Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
4.ª Página Rio, 26-dez-944. Nêstes ultimos dias tenho estado diariamente com o poeta Augusto Frederico Schmidt. Em sua bi-_ blioteca, entre livros raros, quadros e cachimbos, vou colhendo poemas dispersos pela mesa grande, perdi– dos entre recortes de jornais, convites para recep– ções e cadernos de todos os feitios. Cada dia que se pássa, novos poemas vão apa– recendo, alguns escrítos erh capas de livros, outros em pequenos pedaços de pa.pel ou nas costas de con– vites sociais. O poeta escreve e os deixa abandona– dos, sem destino, esquecendo-os logo depois ,de redi– gidos. Foi na c0lheita dêsse material que consegui colecionar uma série dêles, nascendo assim o seu úl– timo livro ·Mar Desconhecido. ~egisto aqui uma cena, sucedida ontem pela manhã, que me relevou mais uma fàce dêste esplen– did0 poeta e amigo. Fol assim: depois que deixaínos·seu apartamerito em Copacabana, encontramos na rua o médico J o~ué de Castro, que nos ofereceu condução para trazer– nos para,o centro da cidade. Logo depois de passar– mos pelo Pavilhão Mourisco, o poeta, olhando o pas– seio, pede para parar o carro e abr.inclo a porta sái correndo em direção a dois· garotos que brincavam perseguindo uma borboleta. Fiquei comovido ao ver Schmidt salvando das mãos dos espantados garotos a indefesa borboleta. Depois acompanhou com uma alegria infantil o vôo tonto da borboleta que desa– p.3;:réceu entre os ramos e as folhagens dos arvoredos do passeio. - - . ' ...... ~ Ficou êle um instante a olhar os garotos e cónio uma,concessão ao brinquedo interrompido distribuiu níqueis aos meninos. Voltando para o carro, o poeta vinha f-eliz e como desculpa à interrupção da viagem explicou: - Não há coisa que me faça mais sofrer do que vêr maltratarem bichos. Sôfto com isso, po– dem me acreditar. J. e• ..,.,, . (De uma delas viria a lambo). Só aqui no Rio, 30 ou 31 de sair Mo- ' creio dezembro que de . no dia 1938, me animei a juntar vagas . lembranç~s de título de A menini<:e, com , . . primeira confissão. o o efeito foi mediócre. Pouco depois ''DOIS MUNDOS" Çondé Nunca • • - até fins de 193S - eu pensava ter para o conto rtem essa aptidão pouca e sem algumas mesmo lustre c\Õsas cQntrar. que têm all'nas mim querido em Em MaceiQ, cari- en- daquele tatlvas, por ano, fizera eu paradas logo ·meados ten- duas no começo. escrevi Acorda, preguiç.oso. tôrno do qual se fez certo ... , em baru- lho. o Menos desanimado, cha-peu dé meu pai. O me desde compus - menos esperava. Continuei a viagem mais fácil aqui, adiante com alguns tropeços; sem grandes eu perseguia Gostaram antes. á-ssunto alguns anos ~o que en- tusiasmos, que cem, mas sem raro me aconte– desfalecimentos fundos. Um dia, comecei a pensar em da A idéia livro. inchava, sopra– uns acessos insolentes . de por ' . vaidade; ria. Até depoís murchava, mor– ehtunou de jeito humildade bas- que se que nao houve tante para fazê-la morrer. Eritão, juntàndo a coisa s-e1nelhante a mais ou menos outras a que contos, chamei muito guei "retratos" - entre êste o de Minha avô, d-e que h11viam dito bem - ·e "quadros", en-tre– editor· Jos€ Olytnpio, em ao Pl'incípio de 1942, a matéria de • • • FOLHA DO NORTE Domingo, 25 de maio de 1947 --- • ' tr ~ ps cartões que acima reproduzimos co:nstituiam moda- literária antigamente. Trazem impressos ver– sos e retratos de poetas. Sôbre éles uma figura contemporânea. escrevia uma. kase de opinião. OS dois que publicamos hoje foram escritos por Silvio Romero em cartão de .Artur Azevedo e Alberto de Oliveira. - Os textos respec'Uvos esfjo na página .ao-~lado que se fe.z livro. Haveria •· muiito que êste dizer a mas não sei como doar-me a imodestia respeito. dêle; haveria de per. faÍar de de mim mesmo em mais de uma • pa- gina em a,penas, peu de letra ·miúda. Direi para meu findar, Zé o que Bala; mai-s, Cha- Dois Mundos, Moema, Filho e Pai., Re– trato de minha avô talvez nunca me façam vergonha. - 24-8-944. Aurelio Buarque de Holanda" '' •••••• •••• MARIA PERIGOSA ''Meu caro Condé. Você me pede que eu cont.e hist6ri-a deste lj,vro. Ora, contar a história de um livro é con,tar a história de uma valdade. E a po- de ~r ria. também a de uma • MARIA PE~GOSA é misé- fruto DOIS MUNDOS - - MARIA PERIGOSA me perdôe - da ne<ces- Deus sjdad~. de 38, Não alldªssem, por voltas os bolsos do autor mais hoje ocos · do , que lhe andam os miolos, e o m,agro livro de con– A tos ' jamais ter.i-a · esta verdade, opulento história, ami-go, é que era tar ~~eciso ganhar, dívidas! Eis o pa~ar, resga– que se pro- resgatar a coletane& pu11ha contos premiados. como você Foi mio. a sabe, conta e das de como Depois, confesso, todos autores, sarão Misturaram-se, lá veio o prê• contas. confes– depois veio a os va,idade. Nos primeiros trin,ta dias de vida em livro cada nhei, era um delirei. m-0nwnento. So- reria ' a Hoje, a<:ordado, juro que recor– outro expediente se OlJ; • bolsos gemessem mai11 do que livro à g-emem.; tudo menos ·ll1h cata de Você se dinheiro. me eu sem dú– do vida, livro g0$to perguntará; repugno ou gosto Confesso: três po.r inteiro. det dois ou ainda treohos do o "Paisagem Perdida". resto, p_.erdi de paisa.g-em. . . Como crítico, declaro: o livro é mediocre. Eu poderia tro melhor, se tivesse fazer outra cessidade. Em suma, wn livro uma aventura, e há aventlll'a bri– lhantes e &pagadas. A minha é da última categori.a, mas cá estouai. viv:endo a aventura da vi.da , ~ melhor do que a da prosa. E' só. Contos para conta&. Rio. 24-9-44. !
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