Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

Domingo, 1. 0 de junho de 1947 A ,·1.1-<MA~AO ae uma du cotec:a levanta, conforme assinalei na e r 6 n ;. ,, MlJSICA FOLHA DO NORTE 3.ª Pâgina • ea anterior, prahlemas de escolha e opção . E' precisn distinguir o amador escl«rec:ido de música do colecionado, de d isc:os . lembro-me de re, sido convidado há alguns anos atrás, • visitar uma discotec:a parti– cular famosa . No l,m de duas Aoros eu estava exausto, com ,oiva do caleclonodor, dos fo– liricantes de discos e quase até da música . O homem r i• Ilho, implacável, possuído, de •oda menos de 4 . 000 discos, laria questão de mostra, todos os mat>avilhas da suo c:oleç<io em que havia de tudo, um sor– timento completo, inclusive de• ,renas dos mais banais tangos argentinos, a música de salã,;, tecebia os mesmos homena– §ens devidos a Bach, Mozart e Beethoven . Era alucinante . Quase foram necessários o.s ,..._, ormacao '--""'": iscoteca coisa, molS belos que existem em música , "Dido e Eaéas"', de Purcell . Essa esp~çie de or•• tório ou 6pero, como quiserem 4 uma da.s mal• perfeitas ..,._ usait es" do gêne ,o Alto lirá– mo e fôrro de e,rp•es.são dra– mática, riqueza ➔r conteúdo_ re presentafão t!, , ::A:ão amo– roso, um senso <'> ato da eeo– non,ia de proporções da ópera, que já a nuncia Mcuart - com o qual possui Purcell mais ele um ponto de contacto - tudo nto faz de o "Dido e Enéai", uma pefO do mais alta impo,– tanclo , que não deve faltar na discoteca de um amador escla– recida - lá que, felizmente, pato nosso prazer, ela est6 gravada . socor, os do Assfn ência . Há certas p~s musicais •- • -\las maiorel - cuja audição perde muito o meu ver, dentro de um pequeno aposento, poro uma, duas ou três pessoas. ., • Paixão segundo São Mateus", de Bach , o "Messias• , de Han– del, o " Nono Sinfonia" de Bee– thoven, por exemplo. São abras de expressão coletivista • monumer.tal, o&,os destino– '"'s o produrlr contágio de idéi•s e sentimentos elevado, entre os homens; requerem o otmosfé ro de uma igreia, de um auditório, de um teatro. Entretanto, o amador, que pol• sul uma pequena discoteca poderá comprar duas ou três ~a• destacados do cada uma, se bem que eu, pessoal– mente, se/a, em principio, con– tra a mutilação das obrar mu– sicais . Mos, no verdade, Jen– tro do ogitada vida moderna, como arranjar tempo paro OU· vir sempre a "Paixão segundo São Mateus• rujo execução dura três horas e meia'/' . . . O problema da hierarquia, de uma prioridade de valares e de preferências, coloca-se inevitavelmente d/ante de toda a pessoa que inicia a forma– ção de uma discoteca com 200 S ó o exagero alcança êxit o. • • • Dêem-me o superfluo e eu dispensar ei o n ecessâr io. • • • As pernas de Henry Irving são sensivelmente intel~ ctuals, mas a "esquerda" é um poema. • • • Passei toda a manhã revendo as prov~s d e um do~ meus poemas, e supr imi uma virgula. Mas, a tarde, tornei " colocá-la. • • • Quando tive de pr eencher o formulário de recensea– mento declarei que contava 19 anos de idade, minha pro– tissão era gêni o e minha doença - talen to. • • • O trab&lho é a maldição dos que bebem. N ada mais exaustivo do que não conversar . • • • Uma das caracteristieas do rosto inglês é que, nma vez visto, nunca mais será lembrado • • • Discoroar totalmente de três quartas partes do público inglês é uma das p r incipais condições de sanidade, e um dos maiores consolos em todos os momontos de dúvida •espiritual. • • • Ca<la um de n6s deve escrever o dtário de outra p essoa. • • • T oda noiva americana é levada à Catarata d o Niágara, ? o espetáculo daquela estupenda queda d'água deve s~ uma de.s primeir'lS, e mesmo a mais profunda desilusão d a vidn mariial ~mcrica<na. • • • Quando os bons americanos morrem. êles vão para P aris, os m á1.1s para a América. • • • S eria mais fáC'il perder um trem pelo AJ3C do que apanhá-lo, pelo Bra<!shaw. • • • .:> li 11\.urilo 11\.endes (Exclusividade da. FOLHA DO NORTE, neste Estado) ou 300 discos . O critério mais certo c:onsirie em comesar pe• los músicos essenciais, funda• mentais: Palestrina - Bach - Handel - Mozart - Beethc- • • ven - oo.s qua,s vem se JUn• tor, entre os modernos, Debus– sy . Por e,cemplo: Mendelssohn, Lltzt, Tdtoilcovslcl, são bons mwicos, mas l1az8-los paro caso e deixo, de lodo Baclt e o, outros que apontei, será um abominável "sacrilégio" . O critério de universalidade c:ltoco-se com o de ecleti1mo . Conlesf4 que posse passai perfeitamente sem Menlels– sohn , Liszt, Tchailcovski e ton- M • t os outros: mos sem o nao co• t ;J;,,. -..r:n f!,-. p _,... '- " -L .,. ,.. •drl a vida torna -se quase in espi• rável . . . Agora, todo o indivi– duo que pretende loier suo instrução e educosão "'usical, terá que c:onltecer aqueles mú– sicos, secundá rios muitos ou- tros, mesmo inferiores . isto já é outra história . Da outra ve r citamos algu– mas peças importantes da mú– sico clássico, Desta vez quero chamar o ate nção dos amado– res de boa vontade para a obra de dois músicos do época clássi– co inglesa: William Bvrd e Henry Purcell . A lnglatlJrro, que é tão fértil em grandes poetas, nõo o ó em grandes músicos . Mas os dois nornes "º' .s i COUSAS QUE WILDE REALMENTE DISSE Seleção e Tradução de Bezerra de Freitas • • • (Contemp1a-ndo o celebre Quadr o de Frith, "Derb y Day"). Ser á r~ LT'flente todo f eito à mão? • • • Wb.istler escreve arte com - "Eu". ~,. ~ .. ' ~~ ·' ,: aos, um posto de honra ent,e 01 poise, que contribuem para o música mundial . De vei em quando, aparecem por aqui discos com trec:&os de missas, com "c:hoc:onne• ª • pavonos e "gOflllardas", de William Byrd . Comprem, srs. amadores, com– prem tudo que encontmrem f Serão transportados de novo a ésse lugar de inod.ncio que tanto omam os crianças, os santos e os poetas; a ésse •vert parodis des amours enlantincs, "l ' inno.:ent poradis, plein do ploislrs furfits" que Boude-- la i, e celebrou num poema para sempre famoso, e que o músi– ca no.s reconstitui melhor que nenhuma outro arte, dando-nos uma antecipação elo Promes– sa . Na minlto opiniõo, uma das Ainda de Purcell , pode rá ser encontrada, com relativo fa– cilidade, a célebre "Golden so– nata" , para dais violinos e e ra• "º · E por folar em cravo, COfl• vém t omo, nota do obro cftn cravistas franceses, principal• mente Conperin e Rameou . A influência destes dois grande, homens sôbre músicos conside– ráve is estó f,oje definitivo 'Ylen– fe estabelecida sobretudo a inl l11ência de Conperln sôbre Bach, e o de Romeou slibre Debus:y - o que não é (olat pouco • Volt arei ao o..<"""'º em < , o- nicos oc,~erio>f!< -------...,....-- ------- - ---- .-- - - - P.refiro a mú sica de WagneT a {'11alol!cr outra. Ela é tão b arulhenta que s e pode conver:0~!" +nr'') o t empo sem que as outras pessoas ouçam o qu1' " ,._ • • • O "gentleman" rural inglês g.alopando atrás de uma raposa . .. o inconcebível em plena perseguição ao indige– rivel. • • • (No Lyceu Macbeth). A julgar-se pelo b~<'.!uete, La<ly MaC'beth parece ser lll'!1ª ~on~ de ca~a econom1ca. e evidentemente pat~.ina as 1ndústr1as locais em favor das roupas do esposo e os 1ibrés dos seus criados; mas p refere f azer a s suas compras em Bizancio. • • • (Sôbre Dickens ) . E' preciso t er um coração de pe<lil1t p ara se ler a m orte de Little N e11 sem rb:. • • • Não <levemos ser exlg~tes demais corn ª" novelas inglesas: elas repres<ntam a única distração da u,tclectua– li<lade desocupada. • • • Meredith é um Browning em prosa, e assim também ã Bre>u.-ning. • • • O :futebol é '.lm jogo exc~1cnte par:i as mwna3 rudes, mas inconvenien,e para os rapazes dellcadog. • • • West Ken~gt..Jn é um rubú}·b10 on-de se vai te\~ oue o cavalo do fiacre C':°Ja mor lo, quando o cocheiro desce para pe<lil' informações. • • • Ser natural é uma atitude dilicil de ser mantilla. O auto-sacrifício di.>via sf"!' abC'lli<lo pela le! . De,;mo– raliza aqueles por quem o sa~rifício é feito e benef11::1a os máus. Conheço tanto fa lo com êle. • • • • George Moor e que há dez anc., n ão • • • A única esperanea de se viver na m emória d as classes comerciais é não p agar -lhes as contas. Na escadaria da Royal Academy eneontravam-se • • • diversos dos seus membros disfarçados de artistas. O Homem da Cuíc a - óleo de Santa Rosa Estou m orrendo como vivi, al én1 dos m eus recursos. - =-=--::---:-- - ------- - ---- ------------·--------- -------=~-=-- Pela ação o homem se coloca num plano avançado de co- 11-i,nda para a Bíblia: int ,eripretaç.ão, à noite, do mais enla dOlllho nh~mento e, reagindo ao mundo pela ~lência animal e ACA,_o E POE s IA trêcho do Genesis, aos oochilos dos gur is bochechudos. p ela inteligênicia humana, faz desa.parecer essa ~ssibilida- Mister Remia:lgway não tEml concessões à natureza , à pai.. de do númen-0, mando um plano ele t.m.nscedencla no qual se sa-gem, a wna assistêneia donl.!nlcal e oxig~o puro tóra era snove quasl llwe. ~se. plano de transcedencia não deve ser ~, "4\i ty" . O domingo é para o romance condepsado. Dickene entendido no sentido de sobre.natura!, mas na harmonia entre J ou Dear Biggers. P orém Mister Reming\vay, o sério burguês • idéia e o mundo. Não é qualquer coisa de extra-terreno o~ não reclama; o homem tem que atender ás necessidad~s do WD estado místl,co. _ _ Benedito NUNES__ progresso e adotar o dinamismo como salvação enquanto ou• A filosotla marxista apregoa o conhecido postulado da tros aeham-s-e p rofundamente desambientados no meio social Identidade entre a inteligência e a maf.éri a o que se p6de t:ra• (&pecial para a FOLHA DO NORTE) cont.em.porâneo, para files quasi inhospi lo. Aldous Huxte-y duzir também p ela identidade entre espirito e matéria. A sa tiriza este avanço da humanidade, a passos l ongos de indus• ~ ência já custa a dlsttnguir o sêr bruto do sêr vivo. A f ísica ao pat rão o dinamismo ão trabalhador e que taJ.vez tenha t-on- trial is1no, o industrialismo que, inevltavelmênte aleanç!ll'á ror– deu o golpe definitivo na p rete<nsa imobll:ldade do corpo inor- seguido, logo no seguin te século, o seu máx imo r epresentante mas eada vez mais aperfe içoadas. E haverá então d-ep::.rta– gâ:nlco, na p assividade da matéria, na a!ln-(lativa d eque as no habilidoso Ford. mentos de reprodução, como na utopia do escritor inglês, onde partes de um r ochedo são estruturais adlando-ee ndormooióas O valô r da ação é exa~ ra<l-0, nté o último pootc- e roes- os futur os bêbês, em boiões esperam a vida, já condicionados a e sem vida. mo desvirtuado nos países industriais modernos . De vez em este ou aquele selor de a t ividade, pela in,tervenção do embrio- A inteligência hum~na não é imperfeita mas adequa-da ao quando os Estados Unidos fazem circular pela Amé r ica toda l ogista no p r ocesso de desenvolvimento do féto. m undo: por intuição penetra no amago do sêr. O homan tem um livro que nos indica a mooeira de enriquecer facilmente Não se póãe COO<lienar o indus trialismo, po:rqu,e é camad 'l a exis tência seccionada em do is planos: um de vida real; outro ou de alcan.ça :r a "f.elicidade. & cultura da época; o que se condena é a absorção da pe:.Sôa de poesia. Nós temos o direito de rir das civilizações mo.demas coon humana pelo industrialismo . Bertrand Russell é quem me- Fõraan gra,ves as consequências do cantlsmo. I,na-cessivel a aquêle Impagável chinês Lin Yuta.n.g. i:le não gostou de resi- lhor traduz este a;nseio de feli cidade, oposto à r ig idez do "daty" essência do mundo e :imperfeita a faculdade de eompr~nder dir em New-York. Por quê os amer-icanos almoçam em pé elevando-se ao estado poético . p.la sua próp ria cons tituição intima compete ao homem erigir durante os intervalos de trabalho, apr essados, simplesmente "Qu ando chegar a hora da minha morte, diz êle, não sen– _.. pr6prl• valores de sua ação rea.l . E esta, imprópria ao por causa do dever. :Enquanto Lin Yutan,g, na Chú1a, t oma tirei ter vivido em vão. Terei visto 06 crepúsculOIS r oxos da mund-0, devia limitar-se a um circulo cada vez mais estreito, descansadamente o seu fumo, e Iê deli<:ados poemas . Engole tarde, o roclo da manhã e a néve brilban.do sob os ralos do r8$tringind o a idéia geral do homem ao cidadão, ao burguês. ao calmamente a vida em chavenas de chá; acha Kant bastant e sol universal; terei ouvido a chuva depois da sêca e o -~tlân– p roprietário . Pasasroos a lida r com o dever , com o "duty'', arborrecído e olha modestas pa:iságe'lls de arro7.1lls e pon tes fra- tico tornrentoso b ater nas costas granti.tcas da Cornua– com wna relação de obrigações ln.ter essando apenas ao indivi• geis sõbre rios minusculos. Só . Não é um h omem de ar,;ão. lha. .Elntusi,a.smedo ~ Whit:mru\, a.~ se expressou um duo. não à pessôa humana. Con1petia à inteligência procu- É estát.ico. Contempl ativo. Mister Remingway, ao contrário, cii!ntista moderno. Agúldo no instant e ond'! o tempo pa:ra "no t ar o melhor, máxima utilidade , também a máxima etlclên~a. lê paciente-mente o úl timo número do "Read er 's Digest " , aos indicativo p resoote como um fato de experiência direta". l! O inte,.essante é notar que essa fi losofi a utilitar ista que o can - sol ava ncos , no ônlbu< da fábrica. Cump r e pontualmet1te o isto é e ação. E o indú Khri.snamurti de!trrlu a a,;ão cwno ti.<mo prenu,ncii,ra aparece. simultancam n l e com o cr rsci- dever, bebe o ''lunch" que fll7. acr.mrianhar de,, :is ou três pi- s~r:do a pr69 ria vida . men to do capiitaliz.mo no século XI:C. F:lo;;:JLa qua g:1,.,,lt:a lk.. ... ~ vitan1.iuadas, de máxb:ua eli,iência nulJ..l{.i.. Hã lugar

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