-avia dia,5 que não comia... Os olhos vertiam mais lágrimas - se arreperidin\ento mata-sse .. . Fez uma pausa: seu caminho seria o · bordel. O bordel já a es,pe,r ,a.va . -Nã,o, Doralice, não! Ela levantou os olhos, fitou-me seriamente e as lágrimas émprestavam um brilho mais vivo ao seu olhar. -Não, Dorali.ce não. Haveremos de arranjar a sua vida. Ela deu um suspiro, pegou-me na mã,p. A mão era áspera, parecia perteriee.r a outro corpo, não àquele, moie, delgado, cheio- dum encanto que só os vinte anos têm. Sim, Doralice, hei de c.onsegu'ir um emprêgo para você, um lugar em que você. gaphe honestamente_o seu dinheiro, pelo menos o sufi– ciente pa,ra cri<1,r os seus filh06. Dentro de d-Ois dias você me ' volte cá (dtei-Llie dinheiro para; se agu-entar os 'dois- •dias). Volie,cá. Garanto que terá o seu emprego. Não chore. Levei-a ao bonde. Vi-a ir-se delicada como uma boneca. Ainda me disse adeus. Pass·a.ram-se os dois dias. Arranjei o lugar ~e zeladora do apa-rtamento de Adonias, com um ordenado bem razoáve1. · Com·o havia quarto para em.pregada , êle não se imip0'1'tava · que' ela le'113$$e 06 garOltos. Mas Doralice nunca . ' mais me apareceu. .. N·INETE Como uma montanha de nata, fria, insossa, levemente re– pugnante. 0.s pelos ruivos, ásperos co,mo o.s de um cão pastor. · O cheiro az•edo. Se éres ernm- inocenites,- pot ou,tro ~ -do, que situ-ação ainda mais drama,tíca a daqueles li• deres que haviam. outroradm• pa;sto a wa força com o ·ter• ror e a intimidaçâo, e· agora ali se achavam· ta.m'6ém sob o imp~ri9 da intimidação e de terror, obrig-àdos a confe-s~ <lrímes imagináTios que · os le~ v a riam à morte, ·eníraqúe<:i• dos fisjca e psicolog ~cámen.te ao' 'ponto de se de< :larar.em ·,çúl. padós, sendo·in0<:entes, condu• zidos ·ao extermínio da pérso• ClNi\RA , n,alidade· na ilusão de qoo .pre~ Sestrosa, de ancas de potranca, era muito enjoad_a para cisavam degradar-se publica• comer. P.as ...c:.a,va . os dias, dizia-me, com Ulll2, sailadinha, uns mente no tripuna!, para ,tor~ bombons e mu1too "sorvetes". nar· MiOiSa ·qualqueT oposicãó . à iinha - staliiiista, como ·fues MARIA BERLINI ti.nha sido sugerido,~ se· :qui:. Não a&nitfa apelidos e acábou ingênua de rádio-teatro. . téssem, ' no arrependimento, . prestar um ultimo ser viço ' cesso revoluéionário e das !t– guras em causa), para o ex a– m~ psicÓlQgjcó d~ pe.rsóna- . gens e ,par<'!, a et.ica dos seus atos. Os pe,rso,nagens prj.nci_. pa,i$, coloçados ein 3.11'.1:•t:;i.gonis- . mo, tornam-se simbohcos, re– pre~ntat iNos de duas gerações e d-0is estados d.e espírito: Rou– bacho!f, D !)CUsado, é a sintese h. da velha . iruarda revolucioná– ,.~ ria de. 1917; quase toda sacri- Continuo insensível aos ·encantos de Doralice. E Dorà!ice .me confessou, rio reserva.d?. do ca!é,. que não ei a- c·asaaa; isto é, era ca~~a na Bahia, e até bem casada, mas que fugira ''cm;n um rapaz com quem agora vivia e tinha filhos. Os be-1-0S olhos. verdes ficaram mol:hados .- fóra uma loucura! uma trên1enda loucura! Se nunca amà,ra o ·marido, ~ o seu casamento· não P.,as.i;ara du.nia, i!Jlposição dos -pais porque êle. erâ rico, a ver, dà.de é que tinha sidó ~oro para ela, mµ ito bom mesmo. E sentia-se tão sem amor como outrora no l~tõ conjugal. Sim, ·sem amor! Esta,vé\ ab11ndonada, maftratad.a, pisada, preterida. Que cai,tigo! O seu homem tinha- outra mulher. P3:ra ·a outrà, tudo -moravam m'l.l·ito bem nia rua F•rei Caneca, oomi()/ml'a um Tinha vinte anos incompletos e ·uma completa liberdade, tanto ao -Partido~ De- qualqu,er ,n 10• nos vés~idos coino ne procidirnento; tanto assim que dona do; qualquér que séja· a nos• Epol,'lina (da pen.são familiar) um_ dia quis fazer sátira: "M<!·• - sa~ coovicção, senitiiremos a ria vai _coin os outros . .." - ao que ela. respondeu com pres- ·p e,nça de um drama ·, hu• teza: · "Porque•:são os outros que pagam!" ·· ' o n os processios de Mos- . ~ ficada ao pod,er peSõoal de 1 . . {~ Continua na 2.~ pag.J / ~ ------------------------- ----:------------====================== -· ' 1-l'A velhice, as llOSSllS lembranças mais frequentes são l'f ~quelas que nos reoordam o que fomos ou o que fize– . mos junto às ~ulheres, quando tinha.mos a idade de iross06 filhos ou de II066os netos. Elas, entretanto, nos anos màduros, se esquecem de tudo, até ao ponto de as suas duas u:nagens não se identificarem a seus próprios olhos. E para olvidar, nem é preciso que envelheçam:. ·J>ori.sso, sofrem menos. ••• Nas coisas de amôr, quando a dúvida nos atormenta a '4rtt!de só é admitida pelo nosso espírito, sob a condi~ão de nao provar de mais. A evidência exagerada não nos deixa tranquilos. ••• Há três esp~cies de hiprocrisia: a dos olhos, aquela que emana. do coraçao e a que vive nos lábios. Com qual delas nos ilude a mulher? ••• . O orgão do crime, por excelência, é a mão. S~ nô-la tamp~ta_ssem, quantos artigos do Código Penal não poderiam SUJ>rJnur-se i ,. ' Ocios De Um Espirita So·nolento - J. Alvares SENIOR-- Perdoi-"nos a mulher se a comparamos a um inseto eruel ..) &io como a aranha. Enquanto, porém, esta seduz o macho e o devora, quando não precisa mais dele, aquela nos enleia na teia dos seus eneantos, onde sabemos que não nos atrai so• ~nte para a volupia da reprodução. • •• Conheceis ' triste? alguma coisa. ·mais triste do que um sorriso ••• As mulheres gosta.m da. cõr branca não a toleram nos cabelos. n-0 vestuário, mas ••• No jog,o 4Je sedução entre os sexos, a mulher perde Jogo se faz, por antecipação, a dádiva do que o parceiro deseja. ' Não há: palavra de sentido tãÓ profundo como a saudade. Nasce dos sentimentos apaixonados, atinge o âmago .do nos~o ser e em vez de extinguir-se com a morte, que é o fim d-o iudo, lhe sobrevive, ainda mais dolorosa. ••• , () individuo is<1lado é mais forte 9e desagrega e aquele ~rmane.ce . ••• que a multidão. Esta . Indicaram-me, outro dia, um livro de humor tão Jrre– sfstivel, que eu acabaria morrendo de tanto rir. Felizmente - • 1 nao mor.i'1, mas desfrutei um sôno de bemaventurado. . • •• O h&mem nasceu para chamar e a mulher para atender; N - ••• o clrenlo dos nossos despeitos íntimos, a mais das humilhações é não ter êxito oom as mulheres. ••• A m~lher ~ue ~ma possui um senti.do divinatório, pàr'a pressentir quais os atos do marido capazes de o oondmirem , uma infidelidade positiva.
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