Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

' • • 2.ªpágiiiã FOI ,BA DO NORTE Domingo. 1. 0 de )UJtbo de 1947 Lêdo lvo, Jovem de pouco maia de Vinte anos, 6, entretanto, no Ul<J'1'lloCll:lto, um doe mais posltiVOG valorea da maJ.s nova geração Ji– rew~a braGlllel:ra. Conbecid.o co– n1.0 ,P09ta em todo o pai&, o jo– veiu autor de •As .Lmoaglnaçôes" • "Ode • elegia", acaba de 11e &,pNSelltar ao noeso público como roroan,cillba, com • As Alianças", pllbHcado b4 dia8 pela Livraria Agir Editore.. • FUTURAS DO ROMANCE • - - - ..................•....... .. , romunet:, e ent .14 1.-H..,... •. e: poona não cilssolve, acresceuw. O l'()l'.l):BnClslla de "As Alianças"• prossegn1Ddo em aeu depoimen• to sôbrt! aa diretrizes do roman,. ce, ~-: r.óa ; Poeta COMfderado como dos mclbo:r,ee da DIIOdel'Dll poética 11a– cio11al, Lêdo Ivo, de b4 multo <lOJlquistou defJn,J tLvmnente u:m lug;11 de de!taque entre oc maJ• repre9entatlvos valores de eua ge– ração. 1 DEPOIMENTO DO POETA E RÇ)MANCIS TA LÊDO IVO - O ROMANCE E' UM G~O I:MPURO - NAO HA CRISE NO ROMANCE -Aono desn"OeSSàrio discutir ae um Nm\8uce deve ser óe$t,a ou daquel.l ma.aewa. O importante é que seJa um romaru:e, coisa Ql.Kl qualquer leitoT de qualquer qu.a.– drante facilmente percebe. o ~Entreato" de VJ.rgtnia Wooli. nao tém história algu.ma , e {: um doa rr,aiores r0Jlllln<:e$ do mundo. c a– da um taz romance como póde, J.)Qpen<le, portanto, de .stau ta. lento, de S{cU dom pessoal, lieJa ~ um Uríoo, um panlletárlo ou am realista. E a,o dlz~r realis- 1.a. confel.&0-~ que muitos ro– manelst.as de costumes, p reocu– pa.dos ém rei.ratar com a tnaiOil' exatidão a vida, oa homens e os aeu. dramas, têtn-me parecido e.q>antosamente lrrea.ls , enquan– to romancistaa l:aci\ados de ''in• irospectivosu - como é o C.'!So de Lucio Quodoso e Otáv1o de Fatia - são paro mim de uma rea!~ e de uma fidf'lld.:;;te à vida 1.tr4>ressionantes. Escrever romance .:, criar, e não copiar. ~ ajudai- a descobrir o grande d~onheeldo que é o homeia. Esta foi a tarefa de Dostolewsld, 1 • ••••••••• - . - Como romancista, • crftiea 11- teráTia plltrlcla 1~ assinalar, em função da i,ublicaçáo de • As AlL anças", o aip&NICWento de um dos mala inquietos e b.r.l.lhantes ci:tltol'ell do gênero entre nós. como taimbém para comprometê. lo. ~e, ekmentos. de ordem politloa, social. clenttflca, eeonô– mb, religloea, etc., são rei;po,n– sâv-el.il ou por grandes vitórias, ou Por fl'Bndes daiastres. AlJãs, desde o "Dom Qubf<tte", ao úl– timo "vlent de i)ar,aitre", óoseit• va-se um multl!f!do e descan,. certante dese.nvolvimento do ro– manoe, Que ee transfigura em estilo, em téc.n!ca, em dimensão, uma vez que existem o •g!ne– ro", que é o elemento estável. e o "romancJsta• , que é o elemen– to dinfunico, este oferecendo um romance que é diferente de tod09 os romances do mw,do, dando novas perspectl,Vl!:!I no caso de sua contribulção ser notâvcl, tor– nando-o portador de sua ~--peri– ênc1a pessoal, ou ~o chegando a lnventâ-1o de novo, como fi- -- Almeida FISCHER -- Mode e ~ .., slneeramente lhe ooníesao que não e:nconlrO nele 11 pecha de irrealldado e de tuia que se lbe atribúi, Nascido da epopéia, o romance é o !'ilho Pród.lgo da poesia. Não serta ooodenávei que êl1! voli.aA!se il Cosa Pal,ema, depois de tantas viagens e a~turas. (Exclusividade da FOLHA DO NORTE, no Par,) "la Alianca.," é um romance que col.ooar6 o jovem escritor entre os bons romancistas moços do Brasil de hoje , Lêdo Ivo toma parte a,ora no Jnquérlto que vt1DOL1 :reallundo entre os n08SOS escrltores • res– peito das dfretrizes futuras do romance no Brasil. Vâria, cr1tl– cos e ell38Jstas mo de opinião de que o l'Wlla:nce atravessa no mo– mento, em:re 1168, uma :fase de ~ stagnaçio, de decadênela. NQS.. S'o lnquél'ito Vfaa indagar quais serão u diretrizes futuras do romance em nosso pak. O romancista de ªÁJI Aliantas", part!c!~'lldo de noeeo "enque– te", di1:· zei,am os esqui\ 06 e rcvolucio– náTlos Kafka e Prou..t. Oonttnwul.do nas suas cieola• rações, di1:-nos Lêdo Ivo; -Cdtka..se atualmente a dls– soluç!io do rmrumce, atribulndo- 6e este a várla!I evl<lências, como o "romance poético", o roman– ce Interessado, portru:i<>r de uma m-gem PQlitica, ou o r01nBD.– ce co-reportagem, Entretanto, observado o problema detlrlan....n.. te, verlfioaremos que essas cate– gorias só existam a.parentemen– te. O que faz a gran<leza do ro– mance está a1:lma dêssea geT– mes e dessas Idéias que ele tra.a em si. Estes s!io e1ementos pere– civels. que o ligam à sua ép0ca ~-------- - e â filosvlu, d.o tempo, enquanto o romance, espelhando o seu autor. u.1:tra,pn.ssa essas iroote!– ras, f1rma11do-se em nós l.'m seu r;lmult.âneó IIClJtido de person.a,– lldnde do cria.dor e genJalldade de crlagâo. A arte tennlna em Ili mesina. Sua etcrni.ci, ,de vem disso. MGaerra e Paz" não é grande por fo,-alluir a JnVUBão napoleônica, nu:..., por ter sido escrito por Tolstql. As teorial e as intenções de Zola e Balzac, são as ma is ingênua:. J)OoiS1 veis. S.?us romances, entretanto, vt– ve,n hoje, a,pesar disso, o que atesta o gênl.o de soiu crlodores. -Quanto ao c:haroado roma.ice p(>étleo - pros,segue o autO!l' de Nada mnlc real do que um ll• wo de Virsfnia Woolf. .rean 01- radoux e Roeamond Lebmann. que sendo ao mesmo tempo ro– manel.etall e a.rtl$t..-is, aouberam vêr certos asped.'OS das coisas e da vida que constituem verda,– dell'IIS d89C: obert.as, _poi~ existem. Pelo contrá:r!io, acho que ê1ea em mu.Lto contrlbwam para au– mentar a dimensão do ?Omance, c;ipac:ltando-o para abrigar algo Que lhe falta, e cons'..ltõl maté– ria romanesca. O potitico, em o mirlor d.e todoe. Firuiliundo seu depoimento &ôbro o gênero ront.ince, o poe– tl:1 e romandst'a Lêdo Ivo decla• ra-nos: ~ta--me você se existe crl6e no romance. Sua pergunta po1ie ser res;pond!.da de dois tno– dos. e ambos absolutamente ver• d'!tdeiros. Tanto posso· aflrmar que o romance sempre esteve em crtse, como dl.zm- que jamais o f'SWft. Se-rlia !ngenutdade aflr– .mar que esta crl9e se estli proces– sando emnooso século, que já nos deu Pirandcllo, Virgln!.a, Wooli. Proust, Joyce, La,vrence, Faulk. ner, l\faurlac e twos outros. O que hã, em minha O'l)lnlão, é um des:nen-.bramento constante e inlnte:-rupto do romance, reali– zado tanto em s u a maté• rla f o r m a l e01no em sua derurl-dade substanctai. O ro– mance, sendo um género que as. ptra à fixação d.:! totalldnde do hoo:ncm. à representação da v!da e lntetlpretação das paixões hu• manas, é um gênero Impuro, cerc3do de elementos, que o nu– trem niio só para enriqu~-lo, Conclusão da 6lt!m.'1 pãg. tôllco da esque.rda, o u . Alvaro Llna - fuom do livro do 81', ;J. l'ernando Cei-nolro um documen– to pollUc:o de no11.1& époça e do• A ESQUERDA CATôLICA E A RESPON– SABILIDADE DA INTELIGENCIA p:ra,,mallilroo começa all\m do J.1.. vro do ar . J. Fernando Cu:nal– ro, como começa al6ro da porta doa laborat6rloa . E 6 por tuo Q1l8 a sua ação pragmãiica e aa– lufar 6 tanto mala f or!e quauto mala desb!JueJ111adot1 f~m 01 tnbalhos de po11qulsa • de medi. fação. Nem por ouuo motivo, dizia Chell1e:rton. er:n HOrlodo– >cfaM, que quanto mala transcon– denJal f6r o nouo pa.trlottamo mais prillca ur, a nossa poli– t lca. -Quanto à nova geração, e lleU ~to diante do ro– mance, 'llada sei dizer. J á S'Ul'– gJ.t'llln algumas estre•a.s adm1~– vels. AJao, entretanto. me auto– rizn a muito espera,:- deles; é o destino do homem. suas !>!llxóes e lie\13 dramas, o que os ))rC'OCU.• pa. ~les estão no caminho cer– ~o. fabricando vide humana para interpretã-ta. elueidã-Ia e espe– lhar nela a sua inq~ttide e oa seus sofrimentos. O resto. que. allás, é quase tudo. é com êles. Espero que sejam artl.qtas, pois o probl=a do roms.n~ é tamb~m o probl-emn do e~tllo. b.f Jll rmé jâ dlz!a que não se deve e~cre– ver literatura em estilo de jov– D41 l. Além li-o tnms, de nada s-erve a alegaçlio ~ que Stend• hal consuJtava o Código Clvil -para conter os .lmpetos de sua narração. ''La Charl:reuse de P.tt .. n,ew é um e:x;c.m.plo de que não hâ nêle êsse despojamento, essa linguagem ~- mal■ importante■• li: c:luo que iue· não ap:ruenta programa• do govêrno, nom f6%– mllla• tripartida■ da aoluçõe• •l– m6tri<:a■• Mas apresenta o exem– plo de 1UXI ho1ruu:n que enfll'en• tou com nrenJdade e ;problda• de ot1 problemas de NU tempo • de RIU pai'.■ • que não temeu desaflu com a■ IIUU concl.UIÕet pow:o convenclonals, as ldém utobeJecldaa e o uqueroso ten– so du couvenlenclall que tem feUo do algum do■ lllembl'OI mala Importantes da lgt,eJa os cúmplice■ de muUos doa maiores cri.me ■ contra o homem. Talve:r, por exemplo, se pude111em reli• fJC"l' algumas du oplnlôu do ar. :r, Fernando Can>olTo, como 110 caso da quutlio lmigrat6rla, ~ qual. a meu vez, 6Ie foge do um exce150 pua cair muUa• veses no exC111Ro oposto. Mas, de qual– quer forma, ~ • em outro■ pontoa, om que Ulllll dlvazgêncla puramente peuoal e talvez opina– tiva puda■ .. opôr-se às ldélu do sr. :, . Ferrumdo Carueiro, o q11• não se pode D.e!Jlll' 6 a 1.■ençâo e a lntellg&ncla com qu• ae atl– r a à medllação de algun■ gra– ••• problema■ polltlcos e •drot– nl■uatlvoa do Brasn, dl!IJld.o-no• -qm oxemplo do que póde 11. 1.Júe– llgbc:Ja alcm1çu se r ealmente dlspo1ta ao treJ>albo delllntares– eado. Talnll pareça confr8d.U6rio folar (lo trabalho dealniarena- do da lnJallgOncla a prop6aUo de um llno pragmátlco domo e■te. Mu 6 junamente isso: não 6 Uvto que conJoralone ot fato■ para domonet:rar wna teae. não 6 wna lnlarpretaçiio tendencl~ se doe aconteclmenlos, não par– te dai co~to■õea pua as de– monatraçôoa. É por hso que não llesUo en, lhe atribuir o cua..ter dealnl<,reuado pelo manos qunu. to aos medfocr•• l.nlexene■ lro8• 41iúo■ que geralme.a.t.e dominam ot1 ellCl'lto■ polillcos no Brull . O seu único ln.terêua fol o legiti– mamente lntelecluaJ de encontru ■ol-qi,âo para certot1 problemu que not afligem. Era. portamo, o lnterôssa do clentilla prOCll– rando a equação decl■iva ou a f6rmuJa dum medicamento. O Honrando o pe11.1amanto cató– lleo, o ar. :, . Fernatldo carnal• r o ma vallosa contrlbwçiio para o esclarecimento desta 4poca de confu.■ões, • la a fntellgêncla. mal■ uma ves, for desprau.da pe– loa qua manejam ou .,_n9am ma– nejar aa chaves doa acontecimen– to■• ru,m por luo ae sentirá dl– múlulda, por que. aunai, o nu de. v11r está cumpxldo. Conclusão na 7.• pàg. R.10 - Muitos leJto res do Breviário de Es té tLco e da 9,a.nde Es té tica de Croce terão mõlhõ, cõmprãeiidldõ ã ãtuãçáõ iieiatlva ,õ f ilósofo da ente. destruindo p1econceito1 • supe rsti~ e• , do que os mé ritcs politivos do crít ico que dominou durante 40 anos a l ite– ratura italiana. Como filósofo, Croce é '"" nome universal . Como critico, nlio; porque esta 1ua atividade se exerceu dentro de uma l ite ratura que no século XX Já não está no primeiro plano . Como efeito, só um poeta italiano do século conseguiu foma mundial : f ste mesmo D' AnnurtZ"io que foi Implacavel– mente combatido por Croce, anhn como o filósofo não con-cordou, maia tarde, com os elogios de todo mundo a Pirondello . Seria in• t<lressante d ivulgar essas critica• •demolido– ras" . Mas- para conhecer a método cr(tico de Croce - e111 qua lquer parte a crítica li– terária lucraria com isso - é pteferivel es– colher suo a116lise de um poeta menos conhe– cido no estrangeiro, porque neste caso nlio temat de vencer os preleonceifoa Internacio– nal■ Cqve to.mbém são 01 nossos) e111 favor do criticado, podendo obsel"YClr coM colmo 1naior como Croce destroi os preconceito, do, uus conten&neos . Depois não será dificil apl icar 01 mesmos proce,,os crítico• a outro■ poeta,, mala divulgados fóro do Itália . Giovanni Pascol : é pouco conhecido no estrangeiro . Ma■ na Itália, é o poeta mais lido doa tempat modernos, muito mais do 41ue D'Annuuia ou qualquer outro. Em 1906 estova na a119e da sua carreira literária, fes– tejado como espécie de "Poet LauTeote•, da naçlio italiana, quando Croce, a:ntõo ainda longe de ter o grande autoridade de tempos pos teriores, lo:nçou Se@ ataque formidável, o artigo 11G revista "Crítica" (depois reestam– pod.o no quarto volum.e da obra La Literatu. ,a cfella Nuovo Itália}, que é um dos docv– men tos tllais importantes, talvu o mais im– portante, do cri tiiea llterário italiCIJla em IIOSSO tempo . Poucas palavras bastam para caracteri– sar a índole e significação elo objeto daquele ataq11e . PascoJl nosc:eu em 1855 llCI Roma g– na, filho de camponeses . ~eus primeir~s . '!º· lumes My,icae e Poemett,, 1uaves ,d,ltos c:amp;stres, alcançar~. '4!9º po_pularida_d_e imensa devida à 9lorif1ca5110 da v,da fam1h• ar e p~rticufarmente da vida infontil; é co– nhecido o grande amor dos italianos às cri– a nças. Também f i•eram fortl: e feito, ~s alu• sões perma n:entes do poeta o traged,a dos seus próp rios anos de menino, o,fão de pa i a ssassinado. Depois, Pascoli conquist cru os elites cul tas: foi gra nde humanis ta, ve rsif i– cador hab il íssimo em g rego, la t im e vó1ias linguas român icas, e nos Poemi co"vivialJ sa– b ia restabelece r o prestígio do poesio classi– cista, tõo cara a os professorei, renovando as Imortais lendos gragas, t rotando-as realisti– camente coftlo !e fôssem acontecime:,tos con– tomporôneos da vida rústico italiano E.n– f ir,, nos Odi e r nnJ, Po«oli rcvcl~u-se como adl';>to da "Htérot ire enganée", pregando o p:uafismo, um ncei?nolismo m•dcrado. por restrições éticas e 11m socia l i~mo humanitá• r i" justamente o, iJccis da humonidc:de eu– rop "o antes de 1914 . H;r(!uc·a, ano,, Po•– ,ofí foi a voa d:r 1111(!10 - quanllo o jov c rítico Crocc lhe lar.sou o dc1af,o do uma ÇROCE, CRÍTICO DE POESIA --Otto Maria CARPEAUX-- (c • ht E $ 1 1 s•v·dadc pora a FOLHA DO NORTL neste Estado) opy119 • • • com eicc u , , critica demolidora. Contudo, Croce começo confessando-te admirador do Pascoli . Não podia dejxar de 14,-lo, porque Pa■c;oli dorn.ina aoberanamente a língua, usando ê1se dominio para a119erir ao leitor aentimentot como aa fôn81D acoNfes musicais; e ião sempre sentimentos d ignos, elevados. Mas a admiração não fica irzertri– ta , Croce crnali1ca, verso por verao e palovra por palavra, algumas poesias de Pasc:oli, jus– tamente doa maia famo1a1; e ,empre encon– tra ao lodo de versos excelentn outros, em nlÍln81'o major, quo prejudicam o efeito total. Pascoli, exultando quando conseguiu uma expressão fel~ parece no entanto desesperar do 1Ua própria ccrpocidacle de monter-ae no altura: estraga 01 efeitot bem reafixados, ,e-– patiAclo-os em numero■as eatrofes 1upérflua1 . Enche assas e■ t.ro.fu com pormene>res realis– ticos, prosaicos, c:laegando a de■dobrar ima– gen• e metáfora• como te tivesse q,ue des– crever obietos 111oter.ioi1 . A coatracfl560 per– manente, na poesia de Pasc:oli, entre senti– mentalismo augestivo e realismo descritivo, já q revela no forma: às vezes, o poeta es– ,;olheu um metro tipicamente épic:o para e1- crever pequenos quadros idílicos . Mas sabe fa:zer esquecer até u falsidade, evidentea pela extraordinária habil idade lingu ística, de modo que o leitor cri tico nunca está certo: obra-prima ou "postiche"l Admiro e reieita, ao mesmo tempo, essa poesia. tivo, a presença de um artista experto, ate de um virtuose, dono de todos 01 artificio■ modernos. E essa artificialidade chego ao cume nos grctndes hinos, dhc11no1 "'etrificados de eloquência e ficiente e povco prec isão ldoo– lógica . Quer dizer, as duot ou trit fc»es de Pascoli definem-se pelos mesmos elemento, caracteristicos, embora em doaagem diferen– t e . Nõa .é pouivel a sepera9áo nltida do, VO• tores e defeitos conforme a cronologia . Tal misturo de valore■ e defeitos é fe– nélmeno frequente na poesia . As mais doa vezes, é cortsequência do evolução do poeta, aeja em franco ascensão, libertando-se gra– dualmente dos defeitos, seja em decadência perdendo g radualmente os valores autênti– cos . No caso de Poscol i, o foto de evolução é i.negóvel; mas já foi interpretado de ma– neiras diferentes . AJguns críticos encontram "o verdadeiro Pascoli" nos idilios juvenis da s Myricoe e Poemetti, a chando que êle niio possuiu bastante fôrça pll1'a exprimir grandes ideais em odes e hinos . Outros críticos, ao contrário, conside ram aqueles idilio1, openas como e:1e rc1c10s sentimentais e mé tricos, anunciondo a gronde mes tre das odes o h inos de conteúdo universal . Croce não desprezou nenhuma dessas duas i11terpretações. Reco– nhece nas Myricae e Pocmetti os e11ca ntos do idilio bucólico; mos também observo n1lles a inte rvenção continua de um lirismo mel'.~S despret ensioso e a té de um moral ismo didá– t ico - o, mesmos eleme11tos que cons titui– rão, moi1 tarde, a "gra"de poesia., de Pasco– K- Não se póde portanto ofirmor a superio• rido de absoluta daqueles poemas juvenis . Mas o intorpretaçáo contrária não é melhor. O, Poeml conviriali apresentam em formai clássicas os temas simples dos idilios. Ai Pcucoli pretende dar "realismo primitivoº, como dos primairos dias da humanidode, algo como poesia homérica; mos a col""raroçâo dos ,eus poemas cem os episódios da lic;me– ro revela logo a falta de sim;,licidade primi- Talvu dependa, porém, o confusêio do elementos bons e menot bona da inspiração material do assuntol Pcucoli começou como p0-eta idillco; e o idilio flcou aempre seu ide– al . Daí o preferinc:ia polos a11unto1 do viela infantil porque todo mundo aosta de con1i– detor o pr6pria infoncla como ldilio. Ma, o que aignifico a poesia ldilical O idillo prete.n– de simplificar • vida, elillliacrndo dela a luta . Dai o faltldade de muita poesia idilica, mero evasionismo, mentindo quanto la veNfadeira indole da vida humano que é l11ta e ■ofrimon• to . Mas PascoJI aõo mente: é poeta autênti– ca porque homem alncero . Não é capai de falsificar seu ldilio poético, pas■ondo ■ob 11- lên,c:io as reminiscêncías doloro■a1 do sua próprio e de tôda infan~io. Ao contrário, aludo muitos vexes às suas experiênclas de otfiio de pai assassinado e do mãe paupérri– ma . Pascoli é poeta dvm idilio trágico . Se11- te com todos que sofrem como êle sofreu . Niio Ignora sofrimento e luta: mas pretende d iminui-los, e, te for possível, ve11ci-lo1 . Dai a sua "filosofia": é pacifista, sem negar a necessidade de uma último guerra para li– bertar a flumanidade sofredora; é 11ocionalis– ta, porque a Itália é principalmente . ~ma naclio de pobre, e humilhados; é soc,al,sta, mã's ii base de um nobre idealismo cristão, human itário. Eis a filosofia p u.romente sen– timental dos grandes h inos do Poscoli de V► lh ice. Mas esta mesma "filosofia", cheia de in,oe rências ideológicas já aparece nas con• siderações n,oralistos n1>1 p rimeiros idilios ; volta nos poema, a.ntiqu izanteJ, obras de um greg,o moderniz:ado , "batizado.., e só nos hinos, êsse ..evangelho" do "Tolstoi itol ian_o" reveta pelas ftaqueira:; a rt istica1 a s~a in– compatibilidade com o tolento poético de Poscol i, q11e é poeta idllêco . Es,a co" tradi– çiio intima reage como um veneno dentro do corpo da poesia pa scoliona, decompondo-a . Doí o metro épico que Jó desfigura a lguns dos primei ros id ilios . O próJ?r!o Pa~coll, In– tel igent íssimo, mas 1em suf ,c'.cnte aut~-c rl• tica, ■entiu vagamen ta o defei to. Por isso, nõo acreditava nunca t er dito a palavra de– finitiva; esgotou-se em repetiçé!ca i11útei■. Em vão pretendeu apóio na realidade, tornan• do-so poeta deacritivo de pormenores p ro– saicos. Começara com a p retensão de reco11 - du:s:ir a humonldode à inoc:llncfo da l11fancia o acobou mesmo como poeta infantil , mas 1cm inocência. Imagino que ne~hurn pOl'to node ler S"e estudo de Croco sem ct!rto h' -,, lem– brando-se das palavnn litúrgica,: •PerQnte ' a Tua face, quem pcrnará; 6 Senhor?" Ma s quando 01 poeta, tremem, os partidlirios dos poetas t e enful'ecem . Sabe-:re quo a intolo– rancia estética é mais fonótica do que a re– ligiosa ou a polí tica . Antes se perd6o uma blasfêmia contra Deiu ou uma lnvectlva Cl>n• tra o Pcutldo do que uma restrição ao poeta do preferên eia . Aquele estudo da Croce pro• dwciu uma tempestade . Chamavam-no de iconoclasta . Âchara111 a tua crítica demoli,. dora, negativa . Mos não se póde afirma, tonto: pe lo meno,, Croca conseguiu con1trv lr uma imagem completa elo objeto da sua cri– tica; aproveitando-se doa pedaços incoere.n– tes da poesia de Pasc:oll, unsegulu reconstnl• Ir a pe rsonalidade do poe ta . E ena observa• ção permite conclusõet importantes .  critico liter6rla., por mais "positjo,11'9 e construtivo que pretenda ter, alta pôde che- gar muito além daquela •construção da personalid.ode .:lo poeta• . Ãlém disso. 11 critico só poderia dar uma espécie de con– •elho ao poeta para ile emendar 1eu1 de– feito, - ma• isto é impossível porqve à critico mode1na falta a lias• de 11111G estéti– co dogmática composta de regra, • axioma, inv.arlávelt . O classicismo po11ula ama dog. mática assim . O n,manti11110 aubJetlvisto, cfestrviu-e para 1e1119re . Com iaa atá exa– tamente definida a posição da critico Croce: entre 01 resto, acadimlcoa do claalci■mo de um lado, e doutro lodo a enfaso rom8ntica . Foi, ao mesmo tempo, a poslç15o do próprio Pa,coli, entre o classicismo dos últimos adep– tos de Carducci e o nea-romantismo de D'A11n1111xlo . Ne■se dilema Croce pretende. mante, a exiglincio da verdadeira, da ºgroa• de• poe■ia . Ma■ não a encontrou entre 01 contemporineos de Pascoli 1tem neste mes– ma . Dor o conclusllo de Croce de que o cri• té rio para Julgar 01 poetas ce>nfemporaneot, não se póde nunco encontrar nos próprios con– temporaneos . Dai a ■ua observa~l5a cruel: "Em seis sécu• lo■, a litet'atura italiana {que é uma grande llteraturo) só produxiu dez ou quiHe poeta, autêntic:os". Estes, êle chama de •clássicos", sem consideração da época ou utilo . E confessa n1111co t er começado a critica de am contemporôneo sem se submeter antes oo "exercicio espiritual• de uma leitura 'loque• les •clássico,•. Levantar-se-li contra êsse método a acusação de passadismo . Mas ai é fácil defe11der o critico, 20 anos depois da– quele estudo, reconside rando a poesia de Pascoll, Croce reconheceu 110 infontilismo intencional do poeta, a rai.x do primit ivismo moderno, que nos a dultos se to r11ará borba– rismo; na sua mistura incoe rent e de naclo• nalismo e socialismo, o reria: do fascismo; e cfeste modo o passadismo do humanista Pas-~ coll perverteu-se em f u turismo de Ma rine ll i, em foce do qual preferimos o •passadi«mo• lnflexivel de Croce. Po rquo list e possadismo nêio quis reagir contra a época "moderno" e sim openas manter o n ivef ameaçado pelo consideracõo e,oc:Jusiva do que é moderno. A luto de Croce contra a poesia pascollana é no fundo idêntica com a sua luto, 20 anos depois contra o fascismo que já não apena, a meaçava o n ível do gosto po~tico a sim o n lvc;I Intelectual e 1'1tornf do h111,-a,,;t1.. .rc . Nc~ta aenti,Jo a critica "c'cn,olldaro' ' de Cro, ce foi unta critico bem construtiyo . •

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