Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• • ' • a a II W il - 1? 1 ■ • -•- • -• - • • - 11 -■ CI&•• 1 • JORNAL DE CRÍTICA .......... , 1 Alvaro LINS (Ex,clwlvidiade da FOLHA DO NORTE, no Pará) • • w,,■- • •• •-• • • • • • • • •• •11 • •• •- •.. ••••as • " - •- _ e_ , _. SUITE BARBACENENSE N. 0 2- 1942 \ • MARQUES REBELO (Exclusivida<fu da FOLHA DO NORTE, no Pa1,á) . Aqui está, traduzida agora em português pelo sr. Qscar Mendes, uma biografia não A "Cidade de Ba.r~acena" que tem trlnta e cinco anos de serviços j.)l'r.alisticos prcst.n., muito recente que podemos apresentar como ideal no seu processo histórico de elaboraçã<l e d0'S à cor..fusão que se dá o :ion,; de po1lt1ca muttk·ipal. tem em J CG6 RahnunJo da Silva, o como obra completa na sua realização em livro: Israfel , vida e época de Ed_gard Allan r>oe "Cearense:•, o üpóg,rafo rr,n-i'.i leal 1: pé-de-boi que já :funcionou em oíici11as gráficas. A "Cf. por Hervey Allen (1). Não que ela seja perfeita em tõda a sua construção, que seja dessas dade de Barbacena" sai todos os dias o que é raro no interior, mas como P aulo Gonçalves construções ante as quais .ficamos apenas contemplativo.s, em e§kido de admiração pw·a, sem é um jnrrutli:;ta s,ulgenE'.rls às vezes a~rda e diz: "Hoje não tem jom:al". l!! niío tem n 1 esmo. o desejo de acrescentar ou re- - --------------------------- - ------------ ·------ E ' gue o jo.nóill.sla tem um tirar alguma coisa. Não; em passeio importar.te a dor ou lsrafel, o gõsto de tudo dis- deseja apr~íar in-locun1 a de. cutlr e esclarecer coloca às tesa de um c.rin1lnv90 de Blaa vezes o autor mais no tenreno Fortes que hã de ser fatal• da história geral do que da mente abso,lvido pela ágil e b istórJa especializada que é a desconcel'i'rnte verbosidade do b iografia; em outros trechos, a<i:vogado José Bonüáclo Fi• ela fica de certo modo entu- • lho, mais conhecido por Zé- fada pela abundancia da doeu- zinho. mentação diretamente apre- Co1nun.ente são recusados sentada; enfim, o seu esp{rito • artigos de colaboração sob a alasla-se às vezes da estrita alegsção ele que não btl es- obj eLividade para assumir ni- Domingo, 26 de janeiro de 1947 ---- --- Dl:re1ol' - PAULO MARANHÃO ' _RVM. ___ ti-- paço nem para os anúncios. o tidamente um caráter polêmi· ------------ ------- ---- ______ ________ .__________ --- que não é verdade porctue o co na discussão ele idéias, factos ou aspectos lendários re - jornal só tem anüncios. lacionados com Edgar Allan Poe. Nenhum desses defeitos, aliás, deixa de ter uma explicação razoável ; por cada um deles '.;r~**************************'*"*tt..Jnlr:H Paulo Gonçalves, um jeito de Carlilos, nesvoso e apabco- 1111.do, espandongado e brincal)lão, eternamente desp.?ni:eado, loi colher um~ assinaturas pelos distritos. Em R emédios, o f:u;endeiro casca-grossa quis se dewider do gol{.e: é menos responsável o autor do que o assunto no estado em que êle o apanhou com a exigência de ser reviSito em todos Cl6 sel.18 elementos. lsrafel é um ponto culminante na história de Edgar Poe, com a obrigação, portanto, de considerar o b ióg ra:Co tôda uma enorme bibllot,rrafia anterior, examinand-0-a c:om implacável espirilo crítico. Porque vinha assim desfazer ilusões, corrigir errós e destruir aspectos lendários, introdu- 2.indo, com as suas pesquisas, afirmaçóe6 diferentes e factos ' • . ...... . ...••••• • - - Eu não tenho tempo para lêr jornal, moço. -- Pois enliío o meu jornal é o jo.rnal que lhe sexve, ooronel. Não tem nada para lêr 1 XX X ialé ent.ão desconhecidos ou desdenhados, o biógrafo sentiu (Especial para a FOLHA DO NORTE. no Parâ) Se os barbacenenses investissem contra os alemães com o mesino ódio com que dão cabo das suas pra~as, em um mês ll Alemanha não teria wn únieo habitan<te. A Companhia Te– Jefôuka foi edifi<:ada numa praça, uma pequena praça Lriangu. lar e flol'ida que enleirf.ava muito a ladeira da Cadeia. A Mater– nidade foi construida numa praça. A capelinha da Gló,ia foJ oom certeza. a necessidad-e de invocar uma grande documen– tação. valoruando largamente dalas, detalhes e acidentais epl· sódios par a torna r mais convincente a sua posição revisora e ~e.formista, colocado assim num terreno em q_ue seria qu~ ünpossivel salvar--se do ânimo polêmioo; do outro lado, porque Edgar Allan Poe vinha senrlo interpretado e sentido de ma– neira bastante arbitrária, como se fosse uma genial aber1-ação, Buscou. no amôr o bálsamo da Tida. - - - - .. . ... . ,, . . N ão encontrou senão. Teneno e morte. levantada noutra pr11ça. O clube principal - porque há doi.s clubes, por motivos que dt'l)Ois se explicarão - foi construido também nume praça que ficava nos Iundros da matriz. :B oomo sobrara wn espaço de praça entre o clube e a matriz - tTa impollslvel perde"l' um teiw-eno tão precioso! - deram j6to doe espremer uma Estação Rodoviária, caso que teve 1 aua d06e de eS<:ândalo porque o senh1>r vigário achou um ab– surdo e protestou junto ao Patrimõnio Histórico. M:is a ver– d'ade é que o vigârio teve que pedir a sua deriUls~() e a Estação Rodoviária hã de se tornar mais um orgulho barbacenense. L eYaniou no d_eserto a rocll•forie un, monstro literário, solto como um fantasma no ~po e no esp;iço, o biógrafo voltou--5e com decisão para o panorama da história geral, de$Crevendo-a e explicando-a vastamente, no empenho de situar o poeta denb·o da época, ligando o artista Do egoism o1 e a roca em mar f oi submergida 1 excepcional ao desenvolvimento da sociedade dos Esta<ios Uni· dos da América no período 1800-1850. Depois de muita pena e m u ita lidL De qualquer modo, ainda que tomados estes pequenos de– f~itos do livro -em sen.titl'O absoluto e sem qualquer explicação, Jsrafel é uma biog,rafia ideal como processo e ccmpleta como realização. Pode ser considerada sem dúvida como um livro– padrão, como um livro-exemplo, eomo um livro-típico. Invo– cando Lytton Straehey, o escritor mais perfeito, mais hooesto. mais ai'tlslico de outro mod~lo de biografia, da qual foi o De espan!OC10 ca çar de toda a sor!e1 XXX Ve.n ceu o monsho de desmedido p orle O frio espre»ta o povo na sa lda do cinema. XXX A ulul an!e Quim,ra espaTorida 1 Bemanos andou por Pirapóra, não sei se apanhou malária lá, mae agora vive em Barbacena. Tem um sitio noe ar.redo– N6, ma.s !requenta razoavelm-ente a cidade. • criador e que aind11 hoje representa excelentemente com seus livros não superados por qualquer disclpulo - a chamada bio. grafia moderna, a que se acha na moda a-través da vulga.ri– :t.ação que sôfregos lmitatlo:res fizeram d a a,rte do mestre ln· glês - ouso confessar que prefiro Iarafel à B.a:lnha Vitória. apareeendo aqui eetes Utulos de obras não com o intuito de <lOlnpar&r pessoalmente os dois autores, mas, através dêles, dois ,gên~ros de biografia, dois prooessoe de elaboração histórica, Quando morreu. línguas de sangue ardente. Um do.'.i seus costumes é escrever nas mesas dos cafés, i11- teirament.e impermeável a06 rumores cafesinos, e o bar Apolo é o seu ponto predileto para escrever sôbre a Fr~a. sõbre Cristo, &Õbre OIS máas oatóliCOfl, etc.. Alelula,s de fogo acometiam. Se é de Barbac:ena que .vem datando os seus últimos 1?6- crito.s, Barbaoena não o lê ou quase não o lê. Admite-o com a mesma simplicidade com que acha culto e talentoso o re– verendo padr e Sinfrõnio - também defensor da F ran~ , de .Cristo, e ininíigo dos máus católicoe - e'Jl-vereador, ex-depu– .tado estadual, amplo, chapéu de feltro p:reto, há trinta anoe vib1·ante sermonista na Procissão do Enconlto, p~a que ar– ran.ca lágr.imas e que ninguém desconfia que é a mesma há tri:nta anos. Poo;que Barbacena é privilegiada - não precisa lêr para ser culta, já teve um Correia de Almeida entn! os 9e\lS filhos. E enlão está flrmP..miente eetabelecldo que o senhOir Benianos é a quarta inteligência do mundo. duas maneiras d e realização. Quer dizer: prefiro o tipo de biografia qu,e &rafd pode representar como exemplo neste a rtigo ao ' outro mate estimado pelo públwo, que está repre– sentado tipi<:amenlle em A ltalnha Vi tória. Pessoalmente, como escri tor, é e vidente a superioridade de Lrtton Strachey• em ~-elnção a Hervey Allen. Straclley é mais artista, revela sem• pre maior agudeza e senso de bu.mour, compõe d e maneira mais bela e agradável. Contudo, as suas biografias, sendo ad- Tomavam lodo o céu de la d o a lado. E longamente, indefinida.mente. Como um côro de Tentos ,acudiam Seu grande coração trantsTerberado. miráveis, não devem. ser tomadas como modelos ide!lis, nelll como realizações completas. E como se explica esta aparente contradição? Pela circunstância de que Straobey nos oferece - Mcinuel Bandeira - Q uem de primeiro me notitioou lsso l<>i Conceição - nqr– malista pelo colégio das Irmãs, eomedianbe amadora no colégio óa5 dilas, :i:legre como um p3S5arinho, e minha prima. Em (~ Continua na 2.ª pa.g,) 'Ei,"' Oonclll'lâo n a Z.ª JHIJ,) --------------------------------- -----------------------------,·----- !ANTE de all\lllUUI fotognllas pertencen- D tu ao arqutvo do .Patrimônio Histórico e Arti!!tlco Nacional, assalta.me o desejo de convocar os poetas. os sociólogos, os pintores, os romanclstas e os músicos do Brasil e pedir-lhes q ue vejam, mn vejam longamente a tcreja de Almotala. AJmo:tatll, como Troia, não é: foi. Foi um aldeamento de fndlos tren1embk, a maia de cem quUõmetTOll a oeste de Fortaleza. Eln 1608 esta– beleciam-se os jesultas nas 'j)raiaa cearenses, co– meçando a eatequl2.a.r os selvlcolrul chefiado• por J'urlparJguaçú, ou se1a o GTande Diabo. Esse riome taJvcez inilulsse na fama que vieram a ter os tremembés: lndtos ter~ e tll'l'bllle:ntos, afir. 111"13 Be'l'redo; mas o padre Antonio Vle.lra e. mo– clerllamente, Paulino Nogueira coll$lderam-nos J)acltloos ·e mo:rlge:rados. o certo é que foram atraldos, evangelizados, atacados, eJC})olladoa e ex– terminados, segundo a sorte habitual do nosso gentlo, e como calhava nessa ou naquela conjun• tura. lloje restam poucos e melancólicos tremem– bês que como a maior.la de seus irmãos brasllel– Tos, de sangue puro ou mestiço, não t~ terras. Nem igreja, porque a deles, Nossa Senhora da Com:eição de Almofala, a areia comeu. Em 1'102, essa igreja era apena, uma capeli– nhu de taipa, à margem do AracaU-rolrlm. Como a povoação se desenvólvesse, ainda na primeira metade do século XVIIi se edlficou novo templo, que a tradição atribui à benemerência d e d. Ma– ria r. sem documentos a abonâ-la. Os papeis en– contTados pr,ovam anlé$ que a obra se fez por 1nic.ia11va e a expensas da irmandade local, e oe , • - Carlos Drummond de Andrade (Especial para a FOLHA DO NORTE, oo Pará) • p agamentos eram em dJnbeiro e anlmais. ''Estou pago e satlslelto dOtl dilos clncoenta mil Reis e de?um cavalo'", declara Francisco Rosa, autor da. portas. E J'osé Lop es Barbalbo, em 17S8, achando• se º em uma e.ama a morrer jlt com todos os Sa· cran,entos, dlz perante t4!stemun:ha que "por pres– sa de Duzentoe e Sessenta mll reis pte. em anL. ma.Is e pte. em dr. 0 de contado", os qua~ rece– beu, :fizera as paredes e fornecera o madeiramen– to. A rainha não terla sjdo, poi3, multo genero■a, e fol com o bl'aço dos Jndios que se el'gueu a obra de pedra e lágrimas. Saiu uma bonJta JgreJa lia~. talvez mm on1amental alnda do ..que bonita. com wn caprl– choso axal)esco que distingue a sua fachada entre as d llfl demau templOll jesuiUcos do Brasil. Os inater;la:Js vieram da Baia e, desembarcados em porto a 25 quilõmetroe além de Almofala, chefa• ram à aldel.a cm carros de bof. O perlodo de i a,– ticlo econ6mlco e, consequentemente, de eaplen• dor para o culto prolongou-se até 1790. DaJ poT d:f.ante a povoação decaJ, a lnnnndade começa a vender s uas :fa1.endas, os altares carecem de aJ. fai.i,;. E a politi.quinha do interior, pelo século XIX a dentro, vat perturbando a vida de Almo– iala, que ora deixa de i;er :Creguesia ora volta a sê-lo, e tinalmenie se incorpora à de Acarau, da qual ticaré de~ndendo até hoje (?) mas a tarela resiste às vicissltudés, e nela 1ndlos e caboc.los vão ter seus colóquloa com a Virgem da Con– celçlio. a do Rosárlo. São Benedito e São M 1-u.el Arcanjo, AJmofala são duas ruas de casas de casas de WJ)a, que ladeiam o templo, duas lagôas (uma chama-se a Criminosa), um cajueiral, algumae cabeças de irado, algumas plantaçõe11. E a ar eia. A ateia., tangida pelo vento do mar, acumula• ee em dunas. Estas n formam precisamente quando o vento encontra obsl.Aculo à sua carreira - e pelos .fins do l!éc.ulo poseodo vai-se acumu– lando Junto l tcreJa à.e Al.motah wn monte de arcla assustador. Aqui está uma fotoerafla da DPBAN: MeJa duzia de ··cabras" a cavalo. dez ou do,-e mulheres de saia arrastando o chão, guarda• sois abertos. em tôrno do monte de areia que obs, trul a entrada da Igreja e lhe devorou pa1·te d01 Iundos: por um óc11lo aberto sôbre a porta prtn• c.ipal, a fotografia é branca: o cêu do Ceará. num d1a remoto. Outra fotografia, esta de hà pouco, anos, tirada por wn representante da repartição, o p.!ntor Rescala, mostra a fachada Inteira, liberta do areial, o mesmo óeulo deixa passar o mes• '"° ~u, prolongando 11 visão através de regiões desoladas. Os caboclos conseguiram. após 37 anos. remover a duna imenSll . mas o templo está ermo e inutil, presidindo à solidão do lugar. E beDI em !rente da igreja. a uns trezentos metros (onde ou. lrora toi uma colina) outras :fotogrnflas n1ostram o espantoso. o trágico c~mltfrlo. que se diria u.m desses quadros de Yves Tánguy onde estão dia• persas lonn1Ul incoerentes numa pers.pectlva rasa e illflnlla. OU cert11s composições angusttosas dos surrealistas. Ou uma cidade que o terremoto var– resse. Ou os vesUglos. que não sabemos Interpre– tar, de aJruma civlltu~o 5epultada há multo tem• po. e que antecipa ~m nós o 1rio de nossa própria destruição. Mas não estamos no Egito; estamos ali, no Ceatcá, e em 1898 o padre Antonio Tomás, au• tor de \lffl soneto bastante conhecido. cele)>rava a de:rradelra missa na I grej:1 atacada pelo vento. Ele nos conta o epi!;Ódlo. Satra de Acarau para salvar as imagi:ns que cumpria remover eom urgência: o morro de areia cresciá atrâs da 11.re -

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