Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• CURITIBA - Vivemos um a época de asceltc;ão dos 11,omens niediocres e das idéias medio– cres: ,,~ v9r uma t,:_ágica conir!l– dição óo desiino . sao os proble– mas m'li& delicados o fundamen– iais os que êsses homens têm ti.é resolver com as suas idéías. Não estr-anha, pois, que apare– çam as s oluções primárias quan– do-o que se exige são interpreta_ ções sociológicas; e menos ainda estranha que as dificuldades in· :linüas de um mundo que se de• compõe ao lado de oulro que se prep~a a surgir, ~continuem so– brepah•ando por sôbre EIS nossas é a.bel;as, tomo faruasmas esvoa– ç antes, como terr fveis enigmas a que os,pobres aprelldiies de feiii • cei:to nào podem dar :respo~ta. A ESQUERDA CATÓLICA E A . . - , co Júc!.da confusão nos fatos el&• mentai:es, l, verdade í'negávcl, ainda q u e se possa supor que ela. mesm:i repudiaria as atitudes de certos homens chan1ados intelec– tuais que a comprometem nu nt ais variadas negações do ae11 espjrito e nature:i:a ... Responsabilidade Do lnteligencio E: fora dos partidos políticos, exíslem as grandes idéias mo– toras da humanjdade: o senti-– mento religioso, por exemplo, quando as religiões correspon• _ dem a unta filosofia de vida, co. 11:10 é, entre outro.s, o caso do Catolicismo. Os católicos pos• suem, ou pelo menos devem pos– suir, uma viva e esclarecida atl• tude política na socieclado tem– poral; seja por pertencerem a. um grêmio secular que tem re• nistld o mais ou menos coel'enle• ment e a muitas vicissi_iudes po• liticas, e nelas firmado uma ori• entação que parece correspo.nder a uma média de permanência nos Temos de enfrentar agora nada menós ·que uma reconstrução do ' ~ '.;> , mundo: sabe-se que as epoca.s como a nossa São exigentes e aão .se contentam com as Jll~ias.. soiuç~es . Temos . de construir uma nova sociedade e não pode– mos mais que remendar a an– tiga, desde que os homens e o:s id~ias dominantes não alcançam em toda a a:ua amplitude e con– sequências as pergunta.s que os àconte<:ime~os lhes p ropõem. De~e o esquematismo slmpló– ;r;io dos comunist_as até à desori– entacão e má f-é dos que so di– ;i:em • democratas; todos mal es– condem a sua perplexidade di– ante dos fatos. ·Os priineil•os se satisfazem, ufinal, com pouco: 11atisfazem-se oom n repetição alvar ·de fórmulas que na reali– dade ·1.1ada significam porque. pretendem sujeitar · fatos assimé– triCoS' a uma exegese $iméirí– ca,_.sempre a mesma. Os seg1,1n·– dos ou não sabem, mesmo, em que so. .:ter, ou pl'eíend,9m repe• !ir um.perigoso jçgo ele oportuni~– mos -que -os arrastará para o abis– mo júnlamente com os destroços do mundo a que, m au ·grado tudo, se agarram. Num mundó assim.t ser ia ju3- lo esperar a orientação e a ~.la– vr-a de ordem da in!e)!.gêncm: essã lúéida ordenadora ' de casos tem a. obrigação de çonduzir os homens nos n1omenlos dlficeis. Màs, · sem falar na angústia da inteligê·ncia que se sente talvez: inferior no volume e à gravida– de dos fatos, cabe:da a lembran– ç a de 'algumas irríispondívcis pa– iavras de -Francisco Ayala: "se trata ··de U"lll grupo rector que, sin embargo, care.ce por comple– to d e pos~!!>ilidades para una acluacion qi:tecta sobre la so– ciedad a éi>.yo frente se h~lla: está inorme, y, sus dictado's se encõmiendan por entêro e la buena volui:liad de quienes &e muesiren di'spuestos a ac~ar-– los,:.." ,,Diante dessa hnpossibiH– dade material de. atua,ção. não se– póde legilimamente solicitar do inteiectuál um programa de sal– vação do homem e da soc"iedade: B'&ja _porqu&~o pensa-mento prag– Ín>i-tico traru;fo,-msria :!letomática- ' mente o lntele<>1Ílã1. em··. políti– co, l> neste caso·· as soluções que encontrasse seriam soluções de p '\> lítico, e não de intel~– tual, seja porque, como ai.n– da observa tom agudeza "Francis– co Ayala. •é uma p _reiensão !ota– litá;:fa essa de- obrigar-.se a ,_nte– ligôncia ao trabalho de _fortale– c imento das idéias políticas. Isso não impede, esiá !'laro, a participação çfetlva_ .<ie ,_c~rt:'s 1n– te1ectuá;s' na t~efá de onente• ção comum, n ·a "tµêdida de suni; voca:ções e possibilidades: n,as é um -absurdo pedi:t-lhes fórmulas õnfalfvels de salvação (tr1anipu– la:das com mato,! · facilidade e màis rápida inconclencia pelos l'olí1icou) ou responsabilizá-los p ela crise <io .JllUndo, do qual êles jamais m a n e j ar a m as chaves e em cujas atribulacÕEJS se viram pessoalmente envolvi– dos como todos os demais . t:pocas críticas conto a nossa f&voreeem o âparccíme-nlo das meditações politicas. no bom sen– tido da ex-pressão: o ho1nem !:!9 vê práíicamenfe ób<i_gado a p~n– sst em termos co!e--.tivcs, n~o, :n:ecessariame,nt&, como e?.5Pr?ss!o partidária de uma agrem,açao que se destina a salvar · uma d8• t er-minada claste, qualquer que ela ..seia, m&!I como membr~ ~e uma "comQnid;tde, de um;, ;pat:na, quo amea ço. diz~olVer-sé nas co~... turbações sociais desta transi– ção se nenhumà luz puder orien– tar-lhe a caminhada. Saem, en– tão os intelectuais de seu domí– nio específico: e aventam solu• ções políticas, que. riâo deixam de carregar obl'igatoriainente cer– to lastro de teoricidade, inas que assim mesmo se éaracterizam por serem em suas Unhas ge– rais, ma.ii lúcidas e <inais "inteli– gentes., do que as dos empirlcos das •idéias fel1as e -das orienta– ções já prontas. --- • - - Wilson MARTINS -- tepercussão o timido pensamento r.ascido nos gabinetes. O dilema, hoj~, ainda é o mesmo, embora muito mais grave, do que o de 19.39; a escolha dev'e ser feita entre o totalitarismo e a demo– (Copyright E.S .I., c om exclusividade para neste Estado) a FOLHA :DO NORTE, Vivemos no Brasil '\ril momen– to desses . É claro que os parfi– d os p.olítlcos não deixariam de arrastar para a sua p rópria sar– dinha as pequenas b';azas do pensamento inteligen;te, e, ha– vendo os partidos toialítários, de linhas justas e opiniões unânl- mes, embora sucessivamente con- crâcia, e. também entre o espírl– traditórias, esmagam definitiva- to de MÜnique e o espírito de mente a pequenina chama azul . Rc - sevelt. Que a inteligência da liberdade espiritual que defL possa ser culpável da muitas das ·ne a "in1elligentzia"; e haven- desorcientações que nos afligem do os partidos democráticos, que e que a ela sa p ossa justamente se nutr em da d iscussão e do de- atirar a responsabilidade de uma baJe, fortalecem com o suco 'da p rop ositada ou, pelo menos. pou- diversos grupos, seja porq~'.' a vida eterna começa, dogmahea– mente, n?, sociedade temporal a poríanlo lhes cabe, mesmo cOJl:<I dever religioso, uma organi:iaçi'O .do ·muttdo segundo os seus prin• , . ' ClP.10 S. À lgreJa não !raça orienla:;õ:!1 i;,olíticas no sentido estr.iio e nao exige d? • homens no tempo. se• não ç;us se preparem para v1v2r fóra d ê le: mas a essa abstençaà do grei\· lo corresponde um d~• -.er tácito para cada um dos fi• liados, pelo~ mandamentos. ~a caridad'l e do amor ao próxun'?• de de&~r.vol-.a-r u .ma ação poh• üca multo caracterizada e vü1i~ lante. Não poder0i tliscu!_ir aquí o!I detalhes dessa·s obriga~ões con• vergerlles mas autônornss; nem os choques# aparen.tes nu. :-eais,, 4'-'ª podem ocorrer ent re elas, r,em os desvios de in1erpreta• ção que católicos menos escla~!• ciclos dão aos seus deveres reli• sioscs e de cidadania . Nam o meu objetivo era ap:ofun<!_ar• me assim em velhas .díscussoes•,, interm•nâveis e perigosa•, mas: apena,; o de chama:: a atenção d 9s classes intaligentes do Bra• sil parA o livro e;n. que o ~r. j • Fernando Carneh:o aborda al• guns dos mais agudos p r oblemas d<> nosso tempo. com inltlligên• cia com sabedoria e com ,bom• se:dso ("Catolicismo, :f\ovolução e •lf Reação" - Agir. cdit?~'l, 19~7). :t: um livro · de cat.,h,:;ô, mas daqu elÍ!, correnfe do p 7 us'l'!l8~io católi.co que fâz o .orgu,ho oa- 1n~ teligêncla: a corrente que conta com os nomes de São :SasH~o, ,t;.: . ~.. . . -~%:~~:?:i:: ,;.2:x .,=>:-=,,,mm~:,C,:>.'(> .,. :-:ffi.... :.'.:.:% ~~- ~f~~$~ ~_f.-.::-.~~~:e, ,;~:,.-®,.~~- :--< ;t., ·Sl<c:x❖,~- • Z-:$'("-'· . . >-';•. •~ ·.... ~~%,.,,,~. '~~ .. ❖:i ;.:.-::, ,.7,. ·!B·. ' ~ • • • ,>: • ;,:i~.¼1}' . ~~1-~: . ;;;~:;?..❖ -❖-~~:~:f.;;&,: ·1.}:~~:0-.~·~g;:. J~1.{<1,X{:>:::·~ ";rn· ~ .. v~-=4=& ':{ ,!3::<._'.>:t-:-C:w• • ~~-'ifJ~~%n~. W°~ix:# .t1,~{imf:; -.5~~:-,ç;:'.&~:::,~· ~;;:~..w.~=--X:::-.i,;.: ·W:..::1~-W.J!~::;~. :.:::,,;-,~ ;y ::,,t) , •• f?. . ,,:..:t:.. ,, · W»A~@Z'). X '*'·.-,.·«:s$!"'"'.. < :-~~i<tJS~ . •·w-s,'°'"-'· .. :;;>.&>.,,~:« ..<~$:-Kv:.:x ~~=:1-w.0. :❖• ❖Y4.W:~°W1•;. :(,~~~~W: ' :I;.:.( •~*-·-.,·~  r.aoç,a diante do espê lho óleo de Picasso · de ·São João Crisó~lomo, de. S_ao Jerônimo, de San to Ambros,or na antiguidade, e com os de Ma• ritain. de Leão XIII, da :Se1•na• n os, de Tristão de Athayde, nos tempos moder-~os. A: corr,P.~ie c:ru.e poderíamos c:hamar a es.• éiuerda católica", na qual, se.gun.. do :Serdiaef, "se c:r-ítica , la in:– juslicia aocial .c:read.a, por la- mala dis!rib1,1icion de las r1que:i:as con una aspereza que· haria palidel:e~ a Preoudhon y á Marx" . A cor– rente que talve.z se lenha dei• xado dominar demais pela outra (a que conseguiu estabelecer urna f o r t e tendência conservadcra: dentro da lgre1a) ,. com ísso jus~ fificando ou sile,::iciando diante das maiores brutalidades e dos mais fezozes esmagam"ntos do e ·spirito do homem é de sua li– berdade. que se êncontra à base mesma do Cristi;Ulisrr~. _ O sr. J . Femando Carneiro f•• liasse, pois. àquela parte sadia 1 do penr.amento católico. Fic a • mos devendo à sua inteljgênc~a e à sua coragem um dos mlllS interessantes livros já nascidos da mediiação sõ"bre os proble– mas brasilei:tos. Porgue, mesmo quando o sr. j. Fernando Car• . neiro aborda temas ger.>is º!' !'s– trangeiros. c o -m o "Catollc1smo, · F 1 •~ u "0 f unismo e ase smo- o, . e.rei Charles de Gaulle• , é a gero do Brasil, é o pensa• mento no Brasil, que sentimos por detrás d e suas palavras. A linha de honesta atitude diante j aos acontecimentos, essa p,ocu– ra apaixonada da verdade, mes• mo a da parcela que se ,enc_on• tra nos inimigos, os ideolog1cos e os pesso.ais - que constitúl o fascínio confess'ado "de outro ca.• Conclusão na 2.ª pág. -----------------------.. ----------- ----- ~-- --------:=-==~=- ===-- RI ~ani.ãc amanheceu com 1.1ma fo.rie. pontada qo lado, sem forças par a se levanlal". Mais tarde as cois~s p· a' g 1• n a s se complicaram. Doutor ViiQr foi c h amado, quandc· n9L . estávamos no colégio, e durante quinze dias a fio comp_a • De I-n verrío de igreja, ·a sacris.l:ia, cem aquele ar muito amarelo, muito hipócrita. · MAMÃE E Gilberto, afinal; só tem treze au.os. r eceu para vê-la, não raro duas v ezes por dia, com as .;uas - , •A • injeçoes, suas ve.níosas, e a sua pac1enc~a. . - Agora é preciso ter cuidado,. dissera. Muito cui– dado. 1\1:as quando mamãe se viu de pé, n ã o. ligou mais à,:; prescrições, enganava papai, dizendo que tomava os rezp-.é – dic.:;. Papai zangava-se com ela. Nã.o adianiav:a. - Um dia a casa cái, Lena. Ela ria: - Está m,e agourando ? PAPAI Esie menino me pre ocupa muito, Lena. Não ·mostra inclinação- par-a nada, nada, salvo literatuia. Mali litera• tui;a não dâ coisa alguma noote mund9, E' uma coit a muita bonita, muito h .onrosa, rnas sem nenhum fuiuro. E' uma fuga, uma ilusão, e é precisó pe.nsar na vid~. A vida iem de ser prática, rnaíerial,- e êle não tem a ~mínima. dls– po~ção, um verdadeiro sonhador. Lê, lê, n·ão serei eu quem vá ih-ar um livro da mão dêle, ;v: o.cê bem sabe,_mas estudar mesmo, não estuda: Não gosfa. · . M;AMÃE I,ssc- não. B~1n ce1:t,-0. Mas estuda. que êle estuda. Nã.o como Manuel, é PAPAI Você· está enganada, Lena. · V ooê per1$a qué é fSiudo, E' ro.rnance, s.ão contos, versos. . . Não estuda ·nada, , não sabe nada. Sua.s noias são pés-..-;imas. MAMÃE V.ocê exagera, não sã~ tão más assim. Tenho visto os bólelins. Cjnco; seis. . . I:m inafemátiéa é que 'êle está -1\/[arques REBELO-- (Copyright E. S. · I. com exclusividade para a DO NQ~TE, neste Esta.do) FOLHA n1aJ,:; f raco, po:rém em História Universal até vai bastante bem. Este. mês ê.Ie tirou sete e meio. E afinal n ão tem culpa de não possuir a inteligência de Manuel. ' Não que nãó seja intelige.nte, pelo contrári10, mas não é como o irmão. Nós não podemc-s igualá-los não é ? Exigir: de um o mesmo que do outro. E até não podemos. queixar– hos dê~<?. E' u m bom filn:10. Delicado; cbediente, incapaz de uma mentira . . . Não é somente inte.ligência que vale nesie mundo. PAPAI • Lá i.-;so é. Mas ;no que diz à obediência, é só para nós que a tem, creio. Os professores têm reclamado•não poucas ;...e.zes contra as suas insubordinações. Suas notas em compcrtamenlo são se.mpre ,piotes que as de aplicação, que afinal sãa mode~tas. Você bem sabe que é um cam– peão de prisões. Nãc há castigo no colégio que êste pe– queno .não tenha tomado. Quantas ~ezes êle ficou detido êste mês ? Você sabe ? Oito ! MAM.Ã.:E São COÍSc!G do colégio, de .crian..Ç!I, fQlia . . . Também os professores reclamapt demais, Não têm paciência. Criapças são crianças. Parece que se esquecem·-disso. PAPAI Bem, voéê tem certa ra;i:ão, e para ser franco, não vou mui1o com a C'1!a do pro.fes(;or Alexandre. Cheira a rato PAPAI Qua,tor;ie l MAMÃÉ Ainda vai fazer. PAPAI Ora,. daquí a dois meses. MAMÃE Dc,is meses são dois meses. tanto faz. Uma criança. Que é PAPAI Ma.a treze ou quatorze • A que voce quer ? Eu queria que êle pensasse mais na vida. Lêsse, lêooe sim, es!á muito bem, mas pensasse mais na vida, C=preen:desse o ni.eu exemplo de trabalho, comp:teendes. se que_ nós_ nã10 temos nada, e imitasse um po,uco Manuel na aphcaçao. MAMÃE Pois eu penso que cada um deve ser como Deus o fez Nd-=:sc•s caminhos já estão. traçados. Que adianta i:on; iranar? PAPAI Oue fatalismo é este téu agora, Lena ? E$tou-te es.; _iranha,nda. Foi · e.m junho esta conversa. De noite, noite fresca. festiva, bombas, pistolas, pi.srolões, rodinhas, chl.\veiro ja• ponês, miJ fogos! O cheiro de pólvo.ra excitava como chei.. ro de mulher. Muitas festas na vizinhança, com fcgue.i~ ras, danças, sortes e cantorias', e balões crivando o · céu, fugindo para juittãr-se às estrêlas. Mamãe escondia os Geus padecimentos, nao tomava os remédios. Em agosto a casa caiu. Papai be~" ~, avisara.

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